Definitivamente, sou limitado no que diz respeito a gravar “endereços” bíblicos. Até cito vários textos de cor, mas não sou capaz de dizer a referência. Sei o livro, quem escreveu, qual o contexto, muitas vezes o capítulo, mas a referência inteira muitas vezes me foge. Se me der uma Bíblia eu os encontro, mas não gravo os benditos números.
Estava ficando chateado comigo mesmo. Como pode um pastor não decorar os endereços dos textos? A chateação aumenta quando algumas pessoas dizem que isso é indispensável a um ministro.
Comecei a pensar sobre isso e cheguei à conclusão de que, se fosse tão necessário assim, o Senhor haveria de revelar sua Palavra já com os capítulos e versículos numerados. De quebra, isso evitaria também muitas das divisões equivocadas de perícopes em nossas Bíblias.
É claro que reconheço a utilidade da numeração da Bíblia; não sou tolo a ponto de dizer que foi uma péssima idéia. O que não posso acatar é o argumento de que é inaceitável que um crente não decore os endereços, ainda que conheça os textos e saiba encontrá-los ao manusear sua Bíblia. O pior é que muitas vezes a exortação vem acompanhada do texto: “Guardo no coração as tuas palavras...”, como se de fato o salmista estivesse pensando nos numerinhos.
Vou tentar ilustrar o que penso já pedindo perdão pela limitação do exemplo: Moramos em cidades com vários bairros e cada bairro com várias ruas. Temos amigos e temos o costume de visitá-los (se não temos, está na hora de começar a ter, marcando a hora antecipadamente, é claro). Ainda que não saibamos o nome de todas as ruas, sabemos qual tomar, onde virar e que caminho seguir para chegar ao destino. Não saber o endereço não nos impede de chegar lá e ter agradáveis momentos de comunhão.
Estou certo de que este texto, para muitos, soará como uma simples desculpa de alguém que não quer decorar os números dos versículos, mas quero chamar a atenção para o fato de que a vida cristã não depende da quantidade de referências bíblicas que citamos de cor, mas da assimilação conteúdo revelado na Escritura, e, sobretudo, da aplicação da Palavra no coração, pelo Espírito.
É muito triste perceber que muitos dos crentes são capazes de ganhar vários concursos e gincanas que exijam a citação de referências bíblicas, mas, a despeito disso, não podem afirmar o mesmo que o salmista: “Quanto amo a tua lei! É a minha meditação, todo dia!” (Sl 119.97). É claro que estou convicto de que isso diz respeito também àqueles que sabem os textos inteiros e só não sabem a referência.
O nosso desafio é, então, meditar nas Escrituras rogando para que o Senhor nos capacite a cumprir aquilo que ele mesmo requer de nós. Que entendamos de fato o que é guardar no coração a Palavra de Deus, para não pecar contra ele.
Quanto a mim, continuarei me esforçando para gravar as referências e incentivando outros a fazer o mesmo, porém, sem o peso indevido que muitos têm colocado sobre os ombros dos que querem honrar o seu Senhor.