03 outubro 2020

Seu maior deleite é o Senhor ou o seu time de futebol?

O Dia de Descanso é um dia de deleite no Senhor. Por ocasião da criação o Senhor estabeleceu um dia especial em que o homem se dedicaria integralmente ao serviço dele e do próximo. Era um dia de comunhão ainda mais íntima com o Senhor que era honrado a cada um dos dias da semana, quando o homem executava todas as suas ações para a glória de Deus, mas que no dia de Descanso se abstinha de todas as outras coisas para dedicar-se integralmente ao Senhor.

Desde a queda, os homens, em rebeldia contra o Senhor, procuram substitutos para Deus em busca de alegria, satisfação, prazer, descanso, etc., incorrendo em idolatria ao buscar descanso longe do Senhor. As músicas populares sobre o futebol fornecem um bom exemplo disso.

Neguinho da Beija-Flor compôs:

“Domingo eu vou ao Maracanã, vou torcer pro time (na primeira versão da música aparecia Vasco) que sou fã [...] vou sentar na arquibancada pra sentir mais emoção”.

Morais Moreira, por ocasião da mudança de Zico para o time da Udinese escreveu:

“Agora como é que eu fico nas tardes de domingo, sem Zico no Maracanã? Agora como é que eu me vingo de toda derrota da vida se a cada gol do Flamengo eu me sentia um vencedor?”

Na música da banda Biquíni Cavadão temos um pouco mais:

“Hoje é dia de comemorar, hora de esquecer de tudo o mais, é dia do meu time ganhar! Posso não ter dinheiro pra gastar, mas tenho mil motivos pra sorrir, é dia do meu time ganhar”.

Calma, não pense que eu quero sugerir que o futebol é intrinsicamente idólatra. Eu mesmo aprecio e torço para um time, mas meu ponto é verificar a linguagem basicamente “religiosa” das músicas citadas, que refletem exatamente o anseio de encontrar em algum lugar aquilo que só pode ser encontrado verdadeira e plenamente em Jesus Cristo.

Nas músicas você percebe o anseio do ajuntamento à uma massa para a sua devoção, a frustração e desesperança diante da despedida de um jogador que trazia alegria e o sentimento de que tudo está bem, afinal de contas, meu time vai jogar.

Se você lembrar da Escritura vai perceber semelhança na forma de se expressar, exceto no fato de que a Bíblia demonstra o anseio pelo Deus verdadeiro. Vejamos:

“Alegrei-me quando me disseram: Vamos à Casa do Senhor” (Sl 122.1);

“Às margens dos rios da Babilônia, nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando de Sião. [...] Se eu de ti me esquecer, ó Jerusalém, que se resseque a minha mão direita. Apegue-se a minha língua ao paladar, se me não lembrar de ti, se não preferir eu Jerusalém à minha maior alegria” (Sl 137,1,5-6);

“... aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. [...] Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.11,13).

Quando o Senhor Jesus salvou a sua vida o libertou do pecado, da ira de Deus e pôs fim à tentativa de buscar sentido para a vida à parte dele. Em Cristo você pode viver cada um dos seus dias para a glória de Deus, quer coma, beba e até mesmo assista à uma partida de futebol. Em Cristo você encontra motivos para separar o Dia de Descanso para deleitar-se somente nele.

Como eu já afirmei, não há problema no futebol em si, como não há problema em nenhum outro aspecto da criação, mas é triste perceber que há crentes mais preocupados com a posição de seu time na tabela do campeonato do que com a adoração do Nome Santo do Senhor. Prova disso é a dificuldade de se abrir mão de uma partida de futebol a fim de preparar-se para o culto dominical, a ansiedade em saber o resultado da partida que está ocorrendo no mesmo horário do culto, que leva irmãos a checarem seus smartphones assim que a bênção final é dada (e em alguns casos até antes mesmo de o culto terminar) e a tristeza que assola o coração ao saber de um resultado ruim, mesmo após o Glorioso Senhor ter falado à Igreja por meio de sua Palavra.

Se você está em Cristo, está capacitado pelo Espírito Santo para rejeitar tudo aquilo que o impeça de se deleitar no Dia de Descanso, Dia do Senhor. Há promessa do Senhor para o seu povo, como visto em Isaías:

“Se vigiarem os seus pés, para não profanarem o sábado; se deixarem de cuidar dos seus próprios interesses no meu santo dia; se chamarem ao sábado de ‘meu prazer’ e ‘santo dia do Senhor, digno de honra’; se guardarem o sábado, não seguindo os seus próprios caminhos, não pretendendo fazer a sua própria vontade, nem falando palavras vãs, então vocês terão no Senhor a sua fonte de alegria” (Is 58.13-14).

É preciso guardar o coração e lutar contra tudo aquilo que, apesar de lícito, pode afastar você de se deleitar em seu Redentor. Paulo afirmou que todas as coisas são lícitas, mas que não se deixaria dominar por nenhuma delas (Cf 1Co 6.12).

Aos presbiterianos, como eu, é bom lembrar o nosso ensino confessional:

“Este sábado é santificado ao Senhor quando os homens, tendo devidamente preparado os seus corações e de antemão ordenado os seus negócios ordinários, não só guardam, durante todo o dia, um santo descanso das suas próprias obras, palavras e pensamentos a respeito dos seus empregos seculares e das suas recreações, mas também ocupam todo o tempo em exercícios públicos e particulares de culto e nos deveres de necessidade e misericórdia” (CFW XXI.VIII).

Futebol é algo bom e lícito, assim como tudo aquilo que não é proibido na Palavra do Senhor. Contudo, se isso tem impedido a você de honrar o seu Senhor, conforme o que ele estabelece na Escritura, busque forças no Senhor a fim de deixar de lado o que tem competido com o seu Salvador. Não se deixe escravizar, pois, como afirmou Paulo, “para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Por isso, permaneçam firmes e não se submetam, de novo, a jugo de escravidão” (Gl 5.1).

Que você esteja plenamente satisfeito em Cristo e se deleite nele, sobretudo no dia em que celebramos a sua ressurreição, o Domingo, Dia do Senhor.