31 janeiro 2024

Onde está a sua confiança?

cruz

Desde que pecou contra o Senhor no Jardim do Éden o homem está envolto à ilusão da autonomia. Na tentação foi exatamente a promessa de autonomia que foi feita por Satanás à mulher: “Deus sabe que no dia em que dele [do fruto] comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” (Gn 3.5), ou seja, a ideia é de que, sendo igual a Deus, não haveria necessidade de ninguém que apontasse o caminho ou estabelecesse o que era certo ou errado. Por si só, o homem saberia.

A queda lança toda a humanidade em um estado de pecado e miséria, mas como já afirmei, a ilusão da autonomia continua presente. Em sua insensatez o homem tenta se livrar da verdade de que existe um Deus no céu e corrompem-se em seu próprio caminho (Sl 14.1) até o dia em que descobrirá que seu caminho é um caminho de morte (Pv 14.12).

Não é sem razão que Jeremias registra a Palavra do Senhor que afirma ser “maldito o homem que confia no homem, [e que] faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do Senhor” (Jr 17.5).

Para se achegar a Deus o homem precisa reconhecer que não consegue caminhar sozinho, pois sozinho só encontrará a morte eterna, e se render a Cristo. Não há outro meio de se achegar ao Pai como ele mesmo afirmou: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6).

Esta mensagem é reverberada pelos apóstolos. Pedro pregou que “não há salvação em nenhum outro, porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (At 4.12) e Paulo afirmou que “há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1Tm 2.5).

Você depende totalmente do Senhor para a salvação e não só isso, depende totalmente dele para santificar a sua vida a fim de apresentá-lo santo no dia final, razão de Paulo afirmar que estava bem convicto “de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6).

Em sua caminhada aqui, debaixo do sol, diariamente você estará diante de dois caminhos: confiar plenamente no Senhor ou sucumbir à tentação de confiar em si mesmo, nas pessoas à sua volta ou nos recursos. É claro que é o próprio Senhor que provê capacidade, companheirismo e recursos, mas você não deve confiar primariamente nestas coisas, antes, precisa reconhecer que, em última instância, é o Senhor o provedor, logo, nele deve estar a confiança.

Deixe-me ilustrar isso com a história de dois crentes do Antigo Testamento, que enfrentaram dilemas parecidos, Elcana (1Sm 1) e Isaque (Gn 25). Ambos ­tiveram mulheres estéreis, Rebeca e Ana. A esterilidade, sobretudo no Antigo Testamento, era algo que trazia muita tristeza às mulheres. Além disso, no caso de Ana, sua esterilidade deu ensejo à sua rival para que a provocasse (1Sm 1.6).

Pois bem, ambos os maridos amavam suas esposas. O livro de Samuel mostra Elcana cuidando de Ana, dando a ela porção dupla do sacrifício e demonstrando preocupação ao vê-la triste (1Sm 1.4-8). Entretanto, Elcana oferece a si mesmo como “conforto” para a esposa sem filhos: “Por que estás de coração triste? Não e sou eu melhor do que dez filhos?”. A despeito da “boa intenção” e do desejo de ajudar, a ajuda oferecida não traz conforto.

Contrasta com a atitude de Elcana o que fez Isaque. O texto de Gênesis registra que “Isaque orou ao Senhor por sua mulher, porque ela era estéril; e o Senhor lhe ouviu as orações, e Rebeca, sua mulher, concebeu” (Gn 25.18). Isaque não tenta consolar com palavras vãs, mas busca aquele que é o único que pode mudar a sorte de alguém, o próprio Deus. Curiosamente, buscar ao Senhor é o mesmo que faz Ana. Ela não se contenta com as palavras apressadas do marido e também busca ao Senhor que a abençoa e ela também concebe (1Sm 1.9-20).

À semelhança do que fez Elcana, muitos cristãos, em vez de buscar ao Senhor, tentam resolver os seus problemas desconsiderando o Senhor. O problema disto é que qualquer coisa ou pessoa que pretensamente seja apresentado como fonte de alegria, paz, segurança e tantas outras bençãos que há no Senhor serão meros paliativos e trarão ainda mais insegurança a quem neles confia.

Você percebe isto nas palavras de Jesus que exortou os discípulos a não buscarem tesouros sobre a terra, mas no céu, apontando para o caráter perecível dos tesouros da terra que “traça e ferrugem corroem e [...] ladrões escavam e roubam” (Mt 6.19). Não sem razão, no contexto, Jesus demonstrou que o coração dividido entre dois senhores viverá ansioso.

Ao confiar no dinheiro, por exemplo, haverá sempre a preocupação em perdê-lo. Ao colocar a esperança de alegria em uma pessoa, o coração ficará aflito por saber que, a qualquer momento, a morte pode ceifar aquele que se transformou em fonte de alegria.

Desta maneira, é imperativo que os seus olhos estejam fitos em Jesus Cristo. Nele deve estar a sua confiança. Se você estiver convicto de tudo isto conseguirá se beneficiar das bênçãos concedidas pelo Senhor e, mesmo que venha a ficar sem elas, terá a mesma atitude de Jó que exclamou: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1.21).

Se estiver confiado no Senhor poderá, como Paulo, afirmar: “aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.11-12).

Você não é autônomo. Se quiser viver como se fosse, estará sempre aflito e sem esperança. Confie no Senhor e seja sempre fortalecido por ele!