28 dezembro 2018

O falso deus chamado Jesus

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De todos os falsos deuses, penso que o pior seja o que é chamado de Jesus. Não se preocupe, eu não apostatei da fé. Estou aqui a pensar na advertência de Jesus aos seus discípulos: “Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! Ou: Ei-lo ali! Não acrediteis; porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios, para enganar, se possível, os próprios eleitos” (Mt 24.23-24).

Eu sei que a advertência se refere à questão da volta de Jesus, mas creio que ela pode ser aplicada também ao falso ensino acerca do Senhor, principalmente se considerarmos que ele falou sobre a necessidade de crer nele como revelado em sua Santa Palavra, ao dizer: “Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva” (Jo 7.38).

Não é de hoje que falsos mestres levam o povo ao erro, ensinando heresias a respeito do Filho de Deus. No Novo Testamento é possível verificar que falsos mestres ensinaram que ele não tinha um corpo físico (1Jo 4.2-3), que ele não havia ressuscitado (1Co 15.12-15) e que ele não mais voltaria (2Pe 3.9). No decorrer da história da Igreja, várias outras heresias foram ensinadas: Ele não era Deus; ele não era homem; ele foi adotado por Deus; ele foi a primeira criatura de Deus; etc. A teologia liberal fala de um “Jesus da fé”, fruto da crença dos discípulos, enquanto afirma que o “Jesus histórico” permaneceu morto. Fora do âmbito eclesiástico, outras concepções a respeito de Jesus, igualmente erradas, retratam-no como um revolucionário, um espírito iluminado, um grande mestre, etc. No Brasil há, inclusive, um maluco que afirma ser o próprio Jesus Cristo.

Qualquer ensino que negue que Jesus Cristo é o próprio Deus encarnado leva os homens a crer não do Messias prometido, mas em um falso deus. Quando se imagina um Jesus diferente da forma como ele é retratado nas Escrituras, os homens estão diante de um ídolo.

A consequência é que não há vida abundante para os que não creem nele como diz a Escritura. Anos atrás, foi-me encaminhado um irmão, pretensamente crente no Senhor Jesus, membro de uma igreja evangélica, plenamente engajado em sua igreja, ocupando inclusive cargos, e que passava por crises terríveis de ansiedade e depressão.

Em uma de minhas conversas com ele, após verificar que o que lhe tirava a paz eram vários pecados cometidos, os quais ele disse já ter confessado a Deus, sem contudo se ver perdoado e encontrar a paz, perguntei quem era Jesus, em sua concepção.

O que se seguiu foi um dos momentos mais esquisitos em todos os meus anos de aconselhamento pastoral. Aquele “irmão” me olhou e disse: “Eu acho que existe um planeta cheio de Jesuses, comprometidos com a paz interplanetária, e um desses veio para a Terra”. Após o susto inicial e a tentação de achar que eu estava sendo alvo de alguma pegadinha, ou câmera escondida, lembrei de uma de minhas leituras feitas ainda na adolescência (santa providência!) e perguntei se ele conhecia um livro chamado Eram os deuses astronautas?. Com a resposta afirmativa, comecei a evangelizar aquele homem, mostrando que aquele pretenso Jesus de fato não o levaria a experimentar a paz.

Este homem era estudado, havia feito até doutorado, destacando-se em sua área de atuação, mas estava profundamente enganado a respeito de Jesus Cristo. Sua crença não vinha da Palavra de Deus, mas de um livro que defende a tese da existência de seres inteligentes em outros planetas, que no passado trouxeram grandes conhecimentos à Terra e, por mais que ele fizesse parte de uma igreja evangélica e chamasse o seu deus de Jesus, o objeto de sua fé era um ídolo.

Sim, são terríveis as consequências de crer em Jesus à parte da Escritura. A despeito disso, muitos têm ensinado a respeito de um Jesus que é manipulado pelas orações, campanhas e “pagamentos de preço” dos fiéis, crença que em nada difere, por exemplo, do santo Antônio que é amarrado de cabeça para baixo a fim de que arrume um casamento para o fiel, ou das entidades a quem se oferecem sacrifícios com o fim de alcançar o que se almeja. Como é de se esperar de todo falso deus, esse ídolo chamado Jesus leva os fiéis à decepção e tristeza, pois não cumpre o que é anunciado pelos vendedores de campanhas.

É preciso rejeitar os falsos ensinos a respeito do Senhor Jesus, afinal de contas, como afirmou o próprio Redentor: “A vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3). Quando os discípulos do caminho de Emaús estavam preocupados e entristecidos, após a morte de Jesus, ainda que tivessem ouvido que ele havia ressuscitado, foram repreendidos pelo Senhor que os chamou de néscios e tardos de coração. A razão de toda aquela tristeza era não crerem em tudo o que os profetas disseram a respeito de Jesus, por isso, “começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras” (Lc 24.13-27).

Quando você ouvir sobre Jesus, faça como os bereanos! Ouça com atenção e confira nas Escrituras a fim de verificar se as coisas são de fato assim (At 17.11). Como ensina o Catecismo Maior de Westminster, “as Escrituras ensinam, principalmente, o que o homem deve crer acerca de Deus, e o dever que Deus requer do homem” (Pergunta 5).

Jesus é o Deus encarnado e Somente nas Escrituras você aprenderá corretamente a respeito dele a fim de encontrar salvação e vida abundante. Muito cuidado, então, para não estar crendo em um falso deus, pois um falso deus não salva, ainda que você o chame de Jesus.

20 dezembro 2018

Crer, adorar e fazer– ou: cuidado com os teólogos de internet

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Qual é a razão do estudo teológico? Esta pergunta é indubitavelmente importante, sobretudo em dias em que o interesse pela teologia reformada tem aumentado exponencialmente. Como pastor de uma denominação herdeira da teologia reformada, muito me alegro com esse crescimento, ainda que a alegria venha com pelo menos duas preocupações.

As preocupações se dão por fatos que podem ser notados facilmente, navegando um pouco nas redes sociais. Crescem a cada dia as páginas de cunho pretensamente reformado. Todos os dias centenas de citações de teólogos são compartilhadas e recompartilhadas, algumas até mesmo de autoria duvidosa. Basta navegar um pouco para comprovar.

Cito, então, minha primeira preocupação: muitos daqueles que se dedicam a cuidar de suas páginas e comunidades, além daqueles que estão interagindo com todo esse conteúdo, não se dedicam da mesma forma à igreja local. Alguns sequer fazem parte de uma igreja e estão submissos ao pastoreio daqueles que o Senhor chamou para cuidar de sua igreja. Eis um terrível contrassenso: a tentativa de reformar a Igreja, estando fora de sua jurisdição.

Minha segunda preocupação é o fato de que, em muitos casos, o amor pelo debate e discussões é um fim em si mesmo. Com o álibi de defender a sã doutrina, ofensas são proferidas a irmãos e o Evangelho, não poucas vezes, é envergonhado. Vi certa vez um jovem que expôs um pastor em praça (post) pública, propondo a queima do “herege” na fogueira virtual de maledicências do Facebook (fogueira alimentada pelo combustível das “curtidas”) porque tal pastor tinha uma posição diferente da que tinha o tal jovem em certo assunto, posição que, diga-se de passagem, não tem consenso nem mesmo entre teólogos sérios e respeitados no meio reformado.

Jovens como este muitas vezes agem como “justiceiros virtuais reformados”. Um justiceiro é aquele que decide punir criminosos à margem da lei, tomado pelo desejo de “fazer justiça” com as próprias mãos. Estes jovens, se estivessem seriamente comprometidos com a Igreja, denunciariam tais pastores aos concílios responsáveis e, caso fosse provado que são falsos mestres, eles poderiam ser corretamente disciplinados. Mas parece que o Facebook é o novo concílio e tais pessoas, do alto de sua sabedoria teológica adquirida na leitura de meia dúzia de livros ou artigos, as autoridades supremas para decidir pela queima de “hereges”.

O amor pela doutrina não pode ser um fim em si mesmo. Eu sei da beleza intelectual que há na teologia reformada, mas tem acontecido com muitos o que expressa Oswaldo Montenegro em uma de suas músicas, em que diz: “Eu amava como amava um pescador que se encanta mais com a rede que com o mar”. Aqueles que amam a doutrina pela doutrina deixam de contemplar a beleza do Deus que se revela por meio de seu Filho Jesus Cristo, da mesma forma que um pescador que, encantado pela rede, deixa de lado a beleza do mar.

O caminho bíblico é diferente do que tem acontecido e que é alvo de minha preocupação. Josué é ordenado por Deus a não deixar de falar do Livro da Lei. A responsabilidade em falar seria grande, mas “antes [disse também o Senhor], medita nele dia e noite, para que tenhas o cuidado de fazer tudo quanto nele está escrito” (Js 1.8). Josué precisava meditar, fazer e falar.

No livro de Esdras, vemos algo parecido. O texto diz que a boa mão de Deus era sobre ele, “porque Esdras tinha disposto o coração para buscar a Lei do Senhor, e para a cumprir, e para ensinar em Israel os seus estatutos e os seus juízos” (Ed 7.10). Percebeu? Buscar (meditar, estudar), fazer e falar.

A doutrina tem por objetivo apontar para Deus e dar glória a ele. É isso que você percebe na carta aos Romanos. Paulo, após 11 capítulos expondo a doutrina da salvação, terminou extasiado, dizendo: “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os teus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Rm 11.33-36). Quando o estudo da Teologia não conduz você à adoração e obediência, para a glória de Deus, ele é vão e apenas acrescenta sobre a sua cabeça maior condenação.

Aqueles que se preocupam em espalhar a boa doutrina estão certos, mas, se querem honrar a Deus, precisam estar ligados a uma igreja e comprometidos com ela. Ser membro do corpo de Cristo não é opcional para o cristão.

Da mesma forma, devem amar a Cristo e aos irmãos, e isso se refletirá até mesmo nas discussões teológicas, onde o objetivo não será mais vencer o debate, mas dar glória a Deus e levar irmãos ao entendimento da verdade.

A doutrina reformada, por ser bíblica, é bela! Entretanto, ela não aponta para si mesmo, mas para aquele que é a sua fonte, o Soberano Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo.

Creia, adore e faça! Não tente fazer sem crer, tampouco sem dar glória a Cristo, a fim de não cair no erro de, ao querer “reformar” a Igreja, acabar prejudicando e trazendo transtornos, além de ser achado em falta diante de Deus.

30 novembro 2018

Você não precisa conhecer o futuro, mas o Senhor

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Em meu primeiro ano de ministério, estive numa região em que, infelizmente, algo se repetia constantemente. Era encontrar os pastores em alguma reunião que logo vinha a pergunta: “Você crê em revelação?”, ao que eu já respondia categoricamente com um sonoro “não”. Digo infelizmente porque pastores presbiterianos deveriam, por dever de ofício na IPB, ser confessionais e, para ser ordenados precisam, necessariamente, subscrever a Confissão de Fé e os Catecismos de Westminster que são documentos cessacionistas.

Em um determinado encontro, resolvi responder à pergunta de forma diferente, buscando conversar mais acerca do assunto. Um pastor se aproximou e já soltou: “Você crê em revelação?”. Desta vez eu disse: “sim, é claro!”, deixando-o animado com a resposta. Logo, então, continuei: “Creio em revelação, inclusive já a li hoje pela manhã!”

De repente, a animação inicial transformou-se num olhar de decepção. O irmão explicou que estava falando de outro tipo de revelação e eu pedi que ele me explicasse mais sobre sua crença. Segundo ele, a revelação à qual se referia dizia respeito a eventos futuros na vida de alguém. O exemplo que ele me deu foi de alguém que iria viajar e que recebeu uma “revelação” na igreja. Foi dito a ele que se ele viajasse, um acidente aconteceria na estrada causando-lhe a morte.

Diante disso, perguntei: “Então este irmão tinha duas opções pela frente: se ele viajasse, morreria, se não viajasse, permaneceria vivo, é isso mesmo?”, ao que o pastor me respondeu afirmativamente. Perguntei, então, acerca do Salmo 139, em que Davi afirma: “Os teus olhos me viram, a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda” (Sl 139.16). Como entender esse texto em relação ao futuro incerto do irmão que recebeu a revelação? Daquele momento em diante reinou o silêncio. Parecia que aquele pastor nunca tinha pensado acerca da implicação do seu entendimento sobre revelação “particular”.

Como ele, muitos cristãos não param para pensar em sua crença e em como elas podem colocá-los em confronto com a Palavra de Deus. Nesse caso, em particular, parece que o desejo de saber sobre o futuro, de ter um direcionamento “mais seguro” por uma revelação direta de Deus, pode ser uma explicação para um entendimento tão distante da Palavra de Deus. A ideia de Deus estar direcionando a vida por meio de uma revelação específica sobre as escolhas a serem tomadas e seus desdobramentos parece dar mais “segurança”, além de retirar das pessoas a responsabilidade ou, no mínimo, fornecer um bom álibi diante das consequências.

Por exemplo, se eu deixo de viajar para um compromisso importante porque Deus me revelou que eu morreria na estrada se fosse, quem me recriminaria pela decisão de não ir, ainda que tenha faltado com minha palavra? E, ainda que houvesse repreensão, eu ficaria em paz comigo mesmo, afinal de contas, eu somente “ouvi a voz de Deus”.

Voltei a pensar nisso dia desses, enquanto dirigia para o escritório ouvindo no carro a narração do livro de Atos. Importa lembrar aqui que em Atos a revelação ainda não está completa e os livros do Novo Testamento estão sendo escritos. Os dons revelacionais estão em plena atividade. Hoje, cremos (pelo menos os que subscrevem a Confissão de Westminster) que “foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isso torna indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo” (CFW I.I).

Dito isso, pense na experiência de Paulo, descrita em Atos 21. Ele estava em Cesareia, na casa de Filipe, quando o profeta Ágabo chegou da Judeia. Ágabo pegou o cinto de Paulo “ligando com ele os próprios pés e mãos [e] declarou: Isto diz o Espírito Santo: Assim os judeus, em Jerusalém, farão ao dono deste cinto e o entregarão nas mãos dos gentios” (At 21.8-11).

Diante de tal revelação, Lucas registra que todos eles pediram a Paulo para não ir à Jerusalém. Isso é totalmente compreensível. Diante do anúncio da prisão em Jerusalém os amigos estavam preocupados.

A resposta e a atitude de Paulo nesta situação têm muito a ensinar, sobretudo a irmãos como o da experiência narrada no início deste texto. O apóstolo questionou: “Que fazeis chorando e quebrantando-me o coração? Pois estou pronto não só para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus”. Após a Palavra de Paulo, Lucas diz: “Como, porém, não o persuadimos, conformados, dissemos: Faça-se a vontade do Senhor!” (At 21.13-14).

A pergunta a ser feita aqui é: Por que é que Paulo, mesmo sabendo o que aconteceria com ele em Jerusalém, não deixou de cumprir o seu ministério (Cf. At 20.24)? Como se manteve fiel à sua responsabilidade?

A resposta é simples, quando Paulo foi comissionado por Deus, ele ouviu, da parte do Senhor, que ele levaria o nome do Senhor perante gentios e reis e aprenderia o “quanto [...] importa sofrer pelo meu nome” (At 9.15-16). Ele mesmo havia afirmado: “vou para Jerusalém, não sabendo o que ali me acontecerá, senão que o Espírito Santo, de cidade em cidade, me assegura que me esperam cadeias e tribulações” (At 20.22-23).

Paulo toma sua decisão pautado na Palavra que o Senhor lhe dera. A consciência, por meio de uma revelação, do que o esperava, não fez o apóstolo deixar de cumprir o seu chamado, pensando em “mudar a sua sorte” e livrar-se do que o Senhor disse que ocorreria.

Tendo os antigos meios de Deus revelar a sua vontade cessado (Hb 1.1-2) temos tudo aquilo de que precisamos para direcionar a nossa vida na Santa Palavra de Deus. Como afirmou Moisés, “as coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei” (Dt 29.29).

É triste perceber que muitos que buscam novas revelações para direcionar suas vidas, pouco conhecem daquilo que o Senhor fez registrar nas Escrituras e, exatamente por isso, têm práticas que vão contra a Palavra.

Não precisamos conhecer o futuro. Precisamos conhecer o Senhor Jesus Cristo, como revelado em sua Palavra. Busque, com a iluminação do Espírito de Cristo, encher seu coração da Palavra de Deus a fim de honrá-lo em suas práticas e decisões. Em Cristo, você está seguro!

26 novembro 2018

Justo e justificador

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Por quem Jesus morreu? Esta pergunta tem suscitado discussões acaloradas no decorrer dos tempos. Enquanto calvinistas afirmam uma expiação limitada, isto é a morte de Jesus foi por um número específico de homens, aqueles que foram eleitos antes da fundação do mundo pelo Pai (Jo 17.6,9; Ef 1.4), arminianos sustentam que a expiação foi universal, ou seja, por todos os homens.

Longe de ser uma discussão de somenos importância, ela tem implicações sérias no entendimento acerca do Ser de Deus.

Em uma das várias conversas que já tive a respeito do tema, uma jovem, dessas que vivem gastando tempo em infinitas discussões em redes sociais, afirmou para mim (em uma conversa ao vivo) que o Deus que eu cria era injusto por salvar alguns, deixando outros perecer. Como eu disse, o assunto tem implicações sérias naquilo que se crê acerca do Ser de Deus, no caso, acerca da sua justiça.

Pensemos, então, sobre isso. Em Gênesis podemos ler sobre a criação de Adão. Deus, após criar todas as coisas, colocou-o no Jardim do Éden, dando-lhe ordens bastante específicas. Dentre os mandamentos dados por Deus, um dizia respeito a não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, sob pena de morte, caso desobedecesse. A Confissão de Fé de Westminster ensina que Deus fez com Adão um Pacto de Obras em que “foi a vida prometida a Adão e, nele, à sua posteridade, sob a condição de perfeita obediência pessoal” (VII.II).

Você conhece a história! Adão transgrediu a ordem de Deus lançando não só ele, mas toda a sua posteridade numa condição de pecado e miséria. Como o Senhor é Fiel à sua Palavra, ele não poderia simplesmente “esquecer” o que houve e começar de novo. Não havia jeito de simplesmente fingir que nada aconteceu. O homem havia pecado e merecia a morte, pois, como afirmou Paulo, “o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23).

Entretanto, a Escritura também revela o Senhor como um Deus gracioso, misericordioso e amoroso. Um Deus que enviou seu Filho para “buscar e salvar o perdido” (Lc 19.10). O que fez o Senhor para salvar o pecador que merece a morte e permanecer sendo um Deus justo?

A Bíblia diz que a salvação é pela graça, mediante a fé (Ef 2.8), mas esta é a parte que nos cabe no chamado Pacto da Graça. Enquanto o primeiro pacto foi feito com Adão e sua posteridade, o segundo “feito com Cristo, como o segundo Adão; e, nele, com todos os eleitos, como sua semente” (Catecismo Maior – resposta à pergunta 31). Esse é o entendimento reformado acerca da salvação: se o pacto da graça foi feito com Cristo e, nele, com aqueles que foram eleitos pelo Pai, antes da fundação do mundo, a morte de Cristo foi somente por esses e, necessariamente, precisa ser assim a fim de não tornarmos Deus injusto.

Paulo diz aos Romanos que Deus é, ao mesmo tempo, “justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3.26). Algo precisa ser bem entendido aqui. O pecador merece a morte e se Deus simplesmente enviasse todos ao inferno, isso seria justo. De igual modo, para continuar sendo justo, Deus não poderia deixar os pecados impunes. Já vimos que o Pacto da Graça foi feito com Cristo. O próprio Deus Filho precisou encarnar-se a fim de que, como homem perfeito, pudesse obedecer perfeitamente ao Pai, sofrer o castigo do pecado em lugar dos eleitos se ser seu Mediador (Gl 4.4-5; Hb 9.15).

A fim de oferecer a salvação pela graça, Jesus consumou toda a obra que o Pai lhe confiou a fazer (Jo 17.4). O que para os crentes é graça, para o nosso Mediador foi trabalho. Isaías, em sua profecia, diz que “ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si” (53.11).

Quando em sofrimento, na cruz do Calvário, Jesus exclamou: “Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito” (Jo 19.30). A expressão “está consumado” quer dizer, literalmente, está pago, está quitado. Jesus pagou toda a dívida diante do Pai, por meio de sua morte substitutiva.

Sendo assim, a implicação é óbvia. Se Jesus tivesse morrido por todos os homens, todos teriam de ser salvos. A alternativa coerente para alguém que crê que Jesus morreu por todos os homens é ser universalista e entender que, no fim das contas, todos os homens serão salvos, pois, se a dívida está paga, Deus não pode cobrá-la novamente. Ou a dívida é paga por Jesus, no Calvário, ou pelo pecador, no inferno. Se algum homem, por quem Cristo morreu, for para o inferno, Deus é, de fato, injusto.

Quando afirmamos que Cristo morreu somente pelos eleitos estamos sendo consistentes com o que Bíblia diz. O Deus justo que pune o pecado é ao mesmo tempo o Deus justificador daqueles que creem em Cristo. Como sabemos pela Escritura que há muitos que irão para a perdição eterna, é óbvio que estes não tiveram a sua dívida paga pelo Senhor Jesus e não foram justificados.

A obra de Cristo, em favor dos que creem, lhes garante a vida eterna, por isso, todos aqueles por quem Cristo morreu, se renderão a ele (Jo 6.37,44). Se você foi salvo por Cristo, louve a Deus que enviou o seu Filho para cumprir tudo o que você não poderia cumprir a fim de ser salvo. Mais ainda, com o auxílio do Espírito Santo, enviado por Cristo, que habita em você, seja uma testemunha fiel, vivendo como sal da terra e luz do mundo, honrando aquele que, pela graça, concedeu a você tão grande salvação.

22 novembro 2018

Vivendo e aprendendo

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O título faz alusão a um dito popular bastante conhecido. Não é difícil encontrar pessoas que, ao passar por situações que acabaram por fazê-las rever conceitos, mudar de atitudes ou descobriram algo novo, costumam logo dizer: “vivendo e aprendendo” ou “é vivendo que se aprende”.

Para muitos, este é o grande lema da vida! Pessoas assim entendem que o aprendizado só é possível à medida em que se vive experiências diversas, sejam elas quais forem.

Entretanto, para aqueles que confessam a Cristo as coisas não precisam ser assim. Na verdade, a Escritura aponta para outro caminho, a saber, “Aprenda para viver”. Você pode verificar isso olhando para a carta de Paulo aos Romanos. Ali o apóstolo afirma que “tudo quanto, outrora foi escrito, para o nosso ensino foi escrito” – e já demonstra a finalidade disso – “a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15.4).

Olhe também para a primeira carta aos coríntios e esta verdade fica ainda mais clara. Você sabe que a igreja de Corinto tinha muitos problemas de pecado que iam desde divisões, passando por imoralidade, soberba e chegando ao ponto de irmãos levarem uns aos outros ao litígio diante de incrédulos.

A despeito disso, aquela igreja se via como muito espiritual e, por isso, no capítulo 10, Paulo lembra àqueles irmãos de várias experiências espirituais vividas pelo povo de Israel no deserto mostrando que, apesar de todas essas experiências, “Deus não se agradou da maioria deles, razão por que ficaram prostrados no deserto” (1Co 10.1-5).

O objetivo de Paulo relatar isso é bem claro. Ele mesmo diz: “Ora, estas coisas se tornaram exemplos para nós, a fim de que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram” (1Co 10.6). Aqueles irmãos e nós temos o grande privilégio de ter acesso a tudo aquilo que o Senhor mandou registrar em sua bendita Palavra para vivermos uma vida reta aos seus olhos.

Não precisamos passar pelo mesmo que passaram irmãos nossos do passado. Seus erros e a forma como Deus os tratou estão diante de nossos olhos e precisamos aprender com a história para viver de modo digno do evangelho de Cristo. Muitos dos nossos irmãos do passado já caíram em pecados que nós poderíamos evitar se atentássemos para a história e crêssemos de todo o coração no que Deus ordena em sua Palavra, afinal de contas, ela nos foi dada para ser a lâmpada para os nossos pés e a luz para o nosso caminho (Sl 119.105).

Mas, infelizmente, não são poucas as vezes que, mesmo sabendo o que está na Escritura, acabamos por tomar caminhos segundo os desejos e inclinações pecaminosas do nosso coração. Desejos e inclinações totalmente opostos ao que o Senhor revela em sua Palavra.

Quando isso acontece, certamente somos corrigidos pelo Senhor. O escritor da epístola aos Hebreus lembra os seus leitores, que estavam tentados a desistir de sua caminhada por causa das perseguições: “Ora, na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até ao sangue e estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre convosco: Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo o filho a quem recebe. É para a disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige?” (Hb 12.47).

O resultado dessa correção é maravilhoso. Ainda que passemos por aflições, seremos levados à Palavra do Senhor. “Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos” (Sl 119.69), disse o salmista.

Tudo isso ocorrerá, pois aquele que começou a obra de redenção em nossa vida certamente a completará até a vinda do Senhor Jesus Cristo (Fp 1.6).

Ele nos concedeu a sua Palavra a fim de aprendermos a viver de modo digno do Evangelho. Ele nos deu o seu Espírito que nos guia a toda a verdade (Jo 16.13). Ele nos disciplinará sempre que necessário, a fim de voltarmos ao caminho.

Portanto, cuidemos de nos dedicar ao conhecimento da Escritura, a Palavra viva e eficaz de Deus (Hb 4.12). É o conhecimento da Lei do Senhor que nos habilitará a cumprir o papel de testemunhas que nos foi outorgado, vivendo como sal da terra e luz do mundo.

Aprenda para viver para a glória de Deus junto à sua família, na vida em sociedade, nos seus negócios. Essa é a vida abundante que o Senhor Jesus nos deu. Quando Josué assumiu o comando do povo de Deus para levá-lo à terra prometida, ouviu do Senhor que não deveria cessar de falar sobre o Livro da Lei, mas antes disso ele deveria meditar “nele dia e noite, para que tenhas o cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito” (Js 1.8). A promessa que decorreu dessa ordem à Josué foi: “então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido”.

Aqueles que aprendem para viver serão semelhantes ao homem bem-aventurado do salmo primeiro, cujo prazer está na lei do Senhor, na qual medita dia e noite e “tudo quanto ele faz será bem sucedido” (1.3c). Aqueles que, mesmo conhecendo a Escritura, tentam trilhar seus próprios caminhos, serão disciplinados e santificados pelo Senhor.

Você pode aprender para viver e ser abençoado ou viver para aprender, sendo disciplinado pelo Senhor. Neste caso, a bênção é que, ainda que a disciplina, no momento não seja motivo de alegria, ao final produzirá fruto de justiça (Hb 12.11). Escolha o seu caminho!

10 novembro 2018

Deus nos deu spoiler

spoiler

Eu gostava muito, por achar bastante criativa, de uma propaganda antiga de certo aparelho videocassete que mostrava uma criança correndo de um lado para o outro na frente da fila que se formou em frente à bilheteria do cinema e que gritava: “a mocinha morre no fina-al!”, “quem matou foi o marido, quem matou foi o marido”, enquanto fazia careta para os que estavam na fila e que olhavam para ele com cara de frustrados.

O objetivo da propaganda era mostrar que a forma mais segura de assistir a um filme sem alguém estragar, contando o final, era em casa, no videocassete. Em meados da década de 90, o spoiler era assim, ao vivo. Spoiler é a revelação de informações sobre o conteúdo de livros ou filmes a quem ainda não os tenha lido ou assistido.

Os tempos mudaram, mas a maioria das pessoas continua não gostando de spoilers. Em tempos de rede social e sites de entretenimento, não é incomum quando alguém vai fazer comentários a respeito de filmes avisar de antemão: “Atenção! Contém spoiler!”, a fim de não se acusado de ser estraga-prazeres pelos leitores desavisados.

Saber de antemão o final de um filme faz perder toda a graça, tira toda a emoção e surpresa e muitos até desanimam de assistir. O interessante é ir descobrindo o que acontecerá, como o mocinho conseguirá se safar e de que maneira os fatos se “encaixarão” no enredo.

Curiosamente, o que é esperado ao se assistir um filme não é apreciado na vida real. Nela não queremos surpresas. Queremos que as coisas aconteçam exatamente como planejamos e quando as mínimas coisas saem do controle vêm o estresse, a irritação, o desânimo, a ansiedade, a depressão, etc.

Um acidente de trânsito que causa atraso em um compromisso leva um homem à ira; a notícia de uma doença séria traz ansiedade e desânimo; a incapacidade de um pai ou uma mãe de saber onde está o filho que ainda não chegou no destino e que não atende o celular leva os nervos à flor da pele, a instabilidade financeira e a falta de perspectivas levam jovens a questionar se a vida vale a pena...

Há um problema ainda maior. Por mais que não gostemos de que as coisas saiam do controle, não temos a mínima capacidade de controlar as circunstâncias de nossa vida. Diante disso, Tiago exorta: “Atendei, vós que dizeis: Hoje ou amanhã iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos, e teremos lucros. Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa” (Tg 4.13-14). A realidade é que não sabemos nem quanto tempo de vida teremos.

As palavras de Tiago poderiam levar alguns a uma angústia inquietante e uma preocupação diária com o dia de sua morte. Entretanto, ele continua: “Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo” (Tg 4.15). Note que não há problema no planejamento em si, ele é até estimulado nas Escrituras. O problema está em achar que as coisas acontecerão de acordo com a nossa vontade, mesmo sabendo que “o coração do homem traça o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos” (Pv 16.9). Tiago exorta seus leitores a confiar no Senhor.

No grande filme da vida, o autor, produtor e diretor é o grande Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo e para que pudéssemos estar bem seguros ele nos deu “spoiler”. Pedro afirma que tudo o que necessitamos para vida e piedade já nos foi doado na revelação de Jesus Cristo. Em Cristo, foram doadas as grandes promessas de Deus, a fim de que nos livremos das paixões do mundo (cf. 2Pe 1.3-4). Paulo diz que “tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15.4).

Desde o início, Deus tem dado promessas que dão segurança ao que crê. Ao primeiro casal, após a queda, ele afirmou que da mulher viria aquele que iria esmagar a cabeça da serpente (Gn 3.15). No decorrer da revelação do Antigo Testamento, muitos outros aspectos acerca do Messias foram dados. Ele viria da tribo de Judá (Gn 49.10), nasceria de uma virgem (Is 7.14), na cidade de Belém (Mq 5.2), seria o próprio Deus Forte sobre os ombros de quem estaria o governo (Is 9.6), morreria pelos pecados daqueles que ele graciosamente justificaria (Is 53) e essas são apenas algumas das profecias.

Ainda assim, em seu ministério, Jesus foi confrontado por muitos, incluindo mestres da lei, que questionavam quem ele era. Em uma dessas ocasiões o Senhor afirmou: “Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mt 22.29). Para saber a respeito daquele que ali estava, era necessário conhecer o que Deus houvera revelado.

Jesus morreu, conforme as Escrituras, e ressuscitou, conforme as Escrituras (1Co 15.3-4). Se, como eu, você crê nisso, sabe que o Senhor cumpriu cada palavra dita de antemão. Isso, por si só, deveria ser motivo suficiente para estarmos seguros, deixarmos de lado as preocupações, termos alegria a despeito das circunstâncias e confiar de todo o coração em nosso Redentor.

Mas o Senhor nos revela muito mais. Pela Escritura, sabemos que teremos aflições (Jo 16.33), que podemos ser perseguidos (2Tm 3.12), que estaremos expostos às tentações (Lc 22.40), que por amor do Senhor somos entregues à morte o dia todo (Rm 8.36), etc. Entretanto, sabemos também que “em todas essas coisas, porém, somos mais que vencedores por meio daquele que nos amou” (Rm 8.37), que nada pode nos separar do amor de Deus que está em Cristo (Rm 8.38-39), que a boa obra iniciada em nós será completada (Fp 1.6), que estamos sendo santificados para ser apresentados como sua noiva, Igreja gloriosa (Ef 5.27), que todas as coisas cooperam para o nosso bem (Rm 8.28), que até mesmo os nossos fios de cabelo estão contados (Mt 10.30). Mais ainda, temos a garantia de que o Senhor estará conosco “todos os dias até à consumação dos séculos” (Mt 28.28).

Diante das angústias, das lutas e dos dilemas da vida, quando as coisas parecerem estar fora de controle, lembre-se destas promessas. Lembre-se de que o final não é incerto. O grande autor do filme da vida já nos contou o final: Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo. Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras (Ap 21.1-5).

Deus nos deu spoiler, mas este não causa frustração e desânimo em ver o filme, antes nos enche de esperança, segurança e nos faz ansiar pelo grande final, por aquele que diz: “Certamente, venho sem demora. Amém!” por isso clamamos – “Vem, Senhor Jesus!”.

25 outubro 2018

O Senhor reina, descanse em seu governo

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O próximo domingo será um dia importante para a nossa nação. Milhares de brasileiros estarão indo às urnas a fim de escolher o próximo presidente da República. O clima está tenso, desde muito antes do primeiro turno.

Algumas das perguntas que surgem na cabeça de muitos são: O que nos espera depois dessas eleições? O que será de nossa vida se o candidato A ou B forem eleitos? Como estará o país em 2019?

Estas perguntas deveriam nos levar a outras questões de maior importância: Nas mãos de quem nós estamos? Quem é que governa a nossa vida?

Diante de momentos como o que estamos vivendo, estas são as perguntas mais relevantes a serem feitas. O profeta Daniel, que profetizou num dos períodos mais conturbados para o povo de Deus que foi o cativeiro babilônico, registrou em seu livro as seguintes palavras: “Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” (Dn 4.35).

Curiosamente essas palavras não saíram da boca de Daniel. São palavra que saíram da boca do homem mais poderoso daqueles dias, Nabucodonosor. O poder de Nabucodonosor é comprovado pelo sonho que ele teve, cuja significação, segundo Daniel era: “A árvores que vieste, que cresceu e se tornou forte, cuja altura chegou até o céu, e que foi vista por toda a terra, [...] és tu, ó rei, que cresceste e vieste a ser forte; a tua grandeza cresceu e chega até ao céu, e o teu domínio, até à extremidade da terra” (Dn 4.20,22).

Entretanto, a despeito de todo o poder de Nabucodonosor, Daniel afirmou o Senhorio e o poder daquele que é o Rei sobre toda a terra: “Quanto ao que viu o rei, um vigilante, um santo, que descia do céu e dizia: Cortai a árvore e destruí-a, [...] esta é a interpretação, ó rei, e este é o decreto do Altíssimo, que virá contra ti, até que conheças que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer (4.23,24).

Deus iria punir o rei por causa de sua arrogância, por achar que ele estava onde estava por seu próprio poder, como se vê no v. 30: “falou o rei e disse: Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com o meu grandioso poder e para glória da minha majestade?”.

Enquanto o rei se vangloriava, veio a voz do céu repetindo as palavras que ele ouvira de Daniel e ele, expulso de entre os homens, pastou com os animais do campo. Foi no fim daqueles dias que Nabucodonosor afirmou que levantou os olhos aos céus, voltou-lhe o entendimento e ele louvou a o Altíssimo, o “que vive para sempre, cujo domínio é sempiterno, e cujo reino é de geração em geração”, diante de quem os moradores da terra são reputados por nada, pois ele faz o que quer (Dn 4.34,35).

Deus tinha planos para Israel no cativeiro, mas o seu povo não estava à mercê de Nabucodonosor. Havia um Rei mais poderoso do que ele que estava governando sobre tudo e sobre todos.

Foi este glorioso Rei que Isaías viu ao entrar no templo, no ano da morte do rei Usias (Is 6). Ali estava o Senhor Jesus Cristo, conforme João, que afirmou que Isaías “viu a glória dele e falou a seu respeito” (Jo 12.41). Todos os homens, até aqueles que não reconhecem a Cristo, são dependentes dele e estão debaixo do seu governo.

Domingo, ao ir às urnas, não se esqueça disso. Domingo, mais do que o dia em que escolheremos o próximo presidente, será mais um dia do Dia do Senhor, do glorioso Rei que nunca deixará de governar.

É ele quem governa a sua vida, é nas mãos dele que você está bem seguro. O Senhor nunca se arredou do seu Trono, nunca será deposto ou será pego numa ação anti-corrupção. O Senhor nunca errará ao cumprir tudo aquilo que ele decretou desde a eternidade, ainda que para você as coisas pareçam estar fora do lugar. Ele não falhará em nenhuma sequer de suas promessas

Portanto, cumpra o seu dever cívico no domingo, mas não deixe que a preocupação e a ansiedade de querer saber quem vencerá o pleito presidencial o faça esquecer a bênção gloriosa de cultuar àquele que nunca se afastou de seu trono.

Domingo é sempre dia de escutar, por meio da Palavra, o que este grande Rei tem a dizer ao povo que ele ama. É dia de agradecer o que ele tem feito até aqui e declarar a confiança que temos em relação ao futuro, seja ele qual for.

Para isso, traga à sua memória os grandes feitos que ele tem feito em sua vida, pois um coração que se esquece do que foi feito pelo Senhor nunca conseguirá descansar em seu governo.

Que o Senhor abençoe a nossa nação. Que ele cumpra os seus propósitos em nosso país e use a sua Santa Igreja para proclamar aos nossos compatriotas que a esperança está naquele que está assentado no Trono, desde toda eternidade.

Confie no Senhor e vote com responsabilidade e consciência, seguindo os preceitos de sua Palavra.

26 setembro 2018

Sobre política, idolatria e esperança

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Vivemos dias extremamente complicados. O Brasil parece querer reagir à agenda comunista colocada em prática pelo partido vermelho que não inventou a corrupção, mas elevou-a a índices nunca vistos “na história destepaiz”... Além disso, a moral e bons costumes nunca foram tão assolapados como nos últimos anos. Precisamos, de fato, extirpar esse câncer socialista (PT e suas ramificações) de nossa nação.

Por outro lado, vejo com muita preocupação a esperança praticamente messiânica que muitos tem depositado em Bolsonaro. Como qualquer idolatria, a idolatria política também cega. A despeito disso, é possível perceber quando se está incorrendo em idolatria. Se você peca em razão do que quer (a melhoria da nação), significa que esse bom desejo tomou o lugar de Jesus em seu coração e se transformou em um mau senhor, um ídolo, que o impele a pecar.

O resultado pode ser visto com muita tristeza. Além da evidente quebra do primeiro mandamento, ao buscar esperança fora do Redentor, é possível ver ainda mais.

Antes de me deter no “ainda mais”, preciso fazer uma ressalva. Pessoalmente creio que a ideologia de esquerda é anti-bíblica. A história está aí para demonstrar que a agenda marxista/comunista/socialista se opõe à fé cristã. Entretanto, para combater isso não estamos autorizados a pecar.

Há cristãos, por exemplo, quebrando o terceiro mandamento, que ordena não tomar o nome do Senhor em vão, quando retiram textos bíblicos do contexto para debochar dos que se assumem de esquerda (“O coração do sábio se inclina para o lado direito, mas o do estulto, para o da esquerda” – Ec 10.2). Eu nem precisaria dizer, mas é evidente que o texto não está tratando de ideologias políticas.

Hoje mesmo uma irmã que eu pastoreio me informou que em um grupo de uma igreja foram colocados dois textos bíblicos, um relatando que Jair foi um juiz de Israel e outro que Hadade foi um inimigo de Israel. Esta forma de usar a Palavra de Deus é pecaminosa e quebra flagrantemente o terceiro mandamento.

Aqui eu preciso explicar aos que me leem e não são presbiterianos a razão da minha afirmação. Como pastor presbiteriano reconheço e subscrevo a Confissão de Fé de Westminster e seus catecismos Maior e Breve como uma fiel exposição doutrinária. Em minha ordenação ao pastorado fiz votos diante do presbitério de que serial fiel a esta subscrição.

Dito isso, na resposta à pergunta 112 do Catecismo Maior, “O que exige o terceiro mandamento”, temos: “O terceiro mandamento exige que o nome de Deus, os seus títulos, atributos, ordenanças, a Palavra [...] e tudo quanto pelo que Deus se faz conhecer, sejam santa e reverentemente usados em nossos pensamentos, meditações, palavras e escritos [...] para a glória de Deus e para o nosso bem e o do nosso próximo”. Na resposta à pergunta 113, “Quais são os pecados proibidos no terceiro mandamento?”, temos ainda: “não usar o nome de Deus como nos é exigido e o abuso dele [...] a má interpretação, a má aplicação ou qualquer perversão da Palavra, ou de qualquer parte dela [...]”. Não me tenha, então, como um piegas, mas como alguém que tenta ser fiel aos votos proferidos diante do Senhor.

Além disso, há quebra do nono mandamento, “não dirás falso testemunho”, no compartilhamento de notícias falsas a respeito dos adversários políticos. Não é coerente acusá-los de perverter a verdade enquanto não se tem a mínima disposição em dar uma “googlada” para conferir notícias que depreciam outros, só porque são referentes a opositores.

Temos ainda a quebra de outros mandamentos quando ofensas são proferidas contra eleitores de esquerda, numa demonstração de que se alguém não entende os claros argumentos que demonstram o quão errada é esta ideologia e se atreve a votar nesse tipo de partido é “digno” de ser xingado e esculhambado publicamente.

Como afirmei, um dos indícios da idolatria é o pecado a fim de conseguir o que se deseja. Falsos deuses estão o tempo todo tentando concorrer com o Senhor de toda a glória por nossos corações. Não escrevo isso como alguém que está isento de todos esses pecados. Já confessei ao Senhor que muitas vezes me irei e falei mal de pessoas por conta de sua opção política, pois, por mais que eu tenha o direito de achar incoerente um cristão ser marxista/comunista/socialista, não posso pecar por conta disso.

Não entenda que este texto procura ser isento. Penso que um cristão precisa se posicionar contra os inimigos da fé, como é a ideologia de esquerda. Se não temos representantes protestantes, que creem em Jesus “como diz a Escritura” (Jo 7.38), como opção de voto, é dever votar naqueles que, ainda que não sejam crentes no Senhor, moralmente estejam mais próximos daquilo que entendemos ser o correto. É bom lembrar que Paulo afirmou que, por vezes, “os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei” (Rm 2.14a) e “mostram a norma da lei gravada no seu coração” (Rm 2.15a). O pecado desfigurou, mas não eliminou a imagem de Deus da vida do pecador.

Por fim, é preciso votar de forma coerente com a nossa fé, sem nunca esquecer que o socorro não vem do Planalto, mas do Senhor. Ainda que um candidato conservador seja eleito (e creio que precisamos orar por isso) esta não é a solução para a nossa nação. Concordo integralmente com Lloyd-Jones ao afirmar que:

As épocas mais grandiosas da história da Inglaterra, e de outros países, sempre foram os anos que se seguiram a um despertamento religioso, a um avivamento da religião verdadeira. O tom moral da sociedade se elevou nesses períodos; mesmo os que não se tornaram cristãos foram influenciados e afetados pelo avivamento.

Noutras palavras, não há esperança de tratamento dos problemas morais da sociedade, a não ser em termos do evangelho de Cristo. O que é direito jamais será estabelecido se não houver vida piedosa; mas quando as pessoas se tornam confiantes em Deus, começam a aplicar os seus princípios o tempo todo, e a justiça é vista na nação em geral. Contudo, infelizmente, temos que encarar o fato de que, por alguma razão, este aspecto da questão tem sido tristemente negligenciado no presente século (Criando filhos – o modo de Deus).

A esperança está somente no Bendito Filho de Deus, o Redentor da Igreja. Se sua esperança está em Cristo, você estará satisfeito, seguro e grato, ainda que a esquerda continue no poder (Fp 4.11-13). Contudo, se a sua esperança está na mudança de governo, ela tem prazo de validade. Vai durar até o candidato que você gostaria de ver eleito seja derrotado ou até que ele, eleito, contrarie algo que o seu coração está ansiando fora de Cristo. A esperança em ídolos é vã!

Deus nos livre de fazer escolhas erradas ou de confiar que a solução para a nossa nação está apenas em fazer a escolha certa em relação aos governantes. Que confiemos plenamente em Cristo e em seu governo soberano!

08 junho 2018

Os filhos dos crentes e o crescimento da Igreja – Uma visão bíblico-confessional

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Dia desses preguei um sermão em Gênesis 9.1-7 tratando das ações de Deus após ter feito a promessa de não mais destruir a Terra com água. Dentre elas, o Senhor ordenou ao homem que novamente enchesse a Terra.

Postei no Facebook parte deste sermão em que faço algumas aplicações a respeito da importância de os crentes terem filhos e os criarem na disciplina e admoestação do Senhor a fim de serem uma bênção na sociedade, honrando o seu Redentor. Ao compartilhar o vídeo afirmei que “uma das formas de a igreja crescer é por meio da geração de filhos. Cristãos precisam levar a sério a ordem de crescer e multiplicar e criar seus filhos na disciplina e admoestação do Senhor. Filhos criados na presença do Senhor farão grande diferença como luzeiros em meio a uma geração que está em trevas” (grifos meus).

Um comentário de um irmão na publicação apontou para o fato de que

“a forma de a igreja crescer é a conversão de pessoas pela operação do Espírito Santo mediante a pregação do evangelho [...]” – pontuando que – “o cristão, mesmo o mais piedoso, gera filhos, seres humanos pecadores, mortos em delitos e pecados, os quais devem receber os ensinamentos da Palavra para que também sejam convertidos, porque os cristãos, embora possam gerar filhos, estes não são naturalmente, como ninguém é, filhos de Deus. Somente o Espírito Santo tem poder para gerar novas criaturas em Cristo pelo evangelho. [...] pois não existe outro método para salvação de pessoa alguma fora da pregação do evangelho”.

Comecei a esboçar uma resposta, mas ela foi ficando tão grande para uma conversa de Facebook que resolvi amplia-la ainda mais e transformar neste artigo, dada a importância do tema. Espero que sirva para a edificação daqueles que o lerem.

A primeira questão que quero pontuar é que não tenho a menor dúvida de que a salvação é única e exclusivamente pela graça, mediante a fé. Não tenho dúvidas também de que o evangelho “é o poder de Deus para a salvação de todo o que crê, primeiro do judeu e também do grego” (Rm 1.16).

Meu ponto ao afirmar que uma das formas de a igreja crescer é por meio da geração de filhos não tem a ver com estabelecer outro método de salvação distinto da ação sobrenatural e exclusiva de Deus na regeneração de homens pecadores, fazendo-os novas criaturas e adotando-os como filhos, mas demonstrar que há bênçãos, relativas ao pacto, para os filhos dos crentes. Será que a afirmação de que uma das formas de a igreja crescer é por meio de filhos, contraria a verdade de que não há outro método de salvação fora da pregação do evangelho? Creio que não e entendo que há razões bíblicas e confessionais para isso, como demonstrarei a seguir.

Como pastor presbiteriano que sou, creio na Escritura como única regra de fé e prática subscrevo integralmente a Confissão de Fé e os Catecismos de Westminster como sistema expositivo de doutrina e prática. Os símbolos de fé precisam nortear todo o nosso entendimento doutrinário e creio que é possível provar minha afirmação olhando para eles.

O fundamento confessional

Já no capítulo III da Confissão de Fé de Westminster aprendemos que Deus decretou todas as coisas antes da fundação do mundo (III.I). Esse decreto inclui a predestinação para a vida eterna e a preordenação para morte eterna (III.III-V) e, além disso, se estende também aos meios para que sejam atingidos os fins propostos pelo Senhor (III.VI)

Esse entendimento pode ser visto na Escritura que demonstra que nada acontece fora da vontade de Deus (Is 46.9-11) e que serão salvos todos os que foram predestinados por Deus (Jo 6.39; At 13.48) sendo o meio ordinário para a chamada dos eleitos à fé a pregação da Palavra (Rm 10.8-17).

Mas para o meu tema, é preciso avançar um pouco mais no ensino confessional. O capítulo V da CFW trata da providência de Deus. É por causa da “mui sábia providência” de Deus que tudo o que foi decretado acontece segundo o imutável conselho da vontade de Deus que, para a sua própria glória, dirige, sustenta, dispõe e governa todas as ações de suas criaturas e também de todas as coisas, desde a maior até a menor (V.I).

Em sua providência, o Senhor age de tal forma que tudo sucede conforme o seu decreto, ainda que aconteçam segundo a natureza das causas secundárias (V.II) e, ordinariamente, Deus emprega meios, ainda que seja livre para agir sem eles (V.III). A última seção deste capítulo é importante para o meu ponto: “Como a providência de Deus se estende, em geral, a todos os crentes, também de um modo especial ele cuida da Igreja e tudo dispõe a bem dela” (V.VII).

Quero colocar já aqui que entendo ser a família um dos meios que o Senhor, em sua providência, usa para conduzir seus eleitos à fé, sendo ela uma das provas desse cuidado do Senhor por sua igreja. Mas caminhemos um pouco mais.

O capítulo VII da Confissão de Westminster ensina sobre o pecado, a queda e o seu castigo. Neste capítulo está claro e cristalino o entendimento bíblico de que todos os homens nascem em pecado (Rm 3.23; 5.17a) e que, naturalmente, estão destituídos da glória de Deus.

Depois da dura realidade exposta neste capítulo da Confissão de Fé, o próximo capítulo, então, é um bálsamo. Ele trata do Pacto de Deus com um homem. Nossos pais puritanos explicam que o Senhor fez um primeiro pacto de obras, no qual “foi a vida prometida a Adão e nele à sua posteridade, sob a condição de perfeita obediência pessoal” (VII.II). Por causa da transgressão e queda de Adão e, consequentemente, de sua posteridade, Deus fez um segundo Pacto, chamado de Pacto da Graça. Este pacto, conforme a resposta à pergunta 31 do Catecismo Maior, “foi feito com Cristo, como o segundo Adão; e, nele, com todos os seus eleitos, como sua semente”.

Em Cristo, e somente nele, o homem encontra plena redenção e reconciliação com o Pai.

O capítulo que trata da vocação eficaz também importa para o nosso entendimento do assunto. Deus, em seu devido tempo chama eficazmente os eleitos à fé pela Palavra e pelo Espírito (XI). “Na vocação o homem é inteiramente passivo, até que, vivificado e renovado pelo Espírito Santo, fica habilitado a corresponder a ela e a receber a graça nela oferecida e comunicada” (X.II). É por causa disso que, anteriormente, afirmei que é a pregação o meio ordinário usado por Deus para chamar os eleitos à fé. Este chamado por meio da Palavra só é efetivo se ocorrer, anteriormente, o chamado do Espírito que renova o coração e, como afirma a CFW, esta é uma obra exclusiva de Deus.

É por causa desse entendimento que a próxima seção deste capítulo, ao tratar das crianças que morrem na infância, afirma que elas, se estiverem entre os eleitos, “são regeneradas e por Cristo salvas, por meio do Espírito, que opera quando, onde e como quer. Do mesmo modo são salvas todas as outras pessoas incapazes de serem exteriormente chamadas pelo ministério da Palavra” (X.III).

Conforme meu querido e saudoso professor, o Rev. João Alves, “É legítimo aos pais crentes, em virtude da Promessa do Pacto (Gn 17.7), esperar que seus filhos mortos na infância sejam salvos, sem que essa esperança, todavia, possa ser assegurada como uma garantia infalível da parte de Deus”[1]. Cito parte do excelente artigo do Rev. João Alves porque ele aponta para mais alguns aspectos que serão tratados aqui e que dizem respeito à doutrina do Pacto, já citada anteriormente, e que é de grande importância para o entendimento dos filhos nascidos em lares cristãos como uma forma de a igreja crescer.

A doutrina do Pacto é essencial ao sistema de doutrinas cridas pelos Reformados. Como já vimos, após a queda, Deus fez o Pacto da Graça com Cristo e, nele, com todos os seus eleitos. O entendimento da teologia reformada, expresso nos documentos de Westminster, é o de que este pacto da graça foi administrado de forma distinta no tempo da lei e no tempo do evangelho. Sendo administrado por meio de sombras no tempo da lei e visto mais claramente em Cristo, a substância, no tempo do evangelho (Cl 2.17; Hb 8.5,6). Entretanto, “não há, pois, dois pactos de graça diferentes em substância, mas um e o mesmo sob várias dispensações”.

É por causa desse entendimento a respeito do pacto que Israel e Igreja não são vistos como coisas distintas. No capítulo XIX.III, ao tratar da Lei, a Confissão afirma que “foi Deus servido dar ao seu povo de Israel, considerado uma igreja sobre a sua tutela, leis cerimoniais que contêm diversas ordenanças típicas”. Para os reformados não há dois povos distintos, mas um único povo de Deus.

Prova disso é o entendimento de que os sacramentos do Novo Testamento, batismo e ceia são, em essência, os mesmos do Antigo Testamento (circuncisão e páscoa).

Uma olhada nas narrativas bíblicas

O Senhor, desde o Antigo Testamento, tratou com famílias. Isso é visto, por exemplo, na salvação de Noé e seus filhos por ocasião do dilúvio em que o Senhor levou a cabo toda a vida na Terra (Gn 6.8-10). Ao restabelecer o seu Pacto, “disse também Deus a Noé e a seus filhos: Eis que estabeleço a minha aliança convosco, e com a vossa descendência” (Gn 9.8-9). É claro que estar dentro de uma família do pacto não é garantia de salvação. Isso pode ser visto de forma abundante também no AT, tanto na família de Noé quanto em várias outras, mas não há como negar que, ordinariamente, o Senhor está tratando com famílias, como se poderá notar.

Em Gênesis 12 Abrão é chamado de sua terra e de sua parentela a fim de ir com sua família para uma terra que o Senhor iria mostrar. O objetivo do Senhor era que em Abrão fossem “benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.3). É claro que esta bênção se daria pela fé em Cristo Jesus, o Messias prometido, como pode ser visto na declaração de Paulo aos romanos (Rm 4.3 – cf Gn 15.6).

A Abraão foi ordenada a circuncisão, como sinal da Aliança. Curiosamente, ela seria aplicada àqueles que se convertessem ao Deus de Israel (Ex 12.48), mas primariamente àqueles que nascessem em lares que temiam ao Senhor ou que estivessem sob a sua autoridade (Gn 17.10-14). A circuncisão deveria vir acompanhada de fé. Ela era uma lembrança aos pais para que educassem os filhos nos caminhos do Senhor e uma lembrança aos filhos sobre o privilégio de ter nascido em um lar que teme ao Senhor, bem como uma constante lembrança da desobediência, caso se afastassem do Deus de seus pais.

Deus vai formar o seu povo no Antigo Testamento. Abraão gera Isaque, este a Jacó e Jacó aos doze, dando origem ao povo de Israel. Este povo fica escravo durante 430 anos no Egito e após ser libertado, recebe do Senhor a sua Lei. Nos interessa aqui a promessa anexada ao segundo mandamento. Após ordenar ao povo que não faça imagem de escultura, o Senhor continua, “porque eu sou o Senhor, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos (Ex 20.5-6).

Como é que as misericórdias de Deus alcançariam até mil gerações do que o amam? É claro que Deus usaria os pais na catequese dos filhos. Isso fica claro em Deuteronômio 6. A Palavra de Deus deveria estar no coração dos pais a fim de que eles a inculcassem no coração dos filhos.

Há outra lei estabelecida em Deuteronômio que nos ajuda a pensar em algumas questões a este respeito. Ela está no capítulo 21.18-21. Ali o Senhor ordena aos pais que tenham filhos contumazes e rebeldes, que foram ensinados e corrigidos, mas mesmo assim não se emendaram, a leva-los às autoridades a fim de que fossem apedrejados. O que justifica uma lei dessas? Esta lei aponta para duas questões. A primeira é a de que é possível que um filho nasça em uma família que teme a Deus e não venha a crer no Senhor. Entretanto, a segunda e, mais importante aqui, é a realidade de que filhos que são educados na Lei do Senhor, normalmente, creem no Deus de seus pais (farei misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos). A lei, então, aponta para o que é exceção e não ordinário, a saber, um filho educado no temor do Senhor que rejeita o Deus de seus pais. O que geralmente acontece é que os filhos de crentes creem no Filho obediente que foi entregue à morte pelo seu Santo Pai, por ter ele assumido os pecados do seu povo, que é para quem aponta a dura lei de Deuteronômio.

Esta esperança bendita, de gerações que temem ao Senhor, é o que deve estimular pais cristãos a terem filhos. Há bênçãos para as famílias que estão debaixo do pacto. No Salmo 128 o homem que teme ao Senhor tem a bênção de ver os filhos de seus filhos na presença do seu Deus.

Esta é também a tônica do Novo Testamento. No primeiro sermão de Pedro, por ocasião da descida do Espírito Santo, o apóstolo afirmou que “para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar” (At 2.39). É por esta razão que Paulo ordena os pais: “não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor” (Ef 6.4). É o próprio Paulo que nos fornece um bom exemplo da fé que passa de geração em geração ao escrever para Timóteo: “pela recordação que guardo da tua fé sem fingimento, a mesma que, primeiramente, habitou em tua avó Lóide e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também em ti (2Tm 1.5) – “permanece naquilo que aprendeste [...] e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2Tm 3.14-15).

De volta aos símbolos de Fé

Creio ser este o entendimento confessional a respeito de a igreja crescer por meio de filhos, sobretudo, ao voltar, mais uma vez, os olhos para nossos símbolos de fé. Ao tratar do casamento, a Confissão de Westminster ensina que “A todos os que são capazes de dar um consentimento ajuizado, é lícito casar; mas é dever dos cristãos casar somente no Senhor; portanto, os que professam a verdadeira religião reformada não devem casar-se com infiéis, papistas ou outros idólatras; nem devem os piedosos prender-se desigualmente pelo jugo do casamento aos que são notoriamente ímpios em suas vidas ou que mantém heresias perniciosas” (XXIV.III).

Porque os puritanos enfatizavam este ensino bíblico de casamento de crentes com não crentes? A resposta pode ser encontrada na própria CFW. Na seção anterior você lê que “o matrimônio foi ordenado para o mútuo auxílio de marido e mulher, para a propagação da raça humana por uma sucessão legítima” – mas repare bem o que vem a seguir – “e da Igreja por uma semente santa, e para impedir a impureza” (grifo meu).

O ensino é que a igreja se propaga por uma semente santa, ou seja, por filhos de crentes, educados nos caminhos do Senhor, daí a importância de ambos os pais temerem ao Senhor. Curiosamente, o próximo capítulo da Confissão trata da Igreja. No ensino sobre a Igreja visível, temos: “A Igreja Visível, que também é católica ou universal sob o Evangelho (não sendo restrita a uma nação, como antes sob a Lei) consta de todos aqueles que pelo mundo inteiro professam a verdadeira religião, juntamente com seus filhos; é o Reino do Senhor Jesus, a casa e família de Deus, fora da qual não há possibilidade ordinária de salvação”.

Os reformados entendem, então, que por causa do pacto os filhos de crentes pertencem à igreja visível do Senhor. Essa é uma razão suficiente para crer que a igreja cresce por meio da geração de filhos. Por causa das promessas da Aliança os cristãos apresentam seus filhos ao batismo, consagrando-os ao Senhor. Corroborando isso temos a resposta à pergunta 166 do Catecismo Maior: “ O Batismo não deve ser administrado aos que estão fora da Igreja visível, e assim estranhos aos pactos das promessas, enquanto não professarem a sua fé em Cristo e obediência a Ele; porém as crianças, cujos pais, ou um só deles, professarem fé em Cristo e obediência a ele, estão, quanto a isto, dentro do pacto e devem se batizadas”.

Isto está em acordo com o ensino bíblico. Quando escreveu aos coríntios tratando da questão dos cônjuges que se convertiam a despeito do seu par permanecer na incredulidade, Paulo ordenou que só poderia haver divórcio se proposto pela parte incrédula. Contudo, se a parte incrédula quisesse permanecer no casamento, o cônjuge crente não deveria deixar o seu parceiro. A consideração de Paulo após isso é importante para a nossa compreensão sobre os filhos de crentes. Diz o apóstolo: “Porque o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, os vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos (1Co 7.14). Note bem a diferença: o cônjuge incrédulo é santificado, enquanto o filho do crente é santo.

A esta altura alguém poderia argumentar que não há garantia de que os filhos nascidos em lares cristãos serão salvos (o que é uma verdade), logo, a igreja só cresceria, de fato, quanto houvesse verdadeira conversão. A isto respondo de duas maneiras: 1) Isso é verdade tanto no caso de filhos nascidos em lares cristãos quanto no caso de pessoas que professam a fé e vão para a igreja na idade adulta. Não há garantias de que tal pessoa, de fato, creu. Muitas pessoas fazem uma profissão de fé e depois abandonam a igreja. Pensando assim, não poderíamos comemorar nunca o crescimento da igreja, nem por novos convertidos que vêm de fora, nem por filhos de crentes que nascem num lar do pacto. 2) É obvio que quando falamos em crescimento da igreja só podemos nos referir à igreja visível. A igreja invisível consta do “número completo dos eleitos, que têm sido e que hão de ser reunidos em um corpo sob Cristo, a cabeça” (Resposta à pergunta 64 do CMW). O único que tem condições de saber se a igreja invisível está, de fato, crescendo quando alguém professa a fé é o Senhor da Igreja.

A despeito disso, há algo ainda a ser considerado. Ainda que não haja garantia de salvação para aqueles que nascem em um lar do pacto, considerando que o meio usado ordinariamente por Deus para chamar seus eleitos para à fé é a pregação da Palavra, aqueles que nascem em uma família cristã contam com uma bênção maravilhosa.

Esta bênção pode ser notada nas perguntas 61 e 63 do CMW. Na resposta à pergunta 61 temos: “Nem todos os que ouvem o evangelho e pertencem à Igreja visível serão salvos, mas unicamente aqueles que são membros verdadeiros da Igreja invisível”.

Apesar desta realidade, temos na pergunta 63: “Quais são os privilégios da igreja visível?”, a seguinte resposta: “A igreja visível tem o privilégio de estar sob o cuidado e governo especiais de Deus; de ser protegida e preservada em todos os tempos, não obstante a oposição de todos os inimigos; e de desfrutar da comunhão dos santos, dos meios ordinários de salvação e das ofertas da graça feitas por Cristo a todos os membros dela, no ministério do evangelho, testificando que todo o que crer nele será salvo, não excluindo a ninguém que queira ir a ele”.

Pra terminar...

Afirmar que um dos meios de a Igreja cresce é por meio da geração de filhos não é uma afirmação estranha, considerando o ensino bíblico-confessional. Esta afirmação, de forma alguma se opõe à verdade de que a salvação é pela graça, mediante a fé no evangelho que mostra aos homens a justiça de Deus.

Quando falamos de crescimento da Igreja só podemos considerar e constatar o crescimento da igreja visível, ainda que saibamos que muitos que nela estão não são eficazmente chamados pelo Espírito. A salvação pertence ao Senhor e somente ele conhece sua igreja invisível.

Confiados nas promessas do Pacto, cristãos precisam mesmo considerar o fato de ter filhos. Eles são vistos na Escritura como bênção e galardão e há misericórdia do Senhor até mil gerações daqueles que temem ao seu nome. Pais precisam confiar nisso, pois, ainda que o nascimento numa família cristã não seja uma garantia, a história demonstra que a salvação dos filhos de crentes é uma realidade evidente, apesar das exceções. Há bênçãos para as famílias que temem ao Senhor e a promessa continua pertencendo a nós e aos nossos filhos.

Diante disso, a Igreja precisa comemorar o nascimento de filhos do pacto com o mesmo entusiasmo que comemoram a conversão daqueles que vêm de famílias não crentes. Filhos criados diante do Senhor e chamados eficazmente pelo Santo Espírito serão bênção nas mãos do Senhor da Igreja.


[1] João Alves dos Santos. Os que morrem na infância: são todos salvos? Uma avaliação teológico-confessional-reformada. Acessado em 8/06/18: urlshortener.at/oqDG4

07 junho 2018

Igreja: Para a glória de Deus ou para entretenimento do homem?

Lendo um livro do Pastor John MacArthur Jr., uma frase me chamou a atenção: “No ‘show business’ a verdade é irrelevante; o que realmente importa é se estamos ou não sendo entretidos”.

Infelizmente tem sido assim também com a igreja evangélica. Olhando para a realidade da igreja de nossos dias, podemos parafrasear MacArthur e dizer que “em muitas igrejas a verdade é irrelevante; o que realmente importa é se o povo está ou não sendo entretido”.

A igreja absorveu a cultura do entretenimento e, por causa disso, acaba por negociar princípios. O que importa é que as pessoas sintam-se bem. Se alguma coisa incomoda, é retirada, ainda que seja essencial ao culto. Em contrapartida, são incluídas práticas que nem de longe fazem parte da adoração cristã, simplesmente para agradar àqueles que vão à igreja. O homem tomou o lugar de Cristo no centro do culto.

Não se tem parado para pensar se o que está sendo incorporado à igreja é sagrado ou secular. O que importa é ter a igreja abarrotada de pessoas, ainda que não se interessem por adoração e pregação, pois, afinal de contas, ir à igreja “é bom”, “é divertido” e “distrai”.

A consequência de tudo isso é que hoje vemos nos púlpitos “animadores de auditório” preocupados com o bem-estar daqueles que “os assistem”. Pecado é palavra proibida em muitas igrejas, pois “fere” aqueles que estão no auditório.

Há um pastor famoso e “engraçado” que vive a fazer piadas com as histórias bíblicas e levando o público às gargalhadas. Muitos, incluindo não crentes, exaltam a forma irreverente como o tal pastor (?) “prega”, mas, curiosamente, se vivessem algum drama na vida, alguma experiência que trouxesse dor, tristeza e lamento, ainda que por conta de pecados cometidos, duvido muito que estes mesmos que riem das preleções do pastor palhaço gostassem que suas histórias fossem contadas de forma engraçada e jocosa, com o intuito de provocar riso, ainda que com o pretexto de ajudar outros a enfrentar dificuldades. Se é assim, deveriam, então, lembrar-se disso quando param para ouvir palhaços que debocham de nossos irmãos do passado, transformando narrativas sérias e graves, que foram registradas para o nosso ensino (Rm 15.4), em piadas de stand up.

Já no século XIX o pastor Charles Spurgeon exortava de que nas cartas bíblicas não há “qualquer indício de um evangelho de entretenimento. A mensagem das cartas é: ‘Retirai-vos, separai-vos e purificai-vos!’ Qualquer coisa que tinha aparência de brincadeira evidentemente foi deixado fora das cartas. Os apóstolos tinham confiança irrestrita no evangelho e não utilizavam outros instrumentos” (Alimentando as ovelhas ou divertindo os bodes? – Monergismo).

Devemos resgatar a pureza da pregação bíblica. A mensagem bíblica, longe de ser uma mensagem para entreter, é a mensagem de Cristo, que diz que aquele que quer segui-lo deve negar-se e tomar a sua cruz. Igreja não é lugar de diversão, mas um local onde se adora o Senhor em Espírito e em verdade, reconhecendo nossa pequenez diante de Deus e sua misericórdia sobre nossas vidas.

Procuremos, portanto, agradar ao CRIADOR ao invés da criatura, pois para isso fomos criados.

* Texto ampliado e republicado

04 junho 2018

Chamados Para Servir

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“Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva” Mc 10.43

Essa foi a afirmação de Jesus diante do pedido feito por Tiago e João (“Permite-nos que na tua glória, nos assentemos um à tua direita e o outro à tua esquerda.”) e que provocou indignação nos outros dez apóstolos.

Somos, de um modo geral, muito egocêntricos. Gostamos de estar na melhor posição de ser servidos, e somos, também, muitas vezes, pouco prestativos. Infelizmente isso é “normal” tendo em vista que somos pecadores e, como tais, temos a tendência de olhar sempre para nós em primeiro lugar, depois vem o outro.

A afirmação de Jesus vem nos ensinar justamente o contrário. O Reino de Deus é um reino de serviço. Fomos chamados para servir e não para ser servidos, e a razão para isso é simples e lógica. Somos seguidores de Cristo e “...o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10.45).

Quão difícil é colocar em prática a ordem do Senhor! Quão difícil é ser altruísta! Mas é isso que devemos buscar. Paulo exorta aos Coríntios escrevendo: “Ninguém busque o seu próprio interesse e sim o de outrem” (1Co 10.24).

Como precisamos ouvir essa ordem em nossos dias. Nossa sociedade diariamente nos impõe esse padrão de que devemos sempre nos dar bem. Haja vista a famosa frase: “Brasileiro gosta de levar vantagem em tudo” que ficou conhecida como “Lei de Gerson”. Gerson, jogador tricampeão mundial de futebol emprestou sua imagem para uma propaganda de cigarros em meados da década de 70, e a sua frase acabou por fazer parte da “cultura” brasileira.

Ao salvar um povo para si mesmo, Jesus Cristo o livra da escravidão do pecado a fim de que este povo possa cumprir, para a glória dele, a santa Lei do Senhor. Mais que isso, ele mesmo é o próprio exemplo de como devemos viver e agradar a Deus. Por conta disso o apóstolo Paulo exorta: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz;” (Fp 2.5-8).

Foi esta a razão apresentada para que os filipenses obedecessem à ordem dada nos versículos anteriores: “Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros” (Fp 2.3-4).

O exemplo de Cristo pode ser visto nos evangelhos. Após lavar os pés aos discípulos ele ensina: “Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque eu o sou. Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também” (Jo13.12-15).

Como Igreja do Senhor, devemos andar na contramão da cultura egoísta em que estamos imersos e seguir o exemplo do nosso Salvador, que se entregou por nós, sabendo que o nosso serviço redundará na glória de Deus. Foi isto que Jesus afirmou aos discípulos: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5.16).

Se fomos chamados para servir, sirvamos de coração, pois como afirmou o Mestre, “se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes” (Jo 13.17).

Deus nos abençoe!

* Post republicado com alterações

30 maio 2018

Quando a tristeza e o desânimo o alcançam

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Você se lembra do relato bíblico acerca de Pedro andando sobre as águas? Mateus registra que, naquela ocasião, os discípulos tomaram um barco a fim de passar para a outra margem do lago enquanto Jesus despedia a multidão que tinha sido alimentada por ele (Mt 14.13-22). Os discípulos já estavam no meio do lago e as ondas batiam forte contra o barco quando eles viram alguém caminhando sobre as águas. Eles ficaram temerosos, achando se tratar de um fantasma, mas Jesus lhes disse para não se assustarem, pois era ele que ali estava.

Pedro rapidamente respondeu que se era mesmo Jesus, que era para mandá-lo ter com ele sobre as águas, o que foi ordenado pelo Mestre. Pedro, intrépido, sob a Palavra de Jesus andou sobre as águas! Entretanto, ao tirar os olhos de Cristo e reparar na força das ondas, começou a afundar.

Este conhecido relato pode ilustrar de forma interessante a caminhada cristã. Muitos crentes, em determinados momentos da vida, quer seja por causa de pecado ou por causa de provações e tentações, parecem perder a confiança em Deus e em sua Palavra. Isso os leva à tristeza e até mesmo ao desespero. Não são poucos os irmãos que chegam a questionar se realmente são crentes.

Pela graça de Deus, temos em sua Palavra tudo aquilo que é necessário para nos ensinar e nos dar esperança. Paulo afirma aos romanos que “tudo, quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15.4). Tiago, referindo-se ao profeta Elias, afirmou ser ele um “homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos” (Tg 5.17). Pensando nisso, você pode ter a firme convicção de que não é o primeiro, nem tampouco será o último, a titubear na fé.

Pense, por exemplo, naquele que é conhecido como “o homem segundo o coração de Deus”, o Rei Davi. No livro dos Salmos você percebe o quanto ele conhecia ao Senhor e como este conhecimento regulava a forma como ele se portava em sua vida. Comecemos com o Salmo 3. Ele foi escrito por ocasião de sua fuga, quando seu filho Absalão o perseguia. Naquele momento ele orou: “Senhor, como tem crescido o número dos meus adversários! São numerosos os que se levantam contra mim” [...] – e, após mencionar o momento complicado em que vivia, afirmou sua convicção – “Porém tu, Senhor, és o meu escudo, és a minha glória e o que exaltas a minha cabeça”. O resultado desta convicção está no v. 3: “Deito-me e pego no sono; acordo, porque o Senhor me sustenta. Não tenho medo de milhares do povo que tomam posição contra mim de todos os lados”. Que convicção magnífica, que segurança Davi demonstrava ter no Senhor.

No Salmo 4 ele ora pedindo que o Senhor o responda. Ele se dirige ao Senhor como o “Deus da minha justiça”, [que] na angústia, me tens aliviado; tem misericórdia de mim e ouve a minha oração”. A certeza acerca de quem é o seu Deus leva Davi a terminar dizendo: “Em paz me deito e logo pego no sono, porque Senhor, só tu me fazes repousar seguro”. Mais uma vez você percebe que a segurança no coração de Davi é fruto de sua convicção.

O conhecido Salmo 23, mais uma vez, demonstra a confiança do rei de Israel: “O Senhor é meu pastor; nada me faltará”. Esta certeza o faz declarar: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam”.

Temos ainda no Salmo 40 Davi declarando firmemente: “Esperei confiantemente pelo Senhor; ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro. Tirou-me de um poço de perdição, de um tremedal de lama; colocou-me os pés sobre uma rocha e me firmou os passos”.

Entretanto, mesmo com toda essa convicção, no início do Salmo 13 vemos um Davi diferente. O rei está totalmente desanimado por não perceber a ação de Deus em sua trajetória. Isso o faz perguntar por quatro vezes nos dois primeiros versículos: “Até quando, Senhor?”. Sim, o homem segundo o coração de Deus também teve as suas convicções abaladas e perguntou ao Senhor: “Esquecer-te-ás de mim para sempre?”. A angústia era tamanha que ele demonstra a sua desesperança: “Até quando ocultarás de mim o rosto? Até quando estarei eu relutando dentro de minha alma, com tristeza no coração cada dia?”. Ao olhar para o início do Salmo 13 você percebe que não está sozinho quando, em meio às tribulações, se vê sem esperança.

A Confissão de Fé de Westminster, em seu décimo oitavo capítulo, ao tratar da certeza da graça e da salvação, afirma algumas coisas importantes. Na seção 2 aprendemos que “esta certeza [da salvação] não é uma mera persuasão conjectural e provável, fundada numa falsa esperança, mas uma infalível segurança da fé, fundada na divina verdade das promessas de salvação”, ou seja, a certeza da salvação é fruto da confiança naquilo que Deus promete em sua Palavra.

Quando, porém, você olha para a seção 4, verifica que os teólogos de Westminster reconheciam que, por vezes, os cristãos podem ter sua convicção abalada, ao ensinarem que “por diversos modos podem os crentes ter a sua segurança de salvação abalada, diminuída e interrompida negligenciando a conservação dela, caindo em algum pecado especial que fira a consciência e entristeça o Espírito Santo, cedendo a fortes e repentinas tentações [...]”.

Este ensino deve trazer consolo e esperança. Consolo por saber que, ainda que não tendo certeza da salvação, um verdadeiro salvo nunca a perderá. Esperança por saber que “a certeza de salvação poderá, no tempo próprio, ser restaurada pela operação do Espírito, e por meio delas eles são, no entanto, suportados para não caírem no desespero absoluto”.

A Confissão de Fé, na seção anterior (3), já havia afirmado que “esta segurança infalível não pertence de tal modo à essência da fé, que um verdadeiro crente, antes de possuí-la, não tenha de esperar muito e lutar com muitas dificuldades”. A caminhada cristã é, portanto, uma caminhada de lutas contra a nossa própria incredulidade, mas como continua ensinando esta seção da confissão, um verdadeiro crente “sendo pelo Espírito habilitado a conhecer as coisas que lhe são livremente dadas por Deus, ele pode alcançá-la sem revelação extraordinária, no devido uso dos meios ordinários”.

Isso nos faz voltar ao ponto: Se a certeza pode ser alcançada por meio dos meios ordinários, isso significa que a leitura das Escrituras (meio ordinário) é indispensável para que os cristãos fracos se fortaleçam. É se lembrando da Palavra e também daquilo que Deus já executou na história, inclusive em sua história pessoal, que os crentes voltarão a ter sua convicção restabelecida, levando-os a descansar e confiar novamente no Senhor.

Isso acontece no Salmo 13, quando Davi, depois das queixas coloca diante do Senhor sua petição (v. 3 e 4). Ao orar, Davi parece se recordar daquilo que ele já havia experimentado do Senhor, por isso termina afirmando: “No tocante a mim, confio na tua graça; regozije-se o meu coração na tua salvação. Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem” (v. 5 e 6). Repare bem! Deus ainda não o havia livrado das aflições que o levaram ao desânimo. Contudo, ele se lembrou da graça de Deus e do quanto o Senhor já havia feito de bem a ele, por isso, seu coração que estava triste a cada dia (v. 2) se torna alegre no versículo seis.

É por tudo isso que você precisa constantemente lembrar ao seu coração a Palavra do Senhor. É por meio dela que Deus fortalecerá a sua convicção a respeito daquilo que Jesus Cristo, o Redentor de sua alma, fez em seu favor. É por meio da Escritura que você poderá exercer a fé bíblica, que é a certeza e a convicção a respeito do que Deus diz em sua Palavra.

Em momentos de tribulação, desânimo e tristeza, faça então como o salmista. Pergunte “Por que você está assim tão triste, ó minha alma? Por que está assim tão perturbada dentro de mim?” – a fim de relembrá-la: “Ponha sua esperança em Deus! Pois ainda o louvarei; ele é o meu Salvador e o meu Deus” (Sl 43.5 – NVI). Como Paulo afirmou aos romanos, “aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? [...] Quem nos separará do amor de Cristo? [...] Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.31-39).

Firmado na Palavra de Cristo você pode deixar de lado a tristeza e o desânimo.

Que Deus o ajude!

22 maio 2018

Santifica-os na verdade

luciano-pires-ponto-de-vista“Depende do ponto de vista!”

Essa é a frase que, muitas vezes, ouvimos quando discutimos algum assunto em nossos dias, fruto do pensamento pós-moderno, que abriu mão dos absolutos e encara todas as coisas como relativas. “Tudo é relativo”, dizem alguns.

Desse modo, temos a verdade de fulano, a de beltrano e tantas mais verdades quanto forem necessárias.

Necessárias a quê? Necessárias à circunstância em que estamos vivendo. A melhor “verdade” é aquela que apóia a minha prática, o meu pensamento.

O interessante (e triste) é que esse pensamento influenciou até o mundo da fantasia. Por exemplo, aqueles que assistiam aos antigos filmes do Zorro são testemunhas de que ele era um grande herói quando estava mascarado, e um cidadão respeitado na sociedade (Dom Diego) quando estava sem a máscara. Ele era bom, com e sem a máscara.

No filme exibido em 1998, a história já é outra. Com a máscara, Zorro é um herói pronto a defender a causa dos necessitados, mas, sem a máscara, ele é um ladrão. Perguntamos então: Ele é bom ou mau? “Depende do ponto de vista...”, seria a resposta.

Fico a pensar numa das frases ditas por Jesus na oração sacerdotal: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). Para Jesus, a verdade absoluta é a Palavra de Deus, e nela temos A Verdade e não “pontos de vista”. John MacArthur oferece uma boa definição de verdade sem seu livro A guerra pela verdade: “a verdade é aquilo que é consistente com a mente, a vontade, o caráter, a glória e o ser de Deus. Sendo mais preciso: a verdade é a auto expressão de Deus. Esse é o significado bíblica da verdade...”.

Não existe, portanto, a verdade da Igreja Presbiteriana, a verdade da igreja tal, a verdade daquela outra igreja. O que existe é a verdade bíblica, e esta deve ser buscada fielmente através do sério estudo das Escrituras a fim de sermos santificados por Deus. A Bíblia não tem vários significados, mas o significado pretendido pelo escritor de cada um de seus livros.

Infelizmente, a frase de Jesus cai muitas vezes em ouvidos que se fazem de surdos e que acabam achando que todos têm razão, afinal de contas, não importa em que cada um crê (depende do ponto de vista...), o que importa é ter Jesus. Será?

Um exemplo de como este raciocínio é equivocado está na imagem que ilustra este texto. O desenho usado para mostrar que a verdade é relativa só demonstra que um determinado ponto de vista tem a capacidade de torcer a verdade que, torcida, deixa de ser verdade e passa a ser mentira. Matematicamente todos sabem que seis não pode ser nove, nem vice-versa, logo, alguém está olhando “de cabeça para baixo”. Apesar da ilusão de saber a verdade, quem está olhando do lado errado somente faz da mentira a “sua” verdade, mas isso não muda a realidade.

Que Deus nos ajude para que, iluminados pelo Espírito Santo, cheguemos ao pleno conhecimento da verdade: Jesus Cristo, que ao interceder pelos seus rogou ao Pai que os santificasse na verdade que é a sua Palavra.

Deus nos abençoe.

* Texto ampliado e republicado

17 maio 2018

Razão e emoção: a importância de conciliá-las

cérebroMuitas pessoas não têm dado a devida importância ao lugar da razão no culto ao Senhor. Não faltam aqueles que dizem que a razão não tem lugar na adoração e na exaltação do nome de Jesus. Como consequência, vemos cultos onde há “emoções à flor da pele”, mas pouco entendimento do que se está fazendo.

Os cristãos que não fazem uso da razão em sua vida não têm condições de julgar nada do que lhes é proposto, e é por isso que, dia após dia, a ênfase dada às experiências tem aumentado e a leitura da Palavra de Deus diminuído.

Parece, para mim pelo menos, que muitas pessoas, ao irem à igreja, deixam em casa o cérebro, pois ele só é importante durante a semana, no trabalho ou na escola. Mas será que isso deve ser assim mesmo?

Quando olhamos para a Palavra de Deus temos uma surpreendente exortação de Paulo à Igreja de Roma: “Rogo-vos, pois, irmãos, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional (Rm 12.1).

O apóstolo não está dizendo (e nem eu quero insinuar) que a emoção não tem lugar no culto. A emoção faz parte do culto mas deve estar sujeita à razão. Nós entendemos racionalmente o que Deus fez e faz por nós, e consequentemente nos emocionamos.

É preciso colocar os sentimentos no lugar correto. Um bom exemplo disso está na história de Filipe e do Eunuco. Nesta passagem a pergunta que o diácono fez não foi se o eunuco tinha sentido algo diferente ao ler a Escritura, mas se tinha entendido. Após ele entender, confessar sua fé e ser batizado, o resultado foi a alegria (At 8.39), alegria que também foi marcante quando os samaritanos entenderam e creram na mensagem do evangelho (At 8.8).

Se alguém entende corretamente o evangelho (a mensagem sobre o Deus que enviou seu único Filho, Santo e sem pecado, para tomar sobre si os pecados do homem, morrer por ele, ressuscitar para a sua justificação) e não se emociona, algo está errado. Contudo, emocionar-se sem entender é um erro e muitos querem levar as pessoas à fé apelando às emoções. Isso explica o que ocorre em muitos arraiais evangélicos: as apelações com fundo musical, luz baixa e outros subterfúgios que tem por fim levar o homem a uma decisão emotiva, a ponto de muitos dizerem que o culto foi uma bênção apesar de não lembrarem o que foi pregado. Se o Espírito Santo não convencer o pecador pela exposição das Escrituras, nada mais o convencerá.

A razão precede a emoção e uma alteração desta ordem só trará prejuízos.

Deus requer de nós a busca de uma vida piedosa, mas também uma busca racional das verdades reveladas em sua Palavra, pois, se não fosse assim, não nos teria dotado da capacidade de raciocinar e julgar todas as coisas.

O uso da razão na vida cristã só tem a nos tornar crentes melhores, pois entenderemos a Palavra, nos emocionaremos com ela e agiremos conforme o que ela nos prescreve. Isso nos levará a ser mais santos, mais amorosos, ter mais fé e mais disposição para pregar o Evangelho, pois teremos, através do Espírito Santo, um conhecimento firme da doutrina de Cristo Jesus.

Deus nos abençoe!