29 setembro 2016

Cães de família?

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Cachorros não são da família! Sei que começar o texto com uma afirmação tão categórica assim pode fazer com que alguns não queiram nem perder tempo com “este insensível que não gosta de animais”. Quase consigo ouvir alguns recitarem bem alto: “O justo atenta para a vida dos seus animais, mas o coração dos perversos é cruel” (Pv 12.10), entretanto, peço que não seja tão apressado em seu julgamento, mas que “caminhe” comigo um pouco mais.

Antes de continuar preciso insistir, cachorros não são da família. Nem gatos, papagaios, iguanas, ou qualquer outro animal que seja. Dito isso, pense um pouco comigo a respeito desse assunto e, claro, como cristãos, por uma perspectiva bíblica.

Gênesis é o livro que narra a criação. Você pode perceber nos dias criativos como o Senhor vai estabelecendo a sua obra. Ele cria céus e terra, ordena que haja luz, que haja firmamento no meio das águas, ordena que as águas debaixo do céu se ajuntem num só lugar e apareça a porção seca, ordena que a terra produza relva, ervas, árvores frutíferas, etc. e que haja luzeiros para governar o dia e a noite. Após criar todas essas coisas e um ambiente que pudesse ser habitado, o Senhor começa a criar os animais. Ele ordena que se povoem as águas de seres viventes, que voem as aves sobre a terra, cria os animais marinhos, além de todos os seres viventes cada qual segundo a sua espécie. Tudo isso segundo o poder de sua Palavra, ele ordenou e assim se fez (Cf. Gn 1.1-25).

Somente após isso o Senhor criou o homem e foi uma criação diferenciada. Não foi como a dos animais, pois o homem não é daquela espécie. O Senhor não criou animais irracionais e um animal racional, Deus criou animais e o homem, segundo sua própria imagem e conforme sua própria semelhança. Em Gênesis 1.26-28, temos a deliberação, criação e bênção sobre o homem a fim de fazer aquilo para o qual foi criado: multiplicar-se, encher a terra, sujeitar a terra, dominar sobre os peixes do mar, as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra. Tudo isso para que a terra fosse povoada com aqueles que são a imagem do Senhor e para que, cuidando da criação, o homem pudesse espelhar aspectos do caráter do Criador.

Se eu parasse aqui já daria para perceber a diferença gritante entre um homem e um animal. Diferença qualitativa que é enfatizada por Jesus quando, ao ensinar a seus discípulos, ordenou que eles olhassem as aves do céu que, a despeito de não semear e colher, eram alvo do providencial cuidado do Pai que as sustentava e perguntou: “Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves?” (Mt 6.26).

Sim, os homens são diferentes e qualitativamente superiores aos animais o que pode ser notado ainda em Gênesis. Caminhemos mais um pouco. No segundo capítulo percebemos que o homem foi formado primeiro. Deus o fez do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego de vida. Colocou-o no jardim para cultivá-lo e guardá-lo, dando uma ordem expressa para que não tomasse do fruto do conhecimento do bem e do mal (Gn 2.4-17).

É interessante notar que o Senhor afirma que não era bom para o homem estar só. Perceba bem, a despeito de Adão estar cercado de todas as espécies de animais, aos quais ele mesmo deu nome, “para o homem, todavia, não se achava uma auxiliadora que lhe fosse idônea” (Gn 2.18-20). Ele tinha consigo muitos animais, mas não tinha uma família. Deus não lhe deu animais por família, mas esta se formaria a partir do momento em que o Senhor, da costela (mesma espécie) de Adão, lhe trouxesse uma mulher que, segundo as próprias palavras de nosso primeiro pai era, afinal, “osso dos meus ossos e carne da minha carne” (Gn 2.23).

Foi somente após a queda que essa relação começou a se confundir. Se, antes da queda, ao contemplar a criação o homem tributava louvor a Deus, após, os homens, “dizendo-se sábios, tornaram-se loucos e trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem mortal, bem como de pássaros, quadrúpedes e répteis” (Rm 1.22,23) e “mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!” (Rm 1.25).

O reflexo da queda pode ser visto, por exemplo, na idolatria pagã que exalta Gaia, a “mãe-terra” ou que atribui a felicidade e o equilíbrio do homem à “mãe-natureza”. Como consequência, temos a humanização dos animais que, quando não são colocados acima do homem em grau de importância, no mínimo, são vistos como iguais e o resultado não poderia ser outro, festas de aniversário em cerimoniais, SPA, hotéis, creches, carrinhos de bebê, etc., tudo para que os bichinhos “se sintam da família”. Muitos são mais bem cuidados que os próprios filhos, quando não são uma opção em detrimento desses a ponto de, já na década de 80, Eduardo Dusek ironizar cantando “troque o seu cachorro por uma criança pobre”.

Por causa desse tipo de mentalidade não é difícil ver pessoas que preferem animais a gente, todavia, a verdade é que, biblicamente, o mais cruel dos assassinos possui infinitamente mais dignidade que o mais “fofinho” dos pets, por ser imagem, ainda que desfigurada, do Criador. Imagem esta que pode ser redimida por Cristo Jesus, que para salvar pecadores se fez um homem.

Jesus morreu para salvar homens e, todos aqueles que o recebem pela fé, são feitos família de Deus (Ef 2.19). Se até aqui você ainda não se convenceu de que elevar animais ao status de membros da família está errado, olhe para a família de Deus, modelo para as nossas famílias. Ela é composta de todos os tipos de pecadores regenerados, judeus, gregos, circuncisos, incircuncisos, bárbaros, citas, escravos, livres (Cl 3.11), mas não de animais. Homens, por quem Jesus deu seu sangue, ressuscitarão para estar com ele para todo o sempre e, por mais que a criação também gema aguardando a redenção dos filhos de Deus (Rm 8.19-22), pois também será restaurada, não haverá uma ressurreição dos animais.

Eu estou ciente de que muitos que dizem considerar os animais como sendo da família querem enfatizar o cuidado que deve ser dispensado a eles e se você caminhou comigo até aqui, espero que tenha compreendido que não ter cuidado ou maltratar os animais não é atitude de um cristão. O privilégio de dominar a terra exige o cuidado com a criação. Por outro lado, elevar os animais ao nível dos homens, feitos à imagem e semelhança de Deus, é igualar-se aos pagãos.

Que o Senhor conceda a você o discernimento necessário a fim de glorificar a Deus entendendo corretamente o que significa o justo atentar para a vida de seus animais.

24 setembro 2016

Orando a um Deus soberano e providente

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“O que Deus é?”. Esta pergunta, de número 4 do Breve Catecismo de Westminster, traz uma resposta maravilhosa: “Deus é espírito, infinito, eterno e – repare bem o que vem a seguir – imutável eu seu ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade e verdade”.

A verdade de que Deus é imutável traz segurança àqueles que confiam em sua Palavra. A segurança da salvação, por exemplo, está firmemente enraizada nesse conceito, o que explica a convicção de Paulo quando escreveu aos filipenses afirmando que estava “plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6).

Entretanto, em se tratando de oração, muitos cristãos não têm levado em conta a doutrina da imutabilidade de Deus. Por essa razão entendem que de alguma forma podem mudar a vontade de Deus, por meio de suas orações.

Enquanto escrevo, me vem à mente um episódio ocorrido em meu primeiro ano de seminário. Eu e alguns amigos tínhamos ido a uma igreja dita evangélica a fim de entrevistar líderes sobre o tema: “a oração muda a vontade de Deus?”. Liguei o gravador e o pastor começou a responder convicto com um firme “sim”. Ele tentou, então, provar biblicamente sua posição, dizendo: “Você lembra a história daquele homem (ele não lembrava o nome de Abraão!) que pediu a Deus para não destruir a cidade se houvesse nela trinta justos?”. Acho que enquanto contava a história ele lembrou que a cidade foi destruída, até que por fim afirmou: “Se a oração não muda a vontade de Deus é melhor servir ao diabo”.

Por mais chocante que possa parecer, o que esse homem disse reflete aquilo que não é dito, pelo menos não tão abertamente assim, por muitos outros cristãos que entendem que Deus deve estar pronto a ceder a seus desejos (ou caprichos?), ao ouvir uma oração feita “com muita fé”. Esses acabam se igualando aos pagãos que, nas palavras de Jesus, “presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos”. O interessante é que na sequência desse texto, o Senhor exortou a seus discípulos, dizendo: “Não vos assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais” (Mt 6.7,8).

Daí, então, vêm aqueles que, não menos enganados, dizem que não é preciso orar, pois Deus já sabe o de que necessitamos e não vai mudar de ideia, caso peçamos o contrário. Esquecem-se, esses, que após afirmar que o Pai sabe o de que seus discípulos têm necessidade, Jesus ordenou: “Portanto, vós orareis assim” (Mt 6.9); e que Paulo ordenou aos tessalonicenses que orassem sem cessar (1Ts 5.17).

Como entender corretamente a oração? Aprendamos com o rei Davi. Ao ler o Salmo 139 você pode notar que Davi tinha convicções bem firmadas a respeito da vontade soberana de Deus em sua vida. Ele escreveu: “Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda” (Sl 139.16). Uma convicção dessas talvez fizesse com que muitos deixassem de orar, o que não foi verdade na vida de Davi, pois, a começar desse Salmo, podem ser encontradas várias outras orações do rei, em diversos momentos de sua vida.

Pois bem, você deve lembrar de um desses momentos. Em determinado ponto de sua vida Davi cometeu adultério com Bate-Seba, que veio a engravidar. Após toda a trama do rei para trazer Urias da guerra a fim de que se deitasse com sua esposa e pensasse que o filho era dele (plano que não foi bem-sucedido) e que terminou com a ordem de Davi para que Urias fosse colocado à frente do exército para morrer o que, de fato, ocorreu, Davi tomou Bate-Seba por esposa e tudo parecia bem. Ele tinha “resolvido” o seu problema (2Sm 11).

Entretanto, Deus enviou Natã a Davi e este foi confrontado pelo profeta acerca de seu pecado. Após arrepender-se, Davi ouviu de Natã que Deus o havia perdoado, mas que por causa do que havia feito seu filho, fruto do relacionamento adúltero com Bate-Seba, morreria (2Sm 12.1-14). O versículo seguinte informa que, após Natã ir para casa, o Senhor fez enfermar a criança (12.15).

O que faria, diante de uma palavra tão enfática do Senhor, um homem que entendia que todos os seus dias estavam escritos e determinados? O texto nos informa: “Buscou Davi a Deus pela criança; jejuou Davi e, vindo, passou a noite prostrado em terra” (12.16). Davi orou e jejuou por sete dias, ao cabo dos quais a criança morreu. Diante disso, Davi levantou-se da terra, lavou-se, ungiu-se, adorou a Deus, foi para casa e alimentou-se. Seus servos, espantados, perguntaram o que ele estava fazendo, pois pela criança viva ele havia jejuado e orado, e agora que era morta ele havia levantado e comido pão.

A resposta de Davi aponta para a sua submissão: “Vivendo ainda a criança, jejuei e chorei, porque dizia: Quem sabe se o Senhor se compadecerá de mim, e continuará viva a criança? Porém, agora que é morta, por que jejuaria eu? Poderei fazê-la voltar? Eu irei a ela, porém ela não voltará para mim” – o texto continua – “Então, Davi veio a Bate-Seba, consolou-a e se deitou com ela; teve ela um filho a quem Davi deu o nome de Salomão; e o Senhor o amou” (cf. 2Sm 12.17-25).

O que pode ser notado aqui é que Davi, ainda que tivesse ouvido de Deus acerca da morte de seu filho, não se privou de clamar ao Senhor, mas com uma atitude de submissão, notada na expressão “quem sabe”, ou, em outras palavras, “se o Senhor quiser...”. Deus havia dito que a criança morreria, mas não havia dito quando e Davi, então, rogou pela misericórdia. Talvez isso soe para alguns como uma contradição, mas é bom lembrar que o próprio Senhor Jesus orou ao Pai pedindo que, se possível, o livrasse da cruz, mas que frisou, “contudo, não seja o que eu quero, e sim o que tu queres” (Mc 14.16).

Aqui o ensino do Breve Catecismo pode nos ajudar mais uma vez: “Oração é um oferecimento dos nossos desejos a Deus, por coisas conformes com a sua vontade, em nome de Cristo, com a confissão dos nossos pecados, e um agradecido reconhecimento de suas misericórdias” (P. 98) – e mais – “Na terceira petição, que é: ‘Faça-se tua vontade, assim na terra como no Céu’, pedimos que Deus, pela sua graça, nos torne capazes e desejosos de conhecer a sua vontade, de obedecer e submeter-nos a ela em tudo, como fazem os anjos no Céu” (P. 103).

A soberania de Deus (ele fará a sua vontade) e a responsabilidade humana (eu preciso orar sem cessar) caminham juntas. Ouvi, certa vez, uma ilustração sobre um puritano que precisava sair de sua casa no meio da floresta para ir à uma vila. Ele vestiu-se, pegou sua espingarda e quando saia sua esposa questionou: “Para que a arma?”, ouvindo como resposta que era para o caso de encontrar algum urso pelo caminho. A esposa, então, disse que a arma não seria necessária, pois se ele estivesse predestinado para morrer naquele dia, morreria, se não, chegaria ao destino. A resposta que ela ouviu do marido foi: “E se no caminho eu encontrar um urso predestinado para morrer hoje, como farei sem minha espingarda?”.

Não divorcie essas duas verdades! Desta forma, ao orar ao Deus soberano e providente, você não tentará mudar a sua vontade. Antes, em submissão, entenderá que ele fará exatamente o que já decretou na eternidade e que, providencialmente, decretou que ouviria orações que estivessem de acordo com essa vontade soberana.

16 setembro 2016

Não exija, sempre, os seus direitos!

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Em tempos do “Código de defesa do consumidor”, talvez você fique espantado com a declaração do título. Entretanto eu não estou aqui pensando nas leis que visam proteger aqueles que compram produtos de má qualidade, ou que são lesados por prestadores de serviços, ou qualquer coisa parecida.

Quero chamar a sua atenção para algo que tem sido recorrente no meio cristão e que eu chamo de “mentalidade Procon” aplicada à convivência com os irmãos. Já explico!

Somos chamados a viver em comunidade, como corpo de Cristo. Paulo exortou aos efésios que se esforçassem para “preservar a unidade do Espírito Santo no vínculo da paz” (Ef 4.3). A grande questão é que dentro do corpo de Cristo temos irmãos em diferentes níveis de crescimento na fé, há irmãos maduros, há aqueles que estão chegando na maturidade, há os novos convertidos, que ainda engatinham na fé, e em meio a toda essa diversidade, precisamos estar em unidade.

Acontece que muitos irmãos, maduros na fé, que já entenderam que em Cristo têm liberdade para fazer qualquer coisa que não esteja proibida pelas Escrituras, não têm lidado bem com a sua liberdade. Eles têm pensado que em nome da liberdade podem fazer o que bem entendem, sem preocupar-se com aqueles que ainda não têm a mesma maturidade que eles.

É claro que este não é um assunto inédito. Desde os tempos apostólicos a igreja teve de lidar com a tensão entre o relacionamento dos fortes com os fracos na fé, razão de não ser possível falar sobre liberdade cristã sem pensar também na unidade da Igreja.

Na epístola aos Romanos vemos Paulo tratando desse assunto nos capítulos 14 e 15. Havia em Roma um grupo de irmãos que sabiam que poderiam comer e beber o que quisesse e outro que, ainda por familiaridade com as prescrições dietéticas da antiga aliança, entendiam que deveriam abster-se de alguns tipos de comida.

O apóstolo traça alguns princípios para a liberdade cristã, afirmando que eles não podiam considerar pecado o que o Senhor não tratava como tal, ou seja, não poderia haver constrangimento nem de um lado, nem de outro. Os abstinentes não poderiam julgar os que comiam e bebiam e estes deveriam acolher os “débeis”, mas não para discutir opiniões. Paulo demonstra, ainda, que a liberdade não diz respeito, primariamente, com aquilo que eu posso fazer para o meu prazer, mas em como devo fazer tudo para a glória de Deus (14.6), além de ordenar que eles deixassem o julgamento por conta de Deus (14.10-1).

Com base nisso, muitos, em nossos dias, têm “esfregado” sua liberdade na cara de outros, afirmando que o único que pode julgá-los é Deus, e esquecem-se que Paulo não parou por aí, mas afirmou também que os fortes não poderiam escandalizar os fracos. O argumento de Paulo é forte: Se ao querer comer (ou beber, ou fazer qualquer outra coisa que somos livres para fazer) você não liga se vai ou não escandalizar a seu irmão, significa que você ama mais a comida (ou sua liberdade) que a seu irmão, por quem Cristo deu a própria vida (14.15).

Ele assevera ainda que “o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (14.17) e que a obra de Deus não deve ser destruída por causa de comida (14.20), portanto, em nome da comunhão cristã, é preciso abrir mão daquilo que se gosta em favor de irmãos mais fracos.

Alguns, nesse ponto, podem dizer: “Isso é muito difícil” ou “está errado abrir mão de algo que gosto por causa de outro...”. É preciso, então, lembrar que “nós, que somos fortes devemos suportar as debilidades dos fracos e não agradar-nos a nós mesmos. Portanto, cada um de nós agrade ao próximo no que é bom para a edificação” (15.1-2). Agradar o outro, para a edificação, é um ato de amor. Já o uso da liberdade cristã, sem amor, é puro egoísmo, logo, não honra a Deus.

Na carta aos coríntios, Paulo instruiu irmãos que estavam fazendo uso, não de comida ou bebida, mas dos dons, para a própria vanglória. A fim de demonstrar o erro dessa atitude ele afirmou que sem amor ao próximo, os dons não teriam benefício algum. O apóstolo ilustrou seu ponto dizendo que ainda que ele distribuísse todos os seus bens aos pobres, se não tivesse amor, isso não seria proveitoso (1Co 13.3).

Agora, mudando o que deve ser mudado, pense por um instante! Se fazer algo bom (doar os bens) em favor de outrem, sem amor, não é proveitoso, imagine fazer o mal (escandalizar) em favor de si mesmo (não abrir mão de algo que você goste)? Ou, mais precisamente, se fazer o bem ao outro, sem amor, não presta para nada, imagine usar a sua liberdade para satisfazer a sua própria vontade, sem levar em conta o seu irmão fraco? Isso passa longe do espírito cristão.

Infelizmente pode ser visto, principalmente em redes sociais, irmãos que não têm se importado em ferir a consciência de irmãos mais fracos, sob o pretexto de estarem honrando a Deus com sua liberdade. Aqui, vale lembrar a exortação de Paulo aos gálatas, afirmando que eles não poderiam usar a liberdade para dar ocasião à carne, mas que deveriam servir uns aos outros em amor, pois toda a lei se cumpre em um só preceito, “amarás a teu próximo como a ti mesmo”. Viver ao contrário disso seria morder e devorar uns aos outros, destruindo-se mutuamente (Gl 5.13-15).

O próprio Paulo, que se via como um forte na fé (Rm 15.1), afirmou que se a comida servia de escândalo ao irmão, nunca mais comeria carne (1Co 8.13), a fim de não golpear sua fraca consciência, pecando, assim, contra Cristo. Você pode e deve, então, fazer uso de sua liberdade, desde que não fira a consciência alheia.

Entretanto, é preciso frisar: irmão fraco é aquele que não compreendeu sua liberdade em Cristo e não alguém que sabe, por exemplo, que beber não é pecado, mas que acha melhor que crentes não bebam e tentam constranger a outros, dizendo-se escandalizados. Esses também devem ouvir a exortação de que não podem condenar o que Deus não condena.

Quanto ao irmão fraco, ao abster-se de algo em favor dele você demonstrará seu amor e poderá ter uma excelente oportunidade de instruí-lo, levando o seu pensamento cativo à Cristo, o que não seria possível ao escandalizá-lo, ferindo sua consciência.

Portanto, usufrua da liberdade que você tem em Cristo para servir e dar glória a Deus, lembrando que não é preciso exigir, sempre, os seus direitos.