22 junho 2021

Quando o aconselhamento bíblico não é possível

Coração de pedra

Se você acompanha este blog há algum tempo pode estar se perguntando a que o título se refere. Afinal de contas, temos publicado aqui vários textos que afirmam e reafirmam a suficiência das Escrituras para tratar quaisquer problemas do homem que não tenham origem orgânica, os chamados males da alma. Temos defendido a superioridade do aconselhamento bíblico sobre qualquer outro sistema de aconselhamento pautado na sabedoria deste mundo. Concordando com Jay Adams, creio que “sendo o aconselhamento – o processo de auxiliar outros a amarem a Deus e ao próximo – uma parte do ministério da Palavra (assim como a pregação) é inconcebível usar qualquer outro texto (do mesmo modo que seria impensável usar outros textos na pregação) que não seja a Palavra de Deus. O ministro da Palavra deixa de o ser, quando se fundamenta em outro texto que não seja a Palavra”[1].

Portanto, o presente artigo não quer contradizer isso. Sim, cremos que em Cristo, conforme revelado nas Escrituras, temos “todas as coisas que conduzem à vida e à piedade” (2Pe 1.3). Todavia, é preciso reconhecer que há uma circunstância em que o aconselhamento bíblico é impossível. Não pense que estou endossando aqui a posição de que há problemas muito grandes para pastores ou conselheiros bíblicos e que necessitam de um profissional terapeuta “qualificado”. A impossibilidade se torna evidente não por causa dos tipos de problemas, mas por causa da incapacidade daqueles que estão enfrentando os problemas de ouvir instruções bíblicas.

Sendo mais claro, Paulo afirma que “certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem” (1Co 1.18) e que “o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entende-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1Co 2.14). Ou seja, alguém que ainda não foi regenerado não pode, de forma alguma, atender à Palavra de Deus!

Só para usar figuras bíblicas, a Palavra de Deus é descrita como uma espada de dois gumes que penetra a ponto de discernir os propósitos do coração (Hb 4.12). Entretanto, o coração do pecador é de pedra, e para que possa ser penetrado pela Palavra, deve ser, antes, transformado em um coração de carne (Ez 11.19). Essa promessa, feita por Deus no Antigo Testamento, é essencial para que os homens “andem nos meus [de Deus] estatutos, e guardem os meus juízos, e os executem; eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus” (Ez 11.20).

A falta de um novo coração, isto é, da regeneração, torna impossível o aconselhamento bíblico, pois o pecador, sem Cristo, não tem condições de colocar em prática, com a motivação correta, as ordens e orientações da Palavra de Deus. Não adianta dar princípios bíblicos a alguém que não é nascido de novo.

Certa vez, conversando sobre isso, fui questionado por meu interlocutor se não seria bom ter não crentes recebendo orientações da Palavra de Deus, mesmo que não chegassem a crer em Cristo, afinal de contas, sendo a lei de Deus perfeita, sua prática acabaria por melhorar um pouco a vida dos ímpios. Talvez esse possa ser também o seu questionamento diante do que leu até aqui, e é preciso uma resposta.

Não tenho dúvidas de que a lei é boa e, mais que isso, Paulo diz, ainda, que o mandamento é também santo e justo (Rm 7.12). No salmo 19 Davi qualifica a lei como perfeita, fiel, reta, pura, límpida, verdadeira e o que ela produz é restauração da alma, concessão de sabedoria aos símplices, alegria ao coração, iluminação dos olhos. Entretanto, isso se dá somente após a conversão. Em Cristo, e somente por estar em Cristo, o homem tem condições de guardar a lei. A resposta à pergunta 97 do Breve Catecismo de Westminster explica que a utilidade especial da lei moral aos regenerados é lhes “mostrar quanto devem a Cristo por tê-la cumprido e sofrido a maldição dela, em lugar e para o bem deles; e assim leva-los a uma gratidão maior, e a manifestar essa gratidão por maior cuidado da sua parte em conformarem-se a esta lei, como regra de sua obediência” (BCW – p. 97).

A lei leva o crente à gratidão por Jesus Cristo ter cumprido algo que homem algum poderia cumprir de forma plena. Isso porque a obediência à lei não se dá apenas externamente, mas leva em conta a razão da obediência. Uma coisa é alguém não roubar por amor e satisfação em Deus e amor ao próximo, outra coisa é alguém não roubar com medo de ser preso. No primeiro caso, a razão é a glória de Deus, no segundo, a preocupação egoísta consigo mesmo. Mas o resultado final é o mesmo: alguém que não rouba. Isso não é suficiente diante de Deus, por isso não deve ser o alvo do aconselhamento bíblico.

Tentar dar preceitos bíblicos a não crentes é uma simples tentativa de resolver os sintomas de um problema maior, a inimizade do homem com Deus. Imagine um casal não crente recebendo instruções bíblicas, sem levar em conta a redenção: O conselheiro ensina ao homem que ele deve estar disposto a morrer por sua esposa para o seu casamento ir bem. Ensina também à esposa que ela deve submeter-se ao marido, com o mesmo objetivo, a manutenção do casamento. Talvez isso funcione por um tempo, pois, ao tratar bem a esposa, ela pode também querer agradá-lo, submetendo-se a ele. Mas sem a capacidade de fazer o que é certo para a glória de Deus (eles não têm um novo coração), isso durará pouco tempo, e ainda que dure muito tempo, só servirá para mandar um casal “unido” para o inferno.

Pense na função da lei de Deus para o não crente. Novamente recorro ao Breve Catecismo, que afirma que a utilidade especial da lei moral para os não regenerados é “despertar a consciência deles para que fujam da ira vindoura e para força-los a recorrer a Cristo; ou para deixá-los inescusáveis e sob a maldição do pecado, se continuarem nesse estado e caminho” (BCW – p. 96).

O conselheiro não pode se ocupar simplesmente em resolver problemas, pois cairá na tentação de dar a não crentes simples instruções de como viver bem e, caso funcione, estará afastando-os ainda mais de Jesus Cristo. Talvez aqui seja necessário lembrar que Jesus proferiu um de seus “ais” aos fariseus porque eles se esforçavam para fazer um novo converso, e uma vez feito isso, o tornavam filho do inferno duas vezes mais que eles (Mt 23.15). Lembre-se de que o ensino deles era a de salvação pela guarda da lei (distorcida, eu sei), sem um Redentor.

O princípio é o mesmo. Da mesma forma que o prosélito (novo convertido), convencido de que poderia ser justificado diante de Deus pela lei, desprezava a Cristo, o não crente que aprende apenas princípios para melhorar seu problema sem se dar conta de sua falta de capacidade, entenderá que não precisa de um Redentor.

Conselheiro, você não pode se contentar com uma meta tão baixa como essa. Isso qualquer terapeuta tem como alvo, segundo a sabedoria deste século. Você precisa querer mais!

Como proceder, então?

Agora talvez você esteja exatamente com essa pergunta em mente. É preciso, então, caminhar um pouco mais. Como bem afirmou Welch, “todos os aspectos da vida são vividos diante da face de Deus” – e levando em conta isso – “o aconselhamento bíblico procura lidar com esta característica central da nossa vida, sendo completo somente quando considera nosso relacionamento com Deus e nos dirige a ele”[2].

O aconselhamento bíblico, mais do que resolver problemas, tem por fim levar o aconselhado à maturidade e à conformação com Cristo Jesus, a fim de que ele aprenda a responder às suas circunstâncias, de forma piedosa, com a ajuda do Redentor.

Quando aconselhamos um cristão comprometido com Cristo, partimos do princípio de que ele sabe que deve viver para a glória de Deus e, ainda que ele tenha que ser relembrado desta verdade, ele tem todas as condições de “desenvolver a sua salvação”, pois Deus opera nele o querer e o realizar, conforme sua boa vontade (Fl 2.12,13).

Entretanto, diante de um não crente, o conselheiro tem de estar certo de que este aconselhado não tem condições de viver para glória de Deus, nem de responder piedosamente às suas circunstâncias. Deve manter em mente que o privilégio concedido pelo Senhor neste instante é mais do que tentar “curar superficialmente as feridas”, mas de talvez ser instrumento de Deus para uma mudança verdadeira que começa com a rendição a Jesus Cristo.

Alguns entendem que neste momento o conselheiro deveria parar o aconselhamento e apresentar o “plano de salvação”, para depois concentrar-se nos problemas. Creio, entretanto, que as duas coisas podem ser feitas concomitantemente.

Não crentes que procuram aconselhamento bíblico estão vivendo dilemas reais, dores reais e muitos estão esgotados com suas lutas. Não é sábio desconsiderar todas essas coisas e não é misericordioso não demonstrar compaixão.

Certa vez Jesus aproximou-se de uma mulher, perto de uma fonte, e começou uma conversa com a samaritana pedindo a ela “água”, culminando na afirmação da necessidade que aquela mulher tinha da “água viva” e que pediria essa água se entendesse quem era aquele que estava conversando com ela (Jo 4.1-10). Isso despertou a curiosidade da mulher que perguntou se ele era maior que Jacó, que havia dado a eles poço. Jesus afirmou, então, que quem bebia do poço de Jacó voltava a ter sede ao passo que bebendo de sua água, a sede cessaria para sempre. Isso fez com que a mulher pedisse, então, dessa água.

A história mostra que Jesus estava tratando da maior das necessidades da mulher, mas ele não ignorou seus dilemas pessoais, o que é visto quando ele pede para ele chamar o homem que ele sabia não ser o marido dela, que já havia tido cinco. A conversa segue com a mulher perguntando sobre adoração e ouvindo que o Pai procura adoradores que o adorem em Espírito e em verdade. É nesse ponto da história que ele se revela como o Messias que ela disse saber que estava para vir. Mais uma vez quero enfatizar. Jesus tratou o problema mais profundo daquela mulher, a falta de redenção, mas sem desconsiderar seu problema “superficial”.

Conselheiros devem rogar ao Senhor sabedoria a fim de abordar os problemas dos não crentes usando-os para mostrar a eles a necessidade de alguém que lute suas lutas e caminhe com eles, capacitando-os a responder de forma piedosa às circunstâncias que podem ou não melhorar. Esse caminho envolve arrependimento e fé no Salvador, Jesus Cristo.

Não se esqueça. Quando lidamos com não crentes, juntamente com a instrução do que fazer é necessário mostrar a eles a impossibilidade de fazerem sozinhos, anunciando-lhes que existe um Redentor que resolve o maior de todos os seus problemas, a fim de eles possam lidar com suas circunstâncias de uma forma que honre o Deus que liberta o pecador da miséria do pecado.

Não se contente em ser um simples “resolvedor de problemas”, mesmo porque você não tem condições para tal. Anuncie aos não crentes que porventura busquem o aconselhamento bíblico o Deus que “é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós” – para que – “a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!” (Ef 3.20-21).


[1] Jay Adams. Teologia do aconselhamento cristão, p. 14

[2] Edward T. Welch. Mas afinal, o que é o aconselhamento bíblico? – Coletâneas de Aconselhamento Bíblico, v. 2, p. 172

03 junho 2021

Depressão nos personagens bíblicos?

[1]A Bíblia é (ou deveria ser) a regra de fé e prática dos cristãos. Teoricamente isso significa que as Escrituras, corretamente interpretadas, devem ser o crivo para o cristão interagir com todas as cosmovisões ao seu redor, avaliando-as e julgando-as a fim de reter o que é bom (1Ts 5.21). Teria de ser desta forma, pois o salmista afirma ser a Palavra a lâmpada para nossos pés e a luz para o nosso caminho (Sl 119) e o Senhor Jesus afirma ser ela “A verdade” (Jo 17.17).

Porém, para muitos crentes, na prática a teoria é outra. Inundados pelo modo de pensar deste século, crentes sinceros têm se descuidado e feito justamente o contrário, interpretado a Bíblia com pressupostos seculares.

Dia desses deparei-me com um texto assim. Nele, o autor se propõe a tratar de depressão e espiritualidade. Ele começa falando da depressão, principalmente da mulher, sob uma perspectiva médica, afirmando ser um conjunto de sintomas que merecem atenção profissional, médica e psicológica. Segundo o texto:

A depressão feminina está ligada a causas biológicas (puberdade, ciclo menstrual, gravidez ou infertilidade, pós-parto e menopausa), causas culturais (papel da mulher, status social, abuso sexual) e causas psicológicas (estresse, reação às perdas e aos conflitos, discriminação).[2]

O autor explica ainda que a depressão é classificada tradicionalmente em endógena e exógena, sendo a primeira originada por causas internas (biológicas ou predisposições hereditárias) e a segunda causada por fatores externos, como se fosse uma reação a fatores ambientais e circunstanciais (desemprego, divórcio, etc.).

O tratamento, segundo ele, deve seguir dois procedimentos, a avaliação e diagnóstico por um profissional médico e a escolha do tratamento adequado, sendo tratamentos eficazes o medicamentoso e a psicoterapia.

Assumidos os pressupostos, parte-se então em uma busca para provar a depressão biblicamente e, de acordo com os sintomas da depressão descritos no texto, chega-se à conclusão de que Jó, Moisés, Jonas, Davi e, surpreendentemente, o próprio Senhor Jesus passaram por depressão. A evidência seria eles terem pedido para morrer ou, no caso de Davi, ter os ossos e o humor afetados pela depressão. Para o articulista esses exemplos provam o realismo bíblico da depressão demonstrando que a fé não livra o homem de problemas mentais, mas também trazem esperança. Citando Hebreus 2.18 e 4.15 ele afirma que Jesus pode compadecer-se de quem enfrenta depressão por ter ele mesmo sofrido com isso.

Por fim o autor afirma que muitos substituem o tratamento médico pelo religioso por causa de preconceito, por falta de informação ou em nome de uma grande fé e lembra ser a medicina uma bênção do Senhor e os remédios, meios divinos para nossa cura, pois Deus cura extraordinariamente por meio de um milagre, mas ordinariamente cura pessoas por meio de um tratamento médico.

Verificando as implicações

Se assumirmos como corretas as interpretações dos textos bíblicos e as afirmações feitas pelo autor, temos sérias implicações:

1. Certos tipos de emoções e comportamentos (desânimo, tristeza “desproporcional às circunstâncias, aumento ou diminuição do apetite, pensamentos, planos ou tentativa de suicídio, etc.”), devem ser encarados como patológicos;

2. Tivessem os personagens bíblicos citados, incluindo o nosso Senhor, a bênção de viver num tempo em que já existe o Rivotril, a sua “doença” poderia ter sido curada por Deus de modo “ordinário”. Falar da profunda tristeza de Jesus como se fosse desejo de morrer é dizer o que o texto não diz, como ficará claro mais à frente;

3. Conselheiros bíblicos não estão aptos a aconselhar pessoas com depressão, devendo esse trabalho ser feito sempre por profissionais psicoterapeutas;

4. A “conversa psicoterapêutica” é mais eficaz que a “conversa bíblica”;

5. O aconselhamento bíblico, para o caso da depressão, está descartado pelo autor, já que os tratamentos efetivos são o medicamentoso e a psicoterapia;

6. Discordar da perspectiva do articulista sobre a depressão é ser mal informado, preconceituoso e, praticamente, um adepto da confissão positiva.

Para provar ser a depressão uma doença que deve ser tratada de forma medicamentosa, o autor recorre a exemplos bíblicos que “demonstram” a sua realidade. A ironia está no fato de que nenhum dos “depressivos bíblicos” foi tratado com remédio, por razões óbvias.

Testando biblicamente – textos nos seus contextos

Como afirmado no início deste artigo, a Bíblia corretamente interpretada é o parâmetro para julgar todas as outras coisas, e não o contrário. Não há dúvidas de que estes nossos irmãos do passado enfrentaram tristezas profundas, mas terá o autor acertado em seu “diagnóstico” a respeito destes personagens, usando as lentes que ele usou? É preciso, então, verificar os textos em seus devidos contextos a fim de afirmar o que estava acontecendo com cada personagem diagnosticado com depressão.

Antes, porém, de nos atermos aos textos, é preciso estabelecer novos pressupostos:

1. A Bíblia ensina que somos governados por nosso coração e o que governa o nosso coração governará a nossa vida (Mt 6.21; Mt 15.19; Sl 141.4);

2. A forma como respondemos às pessoas e circunstâncias dependerá, portanto, daquilo que está governando o nosso coração. Como exemplo, lembremos a negação de Pedro. A despeito de saber o que era o certo a se fazer, acabou por negar o Senhor com medo de morrer;

3. Nossas ações e emoções são fruto da nossa interpretação da realidade. Ainda pensando em Pedro, ele interpretou que os homens eram maiores que o Senhor e que não estaria seguro falando a verdade, ainda que já tivesse ouvido do próprio Jesus que até os cabelos de sua cabeça estavam contados e que, por isso, não precisaria temer os que matam o corpo (Mt 10.16-33).

Assumidos os novos pressupostos, vejamos os textos:

A “depressão” de Jó

Jó é descrito no começo do seu livro como um homem íntegro, reto e que se desviava do mal. O Senhor chega a afirmar a Satanás que não havia na terra homem semelhante a ele (Jó 1.8). Depois que Satanás acusa Jó de servir a Deus somente por ser alvo de suas bênçãos, é permitido que o tentador tire tudo dele. A partir daí a história se desenvolve de forma maravilhosa.

No princípio, Jó faz uma afirmação de fé formidável. Após sua esposa mandá-lo amaldiçoar a Deus e morrer ele diz: “Temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o mal?” (2.10).

Porém, a partir do capítulo 3 Jó parece interpretar os fatos de outra forma. Sendo ele justo, não poderia estar sofrendo daquela forma, antes tivesse morrido na madre. Isso pode ser confirmado em todo o capítulo 31, no qual Jó fala de suas qualidades ao responder aos seus amigos chegando, por fim, a dizer: “Tomara eu tivesse quem me ouvisse! Eis aqui minha defesa assinada! Que o Todo-Poderoso me responda.” No primeiro versículo do capítulo 32 temos: “Cessaram aqueles três homens de responder a Jó no tocante ao se ter ele por justo aos seus próprios olhos.”

A partir do capítulo 38 Deus, em vez de responder a Jó, lhe faz uma série de perguntas que revelavam seu poder e sua soberania. Ao final, diz o Senhor: “Acaso, quem usa de censuras contenderá com o Todo-Poderoso? Quem assim argui a Deus que responda” (40.2).

O resultado é maravilhoso. Jó afirma: “Sou indigno; que te responderia eu? Ponho a mão na minha boca. Uma vez falei e não replicarei, aliás, duas vezes, porém não prosseguirei.” Jó reconhece que a realidade era diferente daquela que ele interpretava, mas Deus continua com mais uma série de perguntas que apontavam para a sua sabedoria. Ao final Jó confessa que nenhum dos planos de Deus pode ser frustrado e afirma que o conhecia apenas de ouvir, mas que agora que o via se abominava e se arrependia (42.1-6).

A “depressão” de Jó foi causada por uma falsa interpretação da realidade e o tratamento de Deus foi fazê-lo ver com clareza que as coisas não eram como ele entendia. O Senhor confrontou Jó, com sua Palavra, e restaurou-o.

A “depressão” de Moisés

O caso de Moisés é interessante. Desde o começo de seu chamado ele se mostra bastante relutante e, vez por outra, esquecia a promessa feita por Deus ao comissioná-lo: “Eu serei contigo” (Êx 3.12). No episódio em que pediu ao Senhor que o matasse, estava mais uma vez murmurando, pois o povo continuamente reclamava por não ter carne (Nm 11.4). Ele estava achando ser muito pesado o seu encargo e que faria as coisas por sua própria força (Nm 11.14).

A primeira coisa que o Senhor faz é distribuir o trabalho com 70 anciãos e, com menos trabalho, a murmuração de Moisés terminaria, certo? Errado! Deus afirmou que alimentaria o povo e daria tanta carne em um mês inteiro a ponto de sair pelo nariz e o povo se enfastiar dela. Moisés entendeu que novamente seria muito trabalho para ele e reclamou, insinuando ser impossível para ele prover carne para o povo o mês inteiro (Nm 11.22).

Deus trata Moisés confrontando-o: “Ter-se-ia encurtado a mão do Senhor?” (Nm 11.23). Em outras palavras, Deus estava dizendo a Moisés que não precisaria reclamar e se preocupar, pois ele era o provedor.

Mais uma vez o desejo de morrer foi por não confiar no Senhor e o tratamento foi o confronto com as promessas de Deus e a interpretação da realidade pela perspectiva correta.

A “depressão” de Jonas

Jonas é visto no texto como um doente que sofria de grave melancolia ou distimia crônica. Uma leitura rápida do livro já revela a razão de ele pedir a morte. Jonas é chamado por Deus para pregar aos ninivitas, povo poderoso, inimigo de Israel. A primeira coisa que o profeta faz é fugir, ele não queria ver os ninivitas convertidos. Depois do episódio em que é lançado no mar e engolido por um peixe, Jonas acaba parando em Nínive onde prega o sermão mais duro que se poderia pregar e, para sua surpresa, o povo crê em Deus.

O capítulo 4 começa afirmando que, por causa disso, Jonas desgostou-se e irou-se. O texto é claro, o profeta diz que fugiu porque sabia que Deus era misericordioso e, agora, com os ninivitas convertidos, era melhor morrer que viver. Jonas revela um coração egoísta, que não confia nos propósitos de Deus. Ele queria fazer melhor que o Senhor, mas já que isso não foi possível melhor seria a morte.

Deus trata o profeta confrontando o seu egoísmo e demonstrando que da mesma forma que tinha compaixão de uma árvore o Senhor também tinha dos ninivitas. O Senhor estava mostrando a Jonas que a maneira de ele interpretar as circunstâncias estava equivocada.

A “depressão” de Davi

A depressão de Davi é “constatada” não pelo fato de ele ter pedido a morte, mas dos seus ossos e humor terem sofrido seus efeitos. A questão é que esse sofrimento, visto como consequência da doença, era o tratamento de Deus ao rei, que não estava arrependido. Considerando estar Davi doente, a contextualização do Salmo deveria ser: “Enquanto não tomei rivotril, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos noite e dia.”

Porém, como pode ser visto em Hebreus, a disciplina de Deus sobre os seus filhos no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza, mas ao final produz fruto de justiça (Hb 12.11). A tristeza causada pelo peso da mão de Deus constitui-se uma bênção e é parte do processo de reconhecimento do pecado por parte do crente.

Cada um dos casos citados acima, devidamente observados dentro de seus contextos, revela crentes sofrendo profundamente por não interpretar as circunstâncias pela perspectiva das promessas da Palavra de Deus, por não descansar no governo de Deus ou por ocultar o pecado.

Se fossem medicados poderiam até, por um tempo, ter o seu sofrimento aliviado, mas não teriam o pecado do seu coração tratado, o que só pode ser feito pela Palavra de Deus que “é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração (Hb 4.12).

A “depressão” de Jesus

O caso de Jesus foi deixado para ser tratado à parte, pois sua tristeza não foi ocasionada pelas mesmas razões dos outros personagens.

O autor do texto faz duas afirmações e a implicação óbvia é a de que Jesus precisava mesmo era de um tarja preta. São elas: a) Jesus passou por uma depressão profunda e b) ele desejou morrer.

Essas afirmações resistem a um exame do texto? Creio que não, como veremos.

Depois de três anos ensinando os discípulos, curando e anunciando o reino, se aproximava a hora em que o Senhor derramaria o seu sangue para redimir o pecador. Ele chama seus discípulos e sobe o Getsêmani a fim de orar e chamando à parte Pedro, Tiago e João afirma estar profundamente triste, até a morte. Essa frase expressa a profunda tristeza de Jesus, mas será que revela que ele desejou morrer? Olhando para o versículo seguinte fica bem claro que não. Nele Jesus ora rogando ao Pai que, se possível, passasse dele o cálice, ou seja, ele pede exatamente o contrário, pede para não ir para cruz.

O que angustiava Jesus era justamente a morte, pois ela significaria receber a ira de Deus pelos pecados do seu povo, que ele estaria assumindo no Calvário. Por causa dos nossos pecados o Senhor morreria e sentiria o desamparo do Pai, a ponto de clamar: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46).

A afirmação de que Jesus estava triste e pedindo a morte por estar com depressão é, então, uma falácia. Nem todo o Prozac do mundo aliviaria sua tristeza por ter a comunhão perfeita com o Pai quebrada por causa dos nossos pecados.

Quando o autor afirma, portanto, que Jesus pode compadecer-se de nós por ter sido tentado da mesma forma, ele faz uma afirmação correta, mas parte de uma premissa equivocada. Jesus não pode compadecer-se de doentes por ter experimentado a doença da depressão, mas compadecer-se de homens que são tentados a não confiar no plano de Deus, por ter ele mesmo sido tentado a abandonar o Calvário, mas, em vez disso, ter se submetido à vontade do Pai ao declarar: “Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres” (Mt 26.39). É por isso que o escritor de Hebreus afirma que “foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado (4.15).

Para terminar...

É um grande equívoco assumir como pressupostos teorias científicas e interpretar os episódios de profunda tristeza de personagens bíblicos com lentes seculares. Essa será uma tarefa sempre impossível, pois para a medicina a depressão é caracterizada por um conjunto de sintomas e não pela presença de um ou dois apenas.

Ed Welch, conselheiro bíblico, questiona se o cérebro não tem recebido muito crédito e exemplifica dizendo que

Temos um crescente senso de que o cérebro é a causa real do comportamento. Aquilo que começou como uma sugestão, ou seja, que a química cerebral é a causa final do abuso de álcool, se expandiu até o ponto onde a química cerebral é considerada a causa final de literalmente cada problema humano. [...] – E faz o alerta –

Como cristãos, no entanto, não somos tão ingênuos. Sabemos que não podemos aceitar cegamente tudo que ouvimos como sendo verdade de Deus. A informação que recebemos sobre funcionamento cerebral é vista do mesmo modo que vemos qualquer informação, seja ela sobre finanças, paternidade, ou as causas de nosso comportamento: vemos tais informações através das lentes da Escritura. E esta requer de nós que estejamos atentos, cuidadosos e em oração ao ouvirmos e avaliarmos as últimas descobertas científicas”[3].

Não é objetivo deste texto minimizar o sofrimento humano, de forma alguma. Ele é real e deve ser sempre tratado. A questão aqui gira em torno do “como” tratar. No artigo “Uma crítica do DSM-IV à luz da Bíblia”[4], John Babler afirma acertadamente:

As Escrituras são o caminho apropriado para o entendimento dos assim chamados transtornos mentais: eles consistem em comportamentos derivados do pecado. Uma mudança verdadeira pode acontecer a partir do momento em que o pecado é admitido e há arrependimento. Quando o problema consiste em um coração perdido, a Palavra de Deus é o remédio mais seguro porque o Espírito Santo nos conduz a Cristo.[5]

Alguns podem afirmar que o que foi tratado aqui serve para a chamada depressão exógena, mas não se aplicaria à endógena por esta ter causas biológicas e hereditárias. É importante, então, fornecer algumas informações.

A revista Superinteressante de dezembro de 2010 noticiou uma pesquisa que aponta para o fato de que os antidepressivos causam depressão. Isso porque, contrário ao que se pensava, a depressão não é causada pela falta de serotonina no cérebro, mas pelo excesso desse neurotransmissor. Como o antidepressivo aumenta os níveis de serotonina, acaba tendo o efeito contrário ao desejado.[6]

Em palestra ministrada em 2019 aqui no Brasil, o médico americano Charles Hodges, citando um artigo de 2005, de autoria de Lacasse JR, intitulado “Serotonina e depressão, a desconexão entre a propaganda e a literatura científica”, afirmou que

“os autores declaram que a pesquisa da neurociência contemporânea falhou em confirmar qualquer lesão cerotonérgica em qualquer distúrbio mental e na verdade proporcionou evidências contrárias à explicação da simples deficiência dos neurotransmissores. Em nosso conhecimento, não há nenhum artigo revisado que possa ser citado para sustentar a ideia da deficiência de serotonina em nenhum distúrbio mental”[7].

Essa perspectiva não é nova. Thomaz Szasz, psiquiatra e acadêmico, foi um ferrenho opositor da ideia da depressão como doença. Quando questionado em uma entrevista sobre a eficácia dos medicamentos ele respondeu:

Não vejo dificuldade em explicar isso. O comportamento humano, seja normal ou anormal, não acontece no vácuo, obviamente ele é mediado pelo modo como o corpo e cérebro da pessoa funciona, e o fato de substâncias químicas afetarem o cérebro em instituições mentais não é mais misterioso do que cerveja, álcool ou outros tipos de bebida afetarem pessoas normais. Elas vão pra casa após um dia de trabalho, se sentem cansadas e deprimidas e tomam alguma bebida e se sentem melhor. Isto não quer dizer que elas estavam doentes antes. Podemos tomar vários tipos de substâncias químicas que afetam nosso comportamento. Isso de maneira alguma prova que o estado anterior era um estado de doença médica.[8]

Outro psiquiatra afirma que, desde que os antidepressivos foram lançados no Reino Unido, pelo menos uma pessoa por semana cometeu suicídio enquanto os tomava, e não teriam cometido se não os tivessem tomado.[9]

Theodore Dalrymple, psiquiatra ateu, assim diz em seu livro:

O conceito de desequilíbrio na química do cérebro como a origem dos pensamentos, desejos, humor e comportamento, principalmente quando é mau comportamento, foi aceito pelos estudiosos do fim do século XX com a credulidade só excedida pelos camponeses medievais diante das relíquias religiosas, mas com resultados estéticos – e possivelmente psicológicos – menos benéficos. [...]

A popularidade da química do cérebro como explicação para todo o comportamento humano – pelo menos o comportamento que, em virtude das dificuldades que causa, aparentemente precisa de explicação – começou na década de 1980 com o marketing muitíssimo bem-sucedido das novas drogas, supostamente antidepressivas, conhecidas como inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs ou SSRIs na sigla em inglês) – tão bem-sucedido que a qualquer momento eles podem estar sendo tomados por um décimo da população adulta. [...]

Foram necessários dois avanços para que a teoria do ‘desequilíbrio químico’ das dificuldades da existência se tornasse tão difundida a ponto de parecer evidente para metade da população (a metade mais instruída): primeiro, o afrouxamento do diagnóstico de depressão para abranger todas as formas de infelicidade humana; segundo, o desenvolvimento de novos antidepressivos, os famosos – ou infames – ISRSs (inibidores seletivos de recaptação de serotonina).

A primeira dessas condições foi tão minunciosamente cumprida que a palavra infeliz foi eliminada da linguagem comum. Para cada pessoa que você ouve falando em público de infelicidade, você ouve no mínimo dez falando de depressão. Poucos são os que agora admitem ser infelizes e não deprimidos, outra ‘evasão admirável’, pois já que a depressão é doença – causada, evidentemente, por desequilíbrio químico –, é natural que quem sofre dela procure tratamento médico quando experimenta qualquer desvio de felicidade, que é o estado natural da humanidade, bem como um direito inalienável (a descoberta substituiu a busca como um direito inalienável). Se alguém admite ser infeliz, pode ter disso sua má conduta, tola ou imoral, que contribuiu para isso; mas se é deprimido ele é vítima de uma doença que, metafisicamente falando, caiu do céu. [...]

Os psiquiatras têm uma lista de sintomas; e se os pacientes alegam sofrer de um número suficiente (não é preciso ser muitos), recebem os comprimidos. Alguns dos sintomas têm conteúdo irredutivelmente moral, como a autoestima, cuja perda é invariavelmente patológica aos olhos dos psiquiatras; ou um sentimento de culpa, cujo aumento é invariavelmente patológico aos olhos dos psiquiatras e independente de qualquer justificativa. [...]

Ouvindo o Prozac, caso você não se lembre, foi um best-seller publicado em 1993 pelo psiquiatra Peter D. Kramer. O Prozac foi o primeiro dos ISRSs a ser vendido, e suas alegadas vantagens eram muitas. [...]

O livro de Kramer sugeriu muito mais que isso. Ele alegava que na verdade o Prozac poderia consertar uma personalidade com defeito, ou que a pessoa considerasse imperfeita. Segundo o autor, nosso conhecimento e comando dos neurotransmissores seriam tão grandes que estaríamos entrando numa era de neurofarmacologia estética, em que desenharíamos nossa própria personalidade: um pouco mais de autoconfiança aqui, um pouco menos de irascibilidade acolá. Poderíamos ser exatamente quem gostaríamos de ser, não pelos meios tradicionais de disciplina e autocontrole, e sim pela mistura judiciosa de comprimidos. Isso, é claro, é exatamente o que o homem devasso quer ouvir. A única coisa que mudou desde que ele culpou o Sol, a Lua e as estrelas pelos seus desastres é que agora ele culpa a noradrenalina, a serotonina e o ácido gama-aminobutírico.

Essa ideia reducionista de que tudo se resume ao neurotransmissor, de que o excesso ou escassez de um punhado de substâncias biológicas no cérebro supostamente é responsável por todos os nossos desastres, jamais deveria ter sido levada a sério[10] (grifos meus).

Ainda mais um autor escreveu em sua obra que

A história do desequilíbrio químico, que está sendo contada sobre todos os medicamentos psicotrópicos, até mesmo para benzodiazepínicos (comprimidos para os ‘nervos’ ou para dormir), é uma grande mentira. Nunca foi documentado que qualquer uma das grandes doenças psiquiátricas seja causada por um defeito bioquímico e não há qualquer teste biológico que consiga nos dizer se alguém tem determinado transtorno mental. Como um exemplo, a ideia de que os pacientes deprimidos têm carência de serotonina foi convincentemente rejeitada[11].

Todas essas citações tem como objetivo, como se pode perceber, demonstrar que não há toda essa unanimidade em relação às causas biológicas da depressão, tampouco sobre os efeitos dos antidepressivos. A desconfiança não parte apenas de “religiosos em nome de uma grande fé”, mas também de médicos e pesquisadores.

Enquanto a ciência não chega a uma conclusão, temos a infalível Palavra de Deus. Somente a Lei do Senhor é perfeita e restaura alma (Sl 19.7) e, como afirma o apóstolo Pedro, pelo conhecimento de Cristo temos todas as coisas que são suficientes para a vida e piedade. Crer nisso não é preconceito ou falta de informação, mas convicção de que Cristo Jesus é plenamente suficiente na vida dos crentes.

Post scriptum: Uma palavra sobre medicamentos

1. O texto não é um tratado conta os medicamentos. Particularmente não conheço nenhum conselheiro bíblico que entenda que tomar medicação para depressão seja pecado.

Robert Kellemen (que tem um excelente livro lançado pela Editora Cultura Cristã: Aconselhamento segundo o evangelho), por exemplo, afirma que nenhum dos principais grupos de aconselhamento dos EUA são “opositores à medicação”. O que conselheiros devem fazer é encorajar as pessoas estarem bem informadas a respeito dos medicamentos, dos seus prós e contras. Leia o texto aqui: Quando a medicação psicoativa é útil na vida de um aconselhado

O médico Charles Hodges, conselheiro bíblico, defende que o uso de medicação é algo que diz respeito à liberdade cristã. Confira aqui: “I’m thinking about going to the Doctor for depression meds” – What is a compassionate, comprehensive response?

2. Conselheiros bíblicos responsáveis não pedem ou sugerem aos seus aconselhados que parem de tomar medicação, caso estejam fazendo uso. O que muitos fazem é dizer aos aconselhados para conversarem com seus médicos a fim de saberem da possibilidade de receber alta ou ir retirando aos poucos. A decisão a respeito desse assunto é do médico.


[1] Este texto foi publicado pela primeira vez em 2011 e está sendo republicado com mais informações.

[2] https://www.ippinheiros.org.br/blog/a-depressao-entre-as-mulheres/

[3] Edward T. Welch. A culpa é do cérebro? – Ed. Peregrino

[4] DSM é o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, livro de referência decisivo para os diagnósticos psiquiátricos, e que está em sua quarta edição

[5] John Babler. Uma crítica ao DSM-IV à luz da Bíblia. in: Coletâneas de Aconselhamento Bíblico, v. 2, CCEF e SBPV

[6] http://super.abril.com.br/saude/anti-depressivo-pode-causar-depressao-614371.shtml

[7] https://youtu.be/TA3qRmuW8aY

[8] http://scienceblogs.com.br/psicologico/2009/04/thomas_szasz_entrevistado_sobr.php

[9] http://www.youtube.com/watch?v=j63-8Ac3dh0

[10] Theodore Dalrymple. Evasivas admiráveis: Como a psicologia subverte a moralidade. Ed. É realizações

[11] Peter C. Gøtzsche. Medicamentos mortais e o crime organizado.