17 dezembro 2016

10 anos, muita gratidão!

Cerimônia de posse em 2007Hoje, 17 de dezembro, é um dia importante para mim. Não, não estou me referindo à comemoração do Dia do Pastor Presbiteriano, data em que foi ordenado o primeiro pastor presbiteriano brasileiro, Rev. José Manoel da Conceição, em 1865.

Minha alegria e gratidão se dão porque completaram-se 10 anos desde o meu primeiro sermão como pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil em Praia do Canto.

O tempo passou acelerado! Olhando para trás é fácil constatar a veracidade das palavras de Salomão, “tudo passa rapidamente, e nós voamos” (Sl 90.10).

Quando cheguei éramos apenas eu e Poliana e agora já temos dois filhos amados, herança do Senhor, e podemos perceber o carinho dos irmãos com nossa família, pelo que sou extremamente grato.

Nestes anos vi irmãos saindo da igreja, mudando de cidade, tive de me despedir de irmãos que partiram para estar com o Senhor. Houve um momento em que pensei até que não nos manteríamos como igreja, pois as dificuldades eram grandes. Entretanto, com isso, vi irmãos chegarem para a igreja, outros se convertendo, pude ver irmãos se casando e formando suas famílias. Quando cheguei tínhamos uma ou duas crianças de até 4 anos na igreja, e hoje temos várias delas aprendendo a cultuar ao Redentor conosco.

Posso afirmar com toda a convicção do meu coração: “Até aqui nos ajudou o Senhor” (1Sm 7.12) e estar certo de que o Senhor continuará a sustentar nossa igreja enquanto permanecermos fiéis à sua Palavra, que é a lâmpada para os nossos pés e a luz para o nosso caminho (Cf. Sl 119.105).

Quando cheguei, para um mandato de dois anos, não tinha a menor ideia de quanto tempo eu estaria por aqui. Depois fui eleito para um mandato de mais três anos. Ao fim desse tempo, eu considerei seriamente a minha saída visto que, após várias lutas, a igreja estava em paz e, na minha cabeça, um novo pastor poderia trazer novo ânimo.

Conversando com um amigo, após ele ouvir as razões alegadas por mim para ir embora, fui confrontado a respeito das minhas motivações e ouvi: “A igreja não anda no seu tempo. Faça o seu trabalho fielmente e confie em Deus”. A partir de então, meu coração não sossegava. Junto com isso, o paciente Conselho, na época, disse que não procuraria novo pastor até que eu estivesse com novo campo definido.

Em conversa com minha esposa e em oração diante de Deus decidi, então, permanecer e fui designado como pastor efetivo pelo presbitério no ano de 2012, sendo eleito nesse ano para mais um mandato de dois anos. Em 2014 a Assembleia da igreja me conduziu novamente ao pastorado para um mandato de mais 3 anos, que se encerrará no fim do próximo ano. Posso dizer, com certeza, que a decisão de ficar foi a melhor que eu podia ter tomado e não me arrependo um momento sequer de ter permanecido.

2015 - dia do pastorAgradeço ao Senhor tudo o que ocorreu nestes últimos cinco anos, cada pessoa que por aqui passou e aqueles que permanecem até hoje. Apesar de todas as minhas limitações e falhas, tenho procurado ser zeloso no pastoreio da igreja e o meu amor pelos irmãos da IPBPC aumenta a cada dia. Sou grato por me escolherem para pastoreá-los, apesar de mim.

 

Este mês completei também 14 anos de ordenação ao ministério da Palavra e dos Sacramentos, mas estes 10 últimos, certamente, foram os anos em que mais cresci e aprendi diante de Deus sobre a forma como devo me portar diante da Igreja que é dele, da qual sou um mero pastor auxiliar do Supremo Pastor de nossas almas.

Agradeço a Deus os presbíteros que comigo têm pastoreado a igreja nestes anos. É bom contar com a amizade de cada um de vocês.

Agradeço a Deus, principalmente, minha esposa Poliana, instrumento de Deus na minha vida para auxílio, tanto no lar, quanto no meu trabalho. É bom ter você ao meu lado, apesar de muitas vezes eu ser cabeça dura e não considerar, de imediato, suas ponderações. Certamente estes anos seriam mais difíceis sem o seu apoio. Amo você!

Aos amados irmãos, a quem tenho o privilégio de servir como pastor, só tenho a repetir: amo vocês. Deus seja louvado.

 

*Foto 1: Cerimônia de posse em janeiro de 2007.

*Foto 2: Comemoração dos aniversariantes do trimestre e do dia do pastor, 2015.

10 dezembro 2016

O seu melhor não é o suficiente!

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Ao ler o título acima talvez você tenha pensado que ele não é muito motivador. Talvez tenha passado por sua cabeça que ele até diminui a auto estima de quem está lendo, principalmente nos dias politicamente corretos em que vivemos, onde até mesmo aqueles que não desempenham bem suas funções ou tarefas acabam sendo premiados. Nossa sociedade está criando uma geração de melindrosos que não admite reconhecer suas limitações.

Lembro que na minha infância, para se ganhar uma medalha nos esportes era preciso treinar bastante e ser o melhor. Nos dias de hoje, basta a participação. Todos ganham medalhas, do primeiro ao último colocados. Até mesmo a forma de se expressar a respeito da derrota tem mudado. Recentemente tive de explicar para minha filha que numa disputa de duas pessoas não se “ganha em segundo lugar”.

Se hoje se premia os que não são melhores, imagine então dizer que o seu melhor não é o suficiente. Entendo sua possível estranheza com o título, então, deixe-me explicar melhor a minha afirmação.

Dia desses, conversando com um amigo, ele me disse em relação à sua vida profissional: “Não entendo o que está acontecendo. Não sei o que Deus está querendo. Estou fazendo o meu melhor, mas as coisas não andam”.

Na mesma hora pensei no que está registrado no Salmo 127.1: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela”. Creio que Salomão aponta aqui para dois aspectos. O primeiro é a tônica do livro de Eclesiastes. Penso que o Salmo resume muito bem o livro de Eclesiastes, também escrito por Salomão, que é o fato de que à parte do Senhor tudo é vão. Daí ele afirmar no segundo versículo do Salmo: “Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeastes”. Note que o pão foi ganhado, mas na visão de Salomão, sem uma vida na presença do Senhor tudo é inútil, entretanto, “aos seus amados ele o dá [o pão] enquanto dormem”.

É o Senhor que dá sentido e significado à vida do homem que foi criado para exaltar sua majestade e glória. Daí Paulo ordenar aos Coríntios, “quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (1Co 10.31). Nessa perspectiva, Salomão também diz no livro de Eclesiastes: “Nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua alma goze o bem do seu trabalho. No entanto, vi também que isto vem da mão de Deus, pois, separado deste, quem pode comer ou quem pode alegrar-se?” (Ec 2.24-25).

Mas o segundo aspecto que penso estar sendo descrito por Salomão no Salmo 127 é o que está destacado no título desta pastoral, o fato de que ainda que você faça o seu melhor, se Deus não estiver no processo, de nada adiantará. Isso aponta para a dependência de Deus.

Pense novamente nos primeiros versículos do Salmo. Salomão não está dispensando os trabalhadores que edificam a casa ou a sentinela que vigia a cidade. O ensino aqui é sobre não confiar em si mesmo ou presumir que basta somente fazer o seu trabalho bem feito que as coisas acontecerão. Se o Senhor não edificar a casa e não guardar a cidade, não adianta o trabalho bem feito dos edificadores ou da sentinela. É o Senhor quem edifica a casa e guarda a cidade e ele faz isso por meio do trabalho dos edificadores e da sentinela.

De novo, isso aponta para a dependência que se deve ter de Deus e implica fazer muito bem o seu trabalho, sem nunca se enganar, sabendo que “toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em que não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tg 1.17).

Aqueles que se esquecem desta verdade e atribuem seus feitos e conquistas à sua própria capacidade, roubam a glória de Deus e se entenderão com ele. Um bom exemplo disso está em Isaías 10, onde temos a profecia do Senhor contra a Assíria. Deus iria enviar a Assíria contra Israel. Ela seria o cetro da ira de Deus e a vara em sua mão o instrumento do furor do Senhor a fim de castigar os pecados do seu povo. Entretanto, na cabeça do rei da Assíria ele estaria fazendo isso por conta de seu grande poder e força.

Deus, então, decreta: “por isso, acontecerá que, havendo o Senhor acabado sua obra no monte Sião e em Jerusalém, então, castigará a arrogância do coração do rei da Assíria e a desmedida altivez dos seus olhos; porquanto o rei disse: Com o poder da minha mão, fiz isto, e com a minha sabedoria, porque sou inteligente; [...] Porventura, gloriar-se-á o machado contra o que corta com ele? Ou presumirá a serra contra o que a maneja? Seria isso como se a vara brandisse os que a levantam ou o bastão levantasse a quem não é pau” (Is 10.12,13,15).

Diante de tudo isso, tenha em mente que você deve sempre fazer o seu melhor, com os dons e talentos que tem, para a glória do Deus que concedeu tal capacidade. Depois disso, não coloque a confiança do seu coração no que fez, mas no Senhor que leva a cabo tudo o que ele quer fazer, na hora que ele quer fazer. Isso te fará descansar em seu sábio e soberano governo. Por fim, não esqueça de tributar ao Senhor a glória devida, quando ele abençoar o trabalho de suas mãos.

O seu melhor não é o suficiente! Ele deve vir acompanhado de um profundo senso de dependência, submissão, gratidão e louvor ao Deus que faz todas as coisas por meio de Jesus Cristo (o melhor de Deus para nós), segundo sua própria vontade, usando instrumentos frágeis como eu e você, para a glória e louvor dele mesmo.

02 dezembro 2016

A morte, a vida e a hipocrisia de muitos

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A terça-feira começou com uma triste notícia. O avião que levava a delegação da Chapecoense, time do sul do país, que seguia para Medelín a fim de tentar um feito memorável, a conquista da Copa Sul-Americana, caiu a poucos quilômetros da capital da Colômbia pondo fim ao sonho do título e dando início a um terrível pesadelo para os familiares dos jogadores, comissão técnica e jornalistas que seguiam junto.

A comoção foi grande. Homenagens e mensagens de apoio podiam ser vistas durantes todo o dia na rede mundial de computadores e mais evidentemente nas redes sociais.

Nunca nos acostumaremos com a morte. Por mais que saibamos que este é o fim de todos os homens, pois “aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo” (Hb 9.27), a dor da separação é grande e sempre sentida. Prova é que o Brasil e o mundo juntaram-se aos familiares das vítimas na tristeza por tão grande tragédia, a morte de 71 pessoas em um dos momentos mais alegres na vida da maioria delas. Para piorar, houve rumores de que o problema da aeronave foi falta de combustível, o que aumentou a revolta de muitos, pois pensando apenas em si mesmo e no lucro com a economia, o dono da aeronave teria causado a morte de tantos outros.

Inacreditavelmente, enquanto o país guardava luto por conta da tragédia que ceifou vidas, na noite da mesma terça-feira o STF decidiu de que a prática do aborto nos três primeiros meses de gestação não é crime. Por mais que seja uma decisão a respeito de um caso específico, o entendimento do STF pode se tornar norma para outras instâncias.

Aborto é assassinato, é a quebra do sexto mandamento. A tragédia com a delegação da Chapecoense foi terrível, mas o que aqueles que deveriam ser os guardiões da justiça do país fez é ainda mais. Suas mãos estão cheias de sangue.

Triste é saber que muitos dos que disseram estar tristes por conta da morte dos jogadores acabam apoiando o assassinato de uma vida indefesa. Sim, uma VIDA indefesa. Por mais que este mundo sem Deus discuta a respeito de quanto começa a vida, Davi, ao registrar a Palavra inerrante do Senhor, afirma: “Pois tu formaste o meu interior, tu me teceste no seio de minha mãe. Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; [...] Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda” (Sl 139.13,14a,16).

Os argumentos pró-aborto são ainda mais tristes, exatamente por serem tão tolos. A começar, por exemplo, pelo voto do ministro Barroso ao afirmar que criminalizar o aborto até o terceiro mês de gestação viola direitos fundamentais da mulher, como o da igualdade de gênero, pois “é a mulher que engravida, somente haverá igualdade plena se a ela for reconhecido o direito de decidir acerca da sua manutenção ou não”.

Pense em quão ridículo é esse argumento. É óbvio que homens e mulheres são diferentes. Se não querem levar em conta as funções dadas a cada um deles pelo Criador (vide Gn 1 e 2), alegando que o estado é laico, basta somente considerar a anatomia. Um tem útero e o outro não. Partindo do “entendimento” do ministro, daqui a pouco teremos homens entrando com processo contra sei lá quem, alegando a discriminação que é o fato de eles não poderem gerar um bebê. Os direitos têm de ser iguais, ora bolas!

Maternidade é um privilégio do Deus bendito, privilégio que leva o salmista a louvar àquele que milagrosamente “faz com que a mulher estéril via em família e seja alegre mãe de filhos” (Sl 113.9) e que fez de Maria uma bem-aventurada ao ter em seu ventre o Salvador, Jesus Cristo!

Mais ainda, se a mulher tem o direito de “interromper a gravidez”, será dado o mesmo direito aos pais (homens, para ficar bem claro), a saber, pedir que uma mulher assassine o filho, ainda que queira tê-lo, afinal, ela não o fez sozinho e ele não está disposto a ser pai? Será preservado aqui o princípio de “igualdade plena”? Faça-me o favor.

O que dizer ainda do argumento de que a mulher tem direito de fazer o que bem entender com seu corpo? Creio que quase podemos concordar com isso. Entretanto, em se tratando do fruto que está em seu ventre, o argumento se esvai, a não ser que se prove, cientificamente, que um ser humano tenha dois corações, quatro pulmões, etc. Continua, então, valendo a lei do Soberano Legislador: “Não matarás” (Ex 20.13)!

A vida humana, por se tratar da imagem de Deus, é preciosa. É o ser imagem de Deus que confere dignidade aos humanos e os diferencia de animais, esses, ironicamente, com leis que os protegem da morte, sendo colocados, na prática, numa categoria acima do homem. Vi numa rede social uma mesma pessoa que lamentava a lei sobre a vaquejada ao mesmo tempo em que se alegrava com a descriminalização do aborto. Como diz uma música secular, “o mundo está ao contrário e ninguém reparou”.

Alguns tentam ainda apelar para a Bíblia, tentando provar que a vida da mãe é mais importante que a do feto, logo, entre o bem-estar psicológico de uma mãe que não teria condições de assumir um filho e o “feto”, a dignidade da mãe é mais importante.

O texto usado é, geralmente, Êxodo 21.22-26, que diz que se dois homens brigando ferirem uma grávida sendo causa de que ela aborte, sem maior dano, quem a feriu deveria indenizar o que fosse exigido pelo marido. Mas se houvesse maior dano, então aquele que matou deveria ser morto. A questão reside em interpretar o que seria o “maior dano”. Na cabeça de muitos a ideia do texto é que se só o “feto” morresse deveria haver indenização, mas se a mulher também morresse, ou seja, se houvesse maior dano, deveria haver pena de morte.

Entretanto, não é essa a ideia do texto. Tudo ali gira em torno do bebê no ventre. O texto hebraico literalmente diz “e a criança sair” o que a NVI traduziu acertadamente como “ela der à luz prematuramente” (Ex 21.22). Então, a ideia é de que se dois homens brigarem e ferirem uma mulher grávida sendo essa a causa de a criança sair (prematuramente) sem maior dano, ou seja, viver, será paga uma indenização, mas se houve maior dano, a saber, a morte da criança que nasceu prematuramente, será aplicada a pena capital sobre aquele que causou a morte.

O que causa o problema de interpretação é que a palavra aborto, para muitos, remete somente à morte de um bebê na barriga, mas ela é usada em relação a um parto fora do tempo normal, ou seja, uma gravidez que foi abortada. A tradução Revista e Corrigida de Almeida usa o termo em relação a Paulo, quando ele diz que era um apóstolo “abortivo”, que a nossa versão traduz como “nascido fora do tempo”.

O texto, então, em vez de apontar para a maior dignidade da mulher em relação ao feto, os iguala, pois a pena capital era aplicada em casos de assassinato daqueles que são a imagem de Deus (Gn 9.6). É exatamente isso que o aborto é, repito, um assassinato.

Aqueles que se iraram com o rumor de que o egoísmo de uma pessoa que queria lucrar mais foi a causa da morte de tantas pessoas naquele voo, mas que defendem mulheres que pensam somente em si, não ligando se vão tirar outra vida ao abortar são incoerentes e hipócritas, pois a razão é a mesma: egoísmo. É preciso parar para pensar!

A igreja precisa estar bem firmada na Escritura a fim de não se deixar levar por discursos que tentam desumanizar aqueles que estão no ventre e deve lutar para protege-los, ao mesmo tempo em que prega fielmente a fim de que o Salvador, Cristo Jesus, salve e convença aqueles que são propensos ao assassinato de inocentes de seu erro.

26 novembro 2016

O pior genocida da história

CARTAZ_ERMIDA_3A manhã deste sábado começou com a notícia da morte de Fidel Castro. Castro foi um ditador terrível, responsável por milhares de mortes e extermínios em seu país, além de perseguir arduamente aqueles que se opunham ao seu governo.

Enquanto grande parte (ou maioria) da mídia, vendida à ideologia de esquerda, tenta exaltar “um dos mais importantes políticos contemporâneos” noticiando que “grande parte da população de Havana está triste”, as redes sociais e mídia independente comemoram e enfatizam que “cubanos que vivem em Miami comemoram a morte de Castro”.

Essas polarizações, evidentemente, são reflexo de posições políticas, mas independente da verdade de que Castro foi um cruel assassino (deixando clara a minha posição), o que me espanta é a forma como cristãos estão lidando com a notícia, comemorando e afirmando que ele “foi para o inferno”, “está agora sentado no colo do capeta”, dentre outras coisas mais.

Para complicar ainda mais, na mesma manhã foi também divulgada abundantemente a morte de um servo fiel do Senhor, que muito contribuiu com o Evangelho em nossa pátria, o Pr. Russel Shedd, que deixa um importante legado.

É óbvio que também não faltaram as comparações a respeito do destino eterno de ambos e é aí, que para mim, as coisas começam a ficar mais complicadas, pois em vez de se assemelhar ao Senhor que disse por meio de Ezequiel: “Acaso, tenho eu prazer na morte do perverso? – diz o Senhor Deus; não desejo eu, antes, que ele se converta dos seus caminhos e viva?” (18.23), parecem-se mais com o profeta Jonas que, diante da graça de Deus na salvação da ímpia nação Nínive, desgostou-se extremamente e ficou irado. E orou ao Senhor e disse: Ah! Senhor! Não foi isso o que eu disse, estando ainda na minha terra? Por isso me adiantei fugindo para Tarsis, pois sabias que és Deus clemente, e misericordioso, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e que te arrependes do mal (Jn 1-2).

Calma, não se apresse em entender que estou insinuando a salvação de Fidel, óbvio que não. A comparação foi apenas para demonstrar que Deus é clemente, misericordioso, tardio em irar-se e benigno, enquanto Jonas não, talvez como eu e você.

Não tenho dúvidas de que não devo e não posso afirmar que um ímpio, com um histórico tão terrível como Castro, foi para o céu, mas o oposto também é verdadeiro, pois não temos todos os fatos diante de nós. A história do ladrão na cruz demonstra que a salvação pode se dar instantes antes da morte, bastando o Soberano assim querer.

Deixe-me, então, falar um pouco sobre o maior genocida da história. Se você achou que no título eu me referia a Fidel, que em termos de maldade ainda perde para Hitler, Stalin e alguns outros, errou. Estou me referindo a nosso pai Adão, aquele que (ainda que avisado por Deus) por causa de sua desobediência morreu e lançou toda a sua posteridade na morte, colocando-os sob a justa ira do Senhor (Rm 5.12).

Entretanto, apesar de tamanho pecado, o Senhor se compadeceu dele. Em Gênesis você pode conferir que o Senhor providenciou redenção por meio daquele que viria da mulher (Gn 3.15). O que Fidel Castro fez não tem comparação perto daquilo que fez Adão. Inclusive, Fidel o fez porque já nasceu morto em seus delitos e pecados, condição que nossa teologia chama de “depravação total”, e que foi consequência sobre ele, sobre mim e sobre você da escolha de Adão, que ainda estava vivo quando se opôs a Deus.

É aí que a história fica boa! Paulo, depois de afirmar aos Romanos que todos estão mortos por causa de Adão, explicou um pouco mais:

“Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos (Rm 5.18-19).

Aqueles que são cristãos conhecem o texto e, mais ainda, já experimentaram a graça e sabem que Deus é poderoso para salvar pecadores. Talvez o que tenham esquecido é que a condição de Castro diante de Deus era a mesma que a nossa: condenação. Nossas obras não são melhores que as dele e não é por causa delas que seremos salvos, mas pela obra de Cristo! “Assim, pois,” – como também afirmou Paulo – [a salvação] “não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Rm 9.16)

Talvez um outro fator para a comemoração dos cristãos seja a ilusão de que o mundo estará melhor sem Fidel. O mundo não estará melhor porque mais um ditador morreu, ainda que possa haver certo alívio para aqueles que sofreram sob suas mãos. A redenção e melhora do mundo não se dão por causa daqueles que morrem, mas por causa daquele que vive eternamente, Jesus Cristo, o supremo Soberano.

Para os que foram redimidos e estão em Cristo, a vida sempre terá sentido e alegria verdadeira, ainda que sob circunstâncias adversas, pois as palavras do profeta ainda ecoam e continuam sendo verdadeiras:

"Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha salvação. O Senhor Deus é a minha fortaleza, e faz os meus pés como os da corça, e me faz andar altaneiramente" (Hc 3.17–19).

A graça de Deus alcançou o maior genocida da história, Adão. Ela alcançou o mentiroso Jacó, o adúltero e assassino Davi, o perseguidor e assassino de cristãos Paulo e até mesmo a mim. Algo maravilhoso sobre a graça é que ela é realmente graça! Ela alcança os piores pecadores, pois onde abundou o pecado, superabundou a graça de Cristo.

Quanto ao destino eterno de Fidel, é impossível saber e temerário especular. Entretanto, cuidemos para não negar a maravilhosa doutrina da salvação pela graça por conta de julgamentos que não somos autorizados a fazer. Como diz um hino antigo, a maravilhosa graça “é maior que a minha vida inútil, é maior que o meu pecado vil”. Certamente é também maior que os piores e mais terríveis pecadores.

Levando isso em conta, oremos para que aqueles que sofreram sob seu governo e que estão aliviados com sua morte arrependam-se também de seus pecados e se rendam ao único que pode conceder alívio e alegria verdadeira e duradouramente.

20 outubro 2016

Nem grilo falante, nem muro das lamentações

Israel Adventures. Jerusalem. Matan

Uma piada antiga conta que um médico do interior enviou seu filho a fim de cursar medicina na capital. Após um logo tempo de estudo o jovem retornou para assumir a clínica do pai, que havia se aposentado. O primeiro paciente entrou e ele soube que o cliente já se consultava com o seu pai há 10 anos. O jovem doutor o examinou, prescreveu o remédio e com poucas semanas o paciente já estava bom, muito grato e não poupando elogios ao novo doutor. O jovem médico, então, foi visitar o pai e disse: Meu pai, já estava em tempo mesmo de o senhor se aposentar. A medicina avançou muito e aquele paciente que o sr. já tratava há dez anos ficou curado em três semanas com o tratamento que prescrevi. O velho médico olhou bem para o filho e exclamou: Pois é, meu filho, mas foi o dinheiro desses dez anos de consultas que ajudou a pagar o seu curso de medicina...

Pensando já na vida real, não são poucos os casos de pessoas que, ao enfrentar problemas existenciais, recebem junto com o “diagnóstico” a notícia, pelo especialista, de que o tratamento terá de ser bem longo (muitas vezes, “coincidentemente”, durando o mesmo tempo das prestações a serem pagas pelos profissionais). É claro que aqui, não posso ser leviano. Mesmo discordando das abordagens seculares, tenho plena consciência de que há muitos terapeutas que estão mais preocupados com os pacientes que com as parcelas a vencer e levam seu trabalho a sério. Sei também que a questão de “manter o cliente” não é uma prerrogativa de conselheiros seculares. Por várias razões, incluindo finanças, no caso daqueles que cobram para aconselhar (tenho aqui minhas críticas a essa prática, mas isso é assunto para outro post), desejo de ser reconhecido, ouvido, considerado, etc., conselheiros bíblicos podem cair na tentação de se tornar uma espécie de “Grilo Falante gospel”.

Você deve conhecer o Grilo Falante, ele é o amigo do Pinóquio, um boneco de pau que se tornou um menino, e age como sua consciência, tentando livrar o garoto de problemas. Curiosamente, enquanto eu escrevia fui buscar saber um pouco mais sobre a personagem que eu já conhecia e descobri que vários sites trazem a informação de que o nome do grilo, em inglês Jiminy Cricket, inicialmente era apenas um eufemismo para Jesus Christ. Essa nova informação torna minha ilustração ainda mais precisa, pois é isso que muitos conselheiros acabam tentando fazer, servir eles mesmos de redentores dos aconselhados.

Em meu ministério encontrei alguns aconselhados que foram uma tentação para que eu começasse a agir assim. Um, especificamente, me ligava a cada decisão que tinha de tomar. Em princípio até me senti importante, já que alguém estava considerando minhas “opiniões” a fim de tomar decisões em sua vida. De repente começaram as ligações tarde da noite ou durante os períodos em que eu estava me exercitando fisicamente, também na hora em que eu estava almoçando e em vários outros momentos do dia, para perguntar sobre as coisas mais simples.

É claro que tive de conversar e explicar que o objetivo do aconselhamento era que, diante do Senhor, ele pudesse tomar, por si mesmo, decisões que honrassem ao Redentor. Conselheiros devem estar bem cientes de que seus dons, assim como os demais dons concedidos pelo Senhor, têm por finalidade o “aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para o outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” (Ef 4.12-14).

A ideia é que o aconselhado dependa de Cristo, não do conselheiro, e para que isso aconteça as tarefas são de essencial importância no processo de aconselhamento bíblico. Conselheiros devem ouvir as histórias, os dilemas, buscar e apontar nas Escrituras a forma como os aconselhados podem e devem responder biblicamente às diversas circunstâncias de suas vidas e providenciar tarefas criativas para que eles coloquem em prática o que estão aprendendo e comecem a crescer em graça, sempre na dependência de Deus, aquele que efetua nos crentes o querer e o realizar conforme sua boa vontade (Fp 2.13), por meio de seu Filho Jesus Cristo, que afirmou: “Quem permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer (Jo 15.5).

Quando isso não ocorre há outro perigo para os conselheiros que é o de se tornarem nada mais que um “muro de lamentações dos pecados alheios”. Funciona mais ou menos assim, os aconselhados vêm para o aconselhamento, contam suas crises, seus pecados, choram, ouvem alguma exortação e/ou esperança que flui do evangelho, recebem suas tarefas, não as fazem, não buscam crescer em graça e pensar biblicamente, mas sempre retornam ao conselheiro a fim de tentar aliviar a culpa do pecado ou o peso sentido em meio aos dilemas da vida, por meio de um mero desabafar ou de um “pôr tudo para fora”.

Com Maísa (nome fictício) aconteceu exatamente assim. Apesar do prévio combinado, de que se ela não realizasse as tarefas não haveria como seguir como aconselhamento, por algumas vezes acabei transigindo com sua falta de compromisso, achando que conseguiria ajuda-la, mesmo ela tendo deixado de fazer uma tarefa simples como voltar a frequentar regularmente a sua igreja. Quando entendi que ela não queria levar a sério o compromisso com o corpo de Cristo, mas somente ter alguém para desabafar, não tive outra opção a não ser encerrar os encontros para aconselhamento. O princípio exposto em Provérbios 21.25 cabe muito bem aqui, “o preguiçoso morre desejando, porque as suas mãos recusam a trabalhar”. Nunca haverá resultado na passividade (ou preguiça) dos aconselhados, pois a piedade é algo que deve ser exercitado e que exige esforço (1Tm 4.7; At 24.16). É bom lembrar que no Salmo 1 a promessa de ser bem-sucedido é em tudo o que o justo “faz” (1.3).

Você pode ser uma bênção aconselhando seus irmãos sendo usado, pela graça de Deus, para exortar, confortar, animar, apontar caminhos, dar esperança, mas sem nunca querer tomar o lugar do Redentor, quer seja nas decisões que os aconselhados devem tomar, quer seja no alívio paliativo, ao simplesmente servir como uma boa pessoa com quem desabafar.

Lembre-se sempre disso: conselheiros não são chamados para ser um Grilo falante, tampouco um muro das lamentações, mas, nas palavras de Paul Tripp, simples “instrumentos nas mãos do Redentor: pessoas que precisam ser transformadas ajudando pessoas que precisam de transformação”. Que o Senhor Jesus Cristo, o Maravilhoso Conselheiro, use nossa vida para a sua própria glória.

29 setembro 2016

Cães de família?

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Cachorros não são da família! Sei que começar o texto com uma afirmação tão categórica assim pode fazer com que alguns não queiram nem perder tempo com “este insensível que não gosta de animais”. Quase consigo ouvir alguns recitarem bem alto: “O justo atenta para a vida dos seus animais, mas o coração dos perversos é cruel” (Pv 12.10), entretanto, peço que não seja tão apressado em seu julgamento, mas que “caminhe” comigo um pouco mais.

Antes de continuar preciso insistir, cachorros não são da família. Nem gatos, papagaios, iguanas, ou qualquer outro animal que seja. Dito isso, pense um pouco comigo a respeito desse assunto e, claro, como cristãos, por uma perspectiva bíblica.

Gênesis é o livro que narra a criação. Você pode perceber nos dias criativos como o Senhor vai estabelecendo a sua obra. Ele cria céus e terra, ordena que haja luz, que haja firmamento no meio das águas, ordena que as águas debaixo do céu se ajuntem num só lugar e apareça a porção seca, ordena que a terra produza relva, ervas, árvores frutíferas, etc. e que haja luzeiros para governar o dia e a noite. Após criar todas essas coisas e um ambiente que pudesse ser habitado, o Senhor começa a criar os animais. Ele ordena que se povoem as águas de seres viventes, que voem as aves sobre a terra, cria os animais marinhos, além de todos os seres viventes cada qual segundo a sua espécie. Tudo isso segundo o poder de sua Palavra, ele ordenou e assim se fez (Cf. Gn 1.1-25).

Somente após isso o Senhor criou o homem e foi uma criação diferenciada. Não foi como a dos animais, pois o homem não é daquela espécie. O Senhor não criou animais irracionais e um animal racional, Deus criou animais e o homem, segundo sua própria imagem e conforme sua própria semelhança. Em Gênesis 1.26-28, temos a deliberação, criação e bênção sobre o homem a fim de fazer aquilo para o qual foi criado: multiplicar-se, encher a terra, sujeitar a terra, dominar sobre os peixes do mar, as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra. Tudo isso para que a terra fosse povoada com aqueles que são a imagem do Senhor e para que, cuidando da criação, o homem pudesse espelhar aspectos do caráter do Criador.

Se eu parasse aqui já daria para perceber a diferença gritante entre um homem e um animal. Diferença qualitativa que é enfatizada por Jesus quando, ao ensinar a seus discípulos, ordenou que eles olhassem as aves do céu que, a despeito de não semear e colher, eram alvo do providencial cuidado do Pai que as sustentava e perguntou: “Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves?” (Mt 6.26).

Sim, os homens são diferentes e qualitativamente superiores aos animais o que pode ser notado ainda em Gênesis. Caminhemos mais um pouco. No segundo capítulo percebemos que o homem foi formado primeiro. Deus o fez do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego de vida. Colocou-o no jardim para cultivá-lo e guardá-lo, dando uma ordem expressa para que não tomasse do fruto do conhecimento do bem e do mal (Gn 2.4-17).

É interessante notar que o Senhor afirma que não era bom para o homem estar só. Perceba bem, a despeito de Adão estar cercado de todas as espécies de animais, aos quais ele mesmo deu nome, “para o homem, todavia, não se achava uma auxiliadora que lhe fosse idônea” (Gn 2.18-20). Ele tinha consigo muitos animais, mas não tinha uma família. Deus não lhe deu animais por família, mas esta se formaria a partir do momento em que o Senhor, da costela (mesma espécie) de Adão, lhe trouxesse uma mulher que, segundo as próprias palavras de nosso primeiro pai era, afinal, “osso dos meus ossos e carne da minha carne” (Gn 2.23).

Foi somente após a queda que essa relação começou a se confundir. Se, antes da queda, ao contemplar a criação o homem tributava louvor a Deus, após, os homens, “dizendo-se sábios, tornaram-se loucos e trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem mortal, bem como de pássaros, quadrúpedes e répteis” (Rm 1.22,23) e “mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!” (Rm 1.25).

O reflexo da queda pode ser visto, por exemplo, na idolatria pagã que exalta Gaia, a “mãe-terra” ou que atribui a felicidade e o equilíbrio do homem à “mãe-natureza”. Como consequência, temos a humanização dos animais que, quando não são colocados acima do homem em grau de importância, no mínimo, são vistos como iguais e o resultado não poderia ser outro, festas de aniversário em cerimoniais, SPA, hotéis, creches, carrinhos de bebê, etc., tudo para que os bichinhos “se sintam da família”. Muitos são mais bem cuidados que os próprios filhos, quando não são uma opção em detrimento desses a ponto de, já na década de 80, Eduardo Dusek ironizar cantando “troque o seu cachorro por uma criança pobre”.

Por causa desse tipo de mentalidade não é difícil ver pessoas que preferem animais a gente, todavia, a verdade é que, biblicamente, o mais cruel dos assassinos possui infinitamente mais dignidade que o mais “fofinho” dos pets, por ser imagem, ainda que desfigurada, do Criador. Imagem esta que pode ser redimida por Cristo Jesus, que para salvar pecadores se fez um homem.

Jesus morreu para salvar homens e, todos aqueles que o recebem pela fé, são feitos família de Deus (Ef 2.19). Se até aqui você ainda não se convenceu de que elevar animais ao status de membros da família está errado, olhe para a família de Deus, modelo para as nossas famílias. Ela é composta de todos os tipos de pecadores regenerados, judeus, gregos, circuncisos, incircuncisos, bárbaros, citas, escravos, livres (Cl 3.11), mas não de animais. Homens, por quem Jesus deu seu sangue, ressuscitarão para estar com ele para todo o sempre e, por mais que a criação também gema aguardando a redenção dos filhos de Deus (Rm 8.19-22), pois também será restaurada, não haverá uma ressurreição dos animais.

Eu estou ciente de que muitos que dizem considerar os animais como sendo da família querem enfatizar o cuidado que deve ser dispensado a eles e se você caminhou comigo até aqui, espero que tenha compreendido que não ter cuidado ou maltratar os animais não é atitude de um cristão. O privilégio de dominar a terra exige o cuidado com a criação. Por outro lado, elevar os animais ao nível dos homens, feitos à imagem e semelhança de Deus, é igualar-se aos pagãos.

Que o Senhor conceda a você o discernimento necessário a fim de glorificar a Deus entendendo corretamente o que significa o justo atentar para a vida de seus animais.

24 setembro 2016

Orando a um Deus soberano e providente

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“O que Deus é?”. Esta pergunta, de número 4 do Breve Catecismo de Westminster, traz uma resposta maravilhosa: “Deus é espírito, infinito, eterno e – repare bem o que vem a seguir – imutável eu seu ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade e verdade”.

A verdade de que Deus é imutável traz segurança àqueles que confiam em sua Palavra. A segurança da salvação, por exemplo, está firmemente enraizada nesse conceito, o que explica a convicção de Paulo quando escreveu aos filipenses afirmando que estava “plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6).

Entretanto, em se tratando de oração, muitos cristãos não têm levado em conta a doutrina da imutabilidade de Deus. Por essa razão entendem que de alguma forma podem mudar a vontade de Deus, por meio de suas orações.

Enquanto escrevo, me vem à mente um episódio ocorrido em meu primeiro ano de seminário. Eu e alguns amigos tínhamos ido a uma igreja dita evangélica a fim de entrevistar líderes sobre o tema: “a oração muda a vontade de Deus?”. Liguei o gravador e o pastor começou a responder convicto com um firme “sim”. Ele tentou, então, provar biblicamente sua posição, dizendo: “Você lembra a história daquele homem (ele não lembrava o nome de Abraão!) que pediu a Deus para não destruir a cidade se houvesse nela trinta justos?”. Acho que enquanto contava a história ele lembrou que a cidade foi destruída, até que por fim afirmou: “Se a oração não muda a vontade de Deus é melhor servir ao diabo”.

Por mais chocante que possa parecer, o que esse homem disse reflete aquilo que não é dito, pelo menos não tão abertamente assim, por muitos outros cristãos que entendem que Deus deve estar pronto a ceder a seus desejos (ou caprichos?), ao ouvir uma oração feita “com muita fé”. Esses acabam se igualando aos pagãos que, nas palavras de Jesus, “presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos”. O interessante é que na sequência desse texto, o Senhor exortou a seus discípulos, dizendo: “Não vos assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais” (Mt 6.7,8).

Daí, então, vêm aqueles que, não menos enganados, dizem que não é preciso orar, pois Deus já sabe o de que necessitamos e não vai mudar de ideia, caso peçamos o contrário. Esquecem-se, esses, que após afirmar que o Pai sabe o de que seus discípulos têm necessidade, Jesus ordenou: “Portanto, vós orareis assim” (Mt 6.9); e que Paulo ordenou aos tessalonicenses que orassem sem cessar (1Ts 5.17).

Como entender corretamente a oração? Aprendamos com o rei Davi. Ao ler o Salmo 139 você pode notar que Davi tinha convicções bem firmadas a respeito da vontade soberana de Deus em sua vida. Ele escreveu: “Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda” (Sl 139.16). Uma convicção dessas talvez fizesse com que muitos deixassem de orar, o que não foi verdade na vida de Davi, pois, a começar desse Salmo, podem ser encontradas várias outras orações do rei, em diversos momentos de sua vida.

Pois bem, você deve lembrar de um desses momentos. Em determinado ponto de sua vida Davi cometeu adultério com Bate-Seba, que veio a engravidar. Após toda a trama do rei para trazer Urias da guerra a fim de que se deitasse com sua esposa e pensasse que o filho era dele (plano que não foi bem-sucedido) e que terminou com a ordem de Davi para que Urias fosse colocado à frente do exército para morrer o que, de fato, ocorreu, Davi tomou Bate-Seba por esposa e tudo parecia bem. Ele tinha “resolvido” o seu problema (2Sm 11).

Entretanto, Deus enviou Natã a Davi e este foi confrontado pelo profeta acerca de seu pecado. Após arrepender-se, Davi ouviu de Natã que Deus o havia perdoado, mas que por causa do que havia feito seu filho, fruto do relacionamento adúltero com Bate-Seba, morreria (2Sm 12.1-14). O versículo seguinte informa que, após Natã ir para casa, o Senhor fez enfermar a criança (12.15).

O que faria, diante de uma palavra tão enfática do Senhor, um homem que entendia que todos os seus dias estavam escritos e determinados? O texto nos informa: “Buscou Davi a Deus pela criança; jejuou Davi e, vindo, passou a noite prostrado em terra” (12.16). Davi orou e jejuou por sete dias, ao cabo dos quais a criança morreu. Diante disso, Davi levantou-se da terra, lavou-se, ungiu-se, adorou a Deus, foi para casa e alimentou-se. Seus servos, espantados, perguntaram o que ele estava fazendo, pois pela criança viva ele havia jejuado e orado, e agora que era morta ele havia levantado e comido pão.

A resposta de Davi aponta para a sua submissão: “Vivendo ainda a criança, jejuei e chorei, porque dizia: Quem sabe se o Senhor se compadecerá de mim, e continuará viva a criança? Porém, agora que é morta, por que jejuaria eu? Poderei fazê-la voltar? Eu irei a ela, porém ela não voltará para mim” – o texto continua – “Então, Davi veio a Bate-Seba, consolou-a e se deitou com ela; teve ela um filho a quem Davi deu o nome de Salomão; e o Senhor o amou” (cf. 2Sm 12.17-25).

O que pode ser notado aqui é que Davi, ainda que tivesse ouvido de Deus acerca da morte de seu filho, não se privou de clamar ao Senhor, mas com uma atitude de submissão, notada na expressão “quem sabe”, ou, em outras palavras, “se o Senhor quiser...”. Deus havia dito que a criança morreria, mas não havia dito quando e Davi, então, rogou pela misericórdia. Talvez isso soe para alguns como uma contradição, mas é bom lembrar que o próprio Senhor Jesus orou ao Pai pedindo que, se possível, o livrasse da cruz, mas que frisou, “contudo, não seja o que eu quero, e sim o que tu queres” (Mc 14.16).

Aqui o ensino do Breve Catecismo pode nos ajudar mais uma vez: “Oração é um oferecimento dos nossos desejos a Deus, por coisas conformes com a sua vontade, em nome de Cristo, com a confissão dos nossos pecados, e um agradecido reconhecimento de suas misericórdias” (P. 98) – e mais – “Na terceira petição, que é: ‘Faça-se tua vontade, assim na terra como no Céu’, pedimos que Deus, pela sua graça, nos torne capazes e desejosos de conhecer a sua vontade, de obedecer e submeter-nos a ela em tudo, como fazem os anjos no Céu” (P. 103).

A soberania de Deus (ele fará a sua vontade) e a responsabilidade humana (eu preciso orar sem cessar) caminham juntas. Ouvi, certa vez, uma ilustração sobre um puritano que precisava sair de sua casa no meio da floresta para ir à uma vila. Ele vestiu-se, pegou sua espingarda e quando saia sua esposa questionou: “Para que a arma?”, ouvindo como resposta que era para o caso de encontrar algum urso pelo caminho. A esposa, então, disse que a arma não seria necessária, pois se ele estivesse predestinado para morrer naquele dia, morreria, se não, chegaria ao destino. A resposta que ela ouviu do marido foi: “E se no caminho eu encontrar um urso predestinado para morrer hoje, como farei sem minha espingarda?”.

Não divorcie essas duas verdades! Desta forma, ao orar ao Deus soberano e providente, você não tentará mudar a sua vontade. Antes, em submissão, entenderá que ele fará exatamente o que já decretou na eternidade e que, providencialmente, decretou que ouviria orações que estivessem de acordo com essa vontade soberana.

16 setembro 2016

Não exija, sempre, os seus direitos!

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Em tempos do “Código de defesa do consumidor”, talvez você fique espantado com a declaração do título. Entretanto eu não estou aqui pensando nas leis que visam proteger aqueles que compram produtos de má qualidade, ou que são lesados por prestadores de serviços, ou qualquer coisa parecida.

Quero chamar a sua atenção para algo que tem sido recorrente no meio cristão e que eu chamo de “mentalidade Procon” aplicada à convivência com os irmãos. Já explico!

Somos chamados a viver em comunidade, como corpo de Cristo. Paulo exortou aos efésios que se esforçassem para “preservar a unidade do Espírito Santo no vínculo da paz” (Ef 4.3). A grande questão é que dentro do corpo de Cristo temos irmãos em diferentes níveis de crescimento na fé, há irmãos maduros, há aqueles que estão chegando na maturidade, há os novos convertidos, que ainda engatinham na fé, e em meio a toda essa diversidade, precisamos estar em unidade.

Acontece que muitos irmãos, maduros na fé, que já entenderam que em Cristo têm liberdade para fazer qualquer coisa que não esteja proibida pelas Escrituras, não têm lidado bem com a sua liberdade. Eles têm pensado que em nome da liberdade podem fazer o que bem entendem, sem preocupar-se com aqueles que ainda não têm a mesma maturidade que eles.

É claro que este não é um assunto inédito. Desde os tempos apostólicos a igreja teve de lidar com a tensão entre o relacionamento dos fortes com os fracos na fé, razão de não ser possível falar sobre liberdade cristã sem pensar também na unidade da Igreja.

Na epístola aos Romanos vemos Paulo tratando desse assunto nos capítulos 14 e 15. Havia em Roma um grupo de irmãos que sabiam que poderiam comer e beber o que quisesse e outro que, ainda por familiaridade com as prescrições dietéticas da antiga aliança, entendiam que deveriam abster-se de alguns tipos de comida.

O apóstolo traça alguns princípios para a liberdade cristã, afirmando que eles não podiam considerar pecado o que o Senhor não tratava como tal, ou seja, não poderia haver constrangimento nem de um lado, nem de outro. Os abstinentes não poderiam julgar os que comiam e bebiam e estes deveriam acolher os “débeis”, mas não para discutir opiniões. Paulo demonstra, ainda, que a liberdade não diz respeito, primariamente, com aquilo que eu posso fazer para o meu prazer, mas em como devo fazer tudo para a glória de Deus (14.6), além de ordenar que eles deixassem o julgamento por conta de Deus (14.10-1).

Com base nisso, muitos, em nossos dias, têm “esfregado” sua liberdade na cara de outros, afirmando que o único que pode julgá-los é Deus, e esquecem-se que Paulo não parou por aí, mas afirmou também que os fortes não poderiam escandalizar os fracos. O argumento de Paulo é forte: Se ao querer comer (ou beber, ou fazer qualquer outra coisa que somos livres para fazer) você não liga se vai ou não escandalizar a seu irmão, significa que você ama mais a comida (ou sua liberdade) que a seu irmão, por quem Cristo deu a própria vida (14.15).

Ele assevera ainda que “o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (14.17) e que a obra de Deus não deve ser destruída por causa de comida (14.20), portanto, em nome da comunhão cristã, é preciso abrir mão daquilo que se gosta em favor de irmãos mais fracos.

Alguns, nesse ponto, podem dizer: “Isso é muito difícil” ou “está errado abrir mão de algo que gosto por causa de outro...”. É preciso, então, lembrar que “nós, que somos fortes devemos suportar as debilidades dos fracos e não agradar-nos a nós mesmos. Portanto, cada um de nós agrade ao próximo no que é bom para a edificação” (15.1-2). Agradar o outro, para a edificação, é um ato de amor. Já o uso da liberdade cristã, sem amor, é puro egoísmo, logo, não honra a Deus.

Na carta aos coríntios, Paulo instruiu irmãos que estavam fazendo uso, não de comida ou bebida, mas dos dons, para a própria vanglória. A fim de demonstrar o erro dessa atitude ele afirmou que sem amor ao próximo, os dons não teriam benefício algum. O apóstolo ilustrou seu ponto dizendo que ainda que ele distribuísse todos os seus bens aos pobres, se não tivesse amor, isso não seria proveitoso (1Co 13.3).

Agora, mudando o que deve ser mudado, pense por um instante! Se fazer algo bom (doar os bens) em favor de outrem, sem amor, não é proveitoso, imagine fazer o mal (escandalizar) em favor de si mesmo (não abrir mão de algo que você goste)? Ou, mais precisamente, se fazer o bem ao outro, sem amor, não presta para nada, imagine usar a sua liberdade para satisfazer a sua própria vontade, sem levar em conta o seu irmão fraco? Isso passa longe do espírito cristão.

Infelizmente pode ser visto, principalmente em redes sociais, irmãos que não têm se importado em ferir a consciência de irmãos mais fracos, sob o pretexto de estarem honrando a Deus com sua liberdade. Aqui, vale lembrar a exortação de Paulo aos gálatas, afirmando que eles não poderiam usar a liberdade para dar ocasião à carne, mas que deveriam servir uns aos outros em amor, pois toda a lei se cumpre em um só preceito, “amarás a teu próximo como a ti mesmo”. Viver ao contrário disso seria morder e devorar uns aos outros, destruindo-se mutuamente (Gl 5.13-15).

O próprio Paulo, que se via como um forte na fé (Rm 15.1), afirmou que se a comida servia de escândalo ao irmão, nunca mais comeria carne (1Co 8.13), a fim de não golpear sua fraca consciência, pecando, assim, contra Cristo. Você pode e deve, então, fazer uso de sua liberdade, desde que não fira a consciência alheia.

Entretanto, é preciso frisar: irmão fraco é aquele que não compreendeu sua liberdade em Cristo e não alguém que sabe, por exemplo, que beber não é pecado, mas que acha melhor que crentes não bebam e tentam constranger a outros, dizendo-se escandalizados. Esses também devem ouvir a exortação de que não podem condenar o que Deus não condena.

Quanto ao irmão fraco, ao abster-se de algo em favor dele você demonstrará seu amor e poderá ter uma excelente oportunidade de instruí-lo, levando o seu pensamento cativo à Cristo, o que não seria possível ao escandalizá-lo, ferindo sua consciência.

Portanto, usufrua da liberdade que você tem em Cristo para servir e dar glória a Deus, lembrando que não é preciso exigir, sempre, os seus direitos.

20 julho 2016

Tenha bons argumentos, mas... confie no Senhor!

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Dia desses vi uma postagem no Facebook em que um cristão tenta colocar os ateus em maus lençóis. O meme era mais ou menos assim: mostrava um ateu dizendo que não é possível provar que Deus existe, seguido de um texto em que se pedia para refutar uma série de argumentos como o “argumento ontológico”, o “argumento teleológico”, o “argumento do desígnio”, dentre muitos outros, com uma imagem do ateu com cara de espanto depois disso tudo.

A ideia da imagem é refutar o argumento ateu de que cristãos têm uma crença sem fundamento algum. Em seu precioso livro, Crer é também pensar, John Stott afirma que “é um grande erro supor que a fé e a razão são incompatíveis. A fé e a visão são postas em oposição, uma à outra, nas Escrituras, mas nunca a fé e a razão. Pelo contrário, a fé verdadeira é essencialmente racional, porque se baseia no caráter e nas promessas de Deus. O crente em Cristo é alguém cuja mente medita e se firma nessas certezas”.

Stott acerta em cheio. As Escrituras não nos chamam à uma fé cega ou à um “salto no escuro”. O apóstolo Pedro ordena aos cristãos que santifiquem a Cristo no coração, “estando sempre preparados para responder (no grego, apologia = argumento raciocinado) a todo aquele que pedir razão da esperança que há em vós” (1Pe 3.15).

Entretanto, ainda que eu saiba que a fé cristã não é irracional nem ilógica, preocupo-me como fato de muitos cristãos estarem entrando em uma guerra contra ateus apenas para não parecerem bitolados, esquecendo-se que até a apologética (explicação e defesa da fé) deve ter como fim a glória de Deus e o desejo de levar pecadores aos pés do Redentor. A defesa da fé preocupada apenas em provar a existência de Deus, sem apontar para Cristo, pode até levar ateus a se tornarem teístas, mas teístas que não creem no “único Deus verdadeiro” e em Jesus Cristo, enviado por ele (cf. Jo 17.3), terão o mesmo destino dos ateus, a danação eterna.

É preciso crer em Cristo, como diz a Escritura (Jo 7.38) e essa fé salvadora, apesar de racional, é dom de Deus (Ef 2.8). A pregação cristã requer bons argumentos, mas, em última instância, depende totalmente daquele que pode abrir os corações. Uma pessoa pode chegar à conclusão de que a fé cristã é plausível, de que ela faz sentido e, ainda assim, não crer em Cristo.

Penso que um bom exemplo do que eu estou afirmando aqui pode ser visto no episódio em que Paulo discursa perante o rei Agripa, registrado no capítulo 26 de Atos dos apóstolos. Ele inicia sua defesa dizendo-se feliz por poder falar de sua fé diante de Agripa que era “versado em todos os costumes e questões que há entre os judeus” (26.3).

No começo do seu arrazoado Paulo fala sobre sua vida como fariseu, o que era de conhecimento de todos os judeus, e de que estava sendo julgado por causa da esperança na promessa que Deus havia feito aos seus antepassados. Em sua caminhada ele havia se oposto à igreja perseguindo os santos, castigando-os, obrigando-os a blasfemar, tendo, inclusive, prendido a muitos e dado o seu voto para que outros tantos fossem mortos (26.6-11).

O apóstolo passa, então, a narrar sua conversão, no caminho de Damasco, e seu chamado para ser ministro e testemunha de Cristo. Paulo afirma ao rei não ter sido desobediente e conta de como começou a proclamar a Cristo, o que estava fazendo também perante Agripa (26.12-23).

Nesse ponto Paulo é interrompido por Festo que o acusa de estar louco e delirando, por conta das “muitas letras”. Diante disso, ele afirma o que quero destacar para provar meu ponto: “Não estou louco, ó excelentíssimo Festo! Pelo contrário, digo palavras de verdade e de bom senso (26.25). Repare bem o que Paulo diz. Ele afirma que está falando a verdade. Suas palavras fazem sentido, elas têm nexo, coerência e são plausíveis. O apóstolo afirma ainda que tudo o que estava dizendo era de conhecimento de Agripa (que ele já havia dito que era versado nos costumes e questões dos judeus), e dirige uma pergunta diretamente ao rei: “Acreditas, ó rei Agripa, nos profetas? Bem sei que acreditas” (26.27).

Com esta pergunta Paulo está colocando o rei em xeque. Conhecedor como era dos costumes judeus e exposto ao arrazoado de Paulo, ele deveria render-se à argumentação, mas, diferente do que eu já li alhures, de que Agripa era um “quase salvo”, mas fatalmente perdido, tendo “quase” crido no evangelho, ele responde com ironia. A tradução da NVI capta bem o sentido do que ele diz: “Você acha que em tão pouco tempo pode convencer-me a tornar-me cristão?” (26.28).

A resposta de Paulo não deixa dúvidas de que, a despeito de bons argumentos, a obra de convencimento do pecador pertence a Deus: Assim Deus permitisse que, por pouco ou por muito, não apenas tu, ó rei, porém todos os que hoje me ouvem se tornassem tais qual eu sou, exceto estas cadeias” (26.29 – ênfase minha), e é assim que devemos crer.

Portanto, tenha bons argumentos e dedique-se ao estudo sério e sistemático das Escrituras. Não deixe, entretanto, que isso o conduza ao orgulho e a soberba de achar que são os seus bons argumentos que convencerão pecadores a crer no Deus da Bíblia. Essa é uma obra exclusiva do Espírito de Deus, que muda corações. Confie nele!

03 junho 2016

A volta de Cristo, um estímulo À piedade

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O Credo dos apóstolos, sem sombra de dúvidas o credo mais conhecido pela Igreja do Senhor, afirma em uma de suas cláusulas, a respeito do Senhor Jesus: “Está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.

A doutrina da segunda vinda de Cristo é de suma importância para a vida da igreja. Nesse dia glorioso o Senhor completará de uma vez por todas a sua obra de redenção dos salvos e de condenação dos réprobos. O apóstolo Paulo afirma que “importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, par que casa um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo” (2Co 5.10).

É bastante claro, considerando todo o ensino a respeito da salvação pela graça, mediante a fé, que o apóstolo não quer ensinar que é necessário fazer algo para ser salvo, absolutamente. Tudo o que deveria ser feito a fim de que o homem tivesse paz com Deus foi realizado única e perfeitamente por Cristo Jesus. Diante disso, a expectativa acerca da vinda de Cristo deve levar os crentes a perseverar em boas obras, honrando aquele que os salvou, pois, essas obras serão julgadas.

Infelizmente, apesar de declararem que creem na vinda de Cristo, na prática, muitos crentes vivem como se isso não fosse ocorrer de fato e acabam vivendo para si mesmos, flertando com as coisas desse mundo.

Isso, entretanto, não é novo. Quando Pedro escreveu sua primeira carta estava combatendo, entre outras coisas, o falso ensino de que Jesus não mais voltaria. Este ensino seduziu a muitos e levou os crentes a viver libertinamente (2Pe 2.2). Pedro alerta, então, para a realidade da vinda de Cristo que seria repentina e, certo a respeito dessa vinda, exorta os crentes a viverem em “santo procedimento”, empenhando-se por serem achados pelo Senhor “em paz, sem mácula e irrepreensíveis” (2Pe 3.8-14).

Os romanos também foram ensinados a esse respeito pelo apóstolo Paulo. No capítulo 13 ele trata do amor que é devido pelo cristão como sendo uma dívida sem fim, expressa na Lei do Senhor e que visa o bem do próximo. Apesar de ter demonstrado ser o amor um mandamento, Paulo também associa a prática desse amor à certeza da volta de Cristo. Isso pode ser notado nas expressões “digo isto a vós outros que conheceis o tempo” e “vem chegando o dia”, nos versículos 11 e 12.

Ele explica que os romanos deveriam esperar a vinda de Cristo estando despertos do sono e esse viver desperto consistia em deixar as obras das trevas, revestindo-se das armas da luz, implicando no conhecimento da Palavra, que é a “espada do Espírito” (Ef 6.17)­­­­.

Entretanto, para viver dessa forma, não basta meramente conhecer a Palavra. A Escritura aponta para a forma de viver em conformidade com a vontade de Deus e você pode mesmo mortificar a carne, mas para que isso seja possível, é necessário revestir-se de Cristo (Rm 13.14), ou, em outras palavras, é necessário ser conformado à imagem de Cristo, pois para isto fomos eleitos (Rm 8.29).

As Escrituras não dão simplesmente um montante de regras a fim de que os crentes mudem o modo de se portar. As coisas não funcionam desta forma, pois viver assim seria mero legalismo: deixe de fazer isso e faça aquilo. A única forma de mudar efetivamente a vida, vivendo de modo piedoso, é estando em Cristo. Ele afirmou aos seus discípulos, “sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15.5).

Portanto, se alguém é pavio curto ele não busca ser manso, ele busca a Cristo e terá domínio próprio. Se alguém é imoderado não deve buscar moderação, mas a Cristo, pois se estiver em Cristo será moderado. É isto que temos na epístola aos gálatas onde podemos notar que as obras pecaminosas são da carne, mas o fruto piedoso é do Espírito, por isso, buscamos a Cristo a fim de frutificar para ele, no poder do Espírito.

Nessa caminhada, à medida em que vamos sendo transformados à imagem de Cristo, enquanto aguardamos a sua gloriosa vinda, certamente haverá tentações e, mais ainda, há o perigo de premeditarmos o pecado. Por isso Paulo instrui os romanos para que, ao mesmo tempo em que se revestissem de Cristo, nada dispusessem para a carne, no tocante às suas concupiscências, ou, como está traduzido na NVI, “não fiquem premeditando como satisfazer os desejos da carne” (Rm 13.14).

Deixe-me ilustrar isso. Há poucos meses fui diagnosticado com diabetes e, por conta disso, tenho medido constantemente a glicemia, a fim de verificar como meu organismo tem respondido à medicação. Duas horas após a refeição, o normal é que a glicemia esteja, no máximo, 140 mg/dL. Na comemoração do meu aniversário fugi da dieta e comi bolo, salgadinhos, doces e refrigerante. Duas horas depois fiz a medição e, com alegria, vi que a glicemia estava em 122. No outro dia brinquei com uma ovelha de nossa igreja, que é médico: “Se eu soubesse que ia dar só 122, tinha comido mais uns cinco brigadeiros”.

Esse tipo de pensamento seria exatamente o “premeditar como satisfazer os desejos da carne”, ficar confabulando, planejando, como matar um desejo. O cristão não pode ficar procurando maneiras de pecar e, para isso, deve revestir-se de Cristo! Nele, e somente nele, os crentes podem cumprir as ordenanças da Palavra e, se pecarem (note bem o “se”) podem contar com um excelente advogado, Jesus Cristo, o Justo (1Jo 2.1).

A expectativa da vinda de Cristo é um excelente motivador para que os cristãos perseverem em sua busca por santidade. Com sua vinda em mente, não buscaremos satisfazer os desejos pecaminosos da carne, mas, em piedade, aguardaremos o glorioso dia de sua volta, dia em que, de uma vez por todas, a nossa satisfação será plena!

19 maio 2016

Você não precisa supor

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Há alguns anos fui pregar em uma igreja pastoreada por um amigo e passei o domingo com ele e sua família. Após a escola dominical, sua esposa foi para casa preparar o almoço e nós passamos em um mercadinho para comprar um molho que havia faltado. Foi quando ele me falou que a esposa estava preparando um escondidinho de carne seca.

Nesse momento já comecei a ficar preocupado. Como não gosto de mandioca, mas sabia que quem estava me recebendo queria me agradar, bolei um plano para comer “sem sentir”. A cada garfada eu tomaria junto um gole da Coca-Cola que estava bem gelada e engoliria praticamente sem mastigar. O plano era perfeito, mas...

Chegamos em casa e ela ainda estava preparando o almoço. Conversa vai, conversa vem, de repente, a pergunta fatal: “Você gosta de escondidinho, né?”. Nesse momento, o plano foi por água abaixo. Como ela perguntou se eu gostava eu teria de falar a verdade (em amor, é claro!). Comecei com um “olha...” e ela já entendeu tudo, ficando bastante embaraçada: “Ai... não acredito... eu tinha que ter perguntado, desculpe”, “vou fazer outra coisa...”.

No fim, combinamos assim: Eu comeria somente carne e eles o escondidinho completo. Certamente a esposa do meu amigo queria muito me agradar, estava fazendo de coração, mas qual foi o erro dela? Supor que eu gostava.

Se eu quero agradar alguém, sem chance de errar, eu não posso supor. Eu devo perguntar do que a pessoa gosta e do que ela não gosta porque, com toda boa vontade do meu coração, se eu não souber do que a pessoa gosta eu posso errar. Suposições são perigosas, principalmente as culinárias, porque pode ser que estejamos enganados.

Muitos crentes querem, ou dizem querer, agradar a Deus. O problema é que, a despeito do que afirmam, não gastam tempo examinando a Palavra, que é onde Deus revelou o que o agrada e o que o desagrada, daí tentam supor o que devem fazer.

Se você quer agradar a Deus, você não precisa supor. Como bem afirmou o salmista a respeito do justo, “no coração, tem ele a lei do seu Deus; os seus passos não vacilarão” (Sl 37.31).

Deus deu a sua Palavra, que é a lâmpada para os pés e a luz para o caminho (Sl 119.105), a fim de que aqueles que foram libertos por Cristo possam viver de modo digno do evangelho (Fl 1.27). É impossível ser salvo por meio do cumprimento da Lei, que só foi cumprida plenamente por Cristo, entretanto, ela continua sendo o padrão para que os filhos de Deus caminhem em santidade, vivendo um padrão de justiça que excede o dos escribas e fariseus (Mt 5.17-20).

Paulo afirma que fomos “criados em Cristo Jesus,” – exatamente – “para boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que andássemos nelas” (Ef 2.10). As Escrituras também exortam a seguir a piedade (1Tm 6.11), exercitar-se na piedade (1Tm 4.7), demonstrar que os crentes devem ter a consciência pura diante de Deus e dos homens (At 24.16), desenvolver a salvação (Fp 2.12), em suma, seguir “a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14), afinal de contas, os crentes devem ser santos, pois o Senhor o é (1Pe 1.16).

A grande questão é que você nunca vai conseguir viver piedosamente sem o conhecimento da Escritura. Aqueles que buscam agradar a Deus sem, ao mesmo tempo, ater-se ao padrão de santidade que ele determina em sua Palavra estão enganando a si mesmos. E o pior, muitos desses acreditam, de fato, que estão conseguindo levar a cabo o seu intento, pois medem a sua santidade comparando-se a outros que são “menos santos” que eles.

Deus não deixou sua igreja “no escuro”, tentando adivinhar sua vontade. Não! Ele deu um padrão bem objetivo que deve ser conhecido e, na força do Espírito, colocado em prática. Lembre-se que não é somente conhecer, mas também praticar, pois aqueles que ouvem a Palavra e não praticam foram comparados por Jesus a um homem que construiu uma casa sem fundamentos que não pôde se manter diante das intempéries da vida (Mt 7.26-27).

Nesse ponto, alguém pode argumentar que Deus está interessado é na intenção do coração. A isso respondo lembrando a história de Saul. Deus iria castigar os amalequitas e ordenou que Saul destruísse totalmente tudo o que eles tinham, além de matar a todos, incluindo os animais. Saul foi, mas deixou vivo o rei, além de poupar o melhor das ovelhas e bois. Quando Samuel foi até ele e ouviu o barulho das ovelhas e bois, perguntou o que tinha ocorrido. A resposta de Saul foi que ele havia obedecido ao Senhor, mas que o povo poupou o melhor dos animais para sacrificar ao Senhor.

Mesmo sabendo o que Deus havia ordenado, parece que Saul supôs que Deus se agradaria da oferta, afinal de contas, era o melhor das ovelhas e do gado. Mas o que ele ouviu de Samuel deve servir de lição para cada um de nós: “Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros” (1Sm 15.22).

Hoje sabemos que o melhor sacrifício já foi providenciado pelo Senhor, imolando seu próprio Filho para que pudéssemos ser reconciliados com ele e, nesta condição, podermos dar ouvidos às suas Palavras. Você não terá uma vida piedosa sem o conhecimento e prática da Lei do Senhor, portanto, em vez de supor, conheça!

12 maio 2016

E agora, o que esperar?

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No início da manhã de hoje, após uma longa sessão que começou na manhã do dia anterior, os senadores da República votaram a favor da abertura do processo de impeachment da presidente Dilma, que foi afastada por até 180 dias.

Diante desse quadro, o que esperar?

Muitos já celebram o ocorrido como se fosse a salvação da pátria e como se o presidente em exercício Michel Temer fosse transformar a nação, que padece em meio à tanta corrupção, do dia para a noite.

A verdade é que, por mais que seja bom que os crimes de responsabilidade sejam apurados e punidos, não sabemos, sequer, se o presidente Temer não está também envolvido em esquemas de corrupção, já que teve seu nome citado por delatores da Operação Lava Jato.

É preocupante quando cristãos seguem a massa e começam a colocar sua esperança em homens. Sobre isso, o salmista afirmou: “Não confieis em príncipes, nem nos filhos dos homens, em quem não há salvação. Sai-lhes o espírito, e eles tornam ao pó; nesse mesmo dia, perecem todos os seus desígnios” (Sl 146.3-4).

Devemos orar por nossa nação e por nossas autoridades. Esse é um mandamento bíblico, mas, a despeito disso, não podemos achar que nossa vida irá bem ou mal por causa de governantes. A ilusão de muitos cristãos é tamanha, que eles acham que se o Brasil tiver um presidente evangélico Deus será mais propício à nação. Prova disso são os discursos pró-Marina, pelo simples fato de se denominar cristã, apesar de abraçar uma ideologia partidária frontalmente contrária às Escrituras, ou as “profetadas” a respeito de sua eleição, vinda de uma “pastora” da Lagoinha, ou, mais recentemente, o entusiasmo de cristãos que declaram apoio ao deputado Bolsonaro, com a notícia de que ele foi batizado no rio Jordão por seu companheiro de partido, o Pr. Everaldo, candidato à presidência no pleito de 2014. Agora ele é crente!, se alegram alguns...

Não, nossa esperança não está em um governante honesto, nem em governantes competentes, tampouco em governantes evangélicos. A esperança do cristão continua sendo o seu Redentor, Cristo Jesus.

Precisamos, urgentemente, nos firmar nesta bendita verdade. A única maneira de viver uma vida abundante é por meio da fé em Jesus, que perdoa todos aqueles que se arrependem dos seus pecados, confiando somente em seu sacrifício.

Aqueles que vivem dessa maneira podem experimentar a mesma alegria de Habacuque que, em meio à iminência dos sofrimentos do cativeiro declarou: “ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha salvação” (Hc 3.17-18). Ou ainda, como Paulo, podem alegrar-se sobremaneira no Senhor e aprender a viver contente em toda e qualquer situação, podendo todas as coisas naquele que os fortalece, quer seja estar humilhados ou honrados, ter fartura ou fome, abundância ou escassez (cf. Fp 4.10).

Nessa perspectiva, podemos voltar ao Salmo 146 e verificar que, após ordenar que não se confiem em príncipes, nem nos filhos dos homens, o salmista declara: “Bem-aventurado aquele que tem o Deus de Jacó por seu auxílio, cuja esperança está no Senhor, seu Deus, que fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e mantém para sempre a sua fidelidade” (146.5-6).

Esse Deus Poderoso e Soberano, criador de todas as coisas, continua o salmista, “faz justiça aos oprimidos e dá pão aos que têm fome. O Senhor liberta os encarcerados. O Senhor abre os olhos aos cegos, o Senhor levanta os abatidos, o Senhor ama os justos. O Senhor guarda o peregrino, ampara o órfão e a viúva, porém transtorna o caminho dos ímpios.” (Sl 146.7-9).

Você pode, então, esperar o que todo cristão tem garantido nas Escrituras. Que o Senhor continuará conduzindo a história e cuidando do seu povo.

Diferente dos governantes que entram e saem, que morrem e voltam ao pó, “O Senhor reina para sempre; o teu Deus, ó Sião, reina de geração em geração. Aleluia!” (Sl 146.10). Portanto, confie nele de todo o seu coração, enquanto ora por aqueles que ele estabelece nos governos.

29 abril 2016

Instrua o seu coração!

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Faltam três semanas para a estreia “daquele” filme e milhares de pessoas não veem a hora chegar. “Aquele” carro novo, ultramoderno e arrojado, foi anunciado para o próximo mês e os amantes de carro já estão em polvorosa. A Netflix anunciou mais uma temporada “da melhor” série que já existiu e os fãs estão ansiosos...

Eu podia descrever inúmeros exemplos (e você saberia de outros tantos) de como as pessoas ficam ansiosas e aguardam com grande expectativa algumas coisas. A pergunta a ser feita aqui é: porque isso acontece?

A Palavra de Deus é enfática ao afirmar que o homem é controlado por seu coração. Conforme o Senhor Jesus, aquilo que governa o coração governará a vida do homem, pois, “onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6.21).

O que acontece nos exemplos dados no início é que as pessoas ensinam seus corações a gostar de determinadas coisas. Cinéfilos vivem lendo a respeito de filmes, gostam de saber dos últimos lançamentos e de quais são os indicados ao Oscar; aqueles que curtem carros conhecem como ninguém como eles funcionam, qual o melhor modelo e buscam revistas especializadas a fim de saber mais a respeito de sua paixão e, assim, seus corações são “treinados” a fim de gostarem e ansiarem por novidades nessas áreas.

É exatamente por causa do controle do coração sobre a vida do homem que o salmista afirmou: “Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti” (Sl 119.11). Veja a relação estabelecida! A Palavra estando no coração possibilitaria que ele não pecasse contra Deus. O Senhor Jesus afirmou isso de outra forma no Novo Testamento ao declarar que “a boca fala do que está cheio o coração” (Lc 6.45).

Você já se perguntou, por exemplo, o porquê de muitos crentes não ansiarem pelo Dia do Senhor da mesma forma que anseiam pela estreia daquele filme, do final do campeonato ou das tão aguardadas férias? É exatamente pelo fato de não instruírem seu coração, enchendo-o com a Palavra a fim de que ele anseie pelo dia em que se reunirá com a Igreja do Senhor a fim de prestar culto àquele que se deu por eles. É não compreender a beleza e a importância da obra do Redentor em seu lugar, pois ao compreender adequadamente tudo isso, será impossível não ansiar pelo dia em que a Igreja se reúne para louvar seu Salvador.

Quando o coração não é devidamente instruído pela Palavra, mediante a iluminação do Santo Espírito, ele não anseia pelo Senhor e por louvar a sua Glória! Nesse sentido, algo interessante a se notar é a forma como se expressam os filhos de Corá: “Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma” (Sl 42.1). O versículo demonstra que a alma do salmista entendeu a importância do Senhor para ela, a ponto de comparar com o anseio da corça pelas águas. O coração foi instruído que da mesma forma que corça precisa da água para sobreviver, ele precisa do Senhor. É preciso instruir o coração.

Há mais ainda, quando o coração não é instruído, o que espera o crente é o desassossego da alma, a angústia, a ansiedade, os temores diante das tribulações. Por essa razão, é preciso relembrar constantemente ao coração quem é o Senhor a quem servimos. Isso fará com que nos portemos de forma correta diante das tribulações, respondendo às intempéries da vida de forma piedosa.

É importante relembrar, pois nos esquecemos facilmente quem é o Senhor a quem servimos e como ele agiu no decorrer da história. O povo de Israel ficou escravizado por 400 anos, foi liberto do seu jugo e testemunhou uma grande quantidade de milagres e prodígios que Deus fez por meio de Moisés diante de Faraó, mas ao encarar o Mar Vermelho diante de si, esqueceu-se de tudo e passou a murmurar: “Vamos morrer”, “era melhor ter ficado no Egito”, etc. (Cf. Ex 14.11-12).

É isso que temos no já citado Salmo 42, o salmista relembrando à sua alma quem é o Senhor: “Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu” (Sl 42.5,11). A relevante conversa do salmista consigo mesmo era para que essa lembrança instruísse seu coração a respeito de quem é Deus e se aquietasse! Foi isso também que deu esperança a Jeremias, em meio à dura realidade dos sofrimentos do cativeiro: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança. As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade” (Lm 3.21-23).

Somente um coração constantemente instruído por meio da Palavra do Senhor ansiará por ele e descansará em seu governo, por ter absoluta convicção a respeito de seu caráter.

“Tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança”, escreveu Paulo aos Romanos (15.4). Essa Escritura, que o apóstolo afirma ser inspirada por Deus é “útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3.16-17).

Portanto, diferente do espírito da nossa época que estimula os homens a “seguirem o seu coração”, use as Escrituras para instruí-lo acerca do que ele deve desejar. Com isso você ansiará mais pelo Senhor e saberá se portar diante de todas as situações de sua vida, incluindo o lançamento daquele filme tão aguardado e a espera pelas tão sonhadas férias.