02 abril 2019

Tudo é para o seu bem, é o que basta a você saber

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No texto anterior tratei do questionamento errôneo por parte de muitos que, ao sofrer, perguntam o que fizeram para merecer tal aflição. Demonstrei que, biblicamente, o homem já nasce inimigo de Deus, portanto, merecedor apenas de sua ira. Aqueles que não compreendem esta verdade, fatalmente viverão lamentando, independente do tamanho da aflição por que passam, seja grande ou pequena.

Por outro lado, mostrei que a pergunta “o que eu fiz para merecer isso?” vista pela perspectiva da graça de Deus, leva o homem a ser grato a Deus que, por causa de Cristo, não nos dá toda a punição que merecemos, ao mesmo tempo em que, sem nenhum mérito nosso, a não ser os de Cristo aplicados a todo o que nele crê, concede pela graça a vida eterna. Esta é a razão de os sofrimentos aqui, não se compararem à glória a ser revelada em nós.

Entretanto, mesmo aqueles que creem em Deus, seja no Antigo Testamento por meio da fé no Messias que viria, seja no Novo Testamento, por meio da fé no Messias que cumpriu as promessas de sua vinda, por vezes fizeram a mesma pergunta: O que eu fiz para merecer isso?, ainda que não com as mesmas palavras.

Lembre-se, por exemplo, de Jó. Homem descrito pelo próprio Senhor como sendo íntegro, reto, temente a Deus e que se desviava do mal. No início do livro, após sofrer vários infortúnios, ele continuou louvando a Deus, chegando a afirmar à sua esposa: “temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o mal?” (Jó 2.10). Entretanto, após esse primeiro momento, ele amaldiçoou o dia do seu nascimento (Jó 3) e chegou a dizer:

“Ah! Se eu soubesse onde o poderia achar! Então, me achegaria ao seu tribunal. Exporia ante ele a minha causa, encheria a minha boca de argumentos. Saberia as palavras que ele me respondesse e entenderia o que me dissesse. Acaso, segundo a grandeza de seu poder, contenderia comigo? Não; antes, me atenderia. Ali, o homem reto pleitearia com ele, e eu me livraria do meu juiz” (Jó 23.3-7).

Você percebe o que está havendo aqui? Jó, arrogantemente, está declarando que se ele se defendesse diante de Deus, este retiraria dele o sofrimento por reconhecer a sua justiça.

Veja um pouco mais. O capítulo 31 é uma amostra da justiça de Jó. Ali ele declara que nunca havia posto os olhos maliciosamente em uma donzela, que não cobiçou, não adulterou, foi justo e caridoso com seus servos, nunca havia negado a Deus nem se alegrado com o mal. Após ele termina dizendo: “Eis aqui a minha defesa assinada! Que o Todo-Poderoso me responda! Que o meu adversário escreva a sua acusação!” (Jó 31.35).

Como afirmei no texto anterior, a pergunta “o que eu fiz para merecer isso?” não é uma boa pergunta a se fazer. Mas é isso, basicamente, o que Jó está fazendo. É preciso enfatizar que a contar pelo testemunho do próprio Deus a respeito dele no início do livro, Jó de fato fazia tudo isso. Ele era justo, íntegro e se desviava do mal.

A questão é que ele achava que estas ações, fruto da graça de Deus sobre ele, eram motivo suficiente para ele não experimentar tamanho sofrimento. O erro, então, era ele confiar em sua própria justiça.

O problema de se perguntar a razão do sofrimento é Deus resolver responder. No capítulo 38 o Senhor aparece a Jó e o responde questionando: “Quem é este que escurece os meus desígnios com palavras sem conhecimento?” (Jó 38.1-2). Deus começa apontando para a soberba (“quem é este?”) daquele que falava sem entendimento e passa, então, a fazer perguntas a Jó a fim de que ele respondesse.

Após uma série de perguntas que apontavam para a criação e para o governo de Deus sobre suas criaturas o Senhor, termina com um ultimato: “Acaso, quem usa de censuras contenderá com o Todo-Poderoso? Quem assim argui a Deus que responda” (Jó 40.2). O que responderia Jó diante de tamanha grandeza? Ele simplesmente não tem o que responder e diz que taparia a boca para não mais falar.

Mas o Senhor ainda não havia terminado de ministrar ao coração de Jó. Ele afirma que Jó o acusava de injustiça e novamente faz mais uma série de perguntas que demonstravam o seu poder e a grandeza, mostrando a Jó que ele sequer conseguiria subjugar suas grandes criaturas, quanto mais contender com o seu Criador.

Jó finalmente entende a questão. Ele declara no capítulo 42 o poder do Senhor: “Bem sei que tudo podes” – e sua total soberania sobre todas as coisas – “e nenhum dos deus planos pode ser frustrado” (v. 2). Ele declara ainda que falou do que não sabia e do que não entendia. Ele conhecia só de ouvir, mas agora via o Senhor. A ideia é que agora, ele mais intimamente entendia que o plano de Deus era perfeito, ainda que Deus não tenha explicado a ele a razão do sofrimento.

Esta última declaração de Jó está em acordo com o propósito das provações, como descrito por Tiago. Elas tem por fim tornar o homem perfeito, íntegro e em nada deficiente (Tg 1.4). O Deus que salva pecadores, sem que eles mereçam, os “predestinou para serem conformes a imagem de seu Filho” (Rm 8.29), daí Paulo estar convicto de que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28).

Nossa vantagem em relação a Jó é o ensino do Novo Testamento a respeito das provações que afligiram o nosso irmão. Portanto, consciente do propósito do Senhor de conformar todos os seus filhos adotivos à imagem do Filho Perfeito, o Senhor Jesus Cristo, não ceda à tentação de perguntar “o que eu fiz para merecer isso”, antes, como fez Jó no final do livro, confie naquele que não terá nenhum de seus planos frustrado e que faz coisas maravilhosas, muitas vezes não entendidas por você.

Você não precisa entender os planos que Deus não revelou, mas, pela revelação da Escritura, entender quem é o Deus Bendito que por amor ao seu povo, fez sofrer o seu próprio Filho, verdadeiramente justo, que justificou a Jó e a todo o que nele crê.

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