22 março 2011

A Palavra de Deus e a salvação

pregador expositivo

Quando escreveu sua segunda epístola a Timóteo, Paulo, após elogiá-lo, fez uma recomendação: “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste. E que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2 Tm 3.14,15).

O texto é claríssimo e ensina que a Palavra de Deus é suficiente, ou melhor, é a única fonte para que alguém se torne sábio para a salvação pela fé em Cristo.

Ainda assim, muitas denominações evangélicas têm se deixado influenciar pelo pragmatismo e têm recorrido a vários métodos que supostamente têm dado certo para trazer pecadores ao “arrependimento”. O problema aqui é que, na ânsia de trazer pessoas para as igrejas, os métodos não têm sido questionados e analisados pelo crivo da Santa Palavra de Deus.

Como exemplo disso temos as várias igrejas ligadas a um movimento denominado “Sensível aos Interessados”. Esta ideia está presente em um livro que há alguns anos foi moda no Brasil, Uma igreja com propósitos. Neste livro o autor, Rick Warren, divulga ideias do tipo: pregar o evangelho nos termos do incrédulo a fim de que seja agradável e fácil eles se tornarem crentes, e mudar os métodos sempre que necessário. Para isso, ele ensina: “Estabeleça um culto voltado intencionalmente ao objetivo de que os membros da igreja tragam seus amigos. E torne esse culto tão atraente, agradável e relevante aos sem-igreja, que os membros de sua igreja ficarão ansiosos por compartilhar esse culto com os perdidos pelos quais eles se interessam.”[1]

John MacArthur afirma que alguns dos gurus desse movimento aconselham inclusive a retirar do sermão todas as referências explícitas à Bíblia e ensinam a nunca pedir à congregação para abrir a Bíblia em um texto específico, pois os “interessados” ficam desconfortáveis com essa atitude.[2]

Para esse tipo de movimento, a quantidade de pessoas atraídas ao culto valida o método, afinal, os fins justificam os meios.

Infelizmente não são poucos aqueles que têm aderido a esses modismos para ver a igreja crescer. De fato, muitas igrejas crescerão dessa forma, mas será que haverá vidas salvas e transformadas?

Precisamos crer de todo o coração no que Paulo afirmou a Timóteo: as Escrituras é que tornam o homem sábio para a salvação. O próprio Senhor Jesus afirmou certa vez: “Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva” (Jo 7.38). Paulo, agora escrevendo aos romanos, assevera que “a fé vem pela pregação, e a pregação, pela Palavra de Cristo” (Rm 10.17).

É por meio da Palavra de Deus, e não de técnicas humanas, que o Espírito Santo convence o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8). Por esta razão é que Paulo, depois de afirmar a Timóteo que a Palavra de Deus é que torna o homem sábio para a salvação, continua sua argumentação dizendo que toda a Escritura é útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a educação na justiça (2 Tm 3.16). Essa utilidade da Escritura, conforme Paulo, tem um fim: é para “que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Tm 3.17).

Ao crer na suficiência das Escrituras para a salvação, a igreja não precisará recorrer a métodos humanos para que os homens creiam e, assim, glorificará o Senhor.

O livro de Atos dos Apóstolos nos ensina claramente que o crescimento da igreja está intimamente ligado à Palavra de Deus, a ponto de Lucas, ao se referir algumas vezes ao crescimento da igreja, afirmar: “crescia a Palavra de Deus” (At 2.42,47; 6.7; 12.24; 16.4,5; 19.18-20).

O Senhor Jesus, ao comissionar os seus discípulos, não pediu que eles inventassem métodos e nem que negociassem a Palavra, antes ordenou que eles fizessem discípulos ensinando-os a guardar tudo o que ele havia ordenado (Mt 28.19,20). Isso implica que a Palavra é suficiente e, portanto, deve ser proclamada tal como é. Os resultados pertencem ao Senhor.

Não devemos dar lugar ao entretenimento ou à busca da satisfação pessoal, pois não é isso que traz salvação ao homem. Como ensinou o nosso Senhor, a Palavra de Deus é a verdade (Jo 17.7) e é a verdade que liberta o homem (Jo 8.32).

Creiamos, portanto, que a Escritura é suficiente para a salvação.


[1] Rick Warren. Uma igreja com propósitos. São Paulo: Vida, 1997, p. 253

[2] John MacArhur. Pregação Superficial. In “Fé para Hoje”, nº 30 – ano 2007: São José dos Campos: Fiel, p. 7

13 março 2011

Deus Está no Controle

mundo na mão

Na madrugada e durante todo o dia de sexta-feira, 11/03, (no horário do Brasil) pudemos assistir estarrecidos o tsunami que varreu a costa nordeste do Japão. Cenas chocantes de muita destruição são continuamente repetidas nos noticiários. Já se somam mais de novecentas vidas que foram ceifadas e milhares de pessoas ainda estão desaparecidas.

Com isso, vários “teólogos” já se pronunciaram pela rede mundial de computadores, à semelhança do que fizeram em outras catástrofes, numa tentativa, ao que parece, de desculpar a Deus. “Ele não sabia que isso ocorreria” e outras afirmações semelhantes podem ser lidas na rede.

Ainda que vejamos com profunda tristeza tudo isto acontecer, devemos ter em mente que o Senhor Todo-Poderoso continua, sim, no controle. Mesmo as catástrofes e as guerras não escapam à sua soberania.

Esta verdade é claríssima nas Escrituras. Até nos atos maus dos homens vemos Deus cumprindo os seus propósitos na história. Basta que nos lembremos de José que foi vendido por seus irmãos e acabou se tornando o governador do Egito. Ao final da história vemos que Deus usou o pecado dos irmãos de José para preservar o povo de Israel que estava sem alimento e foi buscá-lo no Egito onde José já estava na posição de governador.

Sabemos que foi pecado o que os irmãos de José fizeram com ele, mas ainda assim, José enxergava a história da seguinte maneira: “Assim, não fostes vós que me enviastes para cá, e sim Deus, e me pôs por pai de Faraó, e senhor de toda a sua casa, e como governador em toda a terra do Egito” (Gn 45.8).

Outro exemplo claro da soberania divina está registrado em Isaias 10.5ss. Nesse texto é relatado que Deus levantou a Assíria para punir a nação de Israel (o seu povo particular) porque Israel havia quebrado os preceitos da Aliança e logo depois puniu a Assíria por causa da arrogância do coração do seu rei, que achava que havia subjugado Israel por ser muito poderoso.

A história de Jó é outro exemplo gritante do controle absoluto de Deus. Mesmo sendo Satanás o instrumento para a aflição de Jó, tudo foi feito sob o domínio de Deus. Quem autorizou Satanás tocar naquele que é descrito como justo, íntegro e que se desvia do mal foi o próprio Senhor. Quando lemos o último capítulo do livro temos: “Então, vieram a ele todos os seus irmãos, e todas as suas irmãs, e todos quantos dantes o conheceram, e comeram com ele em sua casa, e se condoeram dele, e o consolaram de todo o mal que o Senhor lhe havia enviado; cada um lhe deu dinheiro e um anel de ouro” (Jó 42.11).

A despeito dos relatos bíblicos, Ricardo Gomdin, adepto da teologia relacional, afirmou em seu microblog: “O deus que ‘administra’ os eventos, tem propósitos insondáveis e que, para isso deixa tragédias acontecerem, é um demônio (grifo meu). Outra pessoa afirmou ainda que “colocar Deus no controle de todas as coisas nos rouba o direito de lamentar a tragédia. Afinal, quem somos para lamentar uma decisão divina?”

Afirmações como essas revelam que para esses pensadores o homem é totalmente inocente e não merece sofrer, e que se Deus é de fato Soberano, o homem está nas mãos de um governante sádico. Eles não levam em conta a queda de Adão, e conseqüentemente a de todos nós, nem o fato de a terra ter sido amaldiçoada por causa do seu pecado a ponto de Paulo escrever que a própria natureza geme, aguardando a redenção (Gn 3.1-19; Rm 8.18-25).

Revelam ainda que, em sua crença, se Deus não serve para garantir o “bem-estar” do homem, ele só pode ser mau. Nesse caso, serve-se a Deus não por quem ele é, mas por aquilo que ele pode fazer em favor da humanidade. Isso me faz lembrar um episódio que vivi enquanto estava no seminário e que ilustra essa maneira utilitária de se relacionar com Deus. Tínhamos de fazer uma pesquisa em vários grupos religiosos e uma das perguntas era se a oração mudava a vontade de Deus. Estive numa igreja Renascer em Cristo e quando fiz essa pergunta ao pastor ele afirmou que certamente muda. No fim do seu arrazoado disse que se a oração não muda a vontade de Deus é melhor servir ao diabo.

Eles não entendem também que o sofrimento tem várias origens. Sofremos por causa da queda, por causa do pecado de outros contra nós, por causa dos nossos próprios pecados, por causa de Satanás e, em última instância, por causa de Deus.

Na história de Jó, por exemplo, temos Deus e Satanás envolvidos em seu sofrimento. A grande diferença são os objetivos. Enquanto Satanás infligia o sofrimento para que Jó negasse a Deus, o Senhor usou o sofrimento para lapidar e fortalecer as convicções de Jó que afirmou: “eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem" (Jó 42.5)[1].

Os teólogos relacionais assemelham-se à mulher de Jó que, por não entender os propósitos soberanos do Senhor em meio ao sofrimento do marido, ordenou: “amaldiçoa a Deus e morre”. A eles cabe a mesma repreensão de Jó à sua esposa: Falas como qualquer doida; temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o mal?” (Jó 2.9-10).

Outra questão a se perceber é que as afirmações acima revelam que, no fundo, eles não estão lamentando a tragédia, mas a decisão de Deus em agir da forma como bem entende. Mesmo sendo Deus Soberano sobre todas as coisas, inclusive tal tragédia, não proíbe que demonstremos compaixão e solidariedade com a dor do próximo e até mesmo ordena isso. Olhando para as Escrituras podemos perceber que a morte, mesmo sendo decretada por Deus como conseqüência da desobediência no Éden, provocou o choro de Jesus diante do túmulo de Lázaro (Jo 11.34,34). Usando a mesma lógica da afirmação acima, ao ler esse texto eles deveriam reprovar o choro de Jesus e declará-lo um hipócrita, visto que a morte só aconteceu por causa de seu decreto, sendo ele o próprio Deus.

Deixando de lado os teólogos relacionais, é duro perceber que até mesmo entre crentes de igrejas ortodoxas há também a recusa em admitir que o Senhor governa até as catástrofes. Ao mesmo tempo em que afirmam sem titubear que aqueles que não se arrependerem dos seus pecados perecerão no inferno, relutam em envolver Deus com a questão do sofrimento.

Isso é sintomático e pode indicar pelo menos duas coisas. A primeira é a falta de entendimento do que será o inferno e o sofrimento eterno, certamente muito pior que qualquer tragédia que já vimos ou que ainda veremos. A segunda e mais grave é a descrença, mesmo afirmando o contrário, de que haverá sofrimento eterno para aqueles que não se arrependerem e confessarem o Senhorio do Redentor.

Deus age e controla a história da humanidade como bem entende, não precisa de conselheiros (Is 40.14; 1Co 2.16; Rm 11.34), nem precisa pedir autorização para agir, pois“faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Ef 1.11). Ele mesmo afirma que ao agir, ninguém o pode impedir (Is 43.13). Até o ímpio Nabucodonosor entendeu que “Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” (Dn 4.36). Ele é o Grande Rei de toda a terra (Sl 47.2).

Não entendemos os propósitos de Deus com as catástrofes, nem como ele pode ser glorificado nisso tudo. Não precisamos entender isso. Precisamos crer que esse Deus Soberano é Santo, Justo e amoroso, e que sua vontade é boa agradável e perfeita (Rm 12.2).

A nós, cabe orar pelos que sofrem no meio às tragédias e calamidades, solidarizar-se e ajudar no que for possível, sem nunca nos esquecer que o Senhor dirige a história.


[1] Podemos ver essa mesma questão na história de Paulo e seu espinho na carne (2Co 10.1-10). Mesmo sendo o espinho um mensageiro de Satanás, serviu para aproximar mais o apóstolo do Senhor.

10 março 2011

Do terror à comédia ou, o que estão fazendo com o evangelismo?

theatre-mask1 As Escrituras falam de forma inequívoca sobre a tarefa de evangelização da igreja. É sua missão fazer discípulos de todas as nações, ensinando-os a guardar todas as coisas que o Senhor Jesus ordenou (cf. Mt 28.18-20). Para cumpri-la os discípulos foram ordenados a ser testemunhas em Jerusalém, Judeia, Samaria e até os confins da terra (At 1.8).

Observando o livro de Atos percebe-se rapidamente que já em seu início a igreja começou cumprindo muito bem o seu papel. Só para exemplificar temos, no capítulo 2, Pedro pregando um sermão extraordinário que leva a multidão a perguntar o que fazer para receber a salvação. A resposta é imediata: “arrependei-vos [...] para a remissão dos vossos pecados” (At 2.38). No capítulo 8 vemos também Filipe, diácono da igreja, sendo enviado ao deserto e encontrando ali um eunuco que lia o profeta Isaías. Ele se aproxima do carro e tem a oportunidade de anunciar o evangelho. Chama a atenção o registro de Lucas dizendo que Filipe “começando por esta passagem da Escritura, anunciou-lhe a Jesus” (At 8.26-40).

Meu ponto aqui é destacar que o anúncio do evangelho deve levar em conta toda a Escritura. Aqueles que ouvem a mensagem da salvação devem entender que todos os homens caíram em Adão estando, por isso, separados de Deus e sob sua justa e santa ira. Devem ser comunicados de que o salário do pecado é a morte, mas que Deus, em sua infinita misericórdia, puniu seu próprio Filho que tomou sobre si os pecados do seu povo na cruz do Calvário a fim de que, pela fé nessa obra redentora, o pecador arrependido seja reconciliado com Deus.

A Bíblia é bem clara ao enfatizar que o homem natural, morto em seus delitos e pecados é incapaz de compreender essa mensagem (1Co 2.14; Ef 2.1), por isso mesmo, cabe ao Espírito do Senhor convencer o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8) e lhe conceder a fé salvadora, pela graça de Deus (Ef 2.8). A evangelização, nesses moldes, tem o Senhor como centro e o glorifica do início ao fim.

Sendo assim, o papel da igreja na evangelização deveria ser o de fidelidade à mensagem bíblica anunciando a miséria em que o pecador se encontra, demonstrando que, por isso, ele está perdido e apontando para o amor de Deus evidenciado na cruz do Calvário, na esperança de que o Senhor salvará a quem quiser pela loucura da pregação (1Co 1.21).

A despeito disso, a evangelização teocêntrica que acontecia de forma natural na igreja primitiva foi perdendo espaço. A proclamação que era feita primeiramente para a glória de Deus, começou a ser feita porque o homem precisa ser salvo. Veja bem, não estou nem de longe dizendo que ao evangelizar não devemos ter expectativas de que o Senhor salvará pecadores, mas que o alvo principal da evangelização não pode ser esse e sim a glória de Deus. Parece uma besteira o que estou afirmado, mas pense nas implicações:

Quando se evangeliza teocentricamente, isto é, pensando primeiramente na glória de Deus, não há porque negociar a mensagem por mais dura que possa parecer. Tem-se a certeza de que, pela exposição fiel da Escritura, Deus chamará pecadores ao arrependimento.

Quando, porém, a evangelização é antropocêntrica, pensando primeiramente em salvar o pecador, a mensagem acaba por ser deturpada, pois o objetivo é convencer, a qualquer custo, o homem de que ele deve se voltar para Deus. Daí acontecem as distorções, das quais destacarei somente duas que tenho percebido desde minha conversão.

A evangelização do terror

Eu ainda era neófito quando assisti na igreja que frequentava uma peça intitulada “A última trombeta”. O teatro, de orientação pré-milenista dispensacionalista, era baseado numa pretensa revelação dada pelo Senhor em 1952 e mostrava os horrores que acontecerão por ocasião do arrebatamento: famílias desesperadas pelo sumiço dos parentes e amigos e grande desespero de muitos que entenderam que Jesus havia buscado os seus e eles, que não tinham subido no arrebatamento, teriam de enfrentar a grande tribulação.

Quando a peça terminou e houve o apelo, quase me converti novamente, de tão amedrontado que fiquei. O medo ainda me impeliu a querer ser mais santo, não para que Deus fosse glorificado nisso, mas para não correr o risco de acabar parando no inferno. Muitos naquele dia também “creram”, mas simplesmente por causa do medo e não por amor ao Redentor que morreu a nossa morte a fim de termos vida.

A tendência ao terror também era frequente na boca dos pregadores. Ouvi certa vez, já na época do seminário, uma excelente exposição de um pastor sobre Paulo no Areópago, mas no fim ele conseguiu estragar tudo. Ao fazer o apelo, contou a história do voo da TAM que havia partido de São Paulo em direção ao Rio de Janeiro, mas que não chegou ao destino porque o avião caiu e todos morreram. Logo veio a pergunta: “E se você estivesse naquele voo?” e emendou: “Creia antes que seja tarde”. Novamente pessoas “se decidiram” por Jesus, mas, no fim das contas, ao invés de louvar o Salvador por sua obra bendita na cruz para nos libertar do pecado e nos reconciliar com Deus, pareciam mais estar assinando uma espécie de seguro de vida gospel, só para garantir, caso acontecesse alguma coisa ao sair da igreja.

Não nego a verdade bíblica que o Senhor virá com sua ira sobre todos aqueles que não se renderem a ele, mas quando a evangelização pesa muito mais para essa parte da história, deixa-se de falar da provisão de Deus para que o homem tenha redenção. A lógica parece ser a de que, mesmo que seja por medo, o importante é o homem “aceitar a Jesus”.

A evangelização da comédia

Nos últimos tempos, porém, uma nova tendência assola a igreja, a de fazer graça com o Evangelho. A ideia é tirar o peso e a seriedade da mensagem, deixando-a mais light, para que os homens não a vejam com tanta antipatia.

Os discursos para validar a prática são os mais variados e vão desde a afirmação de que “Deus é humor” até uma que li dia desses que dizia que o humor das parábolas de Jesus pode ser a chave hermenêutica para a compreensão de suas histórias.

Conquanto eu entenda que Jesus usa da ironia por várias vezes em seus ensinos, isso não justifica alguém vestir-se de palhaço para tornar o evangelho mais palatável. Um amigo falou esses dias que, do jeito que as coisas vão, daqui a pouco teremos um “stand-up preach”, numa alusão à bola da vez no mundo do humor, a stand-up comedy.

Não estou levantando a bandeira do “pastor carrancudo”. Não creio que precisemos ser assim para comunicar o evangelho, mas o outro extremo é também pernicioso. Hermisten Maia, em seu excelente texto (O palhaço e o profeta: uma indefinição de nossos dias), cita acertadamente uma crítica de Albert Martin: “O esforço desnatural de certos pregadores para serem ‘contadores de piadas’, entre a nossa gente, constitui uma tendência que precisa acabar. A transição de um palhaço para um profeta, é uma metamorfose extremamente difícil”[1]. No mesmo texto ele escreve:

Imaginem um jovem entre centenas de outros, ansiosamente procurando seu nome nas listas afixadas nas paredes na universidade a fim de saber se foi aprovado ou não no vestibular. De repente surge um amigo com um sorriso largo e com os braços abertos, dizendo: “parabéns, você foi aprovado”. O jovem dá-lhe um abraço apertado, pula, grita, ri, chora, comemora... Depois de alguns minutos de euforia, aquele “amigo” diz: “É brincadeira; seu nome não consta entre os aprovados”. Se você fosse aquele vestibulando, como reagiria? Pense nisto: Se você corretamente não admite brincadeiras com coisas sérias, o Evangelho, que envolve vida e morte eternas, seria passível de brincadeiras, de gracejos? A pregação é assunto para profetas, não para palhaços. Pensemos nisso[2] (grifo meu).

Voltando ao padrão

Quando a salvação do homem é a primeira e principal razão para a pregação do Evangelho muda-se a mensagem a fim de que por medo, ou por divertimento, os homens se acheguem a Cristo.

Quando, porém, a preocupação primeira é a glória de Deus, a igreja pode pregar com fidelidade e com toda a seriedade devida, sabendo que o Senhor cumprirá os seus planos e salvará o seu povo.

Como afirmei no princípio, é tarefa da igreja evangelizar. Entretanto, sendo Deus o autor da salvação e sendo a sua glória a razão primeira para a proclamação devemos, mais do que nunca, voltar ao padrão estabelecido na Palavra. O Deus que ordenou a evangelização estabeleceu também o modo como a igreja deve lidar com sua Palavra.

Que o Senhor nos ajude a ter o foco correto na evangelização e que, pela pregação fiel da Escritura, aqueles que são dele sejam alcançados pela graça bendita de Cristo Jesus, nosso Redentor.

Milton Jr.


[1] Albert N. Martin. O que há de errado com a pregação de hoje?, São Paulo, Fiel, p. 23, citado por Hermisten M. P. Costa. O Palhaço e o profeta: uma indefinição de nossos dias. Fonte: www.seminariojmc.br

[2] Hermisten M. P. Costa. O Palhaço e o profeta: uma indefinição de nossos dias. Fonte: www.seminariojmc.br