No mundo animal o temido jacaré tem a parte da barriga formada por um couro mais fino que o restante do corpo, o que torna essa parte mais vulnerável a ataques. Vem daí o ditado popular que diz que “em rio que tem piranha, jacaré nada de costas”. A intenção do dito é clara, mostrar que as pessoas devem ser precavidas e não se expor a eventuais perigos.
Quando escreveu aos colossenses, Paulo também advertiu aqueles irmãos para que fossem precavidos: “Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo” (Cl 2.8). Aos efésios (4.11-14) ele afirmou que para os crentes não serem enredados foram concedidos “dons de ensino”. A razão de ser desses dons é para que não sejamos “levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro”.
Não só nas epístolas paulinas, mas também em outras cartas do NT temos vários avisos para ter cuidado com os falsos ensinos e a afirmação de que o “instrumento de aferição” do ensino é sempre a sã doutrina, ou seja, o que a Escritura ensina.
Vivemos um tempo confuso no que diz respeito a doutrinas. Na medida em que as igrejas evangélicas têm se multiplicado, multiplica-se também a confusão. Podemos observar muitas pessoas ensinando supostas revelações de Deus, mas sem a devida preocupação de falar de acordo com o que o Senhor de fato revelou em sua Palavra infalível e inerrante.
Penso que um dos grandes problemas que enfrentamos hoje é na área musical. Os autodenominados “levitas” têm cantado coisas difíceis de se explicar, para não dizer heréticas.
Sem entrar no mérito da impropriedade do termo “levita”, pois nenhum deles nasceu na tribo de Levi, e na nova Aliança não há um grupo especialmente designado para ajudar os sacerdotes, até porque todos somos sacerdotes (1Pe 2.9), a verdade é que eles acabam “doutrinando” os seus fãs com aquilo que cantam.
Por conta dessa má doutrinação, há um grande número de “adoradores extravagantes”, crentes “apaixonados” por Jesus e irmãos que se acham “A geração de adoradores”, para não falar daqueles que querem estar no “lugar secreto da adoração”, seja lá onde for isso. Pior ainda é ouvir pessoas pedindo para “ficar com Jesus”, “tocar em Jesus”, “deitar no colo de Jesus”, dentre outras aberrações que têm sido cantadas, mas que não são encontradas nas Escrituras.
Quando essa turma da cantoria que parece não ler a Bíblia, ou se leem a ignoram, resolve “profetizar”, aquilo que estava ruim pode ficar muito pior. Dia desses recebi um vídeo em que uma famosa “pastora” e um “apóstolo” falavam de tal principado boiadeiro que tem um tripé com base em três locais do mundo, Dallas, Barretos e Madri. Isso, segundo o apóstolo, explicaria a ida da pastora para Dallas para combater uma das bases. O apóstolo, que reside em Barretos, afirma ainda que sempre tem levado “homens e mulheres” de Deus a Barretos para profetizar, tocando numa ferradura que há na cidade, que Barretos é do Senhor Jesus.
Se não bastasse isso, a pastora conta que Deus a mandou comprar uma bota de couro de cobra Python e com aquela bota ela enfrentou principados de python, mas nos EUA a bota estragou e Deus a mandou comprar uma bota de cowboy. No fim das contas, tudo isso serviu para fazer a propaganda do próximo CD que terá um figurino de cowboy e declarará que os peões são do Senhor Jesus, ou seja, no fim das contas, tudo é comércio. Ao ouvir isso é impossível não lembrar as palavras do apóstolo Pedro, que afirmou que os falsos mestres estariam dentro da igreja e “movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias” (confira 2Pe 2.1-3).
Essa mesma pastora já protagonizou outros episódios ridículos como, por exemplo, andar engatinhando em um show imitando um leão ao receber a “unção do Leão” e ao explicar a razão de tal ato descreveu tudo o que havia acontecido naquele dia, incluindo o figurino que Deus a tinha mandado usar naquela ocasião. Toda a loucura foi “em nome de Deus”.
O pior é que os fãs aplaudem, acreditam, defendem ferrenhamente tudo o que ela faz sem o respaldo das Escrituras e ai de quem falar que aquilo não procede de Deus.
No tempo em que vivemos, devemos estar bem atentos ao que escreveu o profeta Jeremias:
“Assim diz o Senhor dos Exércitos: Não deis ouvidos às palavras dos profetas que entre vós profetizam e vos enchem de vãs esperanças; falam as visões do seu coração, não o que vem da boca do Senhor. [...] Não mandei esses profetas; todavia, eles foram correndo; não lhes falei a eles; contudo, profetizaram. Mas, se tivessem estado no meu conselho, então, teriam feito ouvir as minhas palavras ao meu povo e o teriam feito voltar do seu mau caminho e da maldade das suas ações” (Jr 23.16,21,22).
Pensando nisso, bem que poderíamos fazer uma releitura do dito popular e afirmar: “Em lagoinha que tem levita, quem leva as Escrituras a sério não deveria nem nadar”. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.