A onda “retrô” parece ter vindo para ficar. Desde camisas de times de futebol até aparelhos de TV, os designs antigos acabam por reavivar a memória de tempos de outrora.
A lembrança do passado é algo normal. O problema reside em como ele é encarado.
Há muitas pessoas que vivem imersas em meio a problemas, lutas e provações e que já assumiram, como se pudessem prever o futuro, que se a situação mudar certamente será para pior. Pessoas assim tendem a olhar para o passado em busca de um momento feliz ou de um período em que gozaram de alegria e acabam, muitas vezes, querendo “repetir” o que era a sua vida em outros tempos achando que com isso experimentarão novamente paz e alegria.
Essa forma de olhar para o passado é o que chamo de nostalgia pecaminosa. Afirmo que é uma nostalgia pecaminosa porque leva a pessoa:
1) A desconsiderar tudo o que o Senhor já efetuou desde aquele momento até o presente;
2) A viver murmurando, pensando em como a sua vida era boa em comparação com o atual estado;
3) A viver sem a esperança de novamente gozar de paz e alegria;
4) A não reconhecer que o Senhor dirige a sua vida e que nada foge a seu governo Soberano em que ele cumpre a sua vontade sempre boa, agradável e perfeita.
Por outro lado, a Escritura nos estimula a considerar, sim, o passado. Podemos começar olhando para o Salmo 126. O escritor certamente passava por momentos de aflição, o que é verificado diante do seu pedido: “Restaura, Senhor, a nossa sorte” (126.4). Perceba que antes do pedido o salmista relembra o passado: “Quando o Senhor restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha. Então, a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua de júbilo; então entre as nações se dizia: Grandes coisas fez o Senhor por eles. Com efeito, grandes coisas fez o Senhor por nós; por isso, estamos alegres” (126.1-3).
O salmista não olha para o passado e começa a murmurar dizendo: “Como era bom naquele tempo em que o Senhor era conosco, agora só temos problemas e dificuldades.” Não! A lembrança dos grandes feitos de Deus no passado fornecia esperança ao salmista no tempo de tribulação e confiança no Deus que continuava dirigindo a sua história.
Podemos nos lembrar ainda da história de Davi. Quando ainda nem era o rei de Israel e presenciou Saul e todo o exército de Israel temerosos e espantados diante de Golias (1Sm 17.11, 24), dispôs-se a lutar com o gigante (1Sm 17.32). Ao ouvir de Saul que ele não poderia pelejar contra o gigante, contou ao rei que quando apascentava as ovelhas do seu pai, um leão e um urso foram tomar as ovelhas do rebanho e ele matou tanto um quanto o outro. Logo depois disso afirmou: “O Senhor me livrou das garras do leão e do urso; ele me livrará das mãos deste filisteu” (1Sm 17.37). Quando olha para o passado, Davi não pensa: “Como eu queria voltar àquele tempo. Os problemas lá eram tão menores, não havia um gigante, somente um leão e um urso e tudo era mais fácil.” Em vez disso, a lembrança do passado e daquilo que o Senhor fez por meio dele foi o que deu confiança a Davi para sair à peleja contra Golias.
De igual modo Jeremias, ao ter a visão do cativeiro e do sofrimento que o povo enfrentaria, sofrimento este vindo do próprio Deus que iria tratar o pecado do povo que havia quebrado os termos da Aliança, exclamou: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança. As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se a cada manhã. Grande é a tua fidelidade” (Lm 3.21-23). Não há nos lábios do profeta uma palavra de desânimo, mas a lembrança do passado faz com que ele contemple com esperança as misericórdias do Senhor, que continuariam sobre o povo da Aliança, por causa da fidelidade de Deus às suas promessas.
Diferente da nostalgia pecaminosa, olhar para o passado da forma como a Escritura orienta nos traz esperança. Não é à toa que a Ceia do Senhor, que nos fornece a esperança de dias melhores na vinda do Senhor, nos remete primeiro ao passado, à cruz do Calvário, onde o Senhor derramou sua vida em resgate do seu povo.
O Deus que dirigiu a nossa história no passado continua soberanamente governando a nossa vida no presente. Diante disso, podemos confiar que até mesmo os momentos de dor e sofrimento são ferramentas de Deus para conformar a nossa vida à vida do nosso Redentor.
Com essa convicção, você pode cantar o que o poeta sacro escreveu de forma tão bela em uma das estrofes do hino “Direção Divina”: “As tuas mãos dirigem meu destino, acasos para mim não haverá! O grande Pai vigia o meu caminho, e sem motivo não me afligirá! Encontro em seu poder constante apoio, forte é seu braço, insone o seu amor; por fim, entrando na cidade eterna, eu louvarei meu Guia e Salvador.”