20 janeiro 2020

Os membros da IPB e os símbolos de fé

Recentemente tive notícia de uma série de posts no Twitter de presbiterianos que se dizem contra o pedobatismo. Apesar de fazer tanto sentido quanto alguém se dizer pentecostal, mas não crer em dom de línguas e revelação, isso não é necessariamente uma novidade. Desde que eu me tornei membro da IPB que sei de membros da igreja que não apresentam seus filhos ao batismo, sob a crença de que somente quando eles crescerem é que poderão tomar uma decisão por Cristo e, consequentemente, serem batizados. A pergunta aqui deveria ser por qual razão tais irmãos escolheram fazer parte de uma igreja pedobatista em vez de filiar-se a uma igreja credobatista[1].

Neste post não pretendo provar que a prática do batismo infantil é bíblica. Essa é minha convicção e já escrevi sobre isso em outro post (clique e leia), mas hoje vou me deter em outra questão, da qual também já fui defensor, a saber, a tese de a IPB não exigir dos membros a subscrição dos símbolos de fé, sendo esta exigência a ser feita apenas aos oficiais.

Estudando sobre este assunto em nossos padrões de fé e na Constituição da Igreja (CI/IPB), cheguei à conclusão de que os membros devem sim acatar todas as doutrinas expostas na Confissão a fim de serem recebidos como membros da IPB. Para ilustrar, aproveitando o momento em que muitos falam contra o pedobatismo, vou usar esta doutrina para exemplificar o que penso agora.

Primeiramente é preciso lembrar o que preceitua o primeiro artigo da CI/IPB:

Art.1 - A Igreja Presbiteriana do Brasil é uma federação de Igrejas locais, que adota como única regra de fé e prática as Escrituras Sagradas do Velho e Novo Testamento e como sistema expositivo de doutrina e prática a sua Confissão de Fé e os Catecismos Maior e Breve; rege-se pela presente Constituição; é pessoa jurídica, de acordo com as leis do Brasil, sempre representada civilmente pela sua Comissão Executiva e exerce o seu governo por meio de Concílios e indivíduos, regularmente instalados.

Ou seja, está bem claro que a IPB tem uma doutrina bem estabelecida, expressa em nossos símbolos de fé. Ao olhar para a Confissão de Fé nota-se que está estabelecido que a igreja visível “consta de todos aqueles que pelo mundo inteiro professam a verdadeira religião, juntamente com seus filhos” (CFW XXV.II). Ao tratar do sacramento do batismo, a Confissão de Fé afirma que “não só os que professam a sua fé em Cristo e obediência a ele, mas os filhos de pais crentes (embora só um deles o seja) devem ser batizados” (CFW XXVIII.IV).

Esta é a razão de você ler no artigo 2 da CI/IPB que “A Igreja Presbiteriana do Brasil tem por fim prestar culto a Deus, em espírito e verdade, pregar o evangelho, batizar os conversos, seus filhos e menores sob sua guarda”.

Quando a Constituição trata dos deveres dos membros da igreja, temos dois desses deveres que precisam ser observados para a nossa discussão: “a) viver de acordo com a doutrina e prática da Escritura Sagrada; d) obedecer às autoridades da Igreja, enquanto essas permanecerem fiéis às Sagradas Escrituras” (CI/IPB Art. 14).

É claro que o crivo para aferir a fidelidade dos oficiais da Igreja à Escritura são os símbolos de fé, adotados pela IPB como sistema expositivo de doutrina. É fácil perceber isso ao verificar o nosso código de disciplina que, ao definir o que é uma falta passível de disciplina, afirma que “falta é tudo que, na doutrina e prática dos membros e concílios da Igreja, não esteja de conformidade com os ensinos da Sagrada Escritura, ou transgrida e prejudique a paz, a unidade, a pureza, a ordem e a boa administração da comunidade cristã” e em seu parágrafo único sustenta que “Nenhum tribunal eclesiástico poderá considerar como falta, ou admitir como matéria de acusação aquilo que não possa ser provado como tal pela Escritura, segundo a interpretação dos Símbolos da Igreja (CI/IPB, Art. 1º)” (CD/IPB Art. 4).

Não é sem razão, então, que uma das funções privativas do Conselho da igreja local seja “velar por que os pais não se descuidem de apresentar seus filhos ao batismo” (CI/IPB, Art. 83, letra u).

Diante disso, penso que aqueles que são recebidos como membros, ao se comprometerem a obedecer às autoridades da igreja estão também reconhecendo que o ensino dessas autoridades, que precisa ser segundo o que está exposto nos símbolos de fé, é um ensino correto.

Seria um contrassenso receber membros que não acatam a doutrina da Igreja, sendo que eles estarão sujeitos à disciplina, como é o caso daqueles que não apresentam os seus filhos ao batismo.

Respondendo à objeções

A despeito de tudo isso há por parte de muitos o entendimento de que a aceitação das doutrinas expostas nos símbolos de fé é uma exigência apenas para os oficiais, por isso, é preciso responder às objeções.

Objeção 1: O Manual de Culto da IPB não traz uma pergunta a respeito da aceitação das doutrinas dos símbolos de fé.

Resposta: Como já afirmei, esta foi minha posição por bastante tempo, mas mediante tudo o que expus a respeito do que está na Confissão, na Constituição da Igreja e em seu código de disciplina, cheguei à conclusão de que esta exigência está sim nas perguntas do código de disciplina, não explicitamente, mas de forma implícita, considerando tudo o que dizem os símbolos de fé e o Manual Presbiteriano.

A última das perguntas que constam no Manual de Culto é a seguinte: “E prometeis mais que, como membros desta Igreja, vos sujeitareis sempre à sua disciplina, e às autoridades nela constituídas para seu ensino e governo, enquanto forem fiéis às Sagradas Escrituras?”.

Diante de tudo o que foi exposto, não é difícil entender que ao prometer que se sujeitará às autoridades para o ensino e governo, o membro está acatando, no fim das contas, a doutrina expressa nos símbolos de fé, visto que os oficiais não podem ensinar nada que esteja em oposição a eles.

Objeção 2: Não podemos negar a água do batismo a quem já foi batizado pelo Espírito Santo, só por não aceitar um ou outro ponto doutrinário.

Resposta: Se isso é verdade, por coerência, nenhum Conselho pode disciplinar membros que não queiram, por exemplo, apresentar seus filhos ao batismo.

Ainda que em nossos Princípios de Liturgia esteja claro que “os membros da Igreja Presbiteriana do Brasil devem apresentar seus filhos para o batismo, não devendo negligenciar esta ordenança” (PL/IPB, Art. 11), que a Constituição da IPB estabeleça que o Conselho deve velar para que os pais não descuidem de apresentar os filhos ao batismo e o Código de Disciplina da IPB afirmar que falta é tudo que na doutrina e prática dos membros não esteja em acordo com as Escrituras conforme a interpretação dos símbolos, nenhum Conselho teria o direito de negar a comunhão da igreja a um membro somente por uma “simples discordância”.

Logo, não precisaríamos nem ter tudo isso explícito em nossos documentos, visto que na prática, não poderíamos sustentar estas posições.

Pra terminar

Há outras objeções que poderiam ser levantadas, mas creio que estas duas são as mais aparentes e que causam mais incômodo. A Igreja Presbiteriana do Brasil tem doutrina definida e a adesão à membresia da igreja é algo voluntário.

Por um lado, os Conselhos das Igrejas precisam ser mais zelosos na recepção de membros, a fim de não trazerem para a igreja problemas que poderiam ser facilmente evitados. Não faz o menor sentido receber um membro que discorde de uma doutrina como o batismo infantil sabendo que ele deverá ser disciplinado quando não apresentar os seus filhos para receberem o sinal e selo do Pacto.

Por outro lado, aqueles que desejam filiar-se à uma denominação, no nosso caso à IPB, devem fazê-lo de uma forma que sejam abençoados e que também sejam uma bênção para a igreja. Aqueles que não concordam com as doutrinas expressas em nossos símbolos de fé têm diante de si várias denominações que creem de forma distinta da nossa. Que se filiem a elas e trabalhem para a glória de Deus, conforme a sua consciência e entendimento bíblico. Creio que isto é melhor do que ser um problema dentro de uma igreja local.


[1] A posição pedobatista defende o batismo dos filhos dos crentes, por entender que eles estão inseridos no Pacto. A posição credobatista entende que o batismo é somente para aqueles que expressam a sua fé em Cristo, deixando de fora, por razões lógicas, as crianças. Estas somente serão batizadas quando declararem a sua fé.

7 comentários:

Rev. Ageu Magalhães disse...

Muito bom o artigo. Se mais pastores e presbíteros tivessem este entendimento, muitos problemas seriam evitados em nossas igrejas.

JOAO PAULO DA SILVA BISPO disse...

PRECISAMOS DE ENSINO DE DOUTRINA NAS IGREJAS, MUITOS MEMBROS NÃO CONHECEM A CONSTITUIÇÃO DA IPB

Ulisses dos Santos disse...

O grande problema foi exposto por João Paulo Bispo, Nossa denominação é a única verdadeiramente calvinista(o cap. XVI do quarto livro das institutas trata do pedobatismo) e com certeza possui uma doutrina genuinamente bíblica, mas infelizmente algumas de nossas igrejas tem negligenciado suas bases doutrinárias por falta de conhecimento das mesmas. as vezes criticamos a postura de membros da igreja, mas a grande responsabilidade é de lideranças que não se dedicam ao ensino da doutrina bíblica básica e das bases doutrinárias da igreja.

Walace Barbosa disse...

Excelente artigo, tão esclarecedor, quanto útil. E preciso que Jajá da nossa liderança esse conhecimento, e haja desejo de muitos pastores em desafiar sei conselhos a seguirem estes ensinos.

Júnior disse...

O que se pode esperar de nossa amada IPB que muitas vezes ordena diáconos e presbíteros que nem conhecem nossos símbolos de fé ...
São induzidos a cometer perjúrio sem nem mesmo saber que estão pecando!
Há alguns anos atrás, vi um post de presbítero no FB declarando publicamente que tinha total desconhecimento "dessa tal" cfw ... e recebeu muitos "like" de membros da igreja!
Ótimo e oportuno esse post!

Júnior disse...

O que se pode esperar de nossa amada IPB que muitas vezes ordena diáconos e presbíteros que nem conhecem nossos símbolos de fé ...
São induzidos a cometer perjúrio sem nem mesmo saber que estão pecando!
Há alguns anos atrás, vi um post de presbítero no FB declarando publicamente que tinha total desconhecimento "dessa tal" cfw ... e recebeu muitos "like" de membros da igreja!
Ótimo e oportuno esse post!

Unknown disse...

Excelente artigo. Deus o abencoe!