27 novembro 2015

Deus conosco

tumblr_lk0ld8QxXk1qg1xjbo1_500

Uma das maiores bênçãos descritas na Escritura é a de que Deus habita no meio do seu povo. No jardim do Éden, Adão contava com a presença de Deus que andava com ele na viração do dia (Gn 3.8). No deserto, Deus mandou que o povo construísse o tabernáculo que seria o lugar da sua habitação e a representação de que Deus habitava com eles (Ex 25.8-9). Além do tabernáculo, a Arca da Aliança também era sinal da presença de Deus no meio do povo. Isso era tão importante que quando ela foi roubada declarou-se que a glória do Senhor tinha se ido de Israel (1Sm 4.21).

Moisés, em certa ocasião, chegou a dizer ao Senhor: “se a tua presença não for comigo, não nos faça subir deste lugar” (Ex 33.15) e Josué, seu substituto, teve a garantia da presença de Deus com ele (Js 1.9). Assim como o tabernáculo, o templo também simbolizava a presença do Senhor (Sl 27.4; Sl 65.4; Sl 84.1,2,10).

Quando Maria engravidou e José quis deixa-la secretamente, um anjo apareceu a ele para falar a respeito da concepção milagrosa do Salvador. Mateus afirma em seu evangelho que “tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor por intermédio do profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emmanuel” (Mt 1.22,23). Mas porque a menção desse nome é importante? Exatamente por causa daquilo que o próprio evangelista registra em seguida, “(que quer dizer: Deus conosco)”.

A encarnação é o momento em que a presença de Deus é vista de forma mais plena, até agora, na história do homem. Jesus é Deus conosco e, antes de ser assunto aos céus, prometeu estar conosco todos os dias, até à consumação dos séculos (Mt 28.20).

Sua presença é importante, pois:

a) Ele é o nosso mediador – Jesus é o único mediador entre Deus e os homens (1Tm 2.5). Somente por ele podemos ter acesso à presença do Pai (Jo 14.6; Hb 10.19-22). Nele temos um advogado que intercede diante do Justo Juiz, quando pecamos (1Jo 2.1).

b) Ele é o maravilhoso Conselheiro – um dos títulos atribuídos ao Senhor em Isaías é que ele é o nosso Conselheiro (Is 9.6), mas não só um simples conselheiro, ele é “O” maravilhoso Conselheiro. Ele nos aconselha por meio de sua Palavra viva e eficaz (Sl 107.11; Pv 8.14; Hb 4.12) que é o meio para a santificação de nossas vidas (Jo 17.17).

c) Nele temos tudo o que é preciso para a vida e piedade – Pedro afirma que todas as coisas que conduzem à vida e à piedade estão no conhecimento completo de Cristo (2Pe 1.3). Em Cristo somos co-participantes da natureza divina, ou seja, por causa dele podemos ser aquilo que não somos ao descender de Adão, santos, e isso nos livra das paixões desse mundo. Somos chamados para ser cada dia mais parecidos com ele (Rm 8.29) que é a imagem do Deus invisível (Cl 1.13-23) sendo ele mesmo o nosso maior exemplo para a vida e para a piedade (Ef 5.1; Fp 2.4; 1Pe 2.21). Ser parecido com Jesus, portanto, é o alvo para voltarmos a espelhar perfeitamente ao Pai, o que não é possível após a queda, mas que o será quando formos plenamente restaurados.

c) Ele é a nossa força – É ele quem nos sustenta nos momentos de tribulação. Não precisamos ter medo, pois Cristo é o nosso pastor (Sl 23.4). É ele também que nos fortalece, a despeito das circunstâncias (Fp 4.11-13), sendo a nossa força quando confessamos nossa fraqueza e nos achegamos a ele (2Co 12.10).

Jesus é o Deus conosco! Podemos confiar a ele cada aspecto de nossa vida e buscar, por seu próprio poder, viver para a sua glória.

20 novembro 2015

Aprenda com seus erros ou tome um caminho melhor: leia a Bíblia!

Bíblia em pedaçosHoje pela manhã eu ouvia num programa de rádio a resposta de um analista a uma consulta feita. Alguém queria abrir uma empresa, mas estava receoso quanto a empreender num momento de crise financeira no país, além de não ter experiência na área pretendida. A resposta foi simples. Antes de se arriscar, ele deveria aguardar para ver como se comportaria o mercado. Enquanto isso, deveria arranjar um emprego numa empresa da área, a fim de aprender na prática sobre o risco de seu empreendimento. No fim, aquele que respondia disse: “É melhor aprender com os erros dos outros do que errar para aprender”.

Sábias palavras! De certo vai contra o que muitos pensam, principalmente no que diz respeito às “coisas da vida”, amizades, relacionamentos, entretenimento, etc. Nesse caso é comum ouvir alguns dizendo: “Deixe fulano quebrar a cara, desse jeito ele aprende” ou “cada um deve ter suas experiências e aprender com elas”.

Conquanto seja verdadeiro e importante termos as nossas experiências de vida, a ideia de que precisamos “quebrar a cara” para aprender está distante daquilo que a Escritura ensina. Ao escrever sua epístola aos Romanos o apóstolo Paulo afirmou que “tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito” (Rm 15.4).

Aos Coríntios, após relatar a história de pecado do povo de Israel e a punição de Deus, ele afirmou: “Ora, estas coisas se tornaram exemplos para nós, a fim de que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram” (1Co 10.6) e, depois disso, exortou que os irmãos não fizessem como eles, advertindo novamente: “Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para a advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado” (1Co 10.11).

A lição é clara! Olhe para as Escrituras a fim de tomar conhecimento do que muitos sofreram, por desobediência a Deus, e não repita a experiência. É como se Paulo dissesse você não precisa “quebrar a cara”, basta olhar para as Escrituras, confiar naquilo que está relatado e viver para a glória de Deus.

A despeito disso, muitos cristãos têm sofrido com suas escolhas. Na tentativa de caminhar conforme seus próprios corações, deixam de lado tudo aquilo que foi escrito para o seu ensino. O coração é enganoso e, não poucas vezes, quer nos conduzir a caminhos que não deveríamos trilhar. Devemos estar atentos a isso, lembrando-nos sempre daquilo que escreveu Salomão no fim de sua vida: “Alegra-te, jovem, na tua juventude, e recreie-se o seu coração nos dias de tua mocidade; anda pelos caminhos que satisfazem ao teu coração e agradam aos teus olhos; sabe, porém, que de todas essas coisas Deus te pedirá contas (Ec 11.9).

Diante disso, podemos pensar na responsabilidade que temos diante de Deus. Temos de conhecer as Escrituras a fim de viver de modo agradável diante de Deus, fazendo escolhas que reflitam sua vontade revelada.

Não é sem razão que o salmista afirma ser bem-aventurado o homem que tem “o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite. Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido” (Sl 1.2-3).

Se os cristãos se lembrassem mais dessas verdades, evitariam muitas escolhas que parecem caminhos direitos, “mas ao cabo dá em caminhos de morte” (Pv 14.12).

Mas isso pode ser ainda pior. Muitos desses que desprezam as instruções da Palavra de Deus e querem seguir as cobiças de seus próprios corações, na ânsia de ouvir algo que desculpe ou justifique suas ações, buscam conselhos com pessoas que não temem a Deus. Esquecem-se de que o salmista também diz que feliz é o homem que não anda no conselho de ímpios (Sl 1.1) e devem ser lembrados das palavras do Senhor Jesus: “Ora, se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco” (Mt 15.14).

Em sua infinita sabedoria, Deus nos deu a sua Palavra bendita a fim de ser a lâmpada para os nossos pés e a luz para o nosso caminho (Sl 119.105). Você pode viver de modo digno do Evangelho, honrando ao Senhor em suas escolhas pautadas na Escritura, ou pode pagar para ver, fazendo o que é contrário a ela e aprendendo com os erros. Mas lembre-se: há pessoas que nem errando muito conseguem aprender. O melhor caminho é confiar em Jesus e dar ouvidos à sua voz, que ecoa na Escritura.

13 novembro 2015

Luz ou escuridão?

Sem-título

Instruindo a seus discípulos em Mateus 6.22 e 23, o Senhor Jesus falou dos olhos. Eles são a lâmpada do corpo. Jesus usou essa figura para ensinar sobre aquilo a que damos atenção ou que “enxergamos”. A ideia do texto não é a de que o olho seja a fonte de luz para o corpo, mas como afirma Hendriksen, “que ele é, por assim dizer, o receptor de luz, o guia do qual todo o corpo depende para a iluminação e direção”[1]. Essa interpretação pode ser corroborada por aquilo que Davi afirma no Salmo 19.8b, acerca da Palavra de Deus: “o mandamento do Senhor é puro e ilumina os olhos”.

Diante disso, podemos entender que os olhos serão bons à medida em que enxergam, ou dão atenção, à Palavra de Deus, razão de o salmista rogar: “desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei” (Sl 119.18). Sendo os olhos bons, todo o corpo será luminoso, ou seja, quando o homem dá atenção à Palavra ele vai bem em seu caminho e estará iluminado.

Há, evidentemente, um paralelo aqui com o que o Senhor havia dito anteriormente, sobre ajuntar tesouros do céu (Mt 6.19-21). Aquilo que procuramos ajuntar está ligado àquilo que temos como o nosso foco. Se queremos ajuntar tesouros celestiais, necessariamente temos que voltar os olhos para a Palavra. Não há como dissociar essas duas coisas.

Os tesouros celestiais são, então, ajuntados quando o homem olha para a Palavra e pratica a sua justiça. Como exemplo temos as próprias bem-aventuranças (Mt 5.2-12) que tratam de como o crente deve viver, vindo cada uma delas com uma promessa para a eternidade. Perceba que o texto termina com Jesus dizendo: “Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus”. Não há aqui nenhuma questão meritória, mas de consequência. Aqueles que foram iluminados e praticam a luz da Palavra de Deus, necessariamente farão boas obras e receberão o galardão por elas.

Há ainda uma advertência enfatizada na expressão de contraste “se porém”, ou, em outras palavras, caso vocês não tenham olhos bons e “os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas” (Mt 6.23a).

A expressão “olhos maus” aparece duas vezes no Antigo Testamento. A primeira em Deuteronômio, quando o Senhor estabelece leis em relação aos pobres e adverte para que o povo não tenha “olhos malignos” para com o irmão pobre, não lhe dando nada daquilo que ele necessitava (Dt 15.9). A segunda aparece em Provérbios 28.22 e está traduzida como “olhos invejosos”, ainda que a palavra hebraica seja a mesma usada em Deuteronômio. Em ambos os casos ela está ligada à avareza sendo que em Deuteronômio diz respeito a quem não quer dar, e em Provérbios àquele que corre atrás de ajuntar riquezas.

Isso está em pleno acordo com o que Jesus está ensinando aqui, pois da mesma forma que aqueles que buscam tesouros celestiais têm olhos bons, iluminados pela Palavra, aqueles que buscam tesouros terrenos têm olhos maus, pois acabam pecando por manter os olhos nas riquezas. Eles demonstram que estão comprometidos apenas com esse mundo em trevas e agem de acordo com suas leis. A figura aqui é que se os olhos são trevas, todo o corpo está mergulhado na treva moral. Não é sem razão que João, ao falar a respeito do julgamento final, afirmou que o veredito é este: “Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más” (Jo 3.19).

Diferente dos servos de Deus que tem a promessa do galardão nos céus, os que buscam tesouros terrenos e mantem os olhos neles já receberam sua recompensa, como foi o caso dos fariseus ao receber o louvor dos homens (Mt 5.2,5,16).

Por fim o Senhor faz uma dura afirmação: “Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grande trevas serão!” (Mt 6.23b). A declaração ganha um tom irônico, pois aqueles que estão nas trevas não conseguem sequer reconhecer isso e acham que têm luz. Sendo assim, se essa luz é na verdade trevas, isso se torna ainda mais terrível, tal como a afirmação de Jesus aos fariseus: “Sê fosseis cegos, não teríeis pecado algum; mas, porque agora dizeis: Nós vemos, subsiste o vosso pecado” (Jo 9.41).

Seus olhos são maus ou bons? Eles estão voltados para os tesouros da terra ou para os tesouros do céu? A resposta a essa pergunta demonstrará se você está “olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus” ou se tem se deixado seduzir pelas coisas desse mundo.


[1] William Hendriksen, Comentário de Mateus, vol. 1, p. 488 – Ed. Cultura Cristã