No meu primeiro ano de convertido ao Senhor eu escutava sempre uns amigos que repetiam constantemente o comecinho de uma música: “É bênção, sobre bênção, vivendo cada dia no Senhor”. É isto que temos, literalmente, nas perguntas 36 a 38 do Breve Catecismo. A pergunta 32 já havia estabelecido que os que são chamados eficazmente gozam nesta vida de três bênçãos, a justificação, a adoção e a santificação.
Agora temos três perguntas que tratam das bênçãos que acompanham estas bênçãos já citadas. A primeira delas ensina que “as bênçãos que nesta vida acompanham a justificação, a adoção e a santificação, ou delas procedem, são: certeza do amor de Deus, paz de consciência, gozo no Espírito Santo, aumento de graça e perseverança nela até o fim” (Resposta à “Pergunta 36 – Quais são as bênçãos que nesta vida acompanham a justificação, a adoção e a santificação, ou delas procedem?).
Isto é maravilhoso! Tem já nesta vida a certeza do amor de Deus. Ao crer naquilo que o Senhor Jesus fez na cruz do Calvário, temos uma demonstração maravilhosa deste amor. Paulo afirma que “Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8). O amor de Deus não é mera declaração. Declarar o amor é fácil, se você percorrer as delegacias notará a quantidade de denúncias de mulheres que foram espancadas pelos companheiros que diziam amá-las. Deus não somente declara o amor, mas prova que ama. O apóstolo João, num dos textos mais conhecidos pelos cristãos, declara esse amor dizendo que “Deus amou o mundo” – e demonstra como ele fez isso, ao continuar – “de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
É esse entendimento que levará você a experimentar paz de consciência. Saber que a sua dívida para com Deus já está paga, de uma vez por todas, pelo seu Redentor, levando você a se alegrar a despeito das circunstâncias adversas que possa enfrentar em sua vida. Levará você também a crescer em graça diante do Senhor, com a firme certeza que tinha Paulo “de que aquele que começou boa obra em vós há de completa-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6).
Mas as bênçãos não são somente para viver. “A alma dos fiéis, na hora da morte, é aperfeiçoada em santidade, e imediatamente entra na glória; e o corpo, que continua unido a Cristo, descansa na sepultura até a ressurreição”. Ao ser justificado, adotado e santificado, o cristão aprende e cresce a cada dia mais no conhecimento da Palavra e como disse o puritano John Flavel, “As Escrituras ensinam-nos a melhor maneira de viver, a mais nobre forma de sofrer e o modo mais confortável de morrer”[1].
Você consegue perceber esta verdade bíblica claramente quando Paulo escreve aos filipenses e afirma que para ele “o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fp 1.21) e que “partir e estar com Cristo [...] é incomparavelmente melhor” (Fp 1.23). O apóstolo estava bastante convicto que, para o crente, a morte não é o final. Como afirmou de forma maravilhosa outro puritano, Thomas Brooks, “a morte é outro Moisés: livra os crentes da escravidão e de fazer tijolos no Egito. É um dia ou um ano de jubileu para um espírito gracioso – o ano em que ele sai livre de todos os feitores cruéis que tinham há muito o feito gemer”[2].
Entretanto, a mesma convicção de Paulo e dos puritanos citados não está presente na vida de muitos cristãos. Estes, ao pensar na morte, a veem como um problema, como algo que os tirará a oportunidade de gozar das alegrias desta vida. Cristãos assim precisam estar convictos a respeito da verdade da ressurreição. Quando escreveu aos coríntios corrigindo os ensinos errados daqueles que afirmavam que não haveria ressurreição Paulo afirmou que “se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens” (1Co 15.19). Os crentes precisam estar bem convictos de que o melhor que puderem experimentar nesta vida não se compara ao que teremos no porvir.
Na morte, o corpo dos crentes “descansa na sepultura até a ressurreição” e “na ressurreição, os fiéis, sendo ressuscitados em glória, serão publicamente reconhecidos e absolvidos no dia do juízo, e tornados perfeitamente felizes no pleno gozo de Deus por toda a eternidade” (Resposta à “Pergunta 38: Quais são as bênçãos que os crentes recebem de Cristo na ressurreição?”).
O que temos aqui é algo que, se bem entendido e assimilado, levará você a clamar como João, “vem Senhor Jesus!” (Ap 22.20). Ele é a razão de termos todas estas bênçãos e, diante disso, precisamos exaltá-lo a cada dia e ansiar pela consumação plena de sua obra. Tendo Cristo como o seu maior tesouro, você estará sempre seguro. Se Cristo é o seu maior anseio, como Paulo você pode estar certo de que Cristo será engrandecido em seu corpo, “quer pela vida, quer pela morte” (Fp 1.20).
Há bênçãos de Cristo na vida, na morte e eternamente. Que a sua convicção seja como a resposta à primeira pergunta do Catecismo de Heidelberg, “Qual o seu único conforto na vida e na morte?”, que inicia dizendo que “o meu único consolo é que – corpo e alma, na vida e na morte – não pertenço a mim mesmo, mas ao meu fiel Salvador, Jesus Cristo, que, ao preço do seu próprio sangue pagou totalmente por todos os meus pecados e me libertou completamente do domínio do pecado”.
Que você, abençoado pelo Senhor, na vida, na morte e eternamente, engrandeça sempre o seu Redentor!
[1] Citado por John Blanchard em Pérolas para a vida
[2] Thomas Brooks no livro Sermões sobre a morte. Ed. Soli Deo Gloria. Ed. do Kindle, posição 313