30 novembro 2018

Você não precisa conhecer o futuro, mas o Senhor

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Em meu primeiro ano de ministério, estive numa região em que, infelizmente, algo se repetia constantemente. Era encontrar os pastores em alguma reunião que logo vinha a pergunta: “Você crê em revelação?”, ao que eu já respondia categoricamente com um sonoro “não”. Digo infelizmente porque pastores presbiterianos deveriam, por dever de ofício na IPB, ser confessionais e, para ser ordenados precisam, necessariamente, subscrever a Confissão de Fé e os Catecismos de Westminster que são documentos cessacionistas.

Em um determinado encontro, resolvi responder à pergunta de forma diferente, buscando conversar mais acerca do assunto. Um pastor se aproximou e já soltou: “Você crê em revelação?”. Desta vez eu disse: “sim, é claro!”, deixando-o animado com a resposta. Logo, então, continuei: “Creio em revelação, inclusive já a li hoje pela manhã!”

De repente, a animação inicial transformou-se num olhar de decepção. O irmão explicou que estava falando de outro tipo de revelação e eu pedi que ele me explicasse mais sobre sua crença. Segundo ele, a revelação à qual se referia dizia respeito a eventos futuros na vida de alguém. O exemplo que ele me deu foi de alguém que iria viajar e que recebeu uma “revelação” na igreja. Foi dito a ele que se ele viajasse, um acidente aconteceria na estrada causando-lhe a morte.

Diante disso, perguntei: “Então este irmão tinha duas opções pela frente: se ele viajasse, morreria, se não viajasse, permaneceria vivo, é isso mesmo?”, ao que o pastor me respondeu afirmativamente. Perguntei, então, acerca do Salmo 139, em que Davi afirma: “Os teus olhos me viram, a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda” (Sl 139.16). Como entender esse texto em relação ao futuro incerto do irmão que recebeu a revelação? Daquele momento em diante reinou o silêncio. Parecia que aquele pastor nunca tinha pensado acerca da implicação do seu entendimento sobre revelação “particular”.

Como ele, muitos cristãos não param para pensar em sua crença e em como elas podem colocá-los em confronto com a Palavra de Deus. Nesse caso, em particular, parece que o desejo de saber sobre o futuro, de ter um direcionamento “mais seguro” por uma revelação direta de Deus, pode ser uma explicação para um entendimento tão distante da Palavra de Deus. A ideia de Deus estar direcionando a vida por meio de uma revelação específica sobre as escolhas a serem tomadas e seus desdobramentos parece dar mais “segurança”, além de retirar das pessoas a responsabilidade ou, no mínimo, fornecer um bom álibi diante das consequências.

Por exemplo, se eu deixo de viajar para um compromisso importante porque Deus me revelou que eu morreria na estrada se fosse, quem me recriminaria pela decisão de não ir, ainda que tenha faltado com minha palavra? E, ainda que houvesse repreensão, eu ficaria em paz comigo mesmo, afinal de contas, eu somente “ouvi a voz de Deus”.

Voltei a pensar nisso dia desses, enquanto dirigia para o escritório ouvindo no carro a narração do livro de Atos. Importa lembrar aqui que em Atos a revelação ainda não está completa e os livros do Novo Testamento estão sendo escritos. Os dons revelacionais estão em plena atividade. Hoje, cremos (pelo menos os que subscrevem a Confissão de Westminster) que “foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isso torna indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo” (CFW I.I).

Dito isso, pense na experiência de Paulo, descrita em Atos 21. Ele estava em Cesareia, na casa de Filipe, quando o profeta Ágabo chegou da Judeia. Ágabo pegou o cinto de Paulo “ligando com ele os próprios pés e mãos [e] declarou: Isto diz o Espírito Santo: Assim os judeus, em Jerusalém, farão ao dono deste cinto e o entregarão nas mãos dos gentios” (At 21.8-11).

Diante de tal revelação, Lucas registra que todos eles pediram a Paulo para não ir à Jerusalém. Isso é totalmente compreensível. Diante do anúncio da prisão em Jerusalém os amigos estavam preocupados.

A resposta e a atitude de Paulo nesta situação têm muito a ensinar, sobretudo a irmãos como o da experiência narrada no início deste texto. O apóstolo questionou: “Que fazeis chorando e quebrantando-me o coração? Pois estou pronto não só para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus”. Após a Palavra de Paulo, Lucas diz: “Como, porém, não o persuadimos, conformados, dissemos: Faça-se a vontade do Senhor!” (At 21.13-14).

A pergunta a ser feita aqui é: Por que é que Paulo, mesmo sabendo o que aconteceria com ele em Jerusalém, não deixou de cumprir o seu ministério (Cf. At 20.24)? Como se manteve fiel à sua responsabilidade?

A resposta é simples, quando Paulo foi comissionado por Deus, ele ouviu, da parte do Senhor, que ele levaria o nome do Senhor perante gentios e reis e aprenderia o “quanto [...] importa sofrer pelo meu nome” (At 9.15-16). Ele mesmo havia afirmado: “vou para Jerusalém, não sabendo o que ali me acontecerá, senão que o Espírito Santo, de cidade em cidade, me assegura que me esperam cadeias e tribulações” (At 20.22-23).

Paulo toma sua decisão pautado na Palavra que o Senhor lhe dera. A consciência, por meio de uma revelação, do que o esperava, não fez o apóstolo deixar de cumprir o seu chamado, pensando em “mudar a sua sorte” e livrar-se do que o Senhor disse que ocorreria.

Tendo os antigos meios de Deus revelar a sua vontade cessado (Hb 1.1-2) temos tudo aquilo de que precisamos para direcionar a nossa vida na Santa Palavra de Deus. Como afirmou Moisés, “as coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei” (Dt 29.29).

É triste perceber que muitos que buscam novas revelações para direcionar suas vidas, pouco conhecem daquilo que o Senhor fez registrar nas Escrituras e, exatamente por isso, têm práticas que vão contra a Palavra.

Não precisamos conhecer o futuro. Precisamos conhecer o Senhor Jesus Cristo, como revelado em sua Palavra. Busque, com a iluminação do Espírito de Cristo, encher seu coração da Palavra de Deus a fim de honrá-lo em suas práticas e decisões. Em Cristo, você está seguro!

26 novembro 2018

Justo e justificador

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Por quem Jesus morreu? Esta pergunta tem suscitado discussões acaloradas no decorrer dos tempos. Enquanto calvinistas afirmam uma expiação limitada, isto é a morte de Jesus foi por um número específico de homens, aqueles que foram eleitos antes da fundação do mundo pelo Pai (Jo 17.6,9; Ef 1.4), arminianos sustentam que a expiação foi universal, ou seja, por todos os homens.

Longe de ser uma discussão de somenos importância, ela tem implicações sérias no entendimento acerca do Ser de Deus.

Em uma das várias conversas que já tive a respeito do tema, uma jovem, dessas que vivem gastando tempo em infinitas discussões em redes sociais, afirmou para mim (em uma conversa ao vivo) que o Deus que eu cria era injusto por salvar alguns, deixando outros perecer. Como eu disse, o assunto tem implicações sérias naquilo que se crê acerca do Ser de Deus, no caso, acerca da sua justiça.

Pensemos, então, sobre isso. Em Gênesis podemos ler sobre a criação de Adão. Deus, após criar todas as coisas, colocou-o no Jardim do Éden, dando-lhe ordens bastante específicas. Dentre os mandamentos dados por Deus, um dizia respeito a não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, sob pena de morte, caso desobedecesse. A Confissão de Fé de Westminster ensina que Deus fez com Adão um Pacto de Obras em que “foi a vida prometida a Adão e, nele, à sua posteridade, sob a condição de perfeita obediência pessoal” (VII.II).

Você conhece a história! Adão transgrediu a ordem de Deus lançando não só ele, mas toda a sua posteridade numa condição de pecado e miséria. Como o Senhor é Fiel à sua Palavra, ele não poderia simplesmente “esquecer” o que houve e começar de novo. Não havia jeito de simplesmente fingir que nada aconteceu. O homem havia pecado e merecia a morte, pois, como afirmou Paulo, “o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23).

Entretanto, a Escritura também revela o Senhor como um Deus gracioso, misericordioso e amoroso. Um Deus que enviou seu Filho para “buscar e salvar o perdido” (Lc 19.10). O que fez o Senhor para salvar o pecador que merece a morte e permanecer sendo um Deus justo?

A Bíblia diz que a salvação é pela graça, mediante a fé (Ef 2.8), mas esta é a parte que nos cabe no chamado Pacto da Graça. Enquanto o primeiro pacto foi feito com Adão e sua posteridade, o segundo “feito com Cristo, como o segundo Adão; e, nele, com todos os eleitos, como sua semente” (Catecismo Maior – resposta à pergunta 31). Esse é o entendimento reformado acerca da salvação: se o pacto da graça foi feito com Cristo e, nele, com aqueles que foram eleitos pelo Pai, antes da fundação do mundo, a morte de Cristo foi somente por esses e, necessariamente, precisa ser assim a fim de não tornarmos Deus injusto.

Paulo diz aos Romanos que Deus é, ao mesmo tempo, “justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3.26). Algo precisa ser bem entendido aqui. O pecador merece a morte e se Deus simplesmente enviasse todos ao inferno, isso seria justo. De igual modo, para continuar sendo justo, Deus não poderia deixar os pecados impunes. Já vimos que o Pacto da Graça foi feito com Cristo. O próprio Deus Filho precisou encarnar-se a fim de que, como homem perfeito, pudesse obedecer perfeitamente ao Pai, sofrer o castigo do pecado em lugar dos eleitos se ser seu Mediador (Gl 4.4-5; Hb 9.15).

A fim de oferecer a salvação pela graça, Jesus consumou toda a obra que o Pai lhe confiou a fazer (Jo 17.4). O que para os crentes é graça, para o nosso Mediador foi trabalho. Isaías, em sua profecia, diz que “ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si” (53.11).

Quando em sofrimento, na cruz do Calvário, Jesus exclamou: “Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito” (Jo 19.30). A expressão “está consumado” quer dizer, literalmente, está pago, está quitado. Jesus pagou toda a dívida diante do Pai, por meio de sua morte substitutiva.

Sendo assim, a implicação é óbvia. Se Jesus tivesse morrido por todos os homens, todos teriam de ser salvos. A alternativa coerente para alguém que crê que Jesus morreu por todos os homens é ser universalista e entender que, no fim das contas, todos os homens serão salvos, pois, se a dívida está paga, Deus não pode cobrá-la novamente. Ou a dívida é paga por Jesus, no Calvário, ou pelo pecador, no inferno. Se algum homem, por quem Cristo morreu, for para o inferno, Deus é, de fato, injusto.

Quando afirmamos que Cristo morreu somente pelos eleitos estamos sendo consistentes com o que Bíblia diz. O Deus justo que pune o pecado é ao mesmo tempo o Deus justificador daqueles que creem em Cristo. Como sabemos pela Escritura que há muitos que irão para a perdição eterna, é óbvio que estes não tiveram a sua dívida paga pelo Senhor Jesus e não foram justificados.

A obra de Cristo, em favor dos que creem, lhes garante a vida eterna, por isso, todos aqueles por quem Cristo morreu, se renderão a ele (Jo 6.37,44). Se você foi salvo por Cristo, louve a Deus que enviou o seu Filho para cumprir tudo o que você não poderia cumprir a fim de ser salvo. Mais ainda, com o auxílio do Espírito Santo, enviado por Cristo, que habita em você, seja uma testemunha fiel, vivendo como sal da terra e luz do mundo, honrando aquele que, pela graça, concedeu a você tão grande salvação.

22 novembro 2018

Vivendo e aprendendo

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O título faz alusão a um dito popular bastante conhecido. Não é difícil encontrar pessoas que, ao passar por situações que acabaram por fazê-las rever conceitos, mudar de atitudes ou descobriram algo novo, costumam logo dizer: “vivendo e aprendendo” ou “é vivendo que se aprende”.

Para muitos, este é o grande lema da vida! Pessoas assim entendem que o aprendizado só é possível à medida em que se vive experiências diversas, sejam elas quais forem.

Entretanto, para aqueles que confessam a Cristo as coisas não precisam ser assim. Na verdade, a Escritura aponta para outro caminho, a saber, “Aprenda para viver”. Você pode verificar isso olhando para a carta de Paulo aos Romanos. Ali o apóstolo afirma que “tudo quanto, outrora foi escrito, para o nosso ensino foi escrito” – e já demonstra a finalidade disso – “a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15.4).

Olhe também para a primeira carta aos coríntios e esta verdade fica ainda mais clara. Você sabe que a igreja de Corinto tinha muitos problemas de pecado que iam desde divisões, passando por imoralidade, soberba e chegando ao ponto de irmãos levarem uns aos outros ao litígio diante de incrédulos.

A despeito disso, aquela igreja se via como muito espiritual e, por isso, no capítulo 10, Paulo lembra àqueles irmãos de várias experiências espirituais vividas pelo povo de Israel no deserto mostrando que, apesar de todas essas experiências, “Deus não se agradou da maioria deles, razão por que ficaram prostrados no deserto” (1Co 10.1-5).

O objetivo de Paulo relatar isso é bem claro. Ele mesmo diz: “Ora, estas coisas se tornaram exemplos para nós, a fim de que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram” (1Co 10.6). Aqueles irmãos e nós temos o grande privilégio de ter acesso a tudo aquilo que o Senhor mandou registrar em sua bendita Palavra para vivermos uma vida reta aos seus olhos.

Não precisamos passar pelo mesmo que passaram irmãos nossos do passado. Seus erros e a forma como Deus os tratou estão diante de nossos olhos e precisamos aprender com a história para viver de modo digno do evangelho de Cristo. Muitos dos nossos irmãos do passado já caíram em pecados que nós poderíamos evitar se atentássemos para a história e crêssemos de todo o coração no que Deus ordena em sua Palavra, afinal de contas, ela nos foi dada para ser a lâmpada para os nossos pés e a luz para o nosso caminho (Sl 119.105).

Mas, infelizmente, não são poucas as vezes que, mesmo sabendo o que está na Escritura, acabamos por tomar caminhos segundo os desejos e inclinações pecaminosas do nosso coração. Desejos e inclinações totalmente opostos ao que o Senhor revela em sua Palavra.

Quando isso acontece, certamente somos corrigidos pelo Senhor. O escritor da epístola aos Hebreus lembra os seus leitores, que estavam tentados a desistir de sua caminhada por causa das perseguições: “Ora, na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até ao sangue e estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre convosco: Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo o filho a quem recebe. É para a disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige?” (Hb 12.47).

O resultado dessa correção é maravilhoso. Ainda que passemos por aflições, seremos levados à Palavra do Senhor. “Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos” (Sl 119.69), disse o salmista.

Tudo isso ocorrerá, pois aquele que começou a obra de redenção em nossa vida certamente a completará até a vinda do Senhor Jesus Cristo (Fp 1.6).

Ele nos concedeu a sua Palavra a fim de aprendermos a viver de modo digno do Evangelho. Ele nos deu o seu Espírito que nos guia a toda a verdade (Jo 16.13). Ele nos disciplinará sempre que necessário, a fim de voltarmos ao caminho.

Portanto, cuidemos de nos dedicar ao conhecimento da Escritura, a Palavra viva e eficaz de Deus (Hb 4.12). É o conhecimento da Lei do Senhor que nos habilitará a cumprir o papel de testemunhas que nos foi outorgado, vivendo como sal da terra e luz do mundo.

Aprenda para viver para a glória de Deus junto à sua família, na vida em sociedade, nos seus negócios. Essa é a vida abundante que o Senhor Jesus nos deu. Quando Josué assumiu o comando do povo de Deus para levá-lo à terra prometida, ouviu do Senhor que não deveria cessar de falar sobre o Livro da Lei, mas antes disso ele deveria meditar “nele dia e noite, para que tenhas o cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito” (Js 1.8). A promessa que decorreu dessa ordem à Josué foi: “então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido”.

Aqueles que aprendem para viver serão semelhantes ao homem bem-aventurado do salmo primeiro, cujo prazer está na lei do Senhor, na qual medita dia e noite e “tudo quanto ele faz será bem sucedido” (1.3c). Aqueles que, mesmo conhecendo a Escritura, tentam trilhar seus próprios caminhos, serão disciplinados e santificados pelo Senhor.

Você pode aprender para viver e ser abençoado ou viver para aprender, sendo disciplinado pelo Senhor. Neste caso, a bênção é que, ainda que a disciplina, no momento não seja motivo de alegria, ao final produzirá fruto de justiça (Hb 12.11). Escolha o seu caminho!

10 novembro 2018

Deus nos deu spoiler

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Eu gostava muito, por achar bastante criativa, de uma propaganda antiga de certo aparelho videocassete que mostrava uma criança correndo de um lado para o outro na frente da fila que se formou em frente à bilheteria do cinema e que gritava: “a mocinha morre no fina-al!”, “quem matou foi o marido, quem matou foi o marido”, enquanto fazia careta para os que estavam na fila e que olhavam para ele com cara de frustrados.

O objetivo da propaganda era mostrar que a forma mais segura de assistir a um filme sem alguém estragar, contando o final, era em casa, no videocassete. Em meados da década de 90, o spoiler era assim, ao vivo. Spoiler é a revelação de informações sobre o conteúdo de livros ou filmes a quem ainda não os tenha lido ou assistido.

Os tempos mudaram, mas a maioria das pessoas continua não gostando de spoilers. Em tempos de rede social e sites de entretenimento, não é incomum quando alguém vai fazer comentários a respeito de filmes avisar de antemão: “Atenção! Contém spoiler!”, a fim de não se acusado de ser estraga-prazeres pelos leitores desavisados.

Saber de antemão o final de um filme faz perder toda a graça, tira toda a emoção e surpresa e muitos até desanimam de assistir. O interessante é ir descobrindo o que acontecerá, como o mocinho conseguirá se safar e de que maneira os fatos se “encaixarão” no enredo.

Curiosamente, o que é esperado ao se assistir um filme não é apreciado na vida real. Nela não queremos surpresas. Queremos que as coisas aconteçam exatamente como planejamos e quando as mínimas coisas saem do controle vêm o estresse, a irritação, o desânimo, a ansiedade, a depressão, etc.

Um acidente de trânsito que causa atraso em um compromisso leva um homem à ira; a notícia de uma doença séria traz ansiedade e desânimo; a incapacidade de um pai ou uma mãe de saber onde está o filho que ainda não chegou no destino e que não atende o celular leva os nervos à flor da pele, a instabilidade financeira e a falta de perspectivas levam jovens a questionar se a vida vale a pena...

Há um problema ainda maior. Por mais que não gostemos de que as coisas saiam do controle, não temos a mínima capacidade de controlar as circunstâncias de nossa vida. Diante disso, Tiago exorta: “Atendei, vós que dizeis: Hoje ou amanhã iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos, e teremos lucros. Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa” (Tg 4.13-14). A realidade é que não sabemos nem quanto tempo de vida teremos.

As palavras de Tiago poderiam levar alguns a uma angústia inquietante e uma preocupação diária com o dia de sua morte. Entretanto, ele continua: “Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo” (Tg 4.15). Note que não há problema no planejamento em si, ele é até estimulado nas Escrituras. O problema está em achar que as coisas acontecerão de acordo com a nossa vontade, mesmo sabendo que “o coração do homem traça o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos” (Pv 16.9). Tiago exorta seus leitores a confiar no Senhor.

No grande filme da vida, o autor, produtor e diretor é o grande Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo e para que pudéssemos estar bem seguros ele nos deu “spoiler”. Pedro afirma que tudo o que necessitamos para vida e piedade já nos foi doado na revelação de Jesus Cristo. Em Cristo, foram doadas as grandes promessas de Deus, a fim de que nos livremos das paixões do mundo (cf. 2Pe 1.3-4). Paulo diz que “tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15.4).

Desde o início, Deus tem dado promessas que dão segurança ao que crê. Ao primeiro casal, após a queda, ele afirmou que da mulher viria aquele que iria esmagar a cabeça da serpente (Gn 3.15). No decorrer da revelação do Antigo Testamento, muitos outros aspectos acerca do Messias foram dados. Ele viria da tribo de Judá (Gn 49.10), nasceria de uma virgem (Is 7.14), na cidade de Belém (Mq 5.2), seria o próprio Deus Forte sobre os ombros de quem estaria o governo (Is 9.6), morreria pelos pecados daqueles que ele graciosamente justificaria (Is 53) e essas são apenas algumas das profecias.

Ainda assim, em seu ministério, Jesus foi confrontado por muitos, incluindo mestres da lei, que questionavam quem ele era. Em uma dessas ocasiões o Senhor afirmou: “Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mt 22.29). Para saber a respeito daquele que ali estava, era necessário conhecer o que Deus houvera revelado.

Jesus morreu, conforme as Escrituras, e ressuscitou, conforme as Escrituras (1Co 15.3-4). Se, como eu, você crê nisso, sabe que o Senhor cumpriu cada palavra dita de antemão. Isso, por si só, deveria ser motivo suficiente para estarmos seguros, deixarmos de lado as preocupações, termos alegria a despeito das circunstâncias e confiar de todo o coração em nosso Redentor.

Mas o Senhor nos revela muito mais. Pela Escritura, sabemos que teremos aflições (Jo 16.33), que podemos ser perseguidos (2Tm 3.12), que estaremos expostos às tentações (Lc 22.40), que por amor do Senhor somos entregues à morte o dia todo (Rm 8.36), etc. Entretanto, sabemos também que “em todas essas coisas, porém, somos mais que vencedores por meio daquele que nos amou” (Rm 8.37), que nada pode nos separar do amor de Deus que está em Cristo (Rm 8.38-39), que a boa obra iniciada em nós será completada (Fp 1.6), que estamos sendo santificados para ser apresentados como sua noiva, Igreja gloriosa (Ef 5.27), que todas as coisas cooperam para o nosso bem (Rm 8.28), que até mesmo os nossos fios de cabelo estão contados (Mt 10.30). Mais ainda, temos a garantia de que o Senhor estará conosco “todos os dias até à consumação dos séculos” (Mt 28.28).

Diante das angústias, das lutas e dos dilemas da vida, quando as coisas parecerem estar fora de controle, lembre-se destas promessas. Lembre-se de que o final não é incerto. O grande autor do filme da vida já nos contou o final: Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo. Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras (Ap 21.1-5).

Deus nos deu spoiler, mas este não causa frustração e desânimo em ver o filme, antes nos enche de esperança, segurança e nos faz ansiar pelo grande final, por aquele que diz: “Certamente, venho sem demora. Amém!” por isso clamamos – “Vem, Senhor Jesus!”.