26 setembro 2018

Sobre política, idolatria e esperança

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Vivemos dias extremamente complicados. O Brasil parece querer reagir à agenda comunista colocada em prática pelo partido vermelho que não inventou a corrupção, mas elevou-a a índices nunca vistos “na história destepaiz”... Além disso, a moral e bons costumes nunca foram tão assolapados como nos últimos anos. Precisamos, de fato, extirpar esse câncer socialista (PT e suas ramificações) de nossa nação.

Por outro lado, vejo com muita preocupação a esperança praticamente messiânica que muitos tem depositado em Bolsonaro. Como qualquer idolatria, a idolatria política também cega. A despeito disso, é possível perceber quando se está incorrendo em idolatria. Se você peca em razão do que quer (a melhoria da nação), significa que esse bom desejo tomou o lugar de Jesus em seu coração e se transformou em um mau senhor, um ídolo, que o impele a pecar.

O resultado pode ser visto com muita tristeza. Além da evidente quebra do primeiro mandamento, ao buscar esperança fora do Redentor, é possível ver ainda mais.

Antes de me deter no “ainda mais”, preciso fazer uma ressalva. Pessoalmente creio que a ideologia de esquerda é anti-bíblica. A história está aí para demonstrar que a agenda marxista/comunista/socialista se opõe à fé cristã. Entretanto, para combater isso não estamos autorizados a pecar.

Há cristãos, por exemplo, quebrando o terceiro mandamento, que ordena não tomar o nome do Senhor em vão, quando retiram textos bíblicos do contexto para debochar dos que se assumem de esquerda (“O coração do sábio se inclina para o lado direito, mas o do estulto, para o da esquerda” – Ec 10.2). Eu nem precisaria dizer, mas é evidente que o texto não está tratando de ideologias políticas.

Hoje mesmo uma irmã que eu pastoreio me informou que em um grupo de uma igreja foram colocados dois textos bíblicos, um relatando que Jair foi um juiz de Israel e outro que Hadade foi um inimigo de Israel. Esta forma de usar a Palavra de Deus é pecaminosa e quebra flagrantemente o terceiro mandamento.

Aqui eu preciso explicar aos que me leem e não são presbiterianos a razão da minha afirmação. Como pastor presbiteriano reconheço e subscrevo a Confissão de Fé de Westminster e seus catecismos Maior e Breve como uma fiel exposição doutrinária. Em minha ordenação ao pastorado fiz votos diante do presbitério de que serial fiel a esta subscrição.

Dito isso, na resposta à pergunta 112 do Catecismo Maior, “O que exige o terceiro mandamento”, temos: “O terceiro mandamento exige que o nome de Deus, os seus títulos, atributos, ordenanças, a Palavra [...] e tudo quanto pelo que Deus se faz conhecer, sejam santa e reverentemente usados em nossos pensamentos, meditações, palavras e escritos [...] para a glória de Deus e para o nosso bem e o do nosso próximo”. Na resposta à pergunta 113, “Quais são os pecados proibidos no terceiro mandamento?”, temos ainda: “não usar o nome de Deus como nos é exigido e o abuso dele [...] a má interpretação, a má aplicação ou qualquer perversão da Palavra, ou de qualquer parte dela [...]”. Não me tenha, então, como um piegas, mas como alguém que tenta ser fiel aos votos proferidos diante do Senhor.

Além disso, há quebra do nono mandamento, “não dirás falso testemunho”, no compartilhamento de notícias falsas a respeito dos adversários políticos. Não é coerente acusá-los de perverter a verdade enquanto não se tem a mínima disposição em dar uma “googlada” para conferir notícias que depreciam outros, só porque são referentes a opositores.

Temos ainda a quebra de outros mandamentos quando ofensas são proferidas contra eleitores de esquerda, numa demonstração de que se alguém não entende os claros argumentos que demonstram o quão errada é esta ideologia e se atreve a votar nesse tipo de partido é “digno” de ser xingado e esculhambado publicamente.

Como afirmei, um dos indícios da idolatria é o pecado a fim de conseguir o que se deseja. Falsos deuses estão o tempo todo tentando concorrer com o Senhor de toda a glória por nossos corações. Não escrevo isso como alguém que está isento de todos esses pecados. Já confessei ao Senhor que muitas vezes me irei e falei mal de pessoas por conta de sua opção política, pois, por mais que eu tenha o direito de achar incoerente um cristão ser marxista/comunista/socialista, não posso pecar por conta disso.

Não entenda que este texto procura ser isento. Penso que um cristão precisa se posicionar contra os inimigos da fé, como é a ideologia de esquerda. Se não temos representantes protestantes, que creem em Jesus “como diz a Escritura” (Jo 7.38), como opção de voto, é dever votar naqueles que, ainda que não sejam crentes no Senhor, moralmente estejam mais próximos daquilo que entendemos ser o correto. É bom lembrar que Paulo afirmou que, por vezes, “os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei” (Rm 2.14a) e “mostram a norma da lei gravada no seu coração” (Rm 2.15a). O pecado desfigurou, mas não eliminou a imagem de Deus da vida do pecador.

Por fim, é preciso votar de forma coerente com a nossa fé, sem nunca esquecer que o socorro não vem do Planalto, mas do Senhor. Ainda que um candidato conservador seja eleito (e creio que precisamos orar por isso) esta não é a solução para a nossa nação. Concordo integralmente com Lloyd-Jones ao afirmar que:

As épocas mais grandiosas da história da Inglaterra, e de outros países, sempre foram os anos que se seguiram a um despertamento religioso, a um avivamento da religião verdadeira. O tom moral da sociedade se elevou nesses períodos; mesmo os que não se tornaram cristãos foram influenciados e afetados pelo avivamento.

Noutras palavras, não há esperança de tratamento dos problemas morais da sociedade, a não ser em termos do evangelho de Cristo. O que é direito jamais será estabelecido se não houver vida piedosa; mas quando as pessoas se tornam confiantes em Deus, começam a aplicar os seus princípios o tempo todo, e a justiça é vista na nação em geral. Contudo, infelizmente, temos que encarar o fato de que, por alguma razão, este aspecto da questão tem sido tristemente negligenciado no presente século (Criando filhos – o modo de Deus).

A esperança está somente no Bendito Filho de Deus, o Redentor da Igreja. Se sua esperança está em Cristo, você estará satisfeito, seguro e grato, ainda que a esquerda continue no poder (Fp 4.11-13). Contudo, se a sua esperança está na mudança de governo, ela tem prazo de validade. Vai durar até o candidato que você gostaria de ver eleito seja derrotado ou até que ele, eleito, contrarie algo que o seu coração está ansiando fora de Cristo. A esperança em ídolos é vã!

Deus nos livre de fazer escolhas erradas ou de confiar que a solução para a nossa nação está apenas em fazer a escolha certa em relação aos governantes. Que confiemos plenamente em Cristo e em seu governo soberano!