26 novembro 2016

O pior genocida da história

CARTAZ_ERMIDA_3A manhã deste sábado começou com a notícia da morte de Fidel Castro. Castro foi um ditador terrível, responsável por milhares de mortes e extermínios em seu país, além de perseguir arduamente aqueles que se opunham ao seu governo.

Enquanto grande parte (ou maioria) da mídia, vendida à ideologia de esquerda, tenta exaltar “um dos mais importantes políticos contemporâneos” noticiando que “grande parte da população de Havana está triste”, as redes sociais e mídia independente comemoram e enfatizam que “cubanos que vivem em Miami comemoram a morte de Castro”.

Essas polarizações, evidentemente, são reflexo de posições políticas, mas independente da verdade de que Castro foi um cruel assassino (deixando clara a minha posição), o que me espanta é a forma como cristãos estão lidando com a notícia, comemorando e afirmando que ele “foi para o inferno”, “está agora sentado no colo do capeta”, dentre outras coisas mais.

Para complicar ainda mais, na mesma manhã foi também divulgada abundantemente a morte de um servo fiel do Senhor, que muito contribuiu com o Evangelho em nossa pátria, o Pr. Russel Shedd, que deixa um importante legado.

É óbvio que também não faltaram as comparações a respeito do destino eterno de ambos e é aí, que para mim, as coisas começam a ficar mais complicadas, pois em vez de se assemelhar ao Senhor que disse por meio de Ezequiel: “Acaso, tenho eu prazer na morte do perverso? – diz o Senhor Deus; não desejo eu, antes, que ele se converta dos seus caminhos e viva?” (18.23), parecem-se mais com o profeta Jonas que, diante da graça de Deus na salvação da ímpia nação Nínive, desgostou-se extremamente e ficou irado. E orou ao Senhor e disse: Ah! Senhor! Não foi isso o que eu disse, estando ainda na minha terra? Por isso me adiantei fugindo para Tarsis, pois sabias que és Deus clemente, e misericordioso, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e que te arrependes do mal (Jn 1-2).

Calma, não se apresse em entender que estou insinuando a salvação de Fidel, óbvio que não. A comparação foi apenas para demonstrar que Deus é clemente, misericordioso, tardio em irar-se e benigno, enquanto Jonas não, talvez como eu e você.

Não tenho dúvidas de que não devo e não posso afirmar que um ímpio, com um histórico tão terrível como Castro, foi para o céu, mas o oposto também é verdadeiro, pois não temos todos os fatos diante de nós. A história do ladrão na cruz demonstra que a salvação pode se dar instantes antes da morte, bastando o Soberano assim querer.

Deixe-me, então, falar um pouco sobre o maior genocida da história. Se você achou que no título eu me referia a Fidel, que em termos de maldade ainda perde para Hitler, Stalin e alguns outros, errou. Estou me referindo a nosso pai Adão, aquele que (ainda que avisado por Deus) por causa de sua desobediência morreu e lançou toda a sua posteridade na morte, colocando-os sob a justa ira do Senhor (Rm 5.12).

Entretanto, apesar de tamanho pecado, o Senhor se compadeceu dele. Em Gênesis você pode conferir que o Senhor providenciou redenção por meio daquele que viria da mulher (Gn 3.15). O que Fidel Castro fez não tem comparação perto daquilo que fez Adão. Inclusive, Fidel o fez porque já nasceu morto em seus delitos e pecados, condição que nossa teologia chama de “depravação total”, e que foi consequência sobre ele, sobre mim e sobre você da escolha de Adão, que ainda estava vivo quando se opôs a Deus.

É aí que a história fica boa! Paulo, depois de afirmar aos Romanos que todos estão mortos por causa de Adão, explicou um pouco mais:

“Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos (Rm 5.18-19).

Aqueles que são cristãos conhecem o texto e, mais ainda, já experimentaram a graça e sabem que Deus é poderoso para salvar pecadores. Talvez o que tenham esquecido é que a condição de Castro diante de Deus era a mesma que a nossa: condenação. Nossas obras não são melhores que as dele e não é por causa delas que seremos salvos, mas pela obra de Cristo! “Assim, pois,” – como também afirmou Paulo – [a salvação] “não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Rm 9.16)

Talvez um outro fator para a comemoração dos cristãos seja a ilusão de que o mundo estará melhor sem Fidel. O mundo não estará melhor porque mais um ditador morreu, ainda que possa haver certo alívio para aqueles que sofreram sob suas mãos. A redenção e melhora do mundo não se dão por causa daqueles que morrem, mas por causa daquele que vive eternamente, Jesus Cristo, o supremo Soberano.

Para os que foram redimidos e estão em Cristo, a vida sempre terá sentido e alegria verdadeira, ainda que sob circunstâncias adversas, pois as palavras do profeta ainda ecoam e continuam sendo verdadeiras:

"Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha salvação. O Senhor Deus é a minha fortaleza, e faz os meus pés como os da corça, e me faz andar altaneiramente" (Hc 3.17–19).

A graça de Deus alcançou o maior genocida da história, Adão. Ela alcançou o mentiroso Jacó, o adúltero e assassino Davi, o perseguidor e assassino de cristãos Paulo e até mesmo a mim. Algo maravilhoso sobre a graça é que ela é realmente graça! Ela alcança os piores pecadores, pois onde abundou o pecado, superabundou a graça de Cristo.

Quanto ao destino eterno de Fidel, é impossível saber e temerário especular. Entretanto, cuidemos para não negar a maravilhosa doutrina da salvação pela graça por conta de julgamentos que não somos autorizados a fazer. Como diz um hino antigo, a maravilhosa graça “é maior que a minha vida inútil, é maior que o meu pecado vil”. Certamente é também maior que os piores e mais terríveis pecadores.

Levando isso em conta, oremos para que aqueles que sofreram sob seu governo e que estão aliviados com sua morte arrependam-se também de seus pecados e se rendam ao único que pode conceder alívio e alegria verdadeira e duradouramente.