28 dezembro 2009

Ano Novo, velha confiança!

“Quanto a mim, confio em ti, Senhor. Eu disse: tu és o meu Deus. Nas tuas mãos, estão os meus dias” – Salmo 31.14-15a

ano_novo1 A constatação acima foi feita por Davi antes de ele clamar ao Senhor: “livra-me das mãos dos meus inimigos e dos meus perseguidores” (15b), ou seja, quando escreveu este Salmo, Davi estava sendo perseguido pelos seus inimigos.

Que confiança expressa Davi neste Salmo! Ainda que corresse um sério risco diante de seus adversários, ele entendia que a sua vida era do Senhor e isso lhe dava segurança.

Estamos às portas de um novo ano e, como sempre, fazemos planos, temos sonhos, e, ao mesmo tempo, muitos ficam apreensivos ao pensar: o que me espera no próximo ano?

Ainda que não estejamos correndo o mesmo risco que Davi, assim espero, o princípio ensinado no texto deve estar bem enraizado em nossos corações. Nossos dias pertencem ao Senhor e ele é aquele que dirige a nossa vida.

É claro que isso não nos exime de fazer nossa parte, correr atrás do que queremos e buscar melhorar naquilo que entendemos que devamos, muito pelo contrário, o entendimento de que o Senhor é conosco deve nos dar ânimo para trabalhar entendendo que nele nosso trabalho não é vão (cf. 1Co 15.58).

Certa vez Lutero afirmou: “Não sei por quais caminhos Deus me conduz, mas conheço bem o meu guia.” Se de fato temos a mesma confiança expressa por Davi no Salmo 31, podemos assinar com Lutero esta declaração.

Diante disso, agradeçamos ao Senhor tudo o que ele fez em nossas vidas até então. Mais ainda, louvemos ao Senhor por mais um ano que se aproxima mesmo não sabendo o que ocorrerá, se vamos ou não conseguir realizar o planejado, continuar com saúde e tudo o mais que desejamos, convictos de que toda a nossa vida está nas mãos daquele que diz: “o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade” (Is 46.10).

Que o Senhor nos abençoe, nos dê um bom ano e coloque em nosso coração a confiança de que sua vontade é sempre boa, agradável e perfeita (Rm 12.2).

23 dezembro 2009

É importante ter uma data específica?

calendáriointerrogação O Evangelho segundo João registra logo no segundo capítulo que em um casamento realizado em Caná da Galiléia Jesus operou o milagre da transformação da água em vinho. Sabemos da importância histórica desse primeiro milagre do Senhor. Na tradução do versículo 11 proposta por Hendriksen lemos: “Isso Jesus fez para dar início a seus sinais.” Para ele este primeiro milagre é realizado como “prova da divina autoridade e majestade” de Jesus.

Pensando nisso, que tal criarmos um dia especial para comemorar o primeiro milagre do Senhor Jesus? Poderíamos ter algumas músicas falando do milagre e ainda ter algumas peças de teatro reproduzindo a chegada de Jesus ao casamento, a aflição por causa da falta de vinho, o milagre e a alegria reinante após a intervenção sobrenatural do Senhor.

Poderíamos ainda sugerir a data do dia 12 de outubro. Já que a igreja de Roma comemora o milagre realizado nesse dia pela senhora da Conceição que concedeu uma abundância de peixes aos pescadores que pescaram a sua imagem no rio Paraíba do Sul, aproveitaríamos a data para ensinar quem de fato realiza milagres.

Neste ponto da leitura alguns devem estar pensando que enlouqueci e poderiam levantar várias objeções que, de antemão, creio serem possíveis de refutar. Vamos verificar algumas delas e testar os argumentos a favor:

1. Não sabemos o dia em que o milagre de Caná foi realizado.

É verdade! Porém, mais importante que o dia em que foi realizado é o fato de que foi realizado. As Escrituras afirmam categoricamente que houve um casamento e que Jesus operou nele um milagre. A água de fato se tornou vinho e isso ninguém pode negar.

2. Não há ordem na Escritura para ter um dia especial comemorando este milagre.

É verdade! Mas isso não quer dizer que não possamos ter. Se a Escritura se cala quanto a isso, podemos fazer pensando no benefício pedagógico de relembrar fato tão importante no ministério do Senhor. De quebra, teremos uma excelente oportunidade para evangelizar, pois as pessoas estarão mais suscetíveis a aprender sobre milagres.

3. É fácil perceber que só se quer comemorar a data em oposição ao dia da senhora da Conceição.

É verdade! Mas você só sabe disso porque vive no tempo em que estou propondo a comemoração. Lembre-se de que se, de fato, a comemoração cair no gosto do povo, daqui a 500 anos, como não atentamos para a história, ninguém se lembrará de que queremos substituir uma data pagã. As pessoas se acostumarão tanto com a festa e já estarão tão emocionalmente ligadas a ela que nem se lembrarão do que a motivou.

Se é que alguém ainda não percebeu, estou tentando chamar a atenção para aquilo que se faz em relação ao Natal.

Mesmo não sabendo o dia exato do nascimento do Salvador, mesmo sabendo que não há ordem na Escritura para comemorar tal data, que nenhum crente no NT a comemorou e que ela não foi comemorada pela igreja cristã nos três primeiros séculos da igreja, mesmo tendo evidências de que somente “no século V essa festividade se tornou um dia santo da Igreja Católica Romana incipiente” e que “no ano 534, o Natal foi reconhecido feriado oficial pelo Estado Romano” (cf. Brian Schwertley), os cristãos têm insistido na data e, pior, têm rotulado de bitolados, radicais e de alguns outros nomes, aqueles que se posicionam contra ela.

Não estou, nem por um momento, querendo minimizar a verdade da encarnação do nosso Senhor. Como cristão, de orientação Reformada, tenho plena convicção acerca da importância desse evento histórico e do seu correto entendimento por parte da Igreja de Cristo Jesus. Só ainda não fui persuadido de que é indispensável a comemoração do Natal, pelo contrário, quanto mais olho para as Escrituras, mais me convenço de que não faz sentido celebrar a data.

Nas Escrituras notamos que, quando o Senhor queria que o povo soubesse uma data exata, ele a fazia registrar. No episódio do dilúvio, por exemplo, somos informados sobre o dia em que as águas desceram do céu, o dia em que a arca repousou sobre o Ararate e o dia em que as águas secaram (Gn 7.11; 8.4; 8.13).

Ao instituir a Páscoa e a festa dos pães asmos e ordenar que o povo a celebrasse todos os anos, o Senhor foi preciso quanto às datas (Êx 12.1-28). De igual forma o fez com relação à festa dos Tabernáculos (Lv 23.34) e isso para não citar as datas específicas para o sacrifício e queima de incenso pelos sacerdotes.

Há um episódio que pode nos ensinar sobre o zelo do Senhor quanto ao que ele ordena. Em 1Reis, temos a história de um profeta enviado por Deus para predizer contra o altar levantado por Jeroboão (1Rs 13.1-10). No capítulo anterior, vemos todos os erros cometidos por Jeroboão: a) induziu o povo a adorar falsos deuses (1Rs 12.28-30); b) constituiu sacerdotes que não eram dos filhos de Levi (12.31); c) fez uma festa “igual” à festa de Judá no oitavo mês (a festa ordenada pelo Senhor não era no oitavo, e sim no dia 15 do sétimo mês – cf. Lv 23.33,34).

Há uma expressão no texto que me chama muito a atenção: “No décimo quinto dia do oitavo mês, escolhido a seu bel-prazer, subiu ele ao altar que fizera em Betel e ordenou uma festa para os filhos de Israel; subiu para queimar incenso” (12.33). Parece que, dentre outros pecados, ele não estava autorizado a criar uma data não ordenada pelo Senhor.

Diante de toda essa precisão quanto às datas, é no mínimo curioso o fato de a Escritura não registrar o dia do nascimento do Salvador. Certamente o ensino sobre a encarnação era enfatizado pelos apóstolos e deve ser por todos os crentes (cf. Rm 1.3; 8.3; 9.5; Gl 4.4; Ef 2.15; Cl 1.22; Fl 2.7; 1Tm 3.16; Hb 2.14; 5.7; 10.20; 1Pe 4.1; 1Jo 4.2; 2Jo 7). Creio, porém, que não há um dia especial para nos lembrarmos disso, mas que esta convicção e ensino devem estar presentes quando a igreja anuncia todo o desígnio de Deus (At 20.27) e obedece à ordem de ensinar todas as coisas que Jesus nos ordenou (Mt 28.20).

Não bastasse a falta de uma ordenança para a comemoração, ironicamente, a maioria das pessoas (falando de forma empírica) não gosta de comemorar o dia de seu nascimento fora da data correta. Não fosse verdade, não haveria cartões de aniversário com os dizeres “desculpe o atraso” e coisas semelhantes. Não passa pela cabeça de ninguém comemorar o aniversário 2 meses antes ou 2 meses depois da data, pois não faria sentido. Ainda assim, quando falamos do nascimento do Salvador, as pessoas insistem em dizer que a data não é importante.

Não estou querendo propor aqui uma busca pela data correta do nascimento de Jesus, até porque isso é impossível, mas verificar se quando se comemora o Natal a motivação é honrar o Salvador pelo seu natalício ou conformar-se com este século. Penso que isso é possível de se verificar.

Vejamos: ainda que não saibamos o dia preciso, é possível saber o mês. Como afirma Schwertley sobre o verso de Lucas 2.8: “é de conhecimento público que os pastores na Palestina voltavam dos campos antes do inverno. A estação chuvosa na Judéia começa no fim de outubro ou no início de novembro. Os pastores já teriam voltado com seus rebanhos para as aldeias antes do início da estação de chuvas. Portanto, Jesus nasceu antes da primeira semana de novembro” (leia aqui todo o artigo do Brian Schwertley).

Sendo assim, por que não comemorar o Natal em novembro em vez de no dia 25 de dezembro? Uma resposta bastante honesta seria: porque aí não teria graça. Dezembro é a data de decorar as casas (e infelizmente as igrejas) com luzes, bolas, pinheiros. É a data do tal do espírito natalino. Muitos crentes chegam a afirmar que é o mês “mais gostoso” do ano, no qual há mais harmonia e mais sensibilidade às necessidades do próximo. Já ouvi até afirmação, infelizmente por parte de um pastor, de que, quando alguém recebe um donativo de uma pessoa vestida de papai Noel, fica mais feliz.

Convenhamos, nada mais distante da verdade bíblica do que essas afirmações. Se a alegria depende de enfeites e fábulas é uma alegria falsa e passageira.

Diante do exposto creio que não há radicalismo em não entrar no “espírito de natal” nem em não comemorar a data. A mim, ao menos, me parece que esta é a atitude mais coerente com o tão proclamado “Sola Scriptura” por parte de nós, Reformados.

Como nos exorta Paulo: “cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo” (Cl 2.8).

 

Leia mais sobre o assunto nos links abaixo:

Natal – Artur Pink

O Natal – Brian Schwertley

O Natal é escriturístico? – G. I. Wiliamson

11 dezembro 2009

Achei o livro da Lei!

biblia-jpg O capítulo 22 do segundo livro dos Reis começa a relatar a história e o governo de Josias. Ele era filho de Amon que reinou apenas 2 anos e, a despeito do pouco tempo, a Escritura afirma que ele “fez o que era mau perante o Senhor, como fizera Manassés, seu pai” (21.20).

Esse Manassés, avô de Josias, era filho de outro grande rei, Ezequias, porém, ao contrário de seu pai que era temente ao Senhor, Manassés tornou a edificar os altares que Ezequias havia derribado, fez um poste-ídolo, edificou altares a falsos deuses dentro dos átrios da Casa do Senhor, era adivinho, agoureiro, tratava com médiuns e feiticeiros e chegou até a queimar seu filho como sacrifício. O texto diz que ele “prosseguiu a fazer o que era mau perante o Senhor para o provocar à ira” (2Rs 21.6).

O seu reinado durou 55 anos e Manassés fez o povo errar de tal forma “que fizeram pior do que as nações que o Senhor tinha destruído de diante dos filhos de Israel” (2Rs 21.9).

No versículo anterior o escritor menciona uma promessa do Senhor a Israel em que havia afirmado: “Não farei que os pés de Israel andem errantes da terra que dei a seus pais” – com uma ordenança – “contanto que tenham cuidado de fazer segundo tudo o que lhes tenho mandado e conforme toda a lei que Moisés, meu servo, lhes ordenou (2Rs 21.8). Depois disso, a constatação: “eles, porém, não ouviram” (2Rs 21.9). Eis aí a razão de o povo ter seguindo os maus atos de seu rei.

Com um histórico familiar como este e após 57 anos de idolatria, não era de se esperar nada diferente vindo de Josias. Entretanto, Josias foi o rei que começou um movimento de reforma. Ele assumiu o reino com 8 anos e reinou 31 anos. O texto nos informa que “fez ele o que era reto perante o Senhor” (22.2).

No décimo oitavo ano de seu reinado Josias estava fazendo reparos no templo. Ele mandou o escrivão Safã até a Casa do Senhor para se encontrar com o sumo sacerdote Hilquias e lhe dar um recado: o dinheiro que era levado à Casa do Senhor deveria ser entregue aos que estavam fazendo a obra para que comprassem materiais para o reparo dos estragos do templo (2Rs 22.3-7).

É neste ponto da história que acontece o momento mais importante da narrativa. O sumo sacerdote Hilquias diz à Safã: “Achei o Livro da Lei na Casa do Senhor” (22.8). Apesar de o rei já estar reparando estragos no templo, é depois do contato com a Lei do Senhor que a reforma espiritual se inicia.

A Lei é lida para Josias, que rasga suas vestes (22.10-11), pede que se consulte ao Senhor por ele e pelo povo (22.12), se humilha diante de Deus (22.19), faz aliança ante o Senhor tendo a anuência de todo o povo (23.3), purifica o templo e o culto (23.4-14), além de derribar os altares pagãos e celebrar a Páscoa (23.15-23).

As palavras de 2Reis 23.25 a respeito de Josias são maravilhosas: “Antes dele, não houve rei que lhe fosse semelhante, que se convertesse ao Senhor de todo o seu coração, e de toda a sua alma, e de todas as suas forças, segundo toda a lei de Moisés; e, depois dele, nunca se levantou outro igual”.

Como vimos então, é a relação do homem com a Lei do Senhor que determina seu caminho. Quando longe da Palavra de Deus, fatalmente estaremos longe do Senhor, mas quanto mais dermos ouvidos às Escrituras, com o auxílio do Espírito do Senhor, colocando-as em prática em nossas vidas, mais santidade e comunhão com o Senhor teremos, mais honra e glória àquele que é digno.

No dia da Bíblia (próximo domingo) vale a pena então recordar as palavras de Tiago:

Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência. Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar” (1.22-25).

Se o nosso Deus já nos fez encontrar o Livro da Lei, que revela a pessoa bendita de nosso Salvador Cristo Jesus, nos apeguemos a ele lembrando que a Escritura será sempre nossa regra de fé e prática.

Que o Senhor nos ajude.