A nova onda agora é a dos boicotes. Eles vêm sendo anunciados e estimulados com mais veemência desde o comercial do dia dos namorados do Boticário em 2015, protagonizado por gays.
Pensando bem, antes mesmo do boicote ao Boticário (e bem antes da popularização da Internet) eu vi cristãos se mobilizando para boicotarem outra empresa, bem nos primeiros anos de minha conversão. Na ocasião se tratava da Procter & Gamble, dona de marcas como o sabão em pó Ariel, fraldas Pampers, pilhas Duracell, entre muitas outras. Lembro de ter visto no quadro da igreja que eu frequentava uma grande lista de produtos que não deveriam ser comprados, pois o “dono” da empresa tinha ido a um programa de TV e afirmado que grande parte dos lucros da empresa ia para a manutenção de uma igreja satânica. Lembro ainda que meus irmãos na fé estavam mesmo dispostos a não comprar tais produtos, a fim de não sustentarem a igreja de satanás.
O que não fazia o menor sentido em minha cabeça, ainda que novo na fé, era esses mesmos irmãos continuarem a fazer compras na maior e praticamente única rede de Supermercados da minha cidade nesta época, que levava o nome de um santo e que ostentava em suas unidades uma imagem do tal santo. Essa história da Procter e Gamble rodou o mundo e foi provado não passar de uma farsa. Você pode ler aqui neste link: https://goo.gl/MgyCdH
Pois bem, ainda que uma coisa não tenha necessariamente a ver com outra, pois no caso da Procter e Gamble foi um boato, enquanto a propaganda da Boticário foi verídica, há um ponto em comum nas duas histórias, principalmente com o envolvimento de cristãos nesses boicotes sem se darem conta no que está implícito, que é o pensamento de que a sociedade pode ser mudada por meio de boicotes.
Isso se torna uma questão séria a ser pensada, pelo menos por aqueles que são cristãos, mas deixe-me ponderar um pouco mais, antes de me deter neste ponto.
Recentemente quem esteve no centro da questão dos boicotes foi o Santander, por ter apoiado uma exposição, pretensamente sobre a diversidade, em Porto Alegre, com um conteúdo terrível que mostrava zoofilia, debochava da fé alheia, etc, tudo isso tendo entre o público alvo crianças e adolescentes.
Esse caso foi amplamente divulgado e o Santander foi alvo de muitas críticas, a ponto de ter cancelado a mostra. Cristãos comemoravam nas redes sociais o sucesso da empreitada e pregavam o boicote ao banco, acusando de coniventes com toda aquela baixaria aqueles que mantivessem suas contas naquela instituição. É aqui que penso que devemos parar para pensar um bocado.
Primeiro é preciso dizer que não vejo problema nos boicotes em si. Dentro de um sistema de livre mercado eles são um instrumento para dizer às empresas o que os seus consumidores querem ou não querem. O problema para mim é ter cristãos achando que isso mudará completamente a sociedade. Li em vários lugares que “as empresas têm de sentir no bolso, e assim elas mudarão”.
Com isso, creio que muitos cristãos estão elegendo o deus errado como esperança para a sociedade. O dinheiro, como um falso deus, pode levar aqueles que acham que suas vidas dependem dele a fazer, de fato, muitas coisas certas ou erradas. Mas o fato de uma empresa parar de fazer propaganda contra a família para não perder dinheiro, não mudará a sociedade.
A única coisa que pode mudar verdadeiramente uma sociedade é o evangelho redentor do nosso Senhor Jesus Cristo e, infelizmente, muitos dos cristãos que pregam os boicotes não pregam com tanto entusiasmo a respeito de Jesus Cristo, o autor de sua salvação, o único que pode restabelecer os valores e a moral correta. Ao boicotar em vez de pregar o evangelho, assume-se que “Mamom” é um deus mais poderoso que Jesus Cristo e que é ele quem pode mesmo mudar a sociedade.
Não quero insinuar aqui que cristãos não podem aderir a boicotes. De forma alguma. Só estou querendo pensar um pouco a respeito do que pode estar por trás da escolha desse caminho. Até porque, cristãos precisam ser coerentes e aí está um grande problema nos boicotes. Deixe-me tentar demonstrar esse problema.
Suponhamos que eu retire minha conta do Santander. Ok! Agora preciso colocar meu dinheiro em outro banco. Por coerência, não posso escolher os bancos ligados ao governo, afinal de contas, o MEC, órgão do governo, está inteiramente envolvido com a questão da ideologia de gênero. Preciso colocar meu dinheiro em um banco que tenha valores cristãos, mas eu não conheço nenhum banco gospel.
Recentemente divulgou-se em redes sociais a imagem de uma latinha de Coca-Cola onde se lê: “Esta Coca-Cola é Fanta. E daí?”. Imediatamente, os cristãos que boicotaram o Santander precisam parar de tomar esse refrigerante, mas também toda a linha de produtos dessa indústria, que inclui vários sabores de refrigerante, além do Sucos del Valle, Mate Leão, Guaraná Jesus, Água Mineral Crystal, etc.
É só apelar, então, para a “pode ser?”. Até seria possível, se a Pepsi também não estivesse envolvida em campanhas pró gay, como pode ser visto aqui: https://youtu.be/tIG0kB9lOxo.
Daí, pela coerência, além de não consumir Pepsi e demais refrigerantes da marca é preciso também não consumir produtos da PespiCo que incluem: Elma Chips, Toddy, Mabel, Quacker, eQuilibri, Gatorade e várias outras.
Além do mais, quando for ao MacDonalds ou Burger King, por exemplo, não será possível pedir mais os combos, pois eles incluem os refrigerantes acima. Aliás, MacDonalds (https://goo.gl/HDvV9s) e Burger Kinkg (https://goo.gl/xkozBY) também apoiam a ideologia de gênero, então é melhor nem passar perto. Veja como será difícil manter a coerência dos boicotes, e eu nem mencionei outras empresas que já fizeram propaganda ou patrocinaram eventos pró gay como a Nestlé, Lacta, Gol linhas aéreas, Motorolla, Apple, Microsoft, Google, Facebook... ufa... a lista não está nem perto do fim.
Um caminho melhor
O Senhor Jesus Cristo, ao orar pelos seus discípulos, incluindo aqueles que ainda iriam crer, ou seja, eu e você, pediu ao Pai: “Não peço que os tires do mundo, e sim, que os guardes do mal” (Jo 17.15). Vivemos em um mundo caído, quebrado pelo pecado. Um mundo que jaz no maligno (1Jo 5.19).
Graças a Deus, ainda assim, pelo menos em nosso país, muitos que não professam a fé em Jesus Cristo, ainda são conservadores em termos morais. Eles estão envolvidos com boicotes, que é a arma que eles têm para marcar sua posição.
Ainda que não seja necessariamente um pecado que cristãos, por motivo de consciência, deixem de consumir determinadas marcas, com o devido cuidado para não serem incoerentes, é preciso mais que isso. É preciso que a igreja faça diferença fazendo a única coisa que ninguém mais pode fazer: Pregar o evangelho e chamar pecadores ao arrependimento. Essa também é a única coisa efetiva a se fazer a fim de ser sal da terra e luz do mundo.
Cuidado para, na ânsia de mudar a sociedade com boicotes, não acabar negando, na prática, o poder do evangelho. Como cristão, por motivo de consciência, você pode boicotar o que quiser, só não boicote a pregação do Evangelho.