30 maio 2018

Quando a tristeza e o desânimo o alcançam

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Você se lembra do relato bíblico acerca de Pedro andando sobre as águas? Mateus registra que, naquela ocasião, os discípulos tomaram um barco a fim de passar para a outra margem do lago enquanto Jesus despedia a multidão que tinha sido alimentada por ele (Mt 14.13-22). Os discípulos já estavam no meio do lago e as ondas batiam forte contra o barco quando eles viram alguém caminhando sobre as águas. Eles ficaram temerosos, achando se tratar de um fantasma, mas Jesus lhes disse para não se assustarem, pois era ele que ali estava.

Pedro rapidamente respondeu que se era mesmo Jesus, que era para mandá-lo ter com ele sobre as águas, o que foi ordenado pelo Mestre. Pedro, intrépido, sob a Palavra de Jesus andou sobre as águas! Entretanto, ao tirar os olhos de Cristo e reparar na força das ondas, começou a afundar.

Este conhecido relato pode ilustrar de forma interessante a caminhada cristã. Muitos crentes, em determinados momentos da vida, quer seja por causa de pecado ou por causa de provações e tentações, parecem perder a confiança em Deus e em sua Palavra. Isso os leva à tristeza e até mesmo ao desespero. Não são poucos os irmãos que chegam a questionar se realmente são crentes.

Pela graça de Deus, temos em sua Palavra tudo aquilo que é necessário para nos ensinar e nos dar esperança. Paulo afirma aos romanos que “tudo, quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15.4). Tiago, referindo-se ao profeta Elias, afirmou ser ele um “homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos” (Tg 5.17). Pensando nisso, você pode ter a firme convicção de que não é o primeiro, nem tampouco será o último, a titubear na fé.

Pense, por exemplo, naquele que é conhecido como “o homem segundo o coração de Deus”, o Rei Davi. No livro dos Salmos você percebe o quanto ele conhecia ao Senhor e como este conhecimento regulava a forma como ele se portava em sua vida. Comecemos com o Salmo 3. Ele foi escrito por ocasião de sua fuga, quando seu filho Absalão o perseguia. Naquele momento ele orou: “Senhor, como tem crescido o número dos meus adversários! São numerosos os que se levantam contra mim” [...] – e, após mencionar o momento complicado em que vivia, afirmou sua convicção – “Porém tu, Senhor, és o meu escudo, és a minha glória e o que exaltas a minha cabeça”. O resultado desta convicção está no v. 3: “Deito-me e pego no sono; acordo, porque o Senhor me sustenta. Não tenho medo de milhares do povo que tomam posição contra mim de todos os lados”. Que convicção magnífica, que segurança Davi demonstrava ter no Senhor.

No Salmo 4 ele ora pedindo que o Senhor o responda. Ele se dirige ao Senhor como o “Deus da minha justiça”, [que] na angústia, me tens aliviado; tem misericórdia de mim e ouve a minha oração”. A certeza acerca de quem é o seu Deus leva Davi a terminar dizendo: “Em paz me deito e logo pego no sono, porque Senhor, só tu me fazes repousar seguro”. Mais uma vez você percebe que a segurança no coração de Davi é fruto de sua convicção.

O conhecido Salmo 23, mais uma vez, demonstra a confiança do rei de Israel: “O Senhor é meu pastor; nada me faltará”. Esta certeza o faz declarar: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam”.

Temos ainda no Salmo 40 Davi declarando firmemente: “Esperei confiantemente pelo Senhor; ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro. Tirou-me de um poço de perdição, de um tremedal de lama; colocou-me os pés sobre uma rocha e me firmou os passos”.

Entretanto, mesmo com toda essa convicção, no início do Salmo 13 vemos um Davi diferente. O rei está totalmente desanimado por não perceber a ação de Deus em sua trajetória. Isso o faz perguntar por quatro vezes nos dois primeiros versículos: “Até quando, Senhor?”. Sim, o homem segundo o coração de Deus também teve as suas convicções abaladas e perguntou ao Senhor: “Esquecer-te-ás de mim para sempre?”. A angústia era tamanha que ele demonstra a sua desesperança: “Até quando ocultarás de mim o rosto? Até quando estarei eu relutando dentro de minha alma, com tristeza no coração cada dia?”. Ao olhar para o início do Salmo 13 você percebe que não está sozinho quando, em meio às tribulações, se vê sem esperança.

A Confissão de Fé de Westminster, em seu décimo oitavo capítulo, ao tratar da certeza da graça e da salvação, afirma algumas coisas importantes. Na seção 2 aprendemos que “esta certeza [da salvação] não é uma mera persuasão conjectural e provável, fundada numa falsa esperança, mas uma infalível segurança da fé, fundada na divina verdade das promessas de salvação”, ou seja, a certeza da salvação é fruto da confiança naquilo que Deus promete em sua Palavra.

Quando, porém, você olha para a seção 4, verifica que os teólogos de Westminster reconheciam que, por vezes, os cristãos podem ter sua convicção abalada, ao ensinarem que “por diversos modos podem os crentes ter a sua segurança de salvação abalada, diminuída e interrompida negligenciando a conservação dela, caindo em algum pecado especial que fira a consciência e entristeça o Espírito Santo, cedendo a fortes e repentinas tentações [...]”.

Este ensino deve trazer consolo e esperança. Consolo por saber que, ainda que não tendo certeza da salvação, um verdadeiro salvo nunca a perderá. Esperança por saber que “a certeza de salvação poderá, no tempo próprio, ser restaurada pela operação do Espírito, e por meio delas eles são, no entanto, suportados para não caírem no desespero absoluto”.

A Confissão de Fé, na seção anterior (3), já havia afirmado que “esta segurança infalível não pertence de tal modo à essência da fé, que um verdadeiro crente, antes de possuí-la, não tenha de esperar muito e lutar com muitas dificuldades”. A caminhada cristã é, portanto, uma caminhada de lutas contra a nossa própria incredulidade, mas como continua ensinando esta seção da confissão, um verdadeiro crente “sendo pelo Espírito habilitado a conhecer as coisas que lhe são livremente dadas por Deus, ele pode alcançá-la sem revelação extraordinária, no devido uso dos meios ordinários”.

Isso nos faz voltar ao ponto: Se a certeza pode ser alcançada por meio dos meios ordinários, isso significa que a leitura das Escrituras (meio ordinário) é indispensável para que os cristãos fracos se fortaleçam. É se lembrando da Palavra e também daquilo que Deus já executou na história, inclusive em sua história pessoal, que os crentes voltarão a ter sua convicção restabelecida, levando-os a descansar e confiar novamente no Senhor.

Isso acontece no Salmo 13, quando Davi, depois das queixas coloca diante do Senhor sua petição (v. 3 e 4). Ao orar, Davi parece se recordar daquilo que ele já havia experimentado do Senhor, por isso termina afirmando: “No tocante a mim, confio na tua graça; regozije-se o meu coração na tua salvação. Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem” (v. 5 e 6). Repare bem! Deus ainda não o havia livrado das aflições que o levaram ao desânimo. Contudo, ele se lembrou da graça de Deus e do quanto o Senhor já havia feito de bem a ele, por isso, seu coração que estava triste a cada dia (v. 2) se torna alegre no versículo seis.

É por tudo isso que você precisa constantemente lembrar ao seu coração a Palavra do Senhor. É por meio dela que Deus fortalecerá a sua convicção a respeito daquilo que Jesus Cristo, o Redentor de sua alma, fez em seu favor. É por meio da Escritura que você poderá exercer a fé bíblica, que é a certeza e a convicção a respeito do que Deus diz em sua Palavra.

Em momentos de tribulação, desânimo e tristeza, faça então como o salmista. Pergunte “Por que você está assim tão triste, ó minha alma? Por que está assim tão perturbada dentro de mim?” – a fim de relembrá-la: “Ponha sua esperança em Deus! Pois ainda o louvarei; ele é o meu Salvador e o meu Deus” (Sl 43.5 – NVI). Como Paulo afirmou aos romanos, “aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? [...] Quem nos separará do amor de Cristo? [...] Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.31-39).

Firmado na Palavra de Cristo você pode deixar de lado a tristeza e o desânimo.

Que Deus o ajude!

22 maio 2018

Santifica-os na verdade

luciano-pires-ponto-de-vista“Depende do ponto de vista!”

Essa é a frase que, muitas vezes, ouvimos quando discutimos algum assunto em nossos dias, fruto do pensamento pós-moderno, que abriu mão dos absolutos e encara todas as coisas como relativas. “Tudo é relativo”, dizem alguns.

Desse modo, temos a verdade de fulano, a de beltrano e tantas mais verdades quanto forem necessárias.

Necessárias a quê? Necessárias à circunstância em que estamos vivendo. A melhor “verdade” é aquela que apóia a minha prática, o meu pensamento.

O interessante (e triste) é que esse pensamento influenciou até o mundo da fantasia. Por exemplo, aqueles que assistiam aos antigos filmes do Zorro são testemunhas de que ele era um grande herói quando estava mascarado, e um cidadão respeitado na sociedade (Dom Diego) quando estava sem a máscara. Ele era bom, com e sem a máscara.

No filme exibido em 1998, a história já é outra. Com a máscara, Zorro é um herói pronto a defender a causa dos necessitados, mas, sem a máscara, ele é um ladrão. Perguntamos então: Ele é bom ou mau? “Depende do ponto de vista...”, seria a resposta.

Fico a pensar numa das frases ditas por Jesus na oração sacerdotal: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). Para Jesus, a verdade absoluta é a Palavra de Deus, e nela temos A Verdade e não “pontos de vista”. John MacArthur oferece uma boa definição de verdade sem seu livro A guerra pela verdade: “a verdade é aquilo que é consistente com a mente, a vontade, o caráter, a glória e o ser de Deus. Sendo mais preciso: a verdade é a auto expressão de Deus. Esse é o significado bíblica da verdade...”.

Não existe, portanto, a verdade da Igreja Presbiteriana, a verdade da igreja tal, a verdade daquela outra igreja. O que existe é a verdade bíblica, e esta deve ser buscada fielmente através do sério estudo das Escrituras a fim de sermos santificados por Deus. A Bíblia não tem vários significados, mas o significado pretendido pelo escritor de cada um de seus livros.

Infelizmente, a frase de Jesus cai muitas vezes em ouvidos que se fazem de surdos e que acabam achando que todos têm razão, afinal de contas, não importa em que cada um crê (depende do ponto de vista...), o que importa é ter Jesus. Será?

Um exemplo de como este raciocínio é equivocado está na imagem que ilustra este texto. O desenho usado para mostrar que a verdade é relativa só demonstra que um determinado ponto de vista tem a capacidade de torcer a verdade que, torcida, deixa de ser verdade e passa a ser mentira. Matematicamente todos sabem que seis não pode ser nove, nem vice-versa, logo, alguém está olhando “de cabeça para baixo”. Apesar da ilusão de saber a verdade, quem está olhando do lado errado somente faz da mentira a “sua” verdade, mas isso não muda a realidade.

Que Deus nos ajude para que, iluminados pelo Espírito Santo, cheguemos ao pleno conhecimento da verdade: Jesus Cristo, que ao interceder pelos seus rogou ao Pai que os santificasse na verdade que é a sua Palavra.

Deus nos abençoe.

* Texto ampliado e republicado

17 maio 2018

Razão e emoção: a importância de conciliá-las

cérebroMuitas pessoas não têm dado a devida importância ao lugar da razão no culto ao Senhor. Não faltam aqueles que dizem que a razão não tem lugar na adoração e na exaltação do nome de Jesus. Como consequência, vemos cultos onde há “emoções à flor da pele”, mas pouco entendimento do que se está fazendo.

Os cristãos que não fazem uso da razão em sua vida não têm condições de julgar nada do que lhes é proposto, e é por isso que, dia após dia, a ênfase dada às experiências tem aumentado e a leitura da Palavra de Deus diminuído.

Parece, para mim pelo menos, que muitas pessoas, ao irem à igreja, deixam em casa o cérebro, pois ele só é importante durante a semana, no trabalho ou na escola. Mas será que isso deve ser assim mesmo?

Quando olhamos para a Palavra de Deus temos uma surpreendente exortação de Paulo à Igreja de Roma: “Rogo-vos, pois, irmãos, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional (Rm 12.1).

O apóstolo não está dizendo (e nem eu quero insinuar) que a emoção não tem lugar no culto. A emoção faz parte do culto mas deve estar sujeita à razão. Nós entendemos racionalmente o que Deus fez e faz por nós, e consequentemente nos emocionamos.

É preciso colocar os sentimentos no lugar correto. Um bom exemplo disso está na história de Filipe e do Eunuco. Nesta passagem a pergunta que o diácono fez não foi se o eunuco tinha sentido algo diferente ao ler a Escritura, mas se tinha entendido. Após ele entender, confessar sua fé e ser batizado, o resultado foi a alegria (At 8.39), alegria que também foi marcante quando os samaritanos entenderam e creram na mensagem do evangelho (At 8.8).

Se alguém entende corretamente o evangelho (a mensagem sobre o Deus que enviou seu único Filho, Santo e sem pecado, para tomar sobre si os pecados do homem, morrer por ele, ressuscitar para a sua justificação) e não se emociona, algo está errado. Contudo, emocionar-se sem entender é um erro e muitos querem levar as pessoas à fé apelando às emoções. Isso explica o que ocorre em muitos arraiais evangélicos: as apelações com fundo musical, luz baixa e outros subterfúgios que tem por fim levar o homem a uma decisão emotiva, a ponto de muitos dizerem que o culto foi uma bênção apesar de não lembrarem o que foi pregado. Se o Espírito Santo não convencer o pecador pela exposição das Escrituras, nada mais o convencerá.

A razão precede a emoção e uma alteração desta ordem só trará prejuízos.

Deus requer de nós a busca de uma vida piedosa, mas também uma busca racional das verdades reveladas em sua Palavra, pois, se não fosse assim, não nos teria dotado da capacidade de raciocinar e julgar todas as coisas.

O uso da razão na vida cristã só tem a nos tornar crentes melhores, pois entenderemos a Palavra, nos emocionaremos com ela e agiremos conforme o que ela nos prescreve. Isso nos levará a ser mais santos, mais amorosos, ter mais fé e mais disposição para pregar o Evangelho, pois teremos, através do Espírito Santo, um conhecimento firme da doutrina de Cristo Jesus.

Deus nos abençoe!