28 agosto 2013

As mentiras dos outros... e as minhas

mentira-2Esta semana fui novamente levado a pensar sobre a mentira. Abri o Facebook e li a notícia de que um amigo ia ter mais um filho e, claro, tratei de parabenizá-lo. Mais tarde tomei conhecimento de que tudo não passava de uma “brincadeira” feita por amigos dele que entraram em sua conta e colocaram a notícia.

Em princípio fiquei bravo de ter sido enganado e comecei a pensar nos desdobramentos. Quantas pessoas não poderiam ter passado a notícia para frente, até para familiares que não têm acesso ao Facebook, e criar uma falsa expectativa? Isso me deixou ainda mais furioso, mas me levou a pensar também nas minhas mentiras.

Em “brincadeiras” com minha filha, às vezes falo algo que não é verdadeiro só para ver a reação da pequena. Às vezes, diante de uma palavra malcriada da parte dela, ao invés de ensiná-la a honrar os pais, como Deus ordena, finjo que estou triste e chorando para ver se ela vai demonstrar algum arrependimento ou, no caso, remorso, visto que no fim das contas ela não está aprendendo a lamentar pelo que fez, mas pela consequência do que fez.

Quando o foco do meu pensamento passou a ser as minhas mentiras, o caso não me pareceu assim tão grave e fui tentado a racionalizar: “Não podemos levar tudo a ferro e fogo! O que tem de mais numa brincadeira?”, “todos gostamos de nos divertir”, mas pela graça de Deus logo me veio à mente o versículo de Provérbios 26.18-19: “Como o louco que atira brasas e flechas mortais, assim é o homem que engana o seu próximo e diz: ‘Eu estava só brincando!’” (NVI).

Creio que o Senhor fez registrar esse texto na Escritura exatamente por causa dessa nossa tendência de tentar minimizar aquilo que a Bíblia chama de pecado. Se sou eu a quebrar a Lei do Senhor é melhor aliviar um pouco e dizer que é apenas diversão ou que estamos a testar alguém.

Como cristãos sabemos, ou deveríamos saber, de cor o nono mandamento que diz: “Não dirás falso testemunho contra o seu próximo” (Êx 20.16), e aí está o maior dos problemas da mentira. Ela não é má e desaconselhada somente porque pode criar falsas expectativas, como no caso da notícia sobre o “novo filho” do meu amigo, ou porque pode ser usada para ensinar errado, como no meu caso com minha filha, mas porque é uma afronta àquele que é a Verdade (Jo 14.6) e que ordena a seus filhos que falem a verdade. Calvino é preciso em sua interpretação desse mandamento, quanto afirma:

“Por este mandamento Deus, que é a verdade, e que detesta a mentira, obriga-nos a dizer e manter a verdade sem fingimento. O sumário disso é que não prejudiquemos a reputação de ninguém com calúnias ou boatos, nem lhe causemos dano com relação a seus bens com falsas acusações. Enfim, que não prejudiquemos ninguém com calúnias ou com zombaria” (Institutas I.III.69).

Quando falamos a verdade honramos ao Deus da verdade, mas quando mentimos ou damos crédito à mentira agimos como promotores do diabo, que é o pai da mentira (Jo 8.44). Não há meio-termo, não existe possibilidade de falar mentira e, ao mesmo tempo, cumprir o nosso chamado para glorificar a Deus em tudo o que fizermos (1Co 10.31).

Ao mentir desonramos diretamente a Deus quando quebramos a sua Lei, indiretamente ao levar pessoas a louvar a Deus por algo que ele não fez, como no caso dos cumprimentos recebidos por meu amigo, e expomos outros ao pecado, como no meu caso ao instruir errado a minha filha e acabar levando-a ao remorso em vez do arrependimento, e isso só para ficar nos dois casos que estou tratando aqui.

A tentação de mentir está mais presente em nosso dia a dia do que imaginamos: para nos esquivar de responsabilidades sem parecer preguiçosos, não parecer mal-educado diante de alguém que lhe ofereceu uma comida da qual você não gostou muito, não ser repreendido por algum erro cometido no trabalho, não começar uma briga com a esposa que não entenderá se a verdade for dita ou ainda para nos divertir à custa de outros.

Diante disso devemos examinar o nosso coração diante de Deus, lembrando-nos sempre de que fomos chamados para deixar a mentira e falar sempre a verdade com o próximo (Ef 4.25) e, é claro, falando a verdade em amor a fim de crescer em Cristo Jesus (Ef 4.15).

Não brinque com a mentira, pois, como afirmou Salomão, isso é coisa de louco (Pv 26.18-19).

Que Deus nos ajude.

08 agosto 2013

Fique atento às suas motivações

motivação coração2Deus não está mais preocupado com o que fazemos do que com a razão pela qual fazemos e é fácil perceber isso nas Escrituras. Esse foi o motivo de Jesus afirmar categoricamente acerca dos fariseus: “Esse povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Mt 15.8). Ao mesmo tempo em que declaravam louvores ao Senhor, os fariseus negavam a Palavra e ensinavam seus próprios princípios (Mt 15.9).

Podemos verificar essa mesma verdade no julgamento de Jesus quanto às “boas ações” dos fariseus, por ocasião do sermão do monte. Ali o Senhor os chamou de hipócritas, repreendendo suas ações de dar esmolas (Mt 6.2), orar nas sinagogas e praças (Mt 6.5) e fazer jejum (Mt 6.16). Conquanto essas atitudes não fossem pecaminosas em si mesmas, acabavam se tornando pecado por causa da motivação dos fariseus para fazerem todas elas: “serem glorificados pelos homens”, “serem vistos dos homens” e “com o fim de parecer aos homens”, respectivamente.

Ao invés de buscar o reino de Deus e a glória do Redentor, os fariseus estavam preocupados com seus reinos pessoais e com a glorificação de si mesmos.

Infelizmente essa não era uma realidade exclusiva dos fariseus. Vemos todos os dias cristãos tentando evitar o pecado, também motivados por seus próprios reinos. Isso pode ser verificado em conselhos como: “Não tenha relações sexuais antes do casamento, pois se você engravidar vai estragar sua vida e terá que parar de estudar para se dedicar ao bebê”; ou, “Eduque o seu filho para que não precise passar vergonha na frente dos outros quando ele lhe desobedecer em público”; ou ainda; “Agrade o seu cônjuge para que conceda o carinho de que você precisa”.

Conselhos como esses estão totalmente comprometidos somente com o “reino do eu”, com aquilo que é bom para mim e, por isso, ainda que os jovens sejam castos, os filhos educados e os cônjuges estejam vivendo bem, Deus não está sendo honrado.

Há ainda outra questão. Quando o motivo para se evitar o pecado é algo que “eu” acho que trará uma consequência ruim para o “meu reino”, além de se ter um entendimento distorcido de em que consiste a vida cristã, bastará que “eu” mude de opinião para começar a fazer o que eu antes proibia. Tomando um dos exemplos acima, teríamos alguém evitando sexo antes do casamento para não correr o risco de uma gravidez indesejada. O ensino distorcido que fica claro é: filhos são um problema. Mas se a opinião sobre isso mudar e se entender que ter filhos é algo bom (o que é verdadeiríssimo) não haveria mais a “barreira” para o sexo pré-marital. Se o reino é meu, as regras são minhas e, por conta disso, nunca haverá honra a Deus.

Para que o Senhor seja honrado as razões para não pecar devem emanar da sua Palavra e do entendimento de que o pecado é primeiramente uma afronta à sua santidade. Assim, o relacionamento sexual antes do casamento deve ser evitado porque afronta a Deus (Hb 12.4), os filhos devem ser educados para honrar a Deus (Dt 6.1-7) e os cônjuges dever servir um ao outro porque essa é a vontade de Deus (Ef 5.21-33).

O pecado não é ruim, primariamente, por causa das consequências que traz, mas por causa de quem é primeiramente afrontado, o Santo Deus, e isso deve nortear também a nossa confissão de pecados, que pode revelar um coração arrependido ou simplesmente remorso e aqui estamos, mais uma vez, a tratar de motivações.

Para ilustrar, pense em dois exemplos conhecidos. Sabemos que Judas traiu a Jesus e às vezes nos esquecemos de que Pedro também o fez, quando o negou. A diferença entre os dois foi que Pedro entristeceu-se por ter traído o mestre (Mt 26.75) e mais à frente foi restaurado (Jo 21.15-17), enquanto Judas entristeceu-se por causa da consequência de sua traição, que foi a condenação à morte de Jesus (Mt 27.1-3), e, não conseguindo viver com o remorso, suicidou-se. Os motivos foram bem distintos.

As motivações procedem do coração (Mt 6.21), razão de lermos em Provérbios que “assim como a água reflete o rosto, o coração reflete quem somos nós” (Pv 27.19 - NVI). É o nosso coração que demonstra se vivemos para Deus ou se vivemos para nós mesmos. Diante disso, devemos fazer coro com o salmista e, perante Deus, afirmar: “Guardo no coração as tuas palavras” – com a mesma e correta motivação – “para não pecar contra ti” (Sl 119.11).

Vivendo dessa forma poderemos, como ordenou Paulo, comer, beber, ou fazer qualquer outra coisa sempre motivados por dar toda a glória a Deus (1Co 10.31).

Deus nos abençoe.