05 dezembro 2023

Os ídolos nada podem

Dagon

No primeiro livro de Samuel é narrada a derrota do povo de Deus para os filisteus e a tomada da Arca da Aliança por parta destes (1Sm 4). Israel foi para a peleja e perdeu cerca de quatro mil homens. Isto fez o povo lamentar e perguntar sobre a razão da derrota.

Chegaram à conclusão de que a derrota se deu porque a Arca não estava entre o povo. Certamente havia na mente daqueles homens o episódio em que, tendo a Arca à sua frente, o exército de Israel venceu a poderosa Jericó. Mandaram, então, trazer a Arca para o meio do exército (1Sm 4.1-4).

Entretanto, eram tempos diferentes. Por ocasião da batalha em Jericó o povo estava vivendo em santidade. Agora, ladeando a Arca, símbolo da presença do Senhor, estavam dois sacerdotes profanos, Hofni e Fineias. O povo estava longe dos caminhos do Senhor e isso era visto no próprio sacerdócio. Desta forma, houve grande derrota, Hofni e Fineias foram mortos e a Arca foi tomada e levada pelos filisteus como um troféu. Eles a colocaram no templo de Dagom.

Entretanto, algo ocorreu na terra dos filisteus. Os homens de Asdode viram o seu deus caído por terra, prostrado diante da Arca do Senhor. Eles tornaram a colocar Dagom de pé, mas no dia seguinte encontraram o seu deus não só caído de bruços diante da Arca, mas também com a cabeça decepada.

A mensagem aos filisteus é clara. Dagom não pode nada. Ele não conseguiu sequer levantar-se sozinho quando apareceu prostrado pela primeira vez. Além disso, agora estava partido ao meio. O Deus de Israel é o único Deus Verdadeiro. Ele é poderoso, o que é visto em seu julgamento contra os filisteus em 1Samuel 5.

Mas há também uma mensagem a Israel. Sendo Deus tão poderoso, por que o povo perdeu a batalha, mesmo com a presença da Arca entre eles? Considerando o contexto da passagem, a resposta é simples. O povo não confiava em Deus. Naqueles dias eles viviam uma religião meramente nominal, confiando nos símbolos (Arca) e rituais. Eles não perderam porque Dagom era poderoso, mas porque estavam longe do Senhor.

Por vezes, muitos do povo de Deus, mesmo tendo o Senhor em seus lábios, vivem com o seu coração apartado do Senhor. Pior, sempre que isso acontece, acaba-se levantando ídolos no coração e colocando a confiança em falsos deuses. Não são poucos os que colocam a sua esperança, confiança e buscam alegria e satisfação naquilo que foi criado por Deus em vez de buscar no Senhor.

Quando, em vez de usufruir das bênçãos lícitas doadas pelo Senhor como dinheiro, sexo, entretenimento, comida e bebida, os crentes se deixam dominar por elas, fazendo delas a fonte de sua satisfação, estão incorrendo em idolatria e se dobram diante de falsos deuses que nada podem.

Esta loucura é descrita por Isaías de forma bastante irônica. O texto de Isaías 41.6, muitas vezes citado fora de contexto, sendo até usado para tema de congresso de jovens: “Um ao outro ajudou e ao seu próximo disse: Sê forte”, mostra nos versículos seguintes tal ironia. Em nossa tradução não é possível perceber que há várias palavras e expressões que têm a mesma raiz no texto hebraico. Eu vou demonstrar isso entre colchetes para que fique clara a insensatez que é confiar em ídolos:

“Um ao outro ajudou e ao seu próximo disse: Sê forte [FIQUE FIRME ou fortalecido]. Assim, o artífice anima [FIRMA ou fortalece] ao ourives, e o que alisa com o martelo, ao que bate na bigorna, dizendo da soldadura: Está bem feita. Então, com pregos fixa [FIRMA ou fortalece] o ídolo para que não oscile. Mas tu, ó Israel, servo meu, tu, Jacó, a quem elegi, descendente de Abraão, meu amigo, tu a quem tomei [FIRMEI ou fiz firme, fortalecido] das extremidades da terra, e chamei dos seus cantos mais remotos, e a quem disse: Tu és o meu servo, eu te escolhi e não te rejeitei [...] Porque eu, o Senhor, teu Deus, te tomo [FIRMO ou seguro] pela tua mão direita e te digo: Não temas, que eu te ajudo” (Is 41.6-9; 13).

A ideia é a seguinte. Estes homens estão forjando uma imagem de escultura em quem colocam a sua confiança, mas quem fortalece a eles não é o ídolo, é um ou outro. O ídolo não pode fortalecê-los, pois depende dos seus criadores para ele mesmo ficar firme. Ele é frágil. Por outro lado, o Senhor é aquele que fortalece e ampara o seu povo que não precisa de ídolos, mas somente do Senhor.

Algo interessante é a expressão dos idólatras. Após fazer o ídolo eles declaram: está bom! Agora pense um instante. Após o Senhor criar o homem à sua imagem e semelhança, ainda quando o homem estava em seu estado de santidade, ele afirmou que “era muito bom”. Ao retratar a criação do homem Davi afirma que ele foi feito “por um pouco, menor do que Deus” (Sl 8.5). Não poderia ser diferente! O homem é sim a coroa da criação, mas não poderia ser maior que seu Criador.

Mudando o que tem de ser mudado, quando homens pecadores formam um ídolo, eles também o fazem à sua própria semelhança e eles também não são melhores que seus criadores pecadores. Você já reparou, por exemplo, em como os deuses do panteão greco-romano adulteram, mentem, embriagam-se, sentem ciúmes e cometem os mesmos pecados daqueles que os adoram? Os ídolos não são melhores que os que neles confiam. Como confiar em deuses assim?

Contudo, mais do que condenar os que confiam em imagens de escultura, é preciso avaliar o coração a fim de verificar se ele não está, também, cofiando em ídolos que nada podem como o dinheiro, sexo, entretenimento, comida, bebida e muitas outras coisas que, repito, são boas dádivas do Senhor, mas não podem dominar o seu coração, pois se eles nada podem, o fim para os que neles confiam será a frustração, tristeza e desesperança.

Voltando à história do primeiro livro de Samuel, lembre-se que Israel não perdeu a batalha por ser Dagom mais poderoso que o Senhor. Perdeu porque, apesar de declarar o Senhor com os lábios, o coração estava apartado dele.

Se você tem se deixado vencer pelos desejos idólatras do seu coração, não é porque eles são poderosos e sim porque você não está buscando verdadeiramente a Cristo em quem você tem todas as coisas suficientes para a vida e para a piedade (2Pe 1.3).

Você precisa crescer no conhecimento de Jesus. Ele é o único Deus Verdadeiro que fortalece a todo o que nele crê. Unido a ele você será santificado pelo Espírito que opera por meio da Palavra e, fortalecido, fará bom uso de tudo o que o Senhor criou, sem se deixar dominar por nenhuma delas, na certeza do que ensinou Paulo de que “tudo o que Deus criou é bom, e, recebido com ações de graças, nada é recusável, porque pela palavra de Deus e pela oração, é santificado” (1Tm 4.4-5). Confie naquele que o toma pela mão direita e o ajuda!

24 agosto 2023

Elogie em público, corrija em particular

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A primeira vez que ouvi esta bobagem foi em um vídeo curto do Mário Sérgio Cortella. Ao falar a respeito de um episódio em que iria corrigir um aluno ele diz que o fez no fim da aula apresentando a seguinte razão: “Você elogia em público, o elogio tem que ser público, mas a correção tem que ser no privado. Porque senão você humilha a pessoa, não corrige. Você não produz nela arrependimento, você produz raiva”.

Afirmo categoricamente que é uma bobagem, pois qualquer leitor que conhece as Escrituras pode facilmente se lembrar do episódio a seguir: “Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti-lhe face a face, porque se tornara repreensível. Com efeito, antes de chegarem alguns da parte de Tiago, comia com os gentios; quando, porém, chegaram, afastou-se e, por fim, veio a apartar-se, temendo os da circuncisão. E também os demais judeus dissimularam com ele, a ponto de o próprio Barnabé ter-se deixado levar pela dissimulação deles. Quando, porém, vi que não procediam corretamente segundo a verdade do evangelho, disse a Cefas, na presença de todos: se, sendo tu judeu, vives como gentio e não como judeu, porque obrigas os gentios a viverem como judeus?” (Gl 2.11-14).

Perceba algo importante! Além de ter repreendido a Pedro na presença de muitas pessoas em Antioquia, Paulo escreveu o fato em uma carta que foi enviada à Igreja dos gálatas. Ou seja, além dos que estavam presentes no momento, irmãos que viviam a cerca de 600 km do local em que houve a repreensão ficaram sabendo do ocorrido. Eu e você, distantes tanto geográfica quanto temporalmente, também sabemos da história.

Assumir como verdade a definição de Cortella implica que Paulo não foi um bom amigo e pode ser até que alguém diga mesmo que a ação de Paulo foi errada. Por isso é importante saber que esta não foi a única vez. Na carta escrita a fim de ser lida na Igreja de Filipos há algo parecido. Imagine a cena! Os irmãos estão reunidos e a carta começa a ser lida. Em certo ponto é dito: “O que eu rogo a Evódia e também a Síntique é que vivam em harmonia no Senhor” (Fp 4.2)

Apesar de não estar presente fisicamente, Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, expõe diante de toda a congregação o pecado destas irmãs, rogando a outro membro da igreja, que ele trata como “fiel companheiro de jugo”, que auxiliasse a reconciliação (Fp 4.3).

Contrariando o que diz Cortella, que chamar a atenção de alguém em público em vez de arrependimento produz raiva, lembro o elogio feito por Pedro, em sua segunda carta, àquele que o repreendeu em público: “e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada” (2Pe 3.15).

Isto mostra o quão real é o que está registrado em Provérbios: “Quem repreende o próximo obterá por fim mais favor do que aquele que só sabe bajular” (Pv 28.23 – NVI) e ainda, “melhor é a repreensão feita abertamente do que o amor oculto. Quem fere por amor mostra lealdade, mas o inimigo multiplica beijos” (Pv 27.5-6 – NVI).

O ensino bíblico, portanto, é diametralmente oposto ao que disse Cortella, mas, infelizmente, já o vi sendo repetido de púlpito por mais de um pregador. Isto mostra que, muitas vezes, a pretensa sabedoria deste mundo tem sido assimilada por cristãos sem o devido cuidado de conferir se há eco na Escritura.

Minha suspeita é que o ensino de Cortella seja acolhido tão prontamente porque ele visa proteger algo que, para o homem, é muito caro: sua reputação. Ser repreendido ou corrigido publicamente, de fato, pode levar à vergonha. É preciso saber, entretanto, que o desejo por uma boa reputação não pode ser maior que o amor à verdade. Erros e faltas públicas podem levar outros ao engano e se a correção ficar apenas no âmbito particular, o faltoso poderá ser edificado (caso dê ouvidos), mas seus ouvintes permanecerão no erro.

Aos leitores presbiterianos eu lembro que este é exatamente o entendimento que temos em nosso código de disciplina (CD/IPB). Nele lemos que “as faltas são de ação ou de omissão, isto é, a prática de atos pecaminosos ou a abstenção de deveres cristãos; ou, ainda, a situação ilícita” (Art. 6º). No parágrafo único deste artigo é dito que “as faltas são pessoais se atingem a indivíduos; gerais, se atingem a coletividade; públicas, se se fazem notórias; veladas, quando desconhecidas da comunidade”.

Caso haja condenação em um processo disciplinar “os concílios devem dar ciência aos culpados das penas impostas: a) por faltas veladas, perante o tribunal ou em particular; b) por faltas públicas, casos em que, além da ciência pessoal, dar-se-á conhecimento à igreja” (Art. 14).

Não caia, portanto, no erro de achar que o elogio é sempre público enquanto a correção é sempre em particular. Há momentos em que admoestações precisarão ser feitas em público por amor ao Senhor, ao faltoso e aos que estão presenciando a falta. Por isso, lembre-se também que o mesmo apóstolo que repreendeu a Pedro publicamente ensinou: “seguindo [lit.: falando] a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo. Dele todo o corpo, ajustado e unido pelo auxílio de todas as juntas, cresce e edifica-se a si mesmo em amor, na medida em que cada parte realiza a sua função” (Ef 4.15-16).

23 agosto 2023

Cuidado com as falsas esperanças

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O início do livro de 1Samuel apresenta uma família de crentes. O narrador afirma que Elcana com suas duas esposas Ana e Penina, além dos filhos desta última, anualmente iam a Siló para adorar ao Senhor.

A despeito de ser uma família de crentes é possível perceber que enfrentam vários problemas por conta de pecado. Primeiro o fato de Elcana ter tomado duas mulheres. Apesar de isso ser “tolerado” no Antigo Testamento, tendo o Senhor inclusive estabelecido leis para não haver injustiças (Dt 21.15-17), o propósito inicial de Deus na criação é que o casamento seja monogâmico. No Novo Testamento Paulo vai estabelecer, por exemplo, que o presbítero seja esposo de uma só mulher (1Tm 3.2).

Este primeiro pecado propicia um segundo. Ao que tudo indica, a bigamia foi estabelecida porque Ana, esposa de Elcana, era estéril. Lembre-se que uma família sem filhos poderia enfrentar problemas econômicos, além do fato de o nome do marido não ser perpetuado. Penina, mãe dos filhos de Elcana, percebendo que o coração do marido pertencia a Ana, procurava irritá-la continuamente.

O que acontece na família de Elcana lembra, mudando o que deve ser mudado, o que houve no lar de Abraão quando Agar, vendo que havia concebido do patriarca, começou a desprezar sua senhora Sarai (Gn 16.4). Aqui você já encontra falsas esperanças colocadas sobre um filho. No caso de Abraão, para ajudar Deus a cumprir seu plano, no de Elcana, provavelmente, para resolver problemas econômicos e de descendência.

Tudo isso levava o coração de Ana a experimentar tristeza. Tristeza pela infertilidade, algo que não tem a ver necessariamente com pecado, mas com as mazelas que afligem os que vivem debaixo do sol, mas também tristeza causada pelo pecado de outros. Indiretamente por causa do pecado de Elcana e diretamente pelo pecado de Penina.

É neste momento que você vê mais claramente o problema das falsas esperanças. Elcana se mostra um marido preocupado com sua esposa. Ele percebe que Ana não está se alimentando quando ele dá a ela porção dobrada e nota que ela vive a chorar. Ele não está alheio ao sofrimento de sua esposa.

Em momentos de tristeza é muito bom ter pessoas ao redor que se mostram preocupadas. É esperado que na Igreja de Cristo os irmãos estejam, de fato, envolvidos uns com os outros. Paulo orientou os tessalonicenses: “Exortamo-vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para com todos” (1Ts 5.14).

Entretanto, perceba o que faz Elcana. Apesar de perguntas corretas, que expressam preocupação e buscam entender a razão da tristeza: “Ana, por que choras? E por que não comes? E por que estás de coração triste?” – ele aponta para uma solução ineficaz: “Não te sou melhor do que dez filhos?” (1Sm 1.8).

Sim, Elcana está tentando ajudar, mas em vez de apontar para a fonte da verdadeira alegria ele aponta para si mesmo. Ele aponta para uma esperança vã, falsa. Ela é falsa, pois ainda que trouxesse algum tipo de alívio temporário, como por exemplo, Ana ter pensado: “É verdade, eu deveria estar contente, pois mesmo não tendo filhos tenho um excelente marido”, o alívio só perduraria enquanto Ana visse Elcana como alguém “perfeito”. Assim que ele pecasse contra ela o pensamento poderia rapidamente mudar para: “Além de não ter filhos, tenho um marido terrível!”.

Além disso, um auxílio que aponta para outra fonte de alegria que não Cristo, em vez de alívio traz peso e preocupação: “Até quando terei meu marido?”, “Se este homem morrer, aí é que estarei numa situação ainda mais terrível, sem filhos e sem marido”. O suposto alívio transforma-se em peso pela incerteza de não saber até quando haverá um marido.

Quando o seu porto seguro não é Cristo, apesar da aparente segurança, logo você descobre que está em grande perigo e isso o leva a tristezas, medos, ansiedades e insegurança. Não há verdadeira esperança sem Cristo.

Aqui vai, então, uma palavra tanto para quem busca aconselhar quanto para quem se submete a conselhos: Todo conselho precisa partir da e ser avaliado pela bendita Palavra de Deus. Lembre-se que aos colossenses Paulo orientou: “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria” (Cl 3.16) e aos romanos afirmou estar certo a respeito deles que estavam “possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros” (Rm 15.14).

Há muitos cristãos que se compadecem, que querem ajudar a outros, mas que proferem palavras tolas. Tenha muito cuidado com o tipo de conselho e com a fonte de onde você extrai os seus conselhos.

É preciso ter mais do que bondade, é preciso estar cheio do conhecimento da Escritura, estando assim, apto para aconselhar os que sofrem, oferecendo, não esperanças falsas, mas a única e verdadeira esperança para o pecador: Cristo Jesus, o bendito Redentor dos filhos de Deus, “porquanto a Escritura diz: Todo aquele que nele crê não será confundido” (Rm 10.11).

18 agosto 2023

Você sabe para aonde está indo?

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“Senhor, não sabemos para onde vais; como saber o caminho?” Estas foram as palavras de Tomé, registradas no evangelho de João, em resposta à afirmação que Jesus havia feito: “E vós sabeis o caminho para onde eu vou” (Jo 14.4-5).

Comentando este texto William Hendriksen afirma que, apesar do erro cometido por Tomé em sua pergunta, sua objeção à afirmação de Jesus continha “um elemento de verdade. Aquele que não conhece o destino não sabe o caminho”.

Como expresso no Catecismo Maior de Westminster, “o fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e alegrar-se nele para sempre” (Perg. 1). A partir desta afirmação podemos dizer que o homem foi criado para Deus. A Bíblia diz que “dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém! (Rm 11.36). Todas as coisas, certamente, incluem o homem! Logo, seu destino é Deus.

Em suas Confissões Agostinho registra uma sentença que talvez seja uma das mais famosas de suas citações: “Fizeste-nos para ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em ti”. Agostinho fala uma grande verdade, pois desde a queda e sua consequente expulsão do Éden o homem, feito para Deus, foge do seu Criador (Gn 3.8-10). O problema é que longe de Deus, só haverá inquietude no coração.

Por não saber mais que foi feito para Deus o homem caído, desconhecendo o seu destino, busca significado no próprio caminho e tenta fazer da vida um fim em si mesmo. Um bom exemplo está na animação Carros, da Pixar Studios. Gosto muito de animações e anos atrás comprei este DVD com a história de Relâmpago McQueen, um carro de corrida em busca de vencer a “Copa Pistão”. Lembro que o que estava escrito na contracapa me chamou a atenção: “Os aclamados criadores de Toy Story, Os incríveis e Procurando Nemo apresentam uma nova aventura que mostra que o importante na vida é a viagem e não o destino”.

É isto que o mundo caído quer imprimir no coração dos homens. Sutilmente, em um desenho animado, está sendo proposta uma “filosofia de vida”: o importante na vida é a viagem, a rota, não o local para onde você está indo. Este é um engano comum desde a queda. Já no primeiro século Horácio utilizou em sua obra Odes uma expressão que é amplamente citada: Carpe diem (Aproveite o dia), expressando a ideia de viver o aqui e agora sem preocupação com o futuro.

É assim que muitos vivem, pensando que só existe o hoje e, portanto, é preciso fazer bom proveito da vida. O aqui e o agora é a única coisa que importa. Não interessa o que ocorrerá após a morte, mas o que acontecerá daqui até o dia de morrer. Desta maneira o homem, para viver neste mundo, tenta encontrar uma boa razão para tudo o que faz. É preciso algo para impulsioná-lo a acordar cedo para trabalhar, a estabelecer relacionamentos, etc., a fim de fazer a sua “viagem” por este mundo valer a pena.

O sábio Rei Salomão, muito tempo atrás, já resumiu este estilo de vida do homem sem Deus: “tudo é vaidade e correr atrás do vento” (Ec 2.17). Entretanto, como como escreveu o poeta Sérgio Pimenta, “toda estrada leva a algum lugar, mesmo que não seja aonde se quer ir”. O fim deste caminho, que para muitos pode ser mesmo um caminho agradável, é terrível. No Salmo 73 Asafe descreve a vida dos ímpios, aparentemente agradável, até que ele atenta para o fim deles e sua perdição.

Considere, então, a importância do que disse Jesus no evangelho de João em resposta à pergunta de Tomé: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6). Porque Adão, no Éden, começou a trilhar um caminho de morte e levou consigo toda a humanidade, foi necessário que o Filho de Deus se fizesse carne, cumprisse toda a lei que foi quebrada por Adão e morresse em favor do seu povo a fim de que este povo bendito tenha um caminho seguro, de volta para o Pai.

Todos aqueles que estão em Jesus estão em um Caminho verdadeiro, um Caminho que traz vida e vida em abundância. Jesus proporciona não só uma viagem segura neste mundo em trevas, mas a certeza da chegada no destino final em segurança.

Sendo assim, se você não está indo para Deus por meio de Jesus Cristo, atente para esta verdade: você certamente chegará a um destino terrível. Por isso, arrependa-se dos seus pecados, dobre-se diante da majestade de Cristo e caminhe com ele de volta para o Pai. Ele é o melhor e único caminho para o Pai.

11 agosto 2023

E as decisões “nulas de pleno direito”?

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Não sou, nem de longe, um especialista em CI/IPB, mas me atrevo a escrever algumas linhas acerca de um assunto que há tempos me incomoda.

O artigo 145 da CI/IPB estabelece que “são nulas de pleno direito quaisquer disposições que, no todo ou em parte, implícita ou expressamente, contrariem ou firam a Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil”.

Ao longo dos anos tenho visto muitos evocarem este artigo a fim de justificar a sua desobediência a alguma determinada decisão de um Concílio que, conforme suas interpretações particulares, são contrárias à CI/IPB.

Ao falar em “intepretação particular” não estou entrando (ainda) no mérito de ela estar certa ou errada. Denomino de particular a interpretação que contraria à da maioria do Concílio que votou determinada matéria. É uma questão óbvia! Se em determinada interpretação de um artigo constitucional eu fui voto vencido, está claro que a maioria interpreta diferente de mim.

A IPB, como sabemos, “é uma federação de igrejas locais, que adota como única regra de fé e prática as Escrituras Sagradas do Velho e Novo Testamento e como sistema expositivo de doutrina e prática a sua Confissão de Fé e os Catecismos Maior e Breve; rege-se pela presente Constituição [CI/IPB];”.

O governo da Igreja acontece por meio de seus concílios. A Confissão de Fé de Westminster ensina que “para melhor governo e maior edificação da Igreja, deverá haver as assembleias comumente chamadas sínodos ou concílios. Em virtude do seu cargo e do poder que Cristo lhes deu para a edificação e não para a destruição, pertence aos pastores e aos outros presbíteros das igrejas particulares criar tais assembleias e reunir-se nelas quantas vezes julgarem útil para o bem da Igreja” (XXXI.I).

Um concílio assim é visto em Atos 15. A partir de uma controvérsia doutrinária surgida em Antioquia, primeiramente combatida por Paulo e Barnabé que ali serviam, o assunto foi parar naquele que conhecemos como o Concílio de Jerusalém. Reuniram-se os apóstolos e presbíteros para discutir a questão e, após debate, uma carta foi enviada à igreja com a decisão a ser cumprida pela igreja.

Na IPB os concílios “em ordem ascendente são: a) O Conselho, que exerce jurisdição sobre a Igreja Local; b) o Presbitério, que exerce jurisdição sobre os ministros e conselhos de determinada região; c) o Sínodo, que exerce jurisdição sobre três ou mais Presbitérios; d) o Supremo Concílio, que exerce jurisdição sobre todos os concílios” (CI/IPB – Art. 62).

No Art. 70, que trata do que compete aos Concílios, destaco duas alíneas: “d) velar pelo fiel cumprimento da presente Constituição; e) cumprir e fazer cumprir com zelo e eficiência as suas determinações, bem como as ordens e resoluções dos Concílios superiores”.

A questão é aparentemente bem simples. Quando um Concílio superior decide algo, os inferiores precisam cumprir. Entretanto, é preciso lembrar aqui do que estabelece a Confissão de Fé em seu capítulo XXXI.III: “Todos os sínodos e concílios, desde os tempos dos apóstolos, quer gerais quer particulares, podem errar, e muitos têm errado; eles, portanto, não devem constituir regra de fé e prática, mas podem ser usados como auxílio em uma e outra coisa”.

Esta verdade não passa despercebida na CI/IPB. Tanto é assim que o artigo 64 declara que “de qualquer ato de um Concílio, caberá recurso para o imediatamente superior, dentro do prazo de noventa dias a contar da ciência do ato impugnado”, estabelecendo, porém, em seu parágrafo único que “este recurso não tem efeito suspensivo”.

Reza ainda a CI/IPB que “se qualquer membro de um concílio discordar de resolução deste, sem contudo, desejar recorrer, poderá expressar sua opinião contrária pelo: a) dissentimento; b) protesto” (Art. 65). Repare os parágrafos que explicam tais votos: “§1º - Dissentimento é o direito que tem qualquer membro de um Concílio de manifestar opinião contrária à da maioria. § 2º - Protesto é a declaração formal e enfática por um ou mais membros de um Concílio, contra o julgamento ou deliberação da maioria, considerada errada ou injusta”.

Não há problema, portanto, em alguém discordar de alguma resolução conciliar. É um direito que não pode ser retirado de ninguém. Esta discordância pode ficar apenas no âmbito dos votos de dissentimento e protesto ou pode transformar-se em um documento a ser julgada pelo concílio. Faz parte do sistema conciliar, ou seja, está dentro da regra do jogo!

Mas aí é que entra, então, o meu incômodo. Em vez de tomar o caminho constitucional, muitos simplesmente assumem e passam a declarar que a maioria votou contra a Constituição da Igreja, razão de não serem obrigados a cumprir esta ou aquela decisão, afinal, ela é “nula de pleno direito”. Mesmo o Supremo Concílio não pode legislar contra a Constituição da Igreja, a não ser que haja emenda ou reforma, dizem eles, e de forma acertada!

Contudo, pense bem no que está posto. Se nem o plenário do Supremo Concílio pode passar por cima da Constituição da Igreja, por que um ou alguns membros que decidem passar por cima das decisões conciliares poderiam fazê-lo?

Mas são coisas diferentes, alguém dirá! Uma coisa é ir contra a constituição, outra completamente diferente é ir contra uma decisão do plenário. A isso eu respondo que é aí que está o engano, pois, o que está em jogo, de fato, é: quem interpretou corretamente a Constituição? O plenário, que aprovou determinada matéria, ou um membro ou grupo menor da igreja que alega a tal inconstitucionalidade?

Ironicamente, um membro da Igreja Presbiteriana, seja ele oficial ou não, que decide pela desobediência, por considerar nula de pleno direito uma determinada decisão, se comporta, na prática, como um episcopal. Não só isso. Ele é, na verdade, a maior autoridade dentro do seu sistema episcopal “particular”, pois sua interpretação deve ser acatada pela maioria do concílio. Ele é maior que o Concílio!

Tenho minhas suspeitas sobre o que leva pessoas a agir assim: Um coração orgulhoso, que se vê acima dos ignorantes que não entendem a Constituição, somado ao temor de terminar envergonhado ou contrariado ao tentar o caminho do recurso. Desta forma, não é preciso esforço para convencer o concílio, uma vez que a consciência estará aliviada ao pensar que não há desobediência, afinal, o que não está sendo cumprido é “nulo de pleno direito”. Como eu disse, são suspeitas, mas pode haver outras razões e estou pronto a considerá-las, quando apresentado a elas.

Agora imagine se cada membro, igreja local ou presbitério começar a entender, sem precisar convencer a mais ninguém, que as decisões que ele, ou eles, não estão de acordo são nulas de pleno direito. Será o fim do sistema conciliar, federativo e a legislação perderá o seu sentido. Estaremos como no tempo dos juízes, cada um fazendo o que acha mais reto (Jz 17.6; 21.25).

Com isso não quero dar a entender que é preciso acatar decisões inconstitucionais e, principalmente, antibíblicas. Já afirmei acima que a discordância é permitida, mas há meios de lidar com aquilo que se acha errado e o caminho não é a simples rebelião. Concílios erram e continuarão errando. Neste caso, como proceder?

1. A depender do tipo de decisão, considere se vale à pena o desgaste (pessoal, familiar e eclesiástico). Se concluir que sim, aja pelos trâmites corretos; se não, acate, pelo bem da igreja. O caminho do puro descumprimento constitui-se quebra do quinto e nono mandamentos;

2. Se a decisão diz respeito a algo que o coloca em um problema de consciência diante de Deus, recorra. Peça ao Senhor graça a fim de provar seu ponto, se estiver com a razão e humildade para ser convencido do contrário, caso você esteja errado (Pv 18.17);

3. Se não estiver satisfeito com os rumos que a denominação, a seu ver, está tomando, e não tiver disposição para lutar por sua pureza, procure uma denominação que você considera mais pura. É um caminho difícil, mas é melhor do que viver em rebelião (1Sm 15.23).

Uma decisão conciliar pode mesmo ser inconstitucional e nula de pleno direito, mas não são indivíduos que declaram a nulidade. No máximo eles apontam e tentam convencer o concílio do seu erro.

O caminho da simples “desobediência travestida de amparo constitucional” pode até parecer mais fácil, mas acabará levando os desobedientes aos tribunais eclesiásticos. Ali a condenação é quase certa, uma vez que o parâmetro usado para o julgamento será exatamente a decisão que está sendo considerada nula pelo desobediente, mas que continuará valendo como regra enquanto ninguém se dispuser a entrar com um recurso provando a alegada nulidade.

30 junho 2023

Deus quer você obediente, não alegre

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Já ouvi muitas vezes esta afirmação, na boca de vários cristãos. Para ser sincero, durante um curto tempo de meu ministério eu também defendi esta tese.

Aparentemente ela faz sentido. O pensamento por trás dela é que o Senhor irá se agradar daquilo que você está fazendo em obediência ao que a Bíblia diz, independente da sua vontade ou de como você se sentirá em relação a isso. Desta forma, há pessoas extremamente obedientes a Deus, ao menos externamente, mas com corações tristes, angustiados e imensamente frustrados em sua vida.

Entretanto, a atitude de obedecer apenas externamente é diretamente condenada por Jesus ao citar para os fariseus o que fora dito por Isaías: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Mt 15.8). Talvez aqui alguém diga que Jesus não estava se referindo à obediência aos preceitos do Senhor, mas como ele mesmo condena, às “doutrinas que são preceitos de homens” que estavam sendo ensinadas pelos fariseus (Mt 15.9).

Contudo, você percebe exatamente o mesmo problema no livro de Amós que afirma de forma irônica: proclamem em toda parte suas ofertas voluntárias; anunciem-nas, israelitas, pois é isto que vocês gostam de fazer, declara o Senhor, o Soberano” (Am 4.5). Aqui, externamente há uma atitude correta e ordenada que é a oferta voluntária, mas internamente há uma motivação egoísta que será de igual forma condenada por Jesus nos evangelhos: “quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens” (Mt 6.2).

Isto demonstra também que a satisfação com o que se está fazendo ou um sorriso estampado na face não é indicador da verdadeira alegria e obediência. Como dito numa canção do Grupo Logos: “a alegria não é o indicador verdadeiro da paz. Há sorridentes bebendo as próprias lágrimas do coração” (Servos. Paulo César).

Deus não está apenas interessado nas ações externas, mas nos motivos do coração. O que se faz é importante, mas a razão para se fazer não é menos importante. Pensando na frase inicial, outro pode dizer: “Agora está ainda mais claro que a frase está correta, pois a pessoa está fazendo motivada pela glória de Deus, ainda que não esteja alegre em fazer. Qual o problema disso?”

Creio que um bom ponto de partida para a compreensão do problema está na resposta à primeira pergunta do Catecismo Maior que afirma: “O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e alegrar-se nele para sempre”.

Perceba algo importante. O Catecismo ensina corretamente que junto com a ação de glorificar a Deus, obedecendo os seus mandamentos, está a alegria nele. Logo, alguém que diz glorificar ao Senhor, mas que não está experimentando a alegria, ainda não entendeu o que é a verdadeira alegria.

Na prática, o que ocorre com as pessoas que estão tristes, ou mesmo infelizes, por entender que têm de se submeter ao Senhor de qualquer forma, é a negação do que ensina João: “Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos (1Jo 5.3). A palavra “penoso” que aparece neste texto tem o sentido de “muito pesado” ou “duro de carregar” (Léxico de Strong).

A perspectiva bíblica é tanto de obediência quanto de alegria. Como ordenado nos Salmos, “servi ao Senhor com temor e alegrai-vos nele com temor” (Sl 2.11), ou ainda, “servi ao Senhor com alegria, apresentai-vos diante dele com cântico” (Sl 100.2). Não poderia ser diferente disso, pois “os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração (Sl 19.8).

Veja por exemplo como Deus quer que povo se porte diante da ordenança de guardar o Dia do Senhor. Muitos crentes a ignoram, outros até tentam guardar, mas com o coração pesado, pensando no que estão “perdendo” e que poderia ser aproveitado para si mesmo com lazer neste dia. Mas não é desta forma que o Senhor quer que aconteça. Por meio de Isaías ele diz: “Se você vigiar seus pés para não profanar o sábado e para não fazer o que bem quiser em meu santo dia; se você chamar delícia o sábado e honroso o santo dia do Senhor, e se honrá-lo, deixando de seguir seu próprio caminho, de fazer o que bem quiser e de falar futilidades, então você terá no Senhor a sua alegria (Is 53.13,14a).

No Novo Testamento Paulo escreve aos filipenses e os exorta a “desenvolver a salvação com temor e tremor” fazendo tudo “sem murmurações” (Fp 2.12,14). Ele diz ainda que mesmo que viesse a morrer por conta do seu trabalho para o Senhor ele estaria alegre (2.17) esperando que os filipenses se alegrassem com ele (2.18). No capítulo 3 ele trata das dificuldades da igreja envolvendo os falsos mestres, mas antes ordena: “alegrai-vos no Senhor” (Fp 3.1). O apóstolo ordena a alegria, enquanto os irmãos de Filipos obedecem às ordenanças e enfrentem provações.

Em um artigo sobre o sofrimento, Piper, pontua:

“Por que Paulo coloca tanta ênfase em alegria no Senhor, alegria na esperança da glória de Deus, alegria que vem do Espírito Santo, e tudo isso em meio ao sofrimento? A razão é esta: o alvo de todo ministério é a glória de Deus mediante Jesus Cristo. Deus é glorificado em nós principalmente quando encontramos nossa satisfação maior nEle. O sofrimento é uma grande ameaça à nossa satisfação em Deus. Somos tentados a murmurar, queixarmo-nos, culpar e até mesmo amaldiçoar e desistir do ministério. Portanto, a alegria em Deus em meio aos sofrimentos faz com que a excelência de Deus – a glória de Deus que satisfaz completamente – brilhe ainda mais do que brilharia em qualquer outro momento de alegria. A alegria, quando o sol brilha, destaca o valor do brilho do sol. Mas a alegria em meio ao sofrimento destaca o valor de Deus. O sofrimento e as adversidades aceitos com alegria enquanto trilhamos a senda da obediência a Cristo, mostram a supremacia de Cristo muito mais do que a nossa fidelidade nos dias tranquilos” (John Piper. Quando conselheiros e aconselhados se defrontam com o sofrimento).

Isto é verdade para os que estão no ministério, mas é verdadeiro também para todos os cristãos em suas mais variadas vocações. A vida cristã é uma vida de glória a Deus e alegria nele para sempre. É desta forma que cristãos não desanimarão ou desistirão de viver. Portanto, rejeite a ideia de que não importa que você esteja triste conquanto esteja obedecendo, ou, afirmações semelhantes.

Aprenda a se alegrar em Cristo, pois se não está alegre em obedecer àquele que se entregou na cruz em seu favor, você ainda não aprendeu corretamente sobre como convém obedecer. Ao falar a seus discípulos sobre sua morte, Jesus afirmou que eles estariam tristes. Entretanto, após sua ressurreição, ele estaria com eles novamente e “outra vez vos verei; o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém poderá tirar” (Jo 16.22).

Jesus, o Deus Vivo, está com você. Esta convicção muda tudo, pois como disse João, “a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. Estas coisas, pois, vos escrevemos para que a nossa alegria seja completa”.

29 maio 2023

Não busque um legado

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Muitos são aqueles que vivem preocupados com o que será dito a seu respeito anos após a sua morte. Em nome, então, de sua própria reputação, vivem tentando fazer grandes coisas a fim de serem bem lembrados deixando o seu legado para as futuras gerações.

Ultimamente tenho pensado bastante a respeito dessas coisas e, olhando para a Escritura, à luz do que temos em nossos símbolos de fé, especificamente na resposta à primeira pergunta do Breve Catecismo que aponta como fim principal do homem o “glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”, entendo que buscar “deixar um legado” não deve ser um alvo para o cristão.

Não me entenda mal! Não estou negando que muitos homens fizeram coisas extraordinárias e são, inclusive, reconhecidos historicamente como pessoas que contribuíram muito, até mesmo como grandes exemplos para gerações futuras.

Meu ponto é outro. Conquanto seja uma ordenança bíblica dar honra a quem mereça honra (Rm 13.7), a busca por ser honrado é sempre algo pecaminoso, pois está ligada ao orgulho, à vaidade, ao desejo de ser reconhecido.

Calvino instrui de forma maravilhosa a esse respeito:

“Se prestarmos atenção às instruções das Escrituras, observaremos que nossos talentos não nos pertencem, mas que são dons que o Senhor nos dá em sua graça infinita.

Se nos orgulharmos de nossos talentos, estamos sendo ingratos para com Deus. ‘Pois, quem toma você diferente de qualquer outa pessoa? O que você tem que não tenha recebido? E se o recebeu, por que se orgulha, como se assim não fosse?’ (ver 1Co 4.7).

Devemos observar e sermos conscientes de nossas falhas, de modo verdadeiramente humilde. Fazendo assim, não nos encheremos de orgulho; do contrário, teremos grandes razões para nos sentirmos abatidos.

Por outro lado, quando vemos algum dom de Deus em outra pessoa, não devemos estimar somente o dom, mas também o seu possuidor, pois seria uma maldade de nossa parte roubar do nosso irmão a honra que lhe tem sido dada por Deus” (Verdadeira Vida Cristã)

As palavras do reformador são um tiro certeiro no orgulho dos que querem ser reconhecidos. Ao mesmo tempo em que não devem esperar honra por suas realizações, eles devem honrar a seus irmãos por seus feitos.

A Escritura deixa bem claro o fato de que o coração humano é enganoso. Enquanto viverem debaixo do sol os cristãos precisarão tomar cuidado com isso a fim de não encontrar “desculpas piedosas” para o seu orgulho.

Desta forma, aqueles que buscam “deixar um legado”, ainda que assumam o discurso de que seu objetivo é contribuir com outras gerações, na verdade assemelham-se aos construtores da torre de Babel. Entretanto, estes, ao menos, deixaram bem clara a sua motivação: “vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome (Gn 11.4).

No livro de Atos temos um relato que pode ajudar na compreensão desta questão. No final do capítulo 4 Lucas demonstra que a comunhão da igreja era tamanha a ponto de ninguém considerar exclusivamente suas as coisas que possuía. Muitos vendiam suas propriedades a fim de repartir os valores com quem tinha necessidade (At 4.32-35).

Após este breve relato, Lucas registra a história de Barnabé, mostrando que ele vendeu sua propriedade e doou aos apóstolos para que distribuíssem aos necessitados. Você pode ter certeza do grande impacto que teve a vida de Barnabé na igreja e nas futuras gerações ao se dar conta de que, no século XXI, ainda nos inspiramos com aquilo que um irmão nosso fez no primeiro século.

Mas a história ainda não acabou. Lucas contrasta a atitude de Barnabé com o casal Ananias e Safira. Você sabe que, quando tomamos conhecimento de atos virtuosos de irmãos, muitos chegam a exclamar: “eu queria ser assim”, conscientes de que precisam ser mudados em áreas específicas de sua vida, no caso, na liberalidade.

Todavia, olhando para o texto é possível inferir que há outro tipo de sentimento que pode brotar diante de relatos assim. Ao que tudo indica, o casal queria o mesmo reconhecimento que teve Barnabé, apesar de não estar disposto a ser tão liberal quanto ele. Foi isso que levou os dois a entrar em acordo para mentir a respeito do valor de venda do campo a fim de depositar aos pés dos apóstolos apenas parte, enquanto diziam estar doando tudo. Há em seus corações uma verdadeira guerra de ídolos. Eles amavam tanto a reputação quanto ao dinheiro e pecaram a fim de ter os dois.

Você conhece o fim da história. Eles foram julgados pelo Senhor e mortos por sua mentira ao Espírito Santo. Atente bem à lição: Barnabé, que buscava amar a Deus e aos irmãos abrindo mão de sua propriedade, teve o seu legado reconhecido e registrado por Lucas. Ananias e Safira, que buscavam reconhecimento, pecaram fingindo se importar com os irmãos enquanto estavam amando a si mesmos, mentindo para ficar com o dinheiro e ao mesmo tempo com a fama. Curiosamente, se não tivéssemos o desfecho da história revelada pelo Senhor, talvez estivéssemos aqui sonhando em ser como eles. Imagine que bela forma de morrer! Morrer enquanto entrega uma oferta ao Senhor para benefício dos irmãos!

Seu objetivo de vida não deve ser conquistar fama com o seu trabalho, entrar para a história como alguém que fez diferença para a humanidade ou empreender algo que será lembrado por gerações. Aqueles que sonham com isso muitas vezes acabam frustrados, entendendo que sua vida não teve sentido.

Não é o seu nome que importa, mas o nome de Jesus, a quem Deus deu o nome que está acima de todo nome, para que diante dele se dobre todo o joelho (Fp 2.9-10).

Como cristão você é chamado a honrar a Jesus em tudo aquilo que faz. Deus é honrado quando você, com seus dons e talentos, ama a ele e ama aos que estão à sua volta, ainda que empreendendo tarefas simples, que muitos não acham nem dignas de serem lembradas.

Em um de seus livros Michael Horton demonstra que o cristão é chamado a glorificar a Deus em tudo o que faz, pois o que importa, no último dia, é ser encontrado fiel. Ele ensina:

"Como deveríamos ser encontrados naquele dia quando Jesus retornar? Nós devemos estar amando e servindo ao nosso próximo, suprindo-lhes o que é necessário de acordo com os dons que Deus nos deu. Quando Cristo retornar, o que você quer que ele lhe encontre fazendo? [...]

Sabendo que você tem tudo o que necessita de Deus, você deseja que Jesus lhe encontre em um dos seus postos, oferecendo os seus dons a quem precisa deles. Não seria maravilhoso se ele lhe encontrasse levando uma criança doente ao médico, alimentando seus filhos no café da manhã ou tendo relações sexuais com seu cônjuge? Ou preenchendo um relatório no trabalho, consertando o telhado do vizinho ou lavando o piso como zelador?" (Cristianismo essencial).

Você não é ordenado na Escritura a construir um legado. Você é ordenado a glorificar a Deus e ter alegria nele para sempre. Vivendo desta forma, você se dedicará ao máximo a fim de honrar ao Senhor em sua vocação e, como muitos irmãos do passado, pode um dia até ser um grande exemplo para as futuras gerações, não necessariamente por suas grandes realizações, mas por aquilo que deve mover cada minuto de sua vida: o amor a Jesus Cristo, seu glorioso Redentor.

27 abril 2023

A importância do catecismo para as crianças

ensino

Há uma música da Banda Resgate que eu aprecio bastante, apesar de haver um trecho problemático nela. A música se chama “Vou me lembrar” e o problema está aqui:

Lembre-se do pão que nunca nos faltou em meio à seca

De quem multiplicou e faz com que nenhum dos seus se perca

Que nunca foi alguém de carne e osso que nos fez mais nobres

Que não há mais ninguém melhor do que alguém que se fez pobre.

Ao mesmo tempo em que o autor convida a nos lembrarmos de Cristo, que multiplicou pão, que garante a salvação, que se fez pobre na encarnação, ele afirma “que nunca foi alguém de carne e osso que nos fez mais nobres.

Eu penso que a intenção era fazer um contraste entre Deus e os homens, pois na estrofe anterior ele diz para lembrar: “dos fariseus, que engordam com aquilo que é nosso; E dos mercenários que cobram pra nos dar o que é de graça”.

Entretanto, a frase “nunca foi alguém de carne e osso que nos fez mais nobres” acaba por negar um dos dogmas centrais da fé cristã, a saber, a encarnação. Não creio que o autor seja herege, penso apenas que ele não pensou na implicação do que estava escrevendo, pois na música está bastante claro que ele crê sim na encarnação. Mas que ficou bem ruim este trecho, ficou.

Pois bem, estava hoje escutando esta música e disse aos meus filhos, Fernanda de 13 e Filipe de 9 anos: “Gosto muito desta música, mas há um erro nela” e pedi para prestarem atenção na letra para ver se iam perceber o erro.

Quando chegou nesta parte da música minha primogênita disse: “É contraditório!” Perguntei a razão. Ela disse que era porque Jesus é um homem, ou seja, ele tem carne e osso. No mesmo momento Filipe emendou: “No catecismo mesmo não diz...” – pensou uns 3 segundos e falou – “...Cristo, o Filho de Deus, se fez homem para que pudesse sofrer toda a consequência de nossa natureza pecaminosa?”.

Ele citou a resposta da pergunta 48 (Então, como era possível que o Filho de Deus sofresse por nós?) do “Meu catecismo de doutrina cristã”, um catecismo mais resumido para crianças, que ele vem lendo e relendo há alguns anos e que Fernanda também lia, quando era menor.

Não é preciso mencionar o quão alegre fiquei com a resposta! Sim, vale à pena colocar as crianças para ler e aprender boa doutrina. Desde pequenos eles já têm condições a pensar no que ouvem e comparar com aquilo com o que estamos “enchendo seus corações”. Como afirmou Jesus, “o homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o coração (Lc 6.42).

É claro que eles estão sendo treinados para isso. Não basta simplesmente mandá-los decorar o catecismo e trechos das Escrituras. É preciso estimular a compreensão e comparação. Aqui em casa busco fazer isso quando, ao conversar sobre algum assunto, menciono: “lembra da pergunta tal, qual a resposta?” levando-os a associar o que foi decorado com o que estamos conversando, seja quando falamos sobre alguma desobediência, seja quando falamos sobre o ensino de algum filme ou desenho que assistimos.

Infelizmente, muitos têm subestimado as crianças e, em vez de boa doutrina, ocupam-se apenas (isto quando fazem) em ensinar histórias com lições morais, achando que eles ainda não têm condições de compreender doutrina.

Entretanto, ao olhar para a história, vemos nossos pais puritanos enfatizando bastante os catecismos e incentivando seu uso nos aos cultos domésticos. Samuel Lee (1625-1691) tratando da “conversão dos membros da família” afirma que

acima de tudo, o melhor modo de instrução, especialmente quanto aos pequeninos, deve ser realizado por catecismos – perguntas e respostas em um método curto e conciso – cujos termos, sendo claros e distintos, podem ser formulados das Sagradas Escrituras e ajustados às suas capacidades por um estilo simples, embora sólido e às suas memórias por expressões breves (Piedade no lar. Nadere Reformatie Publicações).

Vivemos tempos difíceis! É preciso educar os filhos no temor do Senhor, preparando-os para testemunhar de Cristo em meio a uma “geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis [eles devem resplandecer] como luzeiros do mundo” (Fp 2.15). Como escreveu Horton:

Nos tempos de grande perseguição ou de secularismo profundo e dominante, o povo de Deus sempre dobrou os seus esforços nos deveres para com a família: filhos são instados a decorar o catecismo sob a tutela de pais piedosos que modelam a visão cristã da vida tanto por seus ensinos quanto por seu exemplo pessoal. Isso não quer dizer que eles se tornam mais rígidos e sérios em suas personalidades, mas que se tornam mais apaixonados pela Palavra de Deus e por seu impacto sobre o círculo de crentes mais próximos deles. Portanto, o lar torna-se em refúgio, uma “pequena igreja”, como Lutero disse -- até mesmo um “pequeno seminário” onde os filhos sabem pelo menos bastante sobre o que creem e por que creem para distingui-los do mundo descrente (Michael Horton. O cristão e a cultura – grifos meus).

Invista no discipulado de seus filhos. Ainda que você não consiga fazer isso todos os dias, eu mesmo tenho minhas dificuldades, não negligencie o grande privilégio e responsabilidade concedida pelo Senhor de formar neles o caráter de Cristo. Para isto, temos muitas boas ferramentas. Atualmente estamos usando em um dos dias da semana, nos cultos domésticos, o excelente “Breve Catecismo de Westminster para classes de estudo” publicado pela Clire.

Coloque isto como propósito diante do Senhor. Peça a ele sabedoria e disposição a fim de cumprir o mandamento de criar seus filhos sob a disciplina e admoestação do Senhor (Ef 6.4).

28 fevereiro 2023

Ganhe sem trabalhar!

ganhe sem trabalhar

Desde que o pecado entrou no mundo o trabalho ganhou uma característica que não tinha por ocasião da criação. Era por meio do trabalho, providência do Senhor, que Adão ganharia o pão de cada dia, mas após o pecado ele ouviu a consequência da quebra do Pacto: “Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás” (Gn 3.17-19).

É certo que o trabalho continuou sendo uma ordenança para o homem, mas agora ele é fatigante. Sem a perspectiva correta, a saber, tudo dever ser feito para a glória de Deus, não importa o quanto o homem trabalhe, ele descobrirá, ao fim da vida, momento de voltar ao pó da terra, que tudo foi em vão. Nas palavras de Salomão, sem o Senhor, “inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeastes;” (Sl 127.2).

Entretanto, o homem em seu pecado, e até mesmo alguns que já foram libertos por Cristo da culpa do pecado, mas que ainda sofrem a influência do pecado, tenta de todas as formas se livrar da maldição imposta por Deus. Uma das formas de se fazer isso é notada nos que nem bem começaram a sua carreira profissional e já sonham com a aposentadoria.

Outra forma, que é a que eu chamo atenção neste texto, é a vontade de ficar rico sem trabalhar. Os jogos de azar estão aí para demonstrar esta realidade, bem como as muitas ofertas, usadas para enredar incautos, de se ganhar dinheiro sem trabalhar. Hoje mesmo vi em um site de vídeos um comercial prometendo que os que se inscrevessem em uma certa plataforma ganhariam bastante dinheiro simplesmente assistindo a seriados em um famoso streaming. Eis o sonho de todo preguiçoso, ganhar dinheiro assistindo a filmes, com a promessa de quanto mais assistir, maior o ganho!

Esta pode ser, de fato, uma grande tentação. Usufruir do fruto do trabalho (dinheiro para pagar as contas), sem o labor e sofrimento que ele pode trazer. É importante, neste instante, lembrar da carta aos Hebreus que mostra que os crentes têm um sacerdote que pode compadecer-se deles em suas fraquezas, pois, “ele foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 4.15).

Atente bem para a verdade bíblica: A salvação de pecadores é fruto do trabalho efetuado por Jesus Cristo! Quando Isaías profetizou acerca do resultado da obra do Messias, afirmou: “Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si (Is 53.11).

Ao olhar para o Salmo 2 fica claro que estes por quem Jesus se deu são aqueles que foram prometidos a ele pelo Pai, quando disse “Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão” (Sl 2.8). Logo, o trabalho de Jesus consistiu em cumprir perfeitamente a lei, entregando-se à morte em lugar dos que lhe foram prometidos pelo Pai.

Pense, então, no teor de uma das tentações de Satanás quando o Senhor Jesus estava no deserto: “Levou-o ainda o diabo a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles e lhe disse: Tudo isso te darei se, prostrado, me adorares (Mt 4.8-9).

Isto soa exatamente como: Ganhe sem trabalhar! Satanás oferece aquilo que já havia sido prometido pelo Pai, mas com um custo aparentemente menor. Em vez da cruz, simplesmente adoração a outro que não o Pai. Comentando este texto Calvino afirma que “o tipo de tentação aqui descrita era que Cristo deveria buscar, de outra maneira que não a de Deus, a herança que ele prometeu a seus filhos. E aqui se manifesta a ousada insolência do diabo, ao roubar a Deus o governo do mundo e reivindicá-lo para si mesmo. Todas essas coisas, diz ele, são minhas, e é somente por meu intermédio é que elas são obtidas” (tradução livre).

Jesus resistiu à tentação ordenando: “retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto” (Mt 4.10). Adorar a Deus envolve submeter-se a ele e foi o que fez o Senhor Jesus quando “subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, torando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2.6-8).

Esta foi a razão de Jesus ter dito em sua oração sacerdotal: “Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer” (Jo 17.4). Jesus trabalhou pelos seus realizando todo o trabalho necessário para a salvação de pecadores.

Diante disso, cada cristão que intenta ganhar sem trabalhar, deve corar de vergonha, por estar se deixando levar pela proposta do inimigo de suas almas. Após isso, deve pedir perdão ao Senhor que providenciou o trabalho como meio para a obtenção do pão de cada dia.

Aquele que está em Cristo pode observar o quarto mandamento que ordena: “Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra” (Ex 20.9), pois está firmado naquele que convoca seu povo à adoração dizendo: “Lembra-te do dia de sábado para o santificar” (Ex 20.7).

Em Jesus, ganhando pouco ou muito, o crente pode estar satisfeito, unido ao homem bem-aventurado descrito no Salmo 128 que por temer ao Senhor e andar nos seus caminhos pode ter plena certeza de que “do trabalho de tuas mãos comerás, feliz serás, e tudo te irá bem.” (Sl 128.1-2).

O trabalho de Jesus ganhou para os crentes a vida eterna, uma vida abundante, de plena satisfação. Esta é a bênção que você ganha sem trabalhar, somente porque outro trabalhou por você que era incapaz. Esta benção da salvação muda a perspectiva do trabalho que, como todas as outras coisas, deve ser feito, agora, para a glória de Deus.