No livro de Hebreus o autor faz uma belíssima afirmação sobre os patriarcas dizendo que “todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra” (11.13). As promessas, sabemos, diziam respeito ao Messias e a uma nova terra e eles estavam bem firmados nelas.
Foi fundamentado também nessas promessas que Paulo trabalhou pela expansão do reino de Deus mesmo em meio a tribulações, pois para ele o viver era Cristo, e o morrer, lucro. Mesmo sendo útil ao reino e sabendo que estava dando frutos, o apóstolo tinha convicção de que partir e estar com Cristo é incomparavelmente melhor (Fp 1.21-23).
Pedro, em sua epístola, exorta os irmãos a se absterem das paixões carnais, lembrando-os de que eram peregrinos e forasteiros neste mundo.
A igreja também sempre expressou, por meio de cânticos e hinos, a sua esperança no porvir: “O céu é um lindo lugar cheio de graça sem par, meu Jesus vou avistar, o céu é um lindo lugar”; “Lá está o meu tesouro, lá onde não há choro, onde todos cantaremos juntos, hinos de louvor ao Senhor”; “Este mundo jamais pode me separar dos valores celestiais que eu vou receber, meu tesouro e esperança estão no meu novo lar, sou herdeiro com Cristo, vou com ele morar”; “E quando a morte, enfim, me vier chamar, nos céus com o Senhor, irei morar! Então me alegrarei, perto de ti, meu Rei! Perto de ti, meu Rei, meu Deus, de ti! Amém.”; “Oh, pensai nesse lar lá do céu, nas gloriosas moradas de luz, onde os crentes felizes desfrutam da presença de Cristo Jesus”; são apenas alguns exemplos disso.
Entretanto, esse entendimento de que somos apenas peregrinos nessa terra e que enquanto aqui estamos vivemos para a glória do Senhor até que partamos para estar com ele ou que chegue o dia do seu retorno glorioso parece estar cada dia mais longe do pensamento de muitos cristãos.
Observando a teologia da prosperidade que enfatiza a alegria “aqui e agora” e os cânticos que reivindicam “meu milagre”, “minha vitória” e “minha honra diante dos meus adversários”, fica claro que muitos irmãos estão gostando cada dia mais deste mundo e, sendo assim, quanto mais tempo por aqui melhor. Cristo até faz parte dos pensamentos, mas não como o maior e mais precioso tesouro, e sim como uma espécie de “gênio da Bíblia maravilhosa” cuja única serventia é satisfazer os desejos para uma vida feliz neste mundo. A afirmação de Paulo de que “se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens” (1Co 15.19) deveria ressoar nos ouvidos desses crentes.
É claro que eu não estou aqui fazendo uma apologia da desgraça, insinuando que os crentes não podem ou não devem se alegrar nesta vida e ainda fazer o possível para abreviar sua vida a fim de estar logo com o Senhor. Não! Meu ponto é simplesmente o seguinte: Se ao pensar na morte ou no retorno de Cristo você se entristece por aquilo que vai perder deste mundo, deveria refletir profundamente a respeito do seu amor e devoção ao Salvador.
Uma história me ajuda a ilustrar isso. Quando eu era ainda membro da minha igreja de origem, andávamos em um grupo grande, com jovens e adolescentes de várias denominações. Todos os domingos, após o culto, saíamos juntos e conversávamos bastante. Num desses dias eu estava retornando para casa com uns amigos quando encontramos alguns adolescentes que na época deviam ter uns 13, 14 anos e conversavam sobre o futuro fazendo planos de como as coisas seriam quando se casassem. Depois de ouvi-los eu perguntei: “E se Jesus voltar antes?”, e com cara de frustação um deles respondeu: “Rapaz, não fala uma coisa dessas não!”.
A questão pode ser vista ainda por outro ângulo. Se ao pensar que irá um dia para o céu e a primeira coisa que vem à sua mente é o reencontro com queridos que já partiram, deve também repensar seu amor e estima por Cristo Jesus. Neste caso, a motivação primeira seria o reencontro com aqueles que foram importantes neste mundo, então, o mundo estaria também em primeiro lugar.
A exortação do apóstolo João deve estar em nosso coração: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procedo do mundo. Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente” (1Jo 2.15-17).
Gozemos, portanto, as bênçãos que o Senhor nos concede neste mundo, entretanto, sem nos esquecer de que elas nunca podem tomar o lugar do Redentor. Que possamos, de coração, cantar: “Vou à Pátria – eu, peregrino –, a viver eternamente com Jesus, que concedeu-me feliz destino quando, ferido, por mim morreu na cruz” (Hino 193 – Aspiração do céu – HNC).
Maranata! Vem, Senhor Jesus!