14 dezembro 2012

Na verdade não, você não pode!

chefe_no_espelho“Sim, nós podemos” (Yes, we can). A frase, popularizada pelo presidente Barack Obama por ocasião de sua campanha, tem como fundamento alguns pressupostos das técnicas motivacionais e também da autoajuda: “bondade inata do homem” e “capacidade de controle”.

Os livros de autoajuda estão recheados de conselhos do tipo “sim, você pode”. Se fizer uma rápida procura nas estantes de livrarias, bancas de revistas ou catálogos de livrarias on-line você verá títulos como: “A arte de viver”, “O poder do agora”, “Dez leis para ser feliz”, “Seja líder de si mesmo”, “Você pode curar sua vida”, “O poder das afirmações positivas” e semelhantes, todos apontando para a capacidade do homem de resolver seus próprios problemas.

Foi Samuel Smiles, em 1859, que lançou o livro “Autoajuda”, considerado o primeiro dessa categoria, que tinha como frase de abertura “O céu ajuda aqueles que ajudam a si mesmos”. Curiosamente, muitos cristãos citam uma frase parecida, atribuindo-a inclusive à Bíblia, na qual Deus diria: “Faça a sua parte e eu te ajudarei”. A intenção da literatura de autoajuda é proporcionar às pessoas um domínio sobre o seu corpo e sua mente, a fim de capacitá-las à autorrealização em todas as esferas da vida.

A ideia de autoajuda, porém, é bem mais antiga que isso. Quando olhamos para Gênesis 3 percebemos que a primeira “palestra” sobre autoajuda aconteceu no Éden, tendo como preletor Satanás, que ensinou sobre o segredo da autossuficiência (ou como ser igual a Deus) e sobre a capacidade de discernir, à parte de Deus, sobre o bem e o mal. Eva acreditou e a queda aconteceu.

O mercado da autoajuda cresce assustadoramente a cada ano, mesmo em meio a críticas e pesquisas que questionam sua eficácia. Conforme o site “Diário da Saúde”, por exemplo, uma pesquisa de uma universidade americana revelou que pessoas que se questionam sobre a capacidade de realizar uma tarefa saem-se melhor do que aquelas que dizem a si mesmas que se sairão bem (veja aqui). Em um livro que satiriza a autoajuda, os escritores afirmam que “o único jeito de ficar rico com um livro de autoajuda é escrever um”.

A despeito disso, o que se vê, infelizmente, são igrejas adotando, cada vez mais, o discurso da autoajuda. Não é difícil perceber que muitos dos sermões hodiernos enfatizam aquilo que podemos fazer para ser felizes ou bem-sucedidos. Assim, em vez de uma proclamação a respeito da obra redentora de Cristo Jesus, o que muitas vezes ouvimos são sermões paulocêntricos, pedrocêntricos, davicêntricos, onde a ênfase está em imitar o que fizeram os personagens bíblicos e não em confiar no Deus que os capacitou a realizar o que realizaram.

A Escritura não quer ensiná-lo a ter uma fé como a de Davi a fim de vencer seus gigantes. Em vez disso, ela o conclama a confiar no filho de Davi, Cristo Jesus. Se Davi, com uma pedrinha, venceu a Golias, imagine o que pode fazer a Rocha Eterna... Não, não é preciso imaginar. Basta olhar para as Escrituras e ver que ele já derrotou o pior dos gigantes, como escreveu Paulo: “Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (1Co 15.54-55).

Entender a incapacidade humana é essencial para confiarmos em Cristo. A lei nos foi dada exatamente para percebermos isso (nas palavras de Paulo, para que se cale toda a boca e todo mundo seja culpado diante de Deus – cf. Rm 3.19-20) e olharmos com fé para o único que pode nos salvar, por ter sido o único que pôde cumprir integralmente toda a lei.

Foi por achar que “eles podiam” que os judeus desconheceram a justiça de Deus e procuraram estabelecer sua própria justiça, não se sujeitando à que vem de Deus (Cf. Rm 10.1-4).

Não, você não pode! À parte de Cristo, ninguém pode. Tiago orienta: “Não vos enganeis, meus amados irmãos. Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança. Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas” (1.16-18).

A ênfase bíblica não é naquilo que podemos fazer, mas naquilo que Cristo fez em favor de pecadores, para a glória do Pai. O evangelho diz respeito a Jesus, seu poder, sua glória, sua honra!

Se você compreender corretamente isso, aí, sim, poderá afirmar como Paulo: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fl 4.13), mas, lembre-se, ele não se referia somente às boas coisas boas e às conquistas, mas em estar contente em toda e qualquer situação, humilhado ou honrado, com fartura ou com fome, na abundância ou escassez (conf. 4.10-12).

Confie sempre, naquele que é o Todo-Poderoso.

1 comentários:

Anônimo disse...

Muito bem observado. Se vivemos para o Senhor vivemos. Se morremos, para o Senhor morremos. Queira vivamos, queira morramos, somos do Senhor. Cf Rm 14.8
Ab
Simonton