28 março 2019

O que eu fiz para merecer isso?

O que são bancos de carga?Talvez você já tenha ouvido muito esta frase. Talvez você mesmo já a tenha dito em um ou em vários momentos da sua vida. Ela é geralmente usada em momentos de aflição, quando o sofrimento parece estar além das forças.

Costumo dizer que essa não é uma boa pergunta a se fazer, pois, biblicamente, uma resposta simples e direta à pergunta “o que eu fiz para merecer isso” seria: “você nasceu”.

Eu sei que esta resposta não é muito popular, tampouco é bem vista até mesmo por muitos cristãos que pressupõe que para recebermos algo de ruim seria necessário ter feito algo ruim. A própria pergunta “o que eu fiz” aponta para isso. Entretanto, a realidade bíblica é outra.

Desde que Adão transgrediu o Pacto que Deus estabeleceu com ele no Éden, toda a sua posteridade já nasce em um estado de pecado e de miséria, visto ter sido ele o nosso representante. Esta verdade é ensinada pelo apóstolo Paulo ao afirmar que

“por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Rm 5.12), e como ele ensinou aos coríntios, “todos morrem em Adão” (1Co 15.21).

É por causa desta verdade que Davi afirmou ter nascido na iniquidade (Sl 51.5) e que o próprio Paulo afirmou que por natureza todos os homens são filhos da ira (Ef 2.3). Ou seja, basta nascer um homem que está ali alguém merecedor da ira do Deus Todo-Poderoso.

Mas a resposta pode ficar ainda pior. Além do fato de o homem nascer pecador, em dívida para com Deus, merecendo assim toda sorte de calamidade sem ter cometido uma ação sequer, ele ainda aumenta a sua dívida ao cometer pecados em cada um dos dias de sua vida. Um agravante é que o homem sem Cristo ao cumprir externamente a Lei do Senhor continua culpado de pecado por não ter levado em conta a glória de Deus e de não ter a Cristo como seu Mediador. Daí Isaías afirmar que “todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia (64.6).

A resposta à pergunta 27 do Catecismo Maior, Qual é a miséria que a queda trouxe sobre o gênero humano?, resume bem a questão:

“A queda trouxe sobre o gênero humano a perda da comunhão com Deus, o seu desagrado e maldição; de modo que somos por natureza filhos da ira, escravos de Satanás e justamente expostos a todas as punições, neste mundo e no vindouro”.

Há ainda mais uma questão a se considerar. Mesmo que o homem não merecesse nenhum infortúnio, o fato de ele viver em um mundo quebrado pelo pecado, por si só, já o levaria ter problemas. Isto porque a própria terra foi amaldiçoada, também por causa do pecado de Adão.

Diante deste quadro, convido você a considerar a graça de Deus. Esta graça maravilhosa, fruto do amor de Deus por aqueles que ele escolheu antes da fundação do mundo (Ef 1.4,5), é vista de forma sublime na cruz de Cristo.

Tratando da obra redentora de Jesus Paulo diz que dificilmente alguém se animaria a morrer por um justo, “mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8). Atente bem à essas palavras. O que você merecia, todo o peso da ira de Deus, foi derramado sobre o Senhor Jesus Cristo que foi “traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades” (Is 53.5).

Jesus, o Filho Perfeito, Santo e Justo de Deus, nada fez para merecer a morte que é o salário do pecado (Rm 6.23). Quem fez foi Adão, eu, você e todos os homens. Este salário era devido a nós, que fizemos por merecê-lo, mas foi o Redentor que o recebeu, para que aqueles que confiam nele pudessem ser justificados pela graça, mediante a fé, e nem isso vem de nós, a fé é também um dom, um presente de Deus (Ef 28).

Se você é um cristão precisa, diante das calamidades, infortúnios, mazelas que lhe sobrevierem, lembrar da obra de Cristo que o livrou da ira vindoura e considerar a pergunta inicial deste texto de duas maneiras:

Estou sofrendo: O que fiz para merecer isso? Nasci e pequei.

Fui salvo por Cristo: O que fiz para merecer isso? NADA!

Assim entenderá que por maior que seja o sofrimento que você experimentar (e certamente, neste mundo caído, irá experimentar), não chega perto daquilo que você realmente merece: A ira do Deus Todo-Poderoso que por misericórdia não lhe dá o que você realmente merece e por infinita graça lhe concede a vida eterna.

É este entendimento, aplicado pelo Espírito de Deus, que dará a você a mesma convicção do apóstolo Paulo, que após falar da esperança da ressurreição afirmou:

“Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo o nosso homem interior se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas” (2Co 4.16-18).

Escrevendo aos romanos, após dizer que se padecemos com Cristo, também seremos glorificados com ele, Paulo assevera:

“Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós. [...] Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.18,28).

Portanto, se você professa a Cristo, lembre-se do que você fez por merecer e foi livrado, ao mesmo tempo em que se lembra de que nada fez para merecer a vida eterna e, ainda assim, foi salvo pela graça daquele que não merecia, mas que morreu em seu lugar.

Se você não professa a Cristo, saiba que aqueles que morrem nesta situação, experimentarão a maior das calamidades, a ira do Deus Todo-Poderoso. Como afirmou o puritano Jonathan Edwards, “a terra é o único inferno que os cristãos irão suportar, e o único paraíso que os descrentes irão desfrutar”. Logo, arrependa-se e creia em Jesus Cristo, aquele que concede salvação a homens que nada fizeram para merecê-la.

20 março 2019

Rótulos são importantes

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Imagine que você tenha alergia à lactose e vá a um supermercado comprar um queijo. Chegando lá você pergunta a um funcionário se há tal produto para vender e ele aponta a direção da seção de queijos, afirmando que nela você encontraria o que procura.

Você caminha até lá, é uma seção grande, com muitos queijos, mas para a sua surpresa, não há rótulos em nenhum deles. Você está com muita vontade de comer queijo, mas sabe que por causa da sua alergia, que é grave, pode vir à morrer. Você pegaria qualquer um e levaria, ou deixaria todos para trás, a despeito de sua vontade, por não ter informações claras que demonstrem a você que não há risco?

Rótulos são ignorados por muitas pessoas, mas aqueles que se preocupam com o que estão comprando e consumindo sabem da sua importância.

Dentro da tradição cristã há muitos “rótulos”. Reformado (ou Calvinista), Luterano, Anabatista, Pentecostal, Cessacionista, Integracionista, Amilenista, Dispensacionalista, Dicotomista, Tricotomista, Arminiano, Presbiteriano, Batista, Metodista, etc. Estes, são apenas alguns dos vários “rótulos” que usamos. Infelizmente, ainda que se assuma a importância dos rótulos quando se trata do que alimenta os nossos corpos, muitos não se preocupam com os “rótulos” que identificam as doutrinas que alimentam a alma.

Isso se nota, por exemplo, no discurso daqueles que dizem que a doutrina só serve para dividir e que o que importa, na verdade, é Jesus. É claro que o que importa é Jesus! Pergunte a membros de diversas tradições cristãs se eles concordam com isso e, certamente, a resposta será afirmativa. O problema é que, a despeito disso e de a Escritura ser a mesma para todos, a percepção e o entendimento a respeito do que Deus revelou em sua Palavra é e tem sido diferente no decorrer dos séculos.

Creio ser essa uma das razões de a Confissão de Fé de Westminster afirmar que a “Igreja católica [universal] tem sido ora mais, ora menos visível” – e – “As igrejas particulares [locais], que são membros dela, são mais ou menos puras conforme nelas é, com mais ou menos pureza, ensinado e abraçado o Evangelho, administradas as ordenanças e celebrado o culto público” (CFW XXV.IV).

Perceba! Eu tenho esse entendimento a respeito da Igreja por ser um presbiteriano, subscritor da Confissão de Fé de Westminster, mas ele certamente difere do entendimento de muitos irmãos de outras denominações.

Por que existem presbiterianos, batistas e assembleianos (para ficar só em alguns “rótulos”), senão por percepções diferentes acerca do que a Bíblia ensina sobre o sistema de governo eclesiástico, cessação ou não dos dons, batismo, sobre como se dá a salvação, etc.? Por mais que sejamos irmãos, salvos pelo mesmo Redentor, temos diferenças, fruto de entendimento, certo ou errado, de determinadas doutrinas.

Não pense que isso é uma novidade. O Novo Testamento frequentemente cita dois grupos, ambos de judeus, os fariseus e os saduceus. Uma das diferenças entre eles, apontada pela Bíblia de Estudo ARA, é que “quanto às suas doutrinas, [os saduceus] se apegavam somente à lei mosaica escrita e, para interpretá-la, desprezavam a tradição oral em que se apoiavam os fariseus”. Além disso, os saduceus não criam em ressurreição. Foram eles que questionaram a Jesus sobre quem seria o marido de uma mulher que, por causa da viuvez, havia casado com vários irmãos em cumprimento à lei do levirato (Mt 22.23-33).

Curiosamente, foi exatamente por saber qual era a crença de cada grupo que Paulo provocou uma dissenção entre eles, quando esteve perante ao Sinédrio, composto pelos dois grupos, ao afirmar que estava sendo julgado por causa da esperança na ressurreição dos mortos (At 23.6).

É importante definir aquilo em que se crê e, por causa de entendimentos distintos, é inevitável que se nomeie as linhas de pensamento.  É por causa dessa importância que temos, por exemplo, o Credo dos Apóstolos. Diante de várias heresias, a Igreja precisou afirmar que aquilo em que ela cria diferia dos falsos ensinos.

Um fato curioso, que mostra a importância de definir o que se crê, é a mudança que muitos fazem na cláusula do Credo em que se afirma: “Creio na santa igreja católica”, para “Creio na santa igreja universal”, a fim de não se confundir com a Igreja Católica Apostólica Romana (nesse sentido, acho que atualmente ficou pior, pois a associação pode ser com a Igreja Universal do Reino de Deus).

Foi o entendimento de que é importante definir o que se crê que levou irmãos do passado a escreverem tantas Confissões e catecismos, nos dias da Reforma.

Nós, presbiterianos, temos um corpo doutrinário. Se alguém perguntasse a respeito do que crê (ou deveria crer) um membro da Igreja Presbiteriana do Brasil, a resposta deveria ser óbvia: Um presbiteriano (da IPB) crê nas Escrituras como única regra de fé e de prática e adota como sistema de doutrina e prática a Confissão de Fé e os Catecismos de Westminster (CI-IPB – Art. 1º). O “rótulo” presbiteriano, implica necessariamente isso.

Infelizmente, fruto de uma época em que as pessoas não querem saber de absolutos, hoje temos presbiterianos pentecostais, que creem em línguas e profecias (eu morro e não vejo o contrário, um assembleiano cessacionista); presbiterianos congregacionais, que acham que o governo da igreja cabe à assembleia; presbiterianos batistas, que não apresentam seus filhos ao batismo infantil, por acharem que eles é que têm de tomar essa decisão em idade apropriada; presbiterianos católico-luteranos, que deixam de lado o princípio regulador do culto e entendem que o fato de não haver proibição na Escritura é motivo para inserir no culto aquilo que o Senhor não ordenou; e muitos outros tantos tipos de presbiterianos que engrossam as fileiras daqueles que dizem: rótulos não são importantes.

Desta forma, ao desprezar os “rótulos”, corremos o risco de ver uma denominação morrer para a sua rica história doutrinária e crendo num evangelho diferente do que criam nossos pais, enquanto afirmam: O importante é Cristo, ao mesmo tempo em que não conseguem definir coerentemente a sua fé.

Tenha preocupação com o que você come, mas, sobretudo, preocupe-se com o que você crê. Leia os rótulos!

13 março 2019

Alegria, resultado da confiança no Senhor

Resultado de imagem para alegria do senhorEm Provérbios 16.20 lemos: “O que atenta para o ensino acha o bem, e o que confia no Senhor, esse é feliz, e o Salmo 33.21 diz: “Nele o nosso coração se alegra, pois confiamos em seu santo nome.”

A Bíblia sempre nos exorta a confiar no Senhor e aponta para a alegria como resultado dessa confiança.

A oração do profeta Habacuque nos traz um exemplo tremendo dessa alegria proporcionada pela confiança no Senhor. Ele diz que ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, mesmo apesar disso ele se alegra no Senhor (Hc 3.18-19).

Que confiança tinha esse Profeta no Deus Altíssimo a ponto de declarar que, apesar dos problemas, continuaria alegre, confiado no Deus provedor.

Precisamos ter em nossas vidas a mesma confiança que tinha o profeta. Como ele, todos passamos por provações e dificuldades, mas, a partir do momento em que colocamos tudo diante do Senhor e confiamos, temos razões para nos alegrar, pois teremos no coração a certeza do cuidado do Senhor.

Habacuque tinha no Senhor o seu amparo, como ele mesmo afirma no versículo seguinte: “O Senhor Deus é a minha fortaleza, e faz os meus pés como os da corça, e me faz andar altaneiramente” (Hc 3.20). Mas de onde vinha esta confiança que o fazia estar alegre, a despeito das tribulações?

Se você olhar para o segundo capítulo do livro, no momento em que Deus responde ao clamor do profeta afirmando que usaria os caldeus a fim de castigar e corrigir o seu povo, mas que depois puniria a arrogância dos caldeus, verá que o Senhor afirmou a Habacuque que diferente do soberbo, cuja alma não é reta nele; “o justo viverá por fé” (2.4).

Conforme escreveu Lloyd-Jones, “a verdade é que há somente duas atitudes possíveis para a vida neste mundo: a da fé e a da incredulidade. Ou vemos nossa vida mediante a crença que temos em Deus, e as conclusões que daí deduzimos, ou nossa perspectiva se baseia numa rejeição de Deus e das negações correspondentes. Podemos ‘afastar-nos’ do caminho da fé em Deus, ou viver pela fé em Deus” (Do temor à fé – Ed. Vida).

Durante todo o Antigo Testamento, aqueles que foram vistos como justos (ou justificados), foram os que creram na promessa do Messias que viria. Eles confiavam que o Senhor cumpriria a sua promessa de redenção. Abrão, por exemplo, “creu no Senhor, e isso lhe foi imputado para justiça” (Gn 15.6).

O texto de Habacuque, citado no Novo Testamento por Paulo, confirma que a fé tinha como alvo o Messias. Na Epístola aos Romanos ele afirma não se envergonhar do evangelho de Cristo, visto que ele é o poder de Deus para salvação do que crê. Ele diz ainda que o evangelho demonstra a justiça de Deus de fé em fé e termina com Habacuque, “como está escrito: O justo viverá por fé” (Rm 1.17).

Ao escrever aos Gálatas, ele cita este versículo após dizer que ninguém é justificado (tornado justo) por Deus mediante a lei, mas pela fé. É a fé, a confiança em Cristo Jesus, que produz alegria verdadeira.

Não pode ser diferente! Jesus ensinou a seus discípulos que ele é a videira e seus discípulos os ramos, logo, “quem permanece em mim [em Jesus], e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15.5). Ele enviou o seu Espírito que habita em nós, cujo fruto será evidenciado à medida em que crescemos em comunhão com o nosso Redentor. Você lembra qual é o fruto do Espírito? “É: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gl 5.22). A alegria verdadeira é fruto (resultado) do Espírito que habita naqueles que confiam no Redentor Jesus Cristo.

Esta confiança em Cristo foi o motivo de Paulo afirmar que aprendeu a viver contente em toda e qualquer tribulação (Fp 4.11), fez com que os leitores de Pedro, crendo, exultassem com alegria indizível (1Pe 1.8) e levou Tiago a escrever aos irmãos que tivessem por motivo de toda alegria o passar por várias provações, visto que elas tem por fim torná-los como ele, “perfeitos e íntegros, em nada deficientes” (Tg 1.1-4).

Creio que os exemplos bíblicos já bastariam. Mas há pessoas que teimam em não crer no que diz a Escritura, por isso cito ainda uma história mais recente, passada no século XIX.

Um homem chamado Horatio Gates Spafford, depois de saber da morte de suas filhas numa tragédia, em meio à dor da perda escreveu um hino em que dizia já na primeira estrofe: “Quando a paz como um rio, atravessa o meu caminho; Quando tristezas como as ondas do mar me inundam; Seja o que for minha porção, Tu me ensinas que tudo está bem com a minha alma”.

Certamente você conhece este hino, que em nosso hinário está assim: “Se paz a mais doce me deres gozar, se dor a mais forte sofrer, oh seja o que for, tu me fazes saber, que feliz com Jesus sempre sou! Sou feliz com Jesus, sou feliz com Jesus meu Senhor.” (Hino 108 – NC).

Ao entoar este belo hino, lembre-se de tudo o que a Escritura ensina a respeito de como podemos ter a verdadeira alegria, mesmo em meio à tribulações. Ela só pode ser experimentada por aqueles que confiam plenamente em Jesus.

08 março 2019

Cuidado com a hipocrisia

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Por mais que eu não seja de ficar escrevendo sobre política a todo tempo, não é segredo (creio eu) a minha posição à respeito da ideologia esquerdista. Não tenho a menor dúvida de que ela é anti-bíblica e que um cristão, se quiser ser coerente, não pode esposá-la. Por outro lado, escrevi em setembro do ano passado que via com muita preocupação a esperança praticamente messiânica que muitos estavam depositando no, então, candidato Bolsonaro.

Apesar de o voto ser secreto, também não é segredo (e seria fácil deduzir a partir da minha posição à respeito da esquerda) que votei no presidente Bolsonaro por quem oro rogando a Deus que ele faça um bom governo. Dito isso, continuo bastante preocupado com a forma com que muitos crentes têm tratado tudo o que que é feito pelo presidente.

Nesta última semana, por ocasião do carnaval, foi postado pelo presidente em uma rede social um vídeo terrível em que dois homens praticavam atos imorais. Junto com o vídeo ele afirmava que, mesmo não se sentindo confortável, era preciso expor a verdade para a população ter conhecimento do que tem se tornado muitos blocos de rua do carnaval, além de pedir para os seguidores comentarem e tirarem conclusões.

Primeiramente é preciso dizer que algo impressionante aconteceu. Os grupos de esquerda, que sempre defenderam esse tipo de “manifestação artística”, segundo eles, começaram a acusar o presidente de postar pornografia, afirmando que ele quebrou o decoro e já há até quem fale em pedir o impeachment. A hipocrisia desses grupos está mais do que escancarada.

Entretanto, cristãos precisam ter muito cuidado para não incorrer também em hipocrisia ao juntar-se àqueles que não viram nada de mais no que foi feito pelo presidente. Tenho visto cristãos defendendo a sua postura e estilo, pois afinal de contas, não dá para cobrar dele que haja como um crente, pois ele não é. Isso tem soado para mim da seguinte maneira: Nós não podemos postar este tipo de vídeo, mas ele pode e foi bom ter feito para mostrar quão hipócritas são os esquerdistas.

Creio que os cristãos precisam estar muito atentos para não transformarem o presidente em um ídolo, vendo nele a esperança do país e, por isso, tentando blindá-lo de quaisquer críticas.

Será que é mesmo preciso mostrar um vídeo pornográfico para expor a pornografia do carnaval? Vou além. Será que a população brasileira não tem ideia do que é o carnaval, sendo necessário que o presidente da república publique um vídeo para alertá-los? Irmãos, a internet está cheia desses vídeos, não sendo isso segredo para ninguém. A única novidade em todo esse episódio foi a esquerda assumir um tom conservador a fim de tentar atacar o nosso governante.

Talvez alguém pense: Mas foi bom exatamente para mostrar isso! Só por conta disso, já valeu o vídeo.

É preciso, então, lembrar o que afirmou Paulo aos Efésios:

“Entre vocês não deve haver nem sequer menção de imoralidade sexual nem de qualquer espécie de impureza nem de cobiça; pois estas coisas não são próprias para os santos. Não haja obscenidade nem conversas tolas, nem gracejos imorais, que são inconvenientes [...] Porque aquilo que eles fazem em oculto, até mencionar é vergonhoso (Ef 5.3,4,12).

Outro dirá agora: Mas é exatamente isso! Nós não podemos fazer, somos crentes! Mas não podemos esperar um comportamento cristão de um presidente incrédulo.

Isso me faz lembrar a hipocrisia dos judeus relatada no evangelho de João. Jesus havia sido preso e foi levado da casa de Caifás para o pretório. O texto informa que os judeus não entraram no pretório, pois estariam contaminados e impedidos de comerem a Páscoa. Repare que ao mesmo tempo em que se preocupam com a purificação, tramam o assassinato do Messias. Pilatos pergunta acerca da acusação contra Jesus e eles respondem que “se este [Jesus] não fosse malfeitor, não to entregaríamos” (Jo 18.28-30).

Quando Pilatos diz para eles tomarem a Jesus e julgarem conforme a sua lei, a hipocrisia fica escancarada. Eles respondem: “a nós não nos é lícito matar ninguém” (Jo 18.31). Ainda que eles tenham dito, nós não podemos matar, mas você, Pilatos, pode, quando Pedro prega aos judeus e trata da morte do Messias ele é enfático: “sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos” (At 2.23).

Deus, em sua providência, usou o pecado de Pilatos e dos judeus a fim de cumprir o seu plano de redimir os seus, por meio da morte de seu Filho, mas o pecado de Pilatos continuou sendo pecado e mais, a entrega de Jesus e o assentimento com a sua morte, também foi pecado, sendo os judeus acusados de assassinos, ainda que usando a mão de Pilatos.

O fato de Deus ter usado o pecado do presidente para expor o pecado dos esquerdistas não torna o seu pecado menos odioso, daí não poder ser motivo de alegria para aqueles que amam o Senhor. Cristãos que assentem com o feito do presidente podem, então, ser acusados de não dar ouvidos à exortação de Paulo aos efésios, ainda que não tenham sido eles, diretamente, os que “mencionaram a imoralidade”.

A Igreja precisa continuar a orar pelo presidente, deve continuar sendo grata a Deus por nos livrar de um governo socialista, mas precisa ser a primeira a reprovar as obras más, no caso, a divulgação daquilo que “até mencionar é vergonhoso” (Ef 5.12).

Que Deus abençoe o presidente a fim de que tome atitudes concretas para que imoralidades como essas não sejam promovidas com dinheiro público e que sejam punidas, por desrespeitar aqueles que acabam por testemunhá-las.