06 abril 2019

Autoestima - uma doutrina anátema

Sei que o título talvez espante aqueles cristãos que já assimilaram que o dogma da autoestima é algo ensinado pelas Escrituras, mas é preciso apontar e nominar o falso ensino, afinal de contas, conforme Paulo, qualquer evangelho que seja diferente daquele pregado pelos apóstolos deve ser classificado como maldito (Gl 1.6-9).

Se você pesquisar na internet verá várias definições sobre o que seria o ensino da autoestima. Creio que uma que resume bem é o de Dorothy Briggs: “a autoestima é a maneira pela qual uma pessoa se sente em relação a si mesma. É o juízo de si mesmo, o quanto gosta de sua própria pessoa”.

A ideia é que se alguém não se sente bem em relação a si mesmo e não gosta de sua própria pessoa possui uma baixa autoestima, ou seja, esta pessoa carece de amor próprio. Como consequência pode vir a depressão, timidez em excesso, problema em dizer não, sensação de culpa, necessidade constante de elogios, etc.

Por outro lado, se alguém tem a sua autoestima elevada, ou seja, se é uma pessoa com um bom conceito a respeito de si mesma e que se ama, esses problemas seriam curados e não mais existiriam.

Estas ideias não saíram da Escritura. Na verdade, ao falar sobre o amor próprio, as Escrituras o apontam como um mal. Paulo advertiu a Timóteo afirmando que “nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos; porque haverá homens amantes de si mesmos” (2Tm 3.1-2a – ARC). Entretanto, elas podem ser vistas em várias linhas das psicologias existentes, que tentam explicar quem é o homem, o que está errado com ele e como ele pode ser “consertado”. A despeito disso, elas foram inseridas na pregação de muitos pastores que a tomam como base de seus sermões. Um exemplo desse tipo de pregação é um vídeo que viralizou recentemente em que Deive Leonardo, pregador itinerante, afirma aos seus ouvintes frases como:

“Do evangelho Jesus é o centro, mas de Jesus... você é o centro”, “você é importante. Tudo o que Jesus fez apontou para você”, “Você é importante. Se qualquer história, qualquer legado, qualquer palavra, contra você, menosprezou, colocou para baixo, eu digo em nome de Jesus, pra você: você é a pessoa mais importante da terra, porque tudo o que Jesus fez, foi por tua culpa. Você é importante”.

Ao assistir este vídeo, lembrei de imediato das palavras de um pastor Luterano, Don Motzat, que li há alguns anos:

Tenho ouvido mais de um pastor declarar em sermão que a morte de Cristo prova nosso valor pessoal. [...]

Um recente programa de televisão reportou a acareação de um assassino que admitiu a responsabilidade por pelo menos quinze assassinatos. O juiz firmou sua fiança em cinco milhões de reais! Será que usaríamos o mesmo tipo de raciocínio para concluir que esse homem deveria se sentir bem acerca de si mesmo considerando-se como um ser humano de especial valor, uma vez que o juiz firmou sua fiança em valor tão alto? Afinal, ele vale cinco milhões de reais para a sociedade!

A fiança de cinco milhões obviamente não reflete o valor do assassino, mas a severidade do seu crime. Igualmente, a morte do nosso Senhor Jesus Cristo na cruz não é uma declaração de nosso valor, mas indica a profundidade do nosso pecado e culpa diante de Deus.

[...]

Geralmente ouvimos dizer: ‘Se eu fosse a única pessoa na terra, ainda assim Jesus teria morrido por mim’. Embora nosso Senhor pudesse ter dado sua vida por apenas uma pessoa, isso não seria por que essa pessoa era valiosa, mas porque Deus seria gracioso. Tal ocorrência dificilmente poderia ser vista como fonte de orgulho ou auto-estima. Argumentar que Jesus teria morrido por mim ainda que eu fosse a única pessoa na terra, simplesmente indica que meus pecados, sem a contribuição de outras pessoas, eram suficientes para exigir a severa punição que Jesus Cristo vicariamente assumiu em meu lugar. Quando confrontado com essa realidade, devemos lamentar pelo sacrifício altruísta de nosso Senhor em vez de achar nisso mais uma oportunidade de sentir-nos bem sobre nós mesmos (Religião de Poder – Ed. Cultura Cristã).

Notou a discrepância da abordagem? O que faz toda a diferença é que uma está centrada em Cristo enquanto a outra tem como centro o homem. Este é um grande mal que a tentativa de integrar a psicologia com a Bíblia tem feito ao evangelho. Por esta razão afirmei de início que a mensagem da autoestima deve ser classificada como anátema. Quando Paulo afirmou aos gálatas que um evangelho diferente do que ele pregou seria anátema, o problema era também tirar Cristo do centro. Em vez de entender a salvação pela graça, os gálatas estavam acreditando que a salvação se dava por causa daquilo que eles faziam, da guarda da lei.

A pregação sobre a autoestima, sobre o valor do homem faz o mesmo, mudando o que deve ser mudado, pois nesse caso, não há nem o esforço para o homem fazer algo a fim de ser salvo. Ele é salvo por causa daquilo que é da importância que tem, o que teria movido Deus a salvá-lo. No fim das contas, em ambas as distorções, o homem é o centro.

Tenho dito que o pior livro para aqueles que querem ter uma autoestima elevada e querem se ver como muito importantes é a Escritura. Na Escritura, o valor do homem não é definido por causa de quem ele é, em si mesmo, mas por causa de quem ele representa. Ele foi formado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26-28). Seu valor não é próprio, mas atribuído e é isso que lhe confere dignidade.

O problema é que a Escritura anuncia a queda de Adão (Gn 3) e, como consequência, a queda de toda a humanidade. A partir de então, como afirma Paulo, “tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda a boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus, visto que ninguém será justificado por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado” (Rm 3.19-20).

Como o dogma da autoestima quer livrar o homem da culpa, ele está em franca oposição com o objetivo da Lei. Logo, da mesma maneira em que a Lei, ao evidenciar a culpa do homem, aponta para Cristo, única solução para a sua vida, o dogma da autoestima afasta o homem de Cristo ou, pelo menos, do verdadeiro Cristo revelado nas Escrituras, ao “aproximá-lo” de um Jesus que tem o homem como centro.

Os discípulos que tinham uma elevada ideia a respeito de si mesmos e que, por isso, se acharam no direito de pedir ao Senhor que no seu reino um se assentasse à sua direita e outro à sua esquerda, ouviram que no Reino de Deus “quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva” (Mt 20.20-28 cf Mc 10.35-45).

O homem já se ama por demais. O que ele precisa, convencido pela Lei, é confessar o pecado de viver para si mesmo, se render a Cristo e, por meio dele, aprender a amar a Deus e ao próximo, pois “destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mt 22.40).

O cristão é chamado a negar a si mesmo e seguir a Cristo (Mc 8.34-38). É chamado a considerar os outros superiores a si mesmos (Fp 2.3), a preferir os outros em honra (Rm 12.10), a não pensar de si mesmo mais do que convém (Rm 12.3), pois o verdadeiro amor (a Cristo e ao próximo) não procura seus próprios interesses (1Co 13.5).

Ensinar os homens a amarem a si mesmos é afasta-los da dura realidade de seus pecados e, consequentemente, da Redenção que há somente em Cristo Jesus.

Se o amor próprio ou a estima por si mesmo pudesse ajudar o homem, o Senhor Jesus Cristo não precisaria dar a própria vida a fim de que pecadores pudessem ter vida em abundância ao negarem a si mesmos e viverem para Deus. A suficiência do cristão não está em si mesmo, mas na pessoa bendita do Redentor Jesus Cristo. Ao invés de autoajuda ou autoestima, o cristão deve ter uma alta estima por Jesus. Como afirma Powlison, em um de seus livros, “a alta estima por Jesus dá resultado!”.

Rejeite as ideias seculares que se opõem às Escrituras!


Mais textos sobre este assunto aqui no blog:

Amar a quem?

Na verdade não, você não pode!

0 comentários: