28 dezembro 2009

Ano Novo, velha confiança!

“Quanto a mim, confio em ti, Senhor. Eu disse: tu és o meu Deus. Nas tuas mãos, estão os meus dias” – Salmo 31.14-15a

ano_novo1 A constatação acima foi feita por Davi antes de ele clamar ao Senhor: “livra-me das mãos dos meus inimigos e dos meus perseguidores” (15b), ou seja, quando escreveu este Salmo, Davi estava sendo perseguido pelos seus inimigos.

Que confiança expressa Davi neste Salmo! Ainda que corresse um sério risco diante de seus adversários, ele entendia que a sua vida era do Senhor e isso lhe dava segurança.

Estamos às portas de um novo ano e, como sempre, fazemos planos, temos sonhos, e, ao mesmo tempo, muitos ficam apreensivos ao pensar: o que me espera no próximo ano?

Ainda que não estejamos correndo o mesmo risco que Davi, assim espero, o princípio ensinado no texto deve estar bem enraizado em nossos corações. Nossos dias pertencem ao Senhor e ele é aquele que dirige a nossa vida.

É claro que isso não nos exime de fazer nossa parte, correr atrás do que queremos e buscar melhorar naquilo que entendemos que devamos, muito pelo contrário, o entendimento de que o Senhor é conosco deve nos dar ânimo para trabalhar entendendo que nele nosso trabalho não é vão (cf. 1Co 15.58).

Certa vez Lutero afirmou: “Não sei por quais caminhos Deus me conduz, mas conheço bem o meu guia.” Se de fato temos a mesma confiança expressa por Davi no Salmo 31, podemos assinar com Lutero esta declaração.

Diante disso, agradeçamos ao Senhor tudo o que ele fez em nossas vidas até então. Mais ainda, louvemos ao Senhor por mais um ano que se aproxima mesmo não sabendo o que ocorrerá, se vamos ou não conseguir realizar o planejado, continuar com saúde e tudo o mais que desejamos, convictos de que toda a nossa vida está nas mãos daquele que diz: “o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade” (Is 46.10).

Que o Senhor nos abençoe, nos dê um bom ano e coloque em nosso coração a confiança de que sua vontade é sempre boa, agradável e perfeita (Rm 12.2).

23 dezembro 2009

É importante ter uma data específica?

calendáriointerrogação O Evangelho segundo João registra logo no segundo capítulo que em um casamento realizado em Caná da Galiléia Jesus operou o milagre da transformação da água em vinho. Sabemos da importância histórica desse primeiro milagre do Senhor. Na tradução do versículo 11 proposta por Hendriksen lemos: “Isso Jesus fez para dar início a seus sinais.” Para ele este primeiro milagre é realizado como “prova da divina autoridade e majestade” de Jesus.

Pensando nisso, que tal criarmos um dia especial para comemorar o primeiro milagre do Senhor Jesus? Poderíamos ter algumas músicas falando do milagre e ainda ter algumas peças de teatro reproduzindo a chegada de Jesus ao casamento, a aflição por causa da falta de vinho, o milagre e a alegria reinante após a intervenção sobrenatural do Senhor.

Poderíamos ainda sugerir a data do dia 12 de outubro. Já que a igreja de Roma comemora o milagre realizado nesse dia pela senhora da Conceição que concedeu uma abundância de peixes aos pescadores que pescaram a sua imagem no rio Paraíba do Sul, aproveitaríamos a data para ensinar quem de fato realiza milagres.

Neste ponto da leitura alguns devem estar pensando que enlouqueci e poderiam levantar várias objeções que, de antemão, creio serem possíveis de refutar. Vamos verificar algumas delas e testar os argumentos a favor:

1. Não sabemos o dia em que o milagre de Caná foi realizado.

É verdade! Porém, mais importante que o dia em que foi realizado é o fato de que foi realizado. As Escrituras afirmam categoricamente que houve um casamento e que Jesus operou nele um milagre. A água de fato se tornou vinho e isso ninguém pode negar.

2. Não há ordem na Escritura para ter um dia especial comemorando este milagre.

É verdade! Mas isso não quer dizer que não possamos ter. Se a Escritura se cala quanto a isso, podemos fazer pensando no benefício pedagógico de relembrar fato tão importante no ministério do Senhor. De quebra, teremos uma excelente oportunidade para evangelizar, pois as pessoas estarão mais suscetíveis a aprender sobre milagres.

3. É fácil perceber que só se quer comemorar a data em oposição ao dia da senhora da Conceição.

É verdade! Mas você só sabe disso porque vive no tempo em que estou propondo a comemoração. Lembre-se de que se, de fato, a comemoração cair no gosto do povo, daqui a 500 anos, como não atentamos para a história, ninguém se lembrará de que queremos substituir uma data pagã. As pessoas se acostumarão tanto com a festa e já estarão tão emocionalmente ligadas a ela que nem se lembrarão do que a motivou.

Se é que alguém ainda não percebeu, estou tentando chamar a atenção para aquilo que se faz em relação ao Natal.

Mesmo não sabendo o dia exato do nascimento do Salvador, mesmo sabendo que não há ordem na Escritura para comemorar tal data, que nenhum crente no NT a comemorou e que ela não foi comemorada pela igreja cristã nos três primeiros séculos da igreja, mesmo tendo evidências de que somente “no século V essa festividade se tornou um dia santo da Igreja Católica Romana incipiente” e que “no ano 534, o Natal foi reconhecido feriado oficial pelo Estado Romano” (cf. Brian Schwertley), os cristãos têm insistido na data e, pior, têm rotulado de bitolados, radicais e de alguns outros nomes, aqueles que se posicionam contra ela.

Não estou, nem por um momento, querendo minimizar a verdade da encarnação do nosso Senhor. Como cristão, de orientação Reformada, tenho plena convicção acerca da importância desse evento histórico e do seu correto entendimento por parte da Igreja de Cristo Jesus. Só ainda não fui persuadido de que é indispensável a comemoração do Natal, pelo contrário, quanto mais olho para as Escrituras, mais me convenço de que não faz sentido celebrar a data.

Nas Escrituras notamos que, quando o Senhor queria que o povo soubesse uma data exata, ele a fazia registrar. No episódio do dilúvio, por exemplo, somos informados sobre o dia em que as águas desceram do céu, o dia em que a arca repousou sobre o Ararate e o dia em que as águas secaram (Gn 7.11; 8.4; 8.13).

Ao instituir a Páscoa e a festa dos pães asmos e ordenar que o povo a celebrasse todos os anos, o Senhor foi preciso quanto às datas (Êx 12.1-28). De igual forma o fez com relação à festa dos Tabernáculos (Lv 23.34) e isso para não citar as datas específicas para o sacrifício e queima de incenso pelos sacerdotes.

Há um episódio que pode nos ensinar sobre o zelo do Senhor quanto ao que ele ordena. Em 1Reis, temos a história de um profeta enviado por Deus para predizer contra o altar levantado por Jeroboão (1Rs 13.1-10). No capítulo anterior, vemos todos os erros cometidos por Jeroboão: a) induziu o povo a adorar falsos deuses (1Rs 12.28-30); b) constituiu sacerdotes que não eram dos filhos de Levi (12.31); c) fez uma festa “igual” à festa de Judá no oitavo mês (a festa ordenada pelo Senhor não era no oitavo, e sim no dia 15 do sétimo mês – cf. Lv 23.33,34).

Há uma expressão no texto que me chama muito a atenção: “No décimo quinto dia do oitavo mês, escolhido a seu bel-prazer, subiu ele ao altar que fizera em Betel e ordenou uma festa para os filhos de Israel; subiu para queimar incenso” (12.33). Parece que, dentre outros pecados, ele não estava autorizado a criar uma data não ordenada pelo Senhor.

Diante de toda essa precisão quanto às datas, é no mínimo curioso o fato de a Escritura não registrar o dia do nascimento do Salvador. Certamente o ensino sobre a encarnação era enfatizado pelos apóstolos e deve ser por todos os crentes (cf. Rm 1.3; 8.3; 9.5; Gl 4.4; Ef 2.15; Cl 1.22; Fl 2.7; 1Tm 3.16; Hb 2.14; 5.7; 10.20; 1Pe 4.1; 1Jo 4.2; 2Jo 7). Creio, porém, que não há um dia especial para nos lembrarmos disso, mas que esta convicção e ensino devem estar presentes quando a igreja anuncia todo o desígnio de Deus (At 20.27) e obedece à ordem de ensinar todas as coisas que Jesus nos ordenou (Mt 28.20).

Não bastasse a falta de uma ordenança para a comemoração, ironicamente, a maioria das pessoas (falando de forma empírica) não gosta de comemorar o dia de seu nascimento fora da data correta. Não fosse verdade, não haveria cartões de aniversário com os dizeres “desculpe o atraso” e coisas semelhantes. Não passa pela cabeça de ninguém comemorar o aniversário 2 meses antes ou 2 meses depois da data, pois não faria sentido. Ainda assim, quando falamos do nascimento do Salvador, as pessoas insistem em dizer que a data não é importante.

Não estou querendo propor aqui uma busca pela data correta do nascimento de Jesus, até porque isso é impossível, mas verificar se quando se comemora o Natal a motivação é honrar o Salvador pelo seu natalício ou conformar-se com este século. Penso que isso é possível de se verificar.

Vejamos: ainda que não saibamos o dia preciso, é possível saber o mês. Como afirma Schwertley sobre o verso de Lucas 2.8: “é de conhecimento público que os pastores na Palestina voltavam dos campos antes do inverno. A estação chuvosa na Judéia começa no fim de outubro ou no início de novembro. Os pastores já teriam voltado com seus rebanhos para as aldeias antes do início da estação de chuvas. Portanto, Jesus nasceu antes da primeira semana de novembro” (leia aqui todo o artigo do Brian Schwertley).

Sendo assim, por que não comemorar o Natal em novembro em vez de no dia 25 de dezembro? Uma resposta bastante honesta seria: porque aí não teria graça. Dezembro é a data de decorar as casas (e infelizmente as igrejas) com luzes, bolas, pinheiros. É a data do tal do espírito natalino. Muitos crentes chegam a afirmar que é o mês “mais gostoso” do ano, no qual há mais harmonia e mais sensibilidade às necessidades do próximo. Já ouvi até afirmação, infelizmente por parte de um pastor, de que, quando alguém recebe um donativo de uma pessoa vestida de papai Noel, fica mais feliz.

Convenhamos, nada mais distante da verdade bíblica do que essas afirmações. Se a alegria depende de enfeites e fábulas é uma alegria falsa e passageira.

Diante do exposto creio que não há radicalismo em não entrar no “espírito de natal” nem em não comemorar a data. A mim, ao menos, me parece que esta é a atitude mais coerente com o tão proclamado “Sola Scriptura” por parte de nós, Reformados.

Como nos exorta Paulo: “cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo” (Cl 2.8).

 

Leia mais sobre o assunto nos links abaixo:

Natal – Artur Pink

O Natal – Brian Schwertley

O Natal é escriturístico? – G. I. Wiliamson

11 dezembro 2009

Achei o livro da Lei!

biblia-jpg O capítulo 22 do segundo livro dos Reis começa a relatar a história e o governo de Josias. Ele era filho de Amon que reinou apenas 2 anos e, a despeito do pouco tempo, a Escritura afirma que ele “fez o que era mau perante o Senhor, como fizera Manassés, seu pai” (21.20).

Esse Manassés, avô de Josias, era filho de outro grande rei, Ezequias, porém, ao contrário de seu pai que era temente ao Senhor, Manassés tornou a edificar os altares que Ezequias havia derribado, fez um poste-ídolo, edificou altares a falsos deuses dentro dos átrios da Casa do Senhor, era adivinho, agoureiro, tratava com médiuns e feiticeiros e chegou até a queimar seu filho como sacrifício. O texto diz que ele “prosseguiu a fazer o que era mau perante o Senhor para o provocar à ira” (2Rs 21.6).

O seu reinado durou 55 anos e Manassés fez o povo errar de tal forma “que fizeram pior do que as nações que o Senhor tinha destruído de diante dos filhos de Israel” (2Rs 21.9).

No versículo anterior o escritor menciona uma promessa do Senhor a Israel em que havia afirmado: “Não farei que os pés de Israel andem errantes da terra que dei a seus pais” – com uma ordenança – “contanto que tenham cuidado de fazer segundo tudo o que lhes tenho mandado e conforme toda a lei que Moisés, meu servo, lhes ordenou (2Rs 21.8). Depois disso, a constatação: “eles, porém, não ouviram” (2Rs 21.9). Eis aí a razão de o povo ter seguindo os maus atos de seu rei.

Com um histórico familiar como este e após 57 anos de idolatria, não era de se esperar nada diferente vindo de Josias. Entretanto, Josias foi o rei que começou um movimento de reforma. Ele assumiu o reino com 8 anos e reinou 31 anos. O texto nos informa que “fez ele o que era reto perante o Senhor” (22.2).

No décimo oitavo ano de seu reinado Josias estava fazendo reparos no templo. Ele mandou o escrivão Safã até a Casa do Senhor para se encontrar com o sumo sacerdote Hilquias e lhe dar um recado: o dinheiro que era levado à Casa do Senhor deveria ser entregue aos que estavam fazendo a obra para que comprassem materiais para o reparo dos estragos do templo (2Rs 22.3-7).

É neste ponto da história que acontece o momento mais importante da narrativa. O sumo sacerdote Hilquias diz à Safã: “Achei o Livro da Lei na Casa do Senhor” (22.8). Apesar de o rei já estar reparando estragos no templo, é depois do contato com a Lei do Senhor que a reforma espiritual se inicia.

A Lei é lida para Josias, que rasga suas vestes (22.10-11), pede que se consulte ao Senhor por ele e pelo povo (22.12), se humilha diante de Deus (22.19), faz aliança ante o Senhor tendo a anuência de todo o povo (23.3), purifica o templo e o culto (23.4-14), além de derribar os altares pagãos e celebrar a Páscoa (23.15-23).

As palavras de 2Reis 23.25 a respeito de Josias são maravilhosas: “Antes dele, não houve rei que lhe fosse semelhante, que se convertesse ao Senhor de todo o seu coração, e de toda a sua alma, e de todas as suas forças, segundo toda a lei de Moisés; e, depois dele, nunca se levantou outro igual”.

Como vimos então, é a relação do homem com a Lei do Senhor que determina seu caminho. Quando longe da Palavra de Deus, fatalmente estaremos longe do Senhor, mas quanto mais dermos ouvidos às Escrituras, com o auxílio do Espírito do Senhor, colocando-as em prática em nossas vidas, mais santidade e comunhão com o Senhor teremos, mais honra e glória àquele que é digno.

No dia da Bíblia (próximo domingo) vale a pena então recordar as palavras de Tiago:

Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência. Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar” (1.22-25).

Se o nosso Deus já nos fez encontrar o Livro da Lei, que revela a pessoa bendita de nosso Salvador Cristo Jesus, nos apeguemos a ele lembrando que a Escritura será sempre nossa regra de fé e prática.

Que o Senhor nos ajude.

29 novembro 2009

Uma breve reflexão sobre “cultos especiais”

sede_culto Desde a minha conversão ouço falar em “culto especial” e confesso que sempre me soou de forma muito estranha ainda que não pudesse explicar o porquê. Lá se vão 16 anos desde que conheci a Cristo e creio que hoje tenho condições de esboçar algumas linhas para explicar o meu desconforto com a expressão.

A palavra “especial”, conforme ensina o dicionário Houaiss, significa, dentre outras coisas, “ótimo, excelente e fora do comum”. Quando posta junto da palavra “culto”, inevitavelmente tem-se uma implicação muito séria que carece de explicação: “O que faz um culto ser ‘fora do comum’, ‘ótimo’ ou ‘excelente’ em relação aos outros?”

Para nós, presbiterianos, o ensino bíblico sobre o culto está expresso na Confissão de Fé de Westminster. Nela aprendemos que

“o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo, e é tão limitado pela sua vontade revelada, que ele não deve ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens, ou sugestões de Satanás, nem sob qualquer representação visível, ou de qualquer outro modo não prescrito nas Escrituras – Dt 12.32; Mt 15.9; Mt 4.9,10; Jo 4.23,24; Êx 20.4-6” – (CFW XXI.I).

Aprendemos ainda que

“a leitura das Escrituras, com santo temor; a sã pregação da Palavra e a consciente atenção a ela, em obediência a Deus, com inteligência, fé e reverência; o cântico de salmos, com gratidão no coração; bem como a devida administração e digna recepção dos sacramentos instituídos por Cristo – são partes do ordinário culto de Deus, além dos juramentos religiosos, votos, jejuns solenes e ações de graça em ocasiões especiais, os quais, em seus vários tempos e ocasiões próprias, devem ser usados de um modo santo e religioso – At 15.21; Ap 1.3; 2Tm 4.2; Tg 1.22; At 10.33; Hb 4.2; Cl 3.16; Ef 5.19; Tg 5.13; At 16.25; Mt 28.19; At 2.42; Dt 6.13; Ne 10.29; Ec 5.4,5; Jl 2.12; Mt 9.15; Hb 4.2” – (CFW XXI.V).

Nessas cláusulas entendemos que o culto é prescrito pelo próprio Deus tendo como partes constituintes aquilo que ele mesmo estabeleceu. É fato que o texto da Confissão fala em ocasiões especiais, mas isso é bem diferente de culto especial. O culto deve ser sempre prestado com o mesmo temor, a mesma atenção à Palavra, a mesma inteligência, fé e reverência, a mesma gratidão no coração, independente da ocasião.

Porém, a mesma Confissão de Fé ensina que

“Deus designou particularmente um dia em sete para ser um sábado (descanso) santificado por ele; desde o princípio do mundo até a ressurreição de Cristo, esse dia foi o último da semana; e desde a ressurreição de Cristo, esse dia foi o último da semana, dia que na Escritura é chamado domingo, ou dia do Senhor, e que há de continuar até ao fim do mundo como o sábado cristão” – Êx 20.8-11; Gn 2.3; 1Co 16.1,2; At 20.7; Ap 1.10; Mt 5.17,18 – (CFW XXI.VII).

Ou seja, se há um dia especialmente designado para o culto, este é o dia do Senhor, dia que para nós deveria ser inegociável.

Voltando então à questão: “O que faz um culto ser ‘fora do comum’, ‘ótimo’ ou ‘excelente’ em relação aos outros?”, e analisando-a pelo crivo do ensino das Escrituras como exposto na CFW, deveríamos entender que não faz sentido distinguir alguns cultos como “especiais”. Se o culto é prestado ao Senhor, todos devem ter a mesma motivação que é a glória daquele que nos salvou.

Infelizmente parece que não é esse o entendimento de muitos irmãos e é fácil constatar isto. Basta observar que, para muitos crentes, é quase um pecado mortal não observar algumas datas do chamado “calendário litúrgico”. Nessas datas há uma movimentação grande em torno de músicas especiais, cantatas, teatros, tudo para ser apresentado nos cultos e pessoas não crentes são convidadas para assistir às apresentações.

Não quero deixar aqui a impressão de que sou contra cantatas e corais, absolutamente (desde que não tomem o lugar da exposição da Palavra). O problema, a meu ver, é que muitos desses que não abrem mão dos “cultos especiais” não têm a mesma disposição para a guarda do dia do Senhor e a observância do culto prestado neste dia. Esse culto que é prescrito, diferente dos “especiais”, não tem recebido a mesma atenção de muitos crentes que o trocam pelo jogo do seu time de futebol, pela festa de algum parente, pelo “cansaço” e por uma infinidade de outras desculpas. Mais ainda, vários daqueles que convidam não crentes para as cantatas e cultos especiais não os convidam para o culto público onde há “somente” a pregação da Palavra.

Devemos admitir que algo está muito errado quando se negligencia o culto prescrito por Deus no dia do Senhor mas não se abre mão de cultos especiais do “calendário litúrgico”.

Se esta constatação é verdadeira, quando se fala em culto especial não está se pensando na glória de Deus, mas na satisfação daqueles que irão ao culto. O culto é especial não para Deus, mas para os homens que têm alguma novidade no serviço litúrgico e isto se constitui um completo equívoco sobre aquele que tem de ser agradado no culto.

Que o Senhor nos dê o discernimento necessário para sondar nossas motivações e descobrir se quando cultuamos, fazendo desta ou daquela forma, estamos preocupados com a glória de Deus ou com a satisfação do homem.

A Deus seja toda a glória.

01 novembro 2009

Sempre reformando, mas da forma correta!

nova reforma Desde que Martinho Lutero, 492 anos atrás, mais precisamente no dia 31 de outubro de 1517, afixou às portas da igreja de Wittemberg suas 95 teses contra o comércio das indulgências dando início à Reforma Protestante, uma frase é sempre citada pelos “herdeiros” da Reforma: Igreja Reformada, sempre se reformando.

Ainda que não se saiba quando nem quem a cunhou, a frase ficou mais ligada à Reforma Suíça promovida por Zuíngio e Calvino, conforme afirma o historiador Alderi de Souza Matos.

O significado etimológico da palavra reforma é “dar a primeira forma a” ou “restabelecer” e isso é precisamente o que a célebre frase quer ensinar, a Igreja Reformada deve estar sempre voltando às origens, deve ser como era em seu início. Para tanto, é imprescindível voltar os olhos para a Escritura e observar o que ordena o Senhor da Igreja.

Por viver desta forma, os reformadores insistiam em que só a Escritura é regra de fé e prática (Sola Scriptura), somente a graça de Deus é a causa da salvação do homem (Sola Gracia), somente a fé é o instrumento dessa salvação (Sola Fide), somente Cristo salva (Solus Crhistus) e somente Deus é digno de ser glorificado (Soli Deo Gloria).

Curiosamente muitos dos “herdeiros” da Reforma têm confundido reformar com inovar (“introduzir novidade em” ou “fazer algo como não era feito antes”), mas são rápidos para afirmar: “Igreja Reformada, sempre reformando”, para justificar práticas que nem de longe passariam pela cabeça dos reformadores.

Temos visto a Escritura sendo posta de lado, o Evangelho da graça sendo barateado e sessões, campanhas, correntes, etc., sendo colocados como requisito para se receber algo da parte de Deus, anulando assim a fé. Mais ainda, Cristo não tem sido suficiente e a vontade do homem tem sido exaltada em detrimento de Deus.

A consequência é inevitável. Como aprendemos na Confissão de Fé de Westminster, quando Deus não é adorado de acordo com o que ele mesmo instituiu e limitou pela sua Palavra, fatalmente será “adorado” “segundo as imaginações e invenções dos homens ou sugestões de Satanás” (CFW XXI.I). O resultado disso será sempre a reprovação, nos mesmos moldes da repreensão de Jesus aos fariseus dizendo que “este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens” (Mt 15.8-9).

Queira o Senhor que aqueles que têm defendido esse tipo de “reforma” (leia-se inovação) se arrependam e voltem aos trilhos redescobertos pelos reformadores e que o Senhor mantenha fiéis aqueles que têm entendido que a igreja deve, de fato, sempre se reformar, mas da forma correta.

24 outubro 2009

Heresia presidencial

v_8_ill_671982_brazil-lula_da_silva-syn-19 Não sou muito afeito a comentários políticos, mas a declaração do Sr. Presidente em entrevista à Folha de São Paulo na última quinta-feira me fez repensar esta questão.

Ao explicar os “acordos” políticos que, segundo ele, têm de ser feitos por qualquer um que ganhe as eleições para governar, afirmou: “Quem vier para cá não montará governo fora da realidade política. Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão” (sic).

Tal declaração tem repercutido e provocado muitos comentários que vão desde constatações sobre a arrogância do presidente em se comparar a Cristo até o da profunda ignorância sobre a pessoa do Senhor, como bem comentou o jornalista Clóvis Rossi em sua coluna do jornal “A Tribuna” do dia 22/10: “Se Frei Betto, o confessor ou ex-confessor de Lula, tivesse ensinado seu amigo direitinho, o Presidente aprenderia que Cristo foi crucificado justamente porque não fez coalizão com os judas da vida.”

Rossi está corretíssimo! O nosso Senhor Jesus nunca transigiu, nunca fez concessões e nunca se ajuntou, nem se ajuntaria em aliança (coalizão) com aquilo ou aqueles que estão errados. Não que eu pense que o Presidente esteja correto em suas posições éticas e políticas, nem que eu concorde com a ideologia socialista, muito pelo contrário, mas a afirmação revela que não importam os acordos e conchavos a serem feitos, o que importa é manter-se no poder.

A visão do Sr. Luiz Inácio sobre o Jesus Cristo também explica muito do que temos visto no governo petista. Ao mesmo tempo em que este governo levanta as bandeiras pró-aborto e pró-homossexualismo a ponto de ele afirmar em uma conferência de homossexuais que “nós precisamos nos gostar do jeito que nós somos”, consegue dizer na Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro: “Compartilhamos os mesmos ideais pregados por Cristo há dois milênios e que continuam válidos até hoje.”

Mais ainda, a sua ministra que, segundo o jornal “Estadão on-line” do dia 6/10, não é religiosa abre o discurso que fez em uma Assembléia de Deus saudando “os queridos irmãos e irmãs. Que a paz do Senhor esteja com vocês”, afirma que Lula defende os valores cristãos no Brasil e na mesma semana toma um “banho de axé” com pais de santo na Bahia.

Alguém já disse acertadamente que agimos de acordo com o que cremos, e tudo isso demonstra no que creem esses políticos citados: no poder! Para chegar lá, eles têm feito de tudo para “laçar” os evangélicos brasileiros e, infelizmente, muitos dentro do incauto evangelicalismo brasileiro têm-se deixado enredar.

A Escritura nos ensina a respeitar e orar pelas autoridades (cf. Rm 13.1-7; 1Tm 2.1-2), mas é nosso dever também votar de forma consciente. Não estou propondo aqui a eleição de um candidato evangélico, mas simplesmente um avaliar e um ponderar sobre aqueles que têm, de forma tão descarada, tentado manipular os que professam a fé no Salvador.

Se você ama e conhece o Senhor Jesus Cristo, certamente pode avaliar pelas Escrituras aqueles a quem direcionará o seu voto.

Que o Senhor nos dê sabedoria.

18 agosto 2009

Canais da promessa de Deus

A_GRAN “... em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.3)

No chamado de Deus a Abraão, percebemos que o Senhor sempre teve como alvo o reconhecimento de sua glória por toda a terra.

O povo de Israel foi instituído por Deus para ser uma nação de sacerdotes (Êx 19.5-6). Isso quer dizer que ele deveria viver como nação santa diante do Senhor; e, por meio de seu testemunho, outras nações também engrandeceriam o nome do Senhor.

As próprias bênçãos derramadas por Deus sobre o povo tinham por propósito esse reconhecimento do Senhor por parte de outros povos. Esta verdade pode ser vista, por exemplo, no Salmo 67.1-2: “Seja Deus gracioso conosco, e nos abençoe [...] para que se conheça na terra o seu caminho e, em todas as nações, a tua salvação” ou ainda no Salmo 117: “Louvai ao Senhor, vós todos os gentios, louvai-o todos os povos. Porque mui grande é a sua misericórdia para conosco, e a fidelidade do Senhor subsiste para sempre. Aleluia!”

É certo que algumas vezes isso, de fato, aconteceu. No Salmo 126 o escritor afirma que, após Deus ter restaurado a sorte de Sião, “entre as nações se dizia: Grandes coisas o Senhor tem feito por eles”. Porém, Israel falhou em seu chamado e tentou fazer do Senhor um Deus nacional. Podemos ver esse sentimento na recusa de Jonas em ir a Nínive não querendo que o Senhor salvasse aquele povo (Jn 4.1-2).

Por fim, a própria nação chamada para ser bênção a todas as famílias da terra rejeitou o Messias prometido, aquele que, de forma plena, traria salvação a todo o seu povo.

Essa rejeição é explicada por Paulo como um endurecimento de Deus a Israel para que a salvação chegasse aos gentios e, assim, todo Israel (não o étnico, mas o Israel de Deus, conforme Romanos 9.6-13) fosse salvo (cf. Rm 11.11,25-26).

Que plano grandioso, o do Senhor! Nada pode deter a sua mão e o seu desejo de abençoar toda a terra. A salvação chega aos gentios, mesmo contra a vontade de Israel. Deus salva a quem ele quer salvar, cumprindo sua promessa a Abraão.

A visão de João na Ilha de Patmos nos garante que o Senhor cumprirá de forma plena a sua vontade e salvará todo o seu povo, pessoas de todas as nações, povos e línguas que juntas glorificarão aquele que é o dono da salvação (Ap 7.9-10).

O instrumento que o Senhor usará para alcançar os povos é a sua igreja. Foi a ela que o Senhor ordenou: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.” Além de proclamar em todas as nações e por onde quer que formos, devemos também, à semelhança da ordem dada a Israel, viver o evangelho para que nossa luz brilhe diante dos homens e eles glorifiquem nosso Pai que está nos céus (cf. Mt 5.16).

Ajamos como canais de bênção para todas as famílias da terra.

15 julho 2009

09 maio 2009

Maternidade, privilégio e responsabilidade

resized_ternura Mãos mãe e PÉ BEBÊ Ser mãe é um grande privilégio e uma grande responsabilidade. Podemos facilmente perceber isso nas cartas de Paulo a Timóteo.

Na primeira carta que escreveu para ele, Paulo fez questão de afirmar que, a despeito de não poder exercer na igreja autoridade de homem, o Senhor preservou a mulher por meio de sua missão de mãe (1Tm 2.12-15).

Para Paulo, a satisfação da mulher não deveria estar em liderar a igreja, com autoridade sobre os homens, mas em ter a dádiva de gerar filhos, a mesma dádiva que o Senhor não retirou de Eva, mesmo depois de ela ter pecado. É importante lembrar que a mulher só recebeu o nome de Eva (Vida) após ouvir a sentença de que ela continuaria com a capacidade de gerar, mas que isso seria em meio a dores. Ao ouvir a sentença, Adão dá à mulher o nome de Eva “por ser a mãe de todos os seres humanos” (Gn 3.20).

De fato a maternidade é um grande privilégio que traz consigo uma grande responsabilidade.

Sabemos que os filhos são heranças concedidas pelo Senhor e cabe aos pais educá-los de acordo com a vontade de Deus.

As mães cumprem um papel sobremodo importante nesse processo de educação. Geralmente são elas que passam mais tempo com os filhos e, com sabedoria, devem aproveitar cada momento para incutir na mente deles o amor pelo Senhor.

Vejamos então um exemplo grandioso dessa influência. Na segunda carta que Paulo escreveu a Timóteo, expressou logo no início o desejo de vê-lo novamente (2Tm 1.4). O apóstolo afirma que se recordava da fé sem fingimento de Timóteo e faz questão de frisar: “a mesma que habitou em tua avó Loide e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também, em ti” (2Tm 1.5).

Não sabemos nada sobre a avó e sobre a mãe de Timóteo, exceto seus nomes e o exemplo de fé que deixaram para ele. Por esta pequena citação de Paulo, podemos ter a certeza de que o papel materno na educação foi importantíssimo. Eunice aprendeu a fé por meio de sua mãe, e Timóteo, por meio de sua mãe e sua avó.

Que belo exemplo elas deixaram para aquele que seria um importante líder na Igreja do primeiro século.

Infelizmente muitas mulheres não têm sido sábias na criação dos filhos e, ao invés de enxergar os filhos como herança do Senhor, como uma bênção e agradecer a Deus o privilégio de participar da sua educação, têm visto os filhos como um peso, como alguém que veio para tirar a sua tranquilidade. Mães que, pela prática, acabarão ensinando que filhos não são bem-vindos ao lar e que só servem para atrapalhar, ainda que no discurso elas afirmem que eles são amados.

Mirando-se no exemplo das mães Loide e Eunice, as mulheres devem rogar ao Senhor que lhes conceda a sabedoria necessária para também instruir aos seus filhos.

Filhos educados nos caminhos do Senhor terão muita satisfação em cumprir o mandamento de “honrar pai e mãe”. Que o Senhor abençoe sua vida, mamãe, para que, um dia, a fé do seu filho reflita a mesma fé sem fingimento que habita em você.

29 abril 2009

Orai sem cessar

oracao No capítulo 5 de sua epístola aos tessalonicenses, o apóstolo Paulo ordenou que aqueles irmãos orassem sem cessar (1 Ts 5.17). A oração é um meio importante de graça e, olhando para as Escrituras, percebemos que ela estava sempre presente na vida dos servos de Deus. O próprio Senhor Jesus estava sempre em oração e foi justamente depois de uma ocasião em que ele estava orando que um dos discípulos pediu que ele os ensinasse a orar. É na resposta de Jesus a esta questão que encontramos a “oração dominical” ou “oração do Senhor” (Lc 11.1-4).

Para muitos a oração tem poder em si mesma, e, por causa desse pensamento errôneo, é comum ouvirmos expressões como “a oração tem poder”, ou ainda, “muita oração, muito poder; pouca oração, pouco poder; nenhuma oração, nenhum poder”. Biblicamente, não podemos afirmar que a oração tem poder. Poderoso é o Deus a quem oramos, e eficaz é a oração mediada pelo Senhor Jesus e pelo Espírito Santo. Se a oração não é mediada pelo Filho, não é ouvida pelo Pai.

O Catecismo Maior de Westminster, um dos símbolos de fé adotados pela nossa amada IPB, em resposta à pergunta 178 – O que é a oração? – traz um ensino precioso: “A oração é o oferecimento dos nossos desejos a Deus, em nome de Cristo e com o auxílio do seu Espírito, com a confissão de nossos pecados e um grato reconhecimento das suas misericórdias” (Sl 62.8; Sl 10.17; Rm 10.1; Jo 16.23,24; Rm 8.26; Dn 9.4-11; Sl 32.5,6; Fp 4.6).

Ainda no Catecismo Maior, aprendemos na pergunta 183: “Por quais pessoas devemos orar? – Resposta: Devemos orar por toda a Igreja de Cristo na terra, pelos magistrados e outras autoridades, por nós mesmos, pelos nossos irmãos e até pelos nossos inimigos, e pelos homens de todas as classes, pelos vivos e pelos que hão de nascer; porém, não devemos orar pelos mortos, nem por aqueles que se sabe terem cometido o pecado para a morte” (Ef 6.18; Sl 28.9; 1 Tm 2.1,2; 2 Ts 3.1; Cl 4.3; Gn 32.11; Tg 5.16; 2 Ts 1.11; Mt 5.44; 1 Tm 2.1; Jo 17.20; 2 Sm 12.22,23; Lc 16.25,26; Hb 9.27,28; 1 Jo 5.16).

Conscientes dessas verdades, devemos estar sempre diante do Senhor, individual e coletivamente, em oração certos de que o Senhor nos ouve, sem nunca perder de vista que oramos sempre em submissão ao Deus que tudo pode, mas que realiza todas as coisas segundo o seu próprio querer.

Quanto tempo temos dedicado à oração?

18 abril 2009

Senhora ou serva?

Data: 16/04/2007 - ES - Vila Velha - Multidão de fiéis na missa de encerramento da Festa da Penha - Editoria: Cidade - Foto: Edson Chagas - GZ Na próxima segunda (20/04), como acontece a cada ano, uma multidão subirá o morro do convento, em Vila-Velha – ES, para reverenciar a Senhora da Penha.

Maria é adorada pelos romanistas apesar de eles, oficialmente, afirmarem que ela é somente reverenciada, pois adoração é somente a Deus. Mas, contrariando a sua própria afirmação, eles consideram-na corredentora, mediadora, sem pecado e prestam culto a ela.

Podemos questionar: será que Maria se agradaria de tudo isso? Deixemos que ela mesma responda.

No Evangelho segundo escreveu Lucas temos registrado no capítulo 1.46-56 o conhecido cântico de Maria. Essas palavras foram proferidas por ela na ocasião da visita que fez à sua prima Isabel, logo depois de ouvir que ela era uma bem-aventurada. Analisemos as palavras de Maria nos quatro primeiros versículos:

“A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador” (vs. 46,47).

Já de início podemos perceber algo maravilhoso. Maria estava engrandecendo e se alegrando em seu Salvador. A despeito dos romanistas dizerem que ela foi concebida sem pecado, ela própria se vê nesta condição. É por isso que chama Deus de seu Salvador. Só necessita de Salvador aquele que pecou. Esse entendimento de que ela se via como pecadora fica ainda mais claro quando nos lembramos do que o anjo afirmou a José sobre a criança no ventre de Maria: “Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles (Mt 1.21).

Maria continua:

“porque contemplou na humildade da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada” (v 48).

Ela agora se coloca como uma escrava do Senhor. Este é o sentido da palavra traduzida por “serva” neste versículo. Maria se via como uma humilde serva e isso foi o que Deus contemplou nela. O entendimento de que era uma pecadora carente também da salvação produzia nela essa humildade.

Entretanto, as palavras seguintes parecem contradizer isso. Isabel havia afirmado ser Maria uma bem-aventurada e ela agora assume que, de fato, todas as gerações a considerariam assim.

Estaria Maria então reconhecendo seus méritos? De forma alguma. Ela afirma no versículo 49:

“porque o Poderoso me fez grandes cousas. Santo é o seu nome.”

Ela sabia exatamente a causa de ser uma bem-aventurada e entendia que o mérito era todo do Senhor. Seria bem-aventurada não por causa de quem era, mas por causa das grandes coisas que Deus estava fazendo em sua vida.

Esse é o entendimento de Maria e é por esta razão que ela se coloca humildemente na condição de serva, sabendo que toda a glória era do seu Senhor, e que, mesmo com o privilégio e a bênção de ser a mãe do Salvador, continuava sendo apenas uma humilde serva de Deus.

Diante das palavras da nossa irmã Maria, podemos afirmar que ela nunca gostaria de ser chamada de Senhora, mas se satisfaria em continuar sendo tratada como uma serva de Deus.

Maria foi, sim, bem-aventurada como são também todos aqueles que humildemente se achegam a Cristo, confiados unicamente em seu sacrifício vicário e não em suas próprias obras e reconhecendo-o como Senhor e Salvador.

Tanto a ela como aos demais servos de Deus se aplicam as palavras de Davi: “Bem-aventurado aquele cuja iniqüidade é perdoada, cujo pecado é coberto” (Sl 32.1).

14 março 2009

Não cobiceis

olho_grande_lupaEm Êxodo 20.17 vemos que, dentro dos Dez Mandamentos, o Senhor ordenou ao  povo que não cobiçasse nada que fosse do seu próximo. A palavra “cobiça” desse texto é encontrada mais 14 vezes no Antigo Testamento e é traduzida por “desejar”, contudo, trata-se de um desejar desordenado de adquirir as coisas, posição social, fama, proeminência e inclui a tentativa de apossar-se de o que pertence ao próximo. Os dicionários retratam a cobiça como um sentimento violento e ilegal.

Ao dar esse mandamento, Deus queria ensinar ao povo de Israel que ficasse satisfeito com aquilo que recebia dele. Vale lembrar que o Senhor havia tirado o povo da escravidão, estava alimentando-o no deserto, e, ainda assim, os israelitas cobiçavam a comida do Egito, mostrando insatisfação com o cuidado de Deus.

Quando cobiçamos, estamos implicitamente dizendo a Deus que ele não sabe cuidar de nós. Devemos, portanto, nos lembrar sempre de o que diz Hebreus 13.5: “Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com o que tendes; porque ele tem dito: De maneira nenhuma, te deixarei, nunca jamais te abandonarei.”

Com tudo isso não quero insinuar que os cristãos não podem desejar possuir alguma coisa. A Bíblia não nos exorta à passividade nem à falta de propósito na vida. É desejo sadio aspirar melhor condição de vida, melhor salário, etc. O que não pode acontecer é desejar o que é do outro. Podemos (e devemos) lutar para concretizar nossos sonhos, porém, nunca colocando a esperança de uma vida feliz nos bens materiais. O próprio Senhor Jesus afirmou: “A vida do homem não consiste na abundância de bens que ele possui” (Lc 12.15).

A obediência ao décimo mandamento está ligada à nossa atitude de confiar em Deus, crendo que, no tempo certo, ele nos concederá aquilo que for melhor para cada um de nós, segundo a sua boa vontade.

No Sermão da Montanha o Senhor Jesus exortou os discípulos dizendo: “não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer o beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes? [...] buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas” (Mt 6.25,33).

Confiemos a Deus toda a nossa vida. Ele sabe o que é melhor para nós e nunca nos desamparará. Quem vive confiado no Senhor não precisa cobiçar, pois se satisfaz com o que dele recebe.

26 fevereiro 2009

Felicidade sem fim

palhaco-blogols-ionio-freire “Tristeza não tem fim. Felicidade, sim...”, dizem Tom Jobim e Vinícius de Morais em uma de suas músicas chamada “Felicidade”. E, para provar que a felicidade é passageira, eles fazem uma comparação:

“A felicidade do pobre parece a grande ilusão do carnaval. A gente trabalha o ano inteiro por um momento de sonho pra fazer a fantasia de rei, ou de pirata, ou jardineira e tudo se acabar na quarta-feira.(grifos meus)

O que é interessante é que essa visão sobre o carnaval como uma “felicidade passageira” não saiu da boca de um cristão, mas de dois ímpios. Apesar disso, ano após ano o Brasil pára e comemora o carnaval e muitos depositam nele a esperança de terem felicidade. O problema é que quando a felicidade é circunstancial, ou seja, depende de alguns artifícios para existir, ela acaba no final da festa.

Após observar a visão que o ímpio tem sobre a felicidade, observemos a visão bíblica no Salmo 89.15-16: Bem-aventurado (feliz) o povo que conhece as vivas de júbilo, que anda, ó Senhor, na luz da tua presença. Em teu nome, de contínuo se alegra e na justiça se exalta.” (grifos meus)

Para os que temem a Deus, a felicidade não tem fim. Segundo o salmista ela é contínua, pois não depende de circunstâncias. Ela é fruto da confiança e do “andar” na luz da presença do Senhor.

Ainda que experimentemos momentos de tristeza, temos a promessa do Senhor de que estaria conosco todos os dias até a consumação dos séculos, e isso nos traz felicidade. Felicidade por saber que, apesar das lutas, das dificuldades e das provações, o Senhor é conosco e nunca nos deixará.

Não precisamos de artifícios para nos alegrar, pois como nos diz o salmista: “O Senhor é meu pastor, nada me faltará”, ou, em outras palavras, se o Senhor é o meu pastor eu não preciso de mais nada.

Graças a Deus não precisamos do carnaval nem de qualquer outro artifício para ser felizes, pois temos a felicidade sem fim na vida oferecida a nós mediante a morte de Cristo Jesus, vida esta, abundante.

04 fevereiro 2009

27 janeiro 2009

Ricos pobres ou pobres ricos, o que vem a ser melhor?

familia No livro de Provérbios lemos: “Uns se dizem ricos sem ter nada; outros se dizem pobres, sendo mui ricos” (Pv 13.7).

Podemos pensar nesse versículo em relação à família. Vivemos dias em que a ênfase não é no que somos e, sim, no que temos. Esse pensamento tem influenciado até mesmo a igreja e, por causa disso, vemos muitos pais de família se acabando de trabalhar, com um emprego pela manhã, outro à tarde e, muitas vezes, até à noite.

O que acontece é que, na ânsia de garantir uma boa situação financeira para a família, as pessoas só têm tempo para trabalhar e não conseguem tirar um tempo para a sua família. Não há um bom relacionamento entre marido e esposa, não há diálogo entre pais e filhos e culto doméstico é algo que nem mesmo lembramos o que é. A conta bancária aumenta (e às vezes nem isso acontece), e a comunhão familiar vai de mal a pior.

Não quero insinuar que não devamos nos preocupar com a vida financeira. De modo nenhum! O que estou dizendo é que de nada vai adiantar ter uma vida abastada e viver sob o mesmo teto com “estranhos”.

A vida espiritual de nossas famílias é muito importante, e a maior riqueza que podemos ter é uma família piedosa, que serve ao Senhor de todo o coração. Jesus disse certa vez: “Que aproveitará o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” Podemos de igual modo perguntar: Que adianta juntar muito dinheiro e perder a família?

Busquemos, portanto, em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça e as demais coisas nos serão acrescentadas, segundo a vontade do Senhor.

17 janeiro 2009

Restaura a nossa sorte

torrente “Restaura, Senhor, a nossa sorte, como as torrentes do Neguebe”, foi o pedido do escritor do Salmo 126 no versículo 4. Ele sabia que, por maiores que fossem as tribulações e as dificuldades, o Senhor era poderoso para mudar a sua sorte.

Mas de onde vinha essa confiança do salmista? Observando o versículo 1 temos a resposta. Ele tinha consciência de que o Senhor não muda e que continuava poderoso para fazer milagres. Ele lembra que o Senhor já havia livrado o povo do cativeiro e essa era a sua esperança, pois sabia que, do mesmo modo que Deus agiu no passado, poderia agir também em sua vida.

O salmista tinha ainda outra certeza. Além de ter consciência de que a restauração vem do Senhor, ele sabia também que tudo acontece no tempo de Deus. “Restaura... como as torrentes do Neguebe”. O Neguebe ficava ao sul do território de Israel, em uma região seca com vários leitos de rios secos. Sem ter uma data certa, o leito se enchia de água e a vegetação novamente florescia. O que o salmista está expressando ao fazer essa comparação é a total dependência da vontade de Deus. Ele sabe que a restauração virá, mas no tempo de Deus.

Observamos ainda no final do texto que o salmista, apesar das tribulações, continua a fazer a sua parte (Sl 126.5-6). Ele demonstra que tem certeza da ação de Deus, mas sabe que tem de fazer a sua parte e esperar a bênção do Senhor – “Os que com lágrimas semeiam, com júbilo ceifarão” – ele confia no Senhor.

Em nossas vidas também devemos agir assim. Em meio a tribulações, devemos buscar a restauração da nossa sorte no Senhor, lembrando que o Deus que nos salvou é poderoso para mudar qualquer situação da nossa vida, mas isto no seu tempo. Também não podemos desanimar, devemos continuar a nossa luta diária, sabendo que o trabalho precede a benção de Deus.

Coloquemos a nossa vida diante do Senhor e confiemos em seu cuidado.

09 janeiro 2009

Alegria, resultado da confiança no Senhor

alegria_blog Assim está escrito em Provérbios 16.20: “O que atenta para o ensino acha o bem, e o que confia no Senhor, esse é feliz, e o Salmo 33.21 diz: “Nele o nosso coração se alegra, pois confiamos em seu santo nome.”

A Bíblia sempre nos exorta a confiar no Senhor e coloca a alegria como resultado dessa confiança.

A oração do profeta Habacuque nos traz um exemplo tremendo dessa alegria proporcionada pela confiança no Senhor. Ele diz que ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, mesmo apesar disso ele se alegra no Senhor.

Que confiança tinha esse Profeta no Deus Altíssimo a ponto de declarar que, apesar dos problemas, continuaria alegre, confiado no Deus provedor.

Devemos ter em nossas vidas a mesma confiança que tinha o profeta. Todos passamos por provações e dificuldades, mas, a partir do momento em que colocamos tudo diante do Senhor e confiamos, temos razões para nos alegrar, pois teremos no coração a certeza do cuidado do Senhor.

Em nosso hinário há um hino que diz: “Se paz a mais doce me deres gozar, se dor a mais forte sofrer, oh seja o que for, tu me fazes saber, que feliz com Jesus sempre sou! Sou feliz com Jesus, sou feliz com Jesus meu Senhor.”

Esse hino foi composto diante de uma tragédia. O escritor soube da morte da sua esposa e filhas e, em meio à dor da perda, compôs esse belo hino expressando a confiança requerida pelas Escrituras.

A nossa alegria não é ocasional. O cristão é alegre porque confia a sua vida ao seu Senhor.

Louvemos a Deus, que nos proporciona alegria até nos momentos de dor. Basta confiarmos.