30 maio 2015

Ateísmo, uma questão de fé!

O ateísmo de nossos dias tem uma característica peculiar, ele é militante. Multiplicam-se as páginas da internet e as comunidades nas redes sociais em que ateus tentam livrar os “incautos” das garras da religião, que dizem eles ser um dos piores males da humanidade. Há, inclusive, uma associação de ateus (ATEA) que há uns anos colocou, em alguns estados do nosso país, uma série de propagandas em ônibus e em outdoors numa tentativa de conseguir mais adeptos para a sua ideologia.

Um dos mais famosos ateus da atualidade, Richard Dawkins, que junto com outros três ateus ficaram conhecidos como os quatro cavaleiros do neoateísmo, concedeu entrevista à Revista Veja na semana passada. Ele é o autor do best seller “Deus, um delírio” e, atualmente, um dos mais ferozes críticos da fé cristã.

Algo me chamou bastante atenção em sua entrevista. Em certo ponto ele respondeu: “A evolução também é contingencial na medida em que o seu curso exato depende, fortemente, de fatores desconhecidos e aleatórios”.
Uau! Eis aí uma declaração de fé! O que ele diz, em outras palavras, é que sua “certeza” sobre a evolução só é possível caso se entenda que houve fatores que não são conhecidos, logo, que não podem ser provados, ou seja, é preciso ter fé. É claro que ele não chama assim, mas não deixa de ser irônico, não?

As tentativas humanas de negar a existência de Deus não são novidade do século XXI. Há muitos séculos atrás, Davi escreveu: “Diz o insensato no seu coração: Não há Deus” (Sl 53.1a). Mas ele não parou por aí, antes, tratou de demonstrar o resultado desse tipo de crença: “corrompem-se e praticam iniquidade. Já não há quem faça o bem” (Sl 53.1b). Ao partir do pressuposto de que Deus não existe, o homem acha que está livre para ele mesmo estabelecer padrões de conduta e moralidade. Se não há um Deus que é a fonte de todo o bem e de quem emanam os princípios de justiça, moral e ética, resta ao homem pecador estabelece-los.

Não é difícil perceber isso utilizando como exemplo o próprio Dawkins. Ano passado ele se envolveu em uma polêmica quando afirmou no twitter que “uma mulher, se estivesse grávida de um feto com síndrome de Down, ‘deveria abortar e tentar novamente. Seria imoral trazê-lo para o mundo, se você tem a escolha’” (Jornal O Globo).

Por mais que seja chocante, a declaração de Dawkins é indiscutivelmente coerente com a fé que ele professa. Sendo o homem um simples produto da evolução pela seleção natural, não é difícil descartar os que “não deram certo” e, se não há um Deus que é o doador da vida, a decisão fica ainda mais simples de ser feita.

Qual a diferença da fé professada por Dawkins para a fé cristã? Fácil responder. Sua fé é cega, pois depende de fatores desconhecidos, enquanto a fé cristã está fortemente alicerçada naquilo que o Senhor quis dar a conhecer ao homem, por meio de sua Palavra. Por isso o autor de Hebreus pôde dizer que “a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem” (Hb 11.1). Só para exemplificar, a fé do patriarca Abraão era a certeza de que receberia uma herança (esse era o fato), pois o Senhor havia revelado isso para ele. Foi por isso que ele saiu de sua terra, em obediência ao Senhor.

Entre a fé no desconhecido e a fé naquilo que o Senhor deu a conhecer em sua Palavra, opto pela segunda opção. Como bem afirmou Norman Geisler no título de um de seus livros, “não tenho fé suficiente para ser ateu”.

20 maio 2015

O “após-tolo” Lameque

11Dia desses me mostraram um vídeo de um autodenominado apóstolo demonstrando todo o seu “poder”. No vídeo, o culto é interrompido por um obreiro que informa que um suposto feiticeiro tinha ido desafiar o após-tolo afirmando que não havia poder de Deus que pudesse convertê-lo. O que vem depois disso é uma encenação das mais toscas que já vi. O “feiticeiro” caminha até o púlpito no pior estilo das lutas de “vale tudo” (ao som de uma música de suspense para criar o clima) e encara o tal após-tolo Agenor Duque. O após-tolo dá uns gritos e o feiticeiro cai no chão, aos brados da plateia. Mas não para aí, aos gritos de algo parecido com “Holy Espírito”(?) (agora com uma trilha sonora de vitória) a “galera” fica ensandecida, grita e pula, comemorando a vitória do “após-tolo” no UFC gospel.

Agenor continua a manipulação da massa histérica gritando: “Vale a pena ser fiel”, mas o que mais me chamou a atenção foi o que veio após isso. Ele olha com cara de mau para a câmera e ameaça: “Vem desafiar! Vem desafiar!”. O recado está dado: Não ouse mexer ou desafiar um homem com tamanho poder. Uma variação do já famoso e desgastado “Cuidado! Não toque no ungido do Senhor”, também usado como ameaça por muitos líderes de igrejas.

Ao ver isso me veio à mente a história de Lameque. Ela está registrada no capítulo 4 do livro de Gênesis. Ao listar a genealogia daqueles que estavam em oposição a Deus, encabeçada por Caim, Moisés escreve que Lameque havia quebrado o padrão monogâmico estabelecido pelo Senhor, tomando duas esposas: Ada e Zilá. Esse homem um dia se dirigiu às suas esposas nesses termos: “Ada e Zilá, ouvi-me; vós, mulheres de Lameque, escutai o que passo a dizer-vos: Matei um homem porque ele me feriu; e um rapaz porque me pisou. Sete vezes se tomará vingança de Caim, de Lameque, porém, setenta vezes sete” (Gn 4. 23,24).

Lameque se vangloriava de sua maldade e violência. Ele afirma ser ainda pior que seu ancestral Caim, que havia matado seu irmão, Abel. A palavra hebraica, traduzida por rapaz, indica que não passava de uma criança aquele que o havia pisado, o que torna ainda mais desproporcional a sua violência. Mas creio que há algo mais do que a simples exaltação de sua maldade. Ao que tudo indica, relatando o caso às esposas, ele também manda a elas um recado: “Cuidado comigo! Vejam o que sou capaz de fazer, então, andem na linha”, bem parecido com o “vem desafiar” do após-tolo Agenor.

A liderança pelo medo não é algo novo, entretanto, é triste perceber que dentro do cenário evangélico brasileiro, muitos olham para o tal Agenor e o consideram, de fato, um homem de Deus, revelando assim um total desconhecimento do padrão bíblico quanto às qualificações dos pastores, das quais destaco aqui o ser temperante, sóbrio, não violento e inimigo de contendas (1Tm 3.1-7; Tt 1.5-9). Mais ainda, há desconhecimento quanto às características de um falso mestre, ou, no caso, falso apóstolo, como veremos agora.

Começando com a advertência de Pedro, percebemos que os falsos mestres estariam na igreja, introduziriam heresias destruidoras (procure na Escritura algo parecido com o que esse homem faz), seriam seguidos por muitos, estariam movidos por avareza fazendo comércio dos fiéis com palavras fictícias. Louvado seja o Senhor, pois Pedro declara também que o juízo sobre esses não tarda e que sua destruição não dorme (Confira 2Pe 2.1-3).

Na segunda epístola aos coríntios temos também Paulo acusando aqueles que pregavam “outro Jesus” de serem “falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo”, mas que a igreja não deveria se admirar, “porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros de justiça;”, além de, como fez Pedro, declarar a condenação deles: “e o fim deles será conforme as suas obras” (2Co 11.13-15).

Tanto Pedro, quanto Paulo, não estavam ensinando nenhuma novidade. O próprio Senhor Jesus, em seu ministério, exortou os discípulos: “Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7.15,16a).

Aos pastores fiéis, fica a palavra de Pedro: “pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória” (1Pe 5.2-4).

A liderança bíblica não é estabelecida pelo medo. O líder bíblico, à semelhança do Senhor Jesus, é servo e receberá sua recompensa das mãos do Supremo Pastor.

Quanto ao após-tolo Agenor “Lameque”, ao ver sua grotesca encenação, lembrei-me também de uma frase que li em algum lugar, com a qual concordo plenamente: “apóstolo bom é apóstolo morto” e, para que não me acusem de igualmente incitar a violência, deixo bem claro: não estou desejando a morte do tal Agenor, antes, enfatizando que o último apóstolo autorizado pela Escritura morreu no início do primeiro século.




07 maio 2015

Amar a quem?

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Em nossos dias a palavra “amor” tem perdido completamente o seu sentido e isso ocorre porque a compreensão sobre ela é equivocada. Um poeta secular, ao falar sobre esse assunto, expressa sua compreensão dizendo que o amor não é imortal, posto que é chama, mas deve ser infinito enquanto durar.

Isso se agrava ainda mais quando não se têm uma compreensão bíblica sobre o alvo do amor. A ênfase no amor-próprio como requisito para outras “conquistas” é difundida por todos os lados. Uma música da década de 80 serve para exemplificar isso, na última estrofe e no refrão temos:

Foi tão difícil pra eu me encontrar,

é muito fácil um grande amor acabar,

mas eu vou lutar por esse amor até o fim

não vou mais deixar eu fugir de mim.

Agora eu tenho uma razão pra viver,

agora eu posso até gostar de você.

Completamente eu vou poder me entregar,

é bem melhor você sabendo se amar.

Eu me amo, eu me amo,

não posso mais viver sem mim”[1] (grifos meus)

Essa forma de pensar é encontrada também nas igrejas que assumiram o “dogma” da autoajuda.

A Escritura, porém, caminha na contramão de tudo isso. Vemos no Evangelho que, ao ser questionado por um intérprete da Lei sobre qual seria o grande mandamento, Jesus respondeu que o principal era amar a Deus de todo o coração, alma e entendimento e que o segundo era amar ao próximo como a si mesmo. Disse mais ainda: “Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mt 22.40). Devemos notar que Jesus não fala em momento algum de amor próprio, ainda que muitos tentem enxergar no texto este “terceiro mandamento”, demonstrando um total descompromisso com a interpretação do texto.

O mais espantoso é perceber que raciocínio dos cristãos que pensam assim é semelhante ao do autor da música citada acima: se alguém não se ama não conseguirá amar o próximo.

Esse “terceiro mandamento” não está no texto por uma simples razão: o homem, por natureza, já se ama demais e não precisa ser estimulado a se amar mais ainda. Jesus parte do princípio de que esse amor por si mesmo já existe. As palavras de Paulo corroboram esse pensamento. O apóstolo afirma: “Porque ninguém jamais odiou a própria carne; antes, a alimenta e dela cuida” (Ef 5.29).

Quando a Escritura menciona o amor próprio, trata-o como um problema: “Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas (amantes de si mesmos na versão Revista e Corrigida de Almeida)” (1Tm 3.1,2), afirma Paulo a Timóteo.

A despeito disso, várias publicações cristãs e inúmeros pregadores têm afirmado que o homem deve amar a si mesmo. Com isso, ensinam que o homem precisa fazer justamente aquilo que a Escritura aponta como um dos males dos últimos tempos.

Se queremos honrar a Deus agindo de forma bíblica precisamos entender o que a Escritura, de fato, ensina sobre o amor e o que ela requer que façamos. Somos alvo do amor maior, o amor do Senhor demonstrado na cruz do Calvário, e, por isso, podemos e devemos amá-lo da forma correta, colocando-o em primeiro lugar em nossas vidas e também dispensando esse amor ao próximo.

Segundo Paulo, “o amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba” (1Co 13.4-8). Esse amor deve ser sem hipocrisia (Rm 12.9), cordial, fraternal, preferindo o próximo em honra (Rm 12.10), edificante (1Co 8.1), demonstrado de fato e de verdade (1Jo 3.18).

Somos exortados a não nos conformar com este século (Rm 12.1-2) e, por isso, devemos deixar de lado o que o mundo ensina sobre o amor egoísta (amor próprio) e viver o amor bíblico, por Deus e pelo próximo, para a glória daquele que nos amou primeiro.

*Texto republicado, com modificações.


[1] Música: Eu me amo; Banda: Ultraje a rigor