Dia desses vi um meme que expressa bem o meu sentimento nesses últimos tempos. Dizia: “quem não está confuso não está bem informado”. Parece que esta é mesmo a realidade de muitos, dentre os quais me incluo. Todos os dias somos bombardeados com notícias conflitantes sobre a origem do vírus, as intenções de governos, tanto mundiais quanto os de nossa nação, diversas teorias que conflitam entre si. Há uma guerra de narrativas em curso.
Se não é difícil perceber que há uma guerra de narrativas, não é tão fácil perceber quais as narrativas que estão em acordo com a verdade. Vou exemplificar com o que vi hoje no Twitter. Alguém postou uma série de prints, de várias pessoas diferentes, com exatamente o mesmo texto, sem tirar nem pôr uma vírgula sequer, sobre o benefício da cloroquina no tratamento do coronavírus. As pessoas que compartilharam tinham a mesma história, uma filha e um genro contaminados que tratados logo no início com a cloroquina foram curados rapidamente.
A intenção de quem compartilhou os prints era provar que os que são pró-Bolsonaro estão criando uma narrativa para que o público se convença de algo que de fato não é verdade. Em princípio talvez você pense: Há alguma dúvida sobre isso? Está muito clara a tentativa de manipular a opinião pública por meio de contas falsas. Mas pense um pouco mais...
Alguém comentou que o que está acontecendo, na realidade, é que aqueles que são contra Bolsonaro estão se passando por apoiadores da cloroquina e espalhando a mesma história na rede a fim de acusar o governo de criar uma fake news. Confuso, não?
Semanas atrás algo parecido ocorreu. Antes da saída do ministro da justiça, jornais afirmavam que ele logo estaria fora do governo. Diante da notícia, os apoiadores do governo diziam que aquilo era uma tentativa da imprensa de desestabilizar o governo, enquanto os contrários ao governo diziam que mais uma vez o presidente estava deixando “vazar” uma notícia falsa para a imprensa noticiar e, depois, não acontecendo o que se havia noticiado, a imprensa ficasse envergonhada.
Não pense que meu ponto neste texto é discutir sobre as narrativas. Minha preocupação é outra. Creio firmemente que tudo aquilo que assentimos como sendo verdade passa pela interpretação do nosso coração, pautado naquilo que ele almeja. Você percebe isto claramente ao observar o que Paulo escreve a Timóteo: “Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; ao contrário, sentido coceira nos ouvidos, juntarão mestres para si mesmos, segundo os seus próprios desejos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos” (2Tm 4.3-4).
Mudando o que deve ser mudado, já que o texto trata da recusa de ouvir a sã doutrina e da busca de algo que vá ao encontro dos anseios daquele que recusa a verdade, o princípio permanece para tudo aquilo que o homem deseja. Você precisa atentar àquilo que o seu coração anseia, pois ouvirá as notícias a partir desta perspectiva. Desta forma, os desejos do seu coração podem direcioná-lo a assumir como verdade somente aquilo que está de acordo com o que você tanto anseia, ainda que possa ser falso, fazendo-o cair numa grande armadilha.
Quando eu proponho no texto que você não se perca entre as narrativas e fique firmado na verdade, não estou querendo dizer que é para ficar firme na verdade de uma das narrativas. Por mais que uma delas, provavelmente, esteja mais correta que a outra, não é o que elas afirmam que trará segurança ao seu coração. É preciso ser claro aqui. Muitos estão acatando certa narrativa por colocarem a sua esperança no atual governo, enquanto outros estão aderindo à outra narrativa, por colocar a esperança em qualquer outro que não seja o atual presidente. Ambas as expectativas são idólatras e, por isso, em algum momento, trarão frustração.
A única narrativa que traz verdadeira paz ao coração é a que foi revelada pelo Senhor nas Sagradas Escrituras. Aquilo que o Senhor revelou é a verdade que liberta. Por isso Jesus afirmou: “Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8.31).
Se você está em Cristo, poderá viver firmado na verdade da Escritura e saberá que:
1. Deus é soberano – Nada que aconteceu, está acontecendo ou virá a acontecer, fugiu, foge ou fugirá ao seu controle. “Dele é a sabedoria e o poder; é ele quem muda o tempo e as estações, remove reis e estabelece reis” (Dn 2.20,21).
Sendo assim, o coronavírus é algo estabelecido por ele, independente de como surgiu, fabricado em laboratório ou naturalmente. O atual governo é estabelecido por ele, o que é verdade também em relação aos governos anteriores e àqueles que virão no futuro.
2. É sua obrigação orar e confiar no Senhor – Os filhos de Deus têm o privilégio de poder colocar diante dele as suas petições, sabendo que ele responderá às orações conforme a sua boa vontade. Peça ao Senhor pelo fim da pandemia, interceda pelas autoridades. Goste você ou não do atual Presidente, como cristão é seu dever interceder por ele (1Tm 2.2). Neste sentido, é triste constatar que muitos que têm enfatizado o dever de orar pelo Presidente Bolsonaro não fizeram o mesmo por presidentes anteriores, que mesmo sendo de esquerda também foram levantados pelo Senhor. Não é a sua concordância com o governo o que deve movê-lo a orar, mas o atendimento à ordenança do Senhor.
3. As circunstâncias não devem definir como você se porta – Diante da falta de certezas em relação ao futuro, muitos cristãos estão desanimados, ansiosos ou ainda irados.
Pensar que o atual Presidente permanecerá no cargo e poderá ser reeleito, ou temer que os contrários consigam o impedimento do seu mandato tem levado crentes pró e contra o governo a estarem furiosos, agredindo os seus irmãos e quaisquer outros que se opuserem às suas ideias. Por não saber quando ou se a situação da pandemia irá passar, muitos estão aflitos. Por causa de incertezas em relação à vida financeira outros beiram ao desespero.
É preciso lembrar que o Soberano Deus está no controle. É preciso lembrar que ele deu solução ao pior dos problemas do homem ao enviar seu Filho a fim de morrer pelos pecados de seu povo (Mt 1.21; Jo 3.16). É preciso lembrar que em Cristo o Senhor nos concede tudo o que é necessário para a vida e para a piedade (2Pe 1.3).
Firmado nestas verdades, faça como o salmista e pergunte a si mesmo: “Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim?” – crendo de todo o coração no que vem a seguir – “Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu” (Sl 42.5). Ao proceder desta forma você poderá fazer coro com Paulo que diz: “aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.11-13).
A alegria de Paulo não dependia de circunstâncias, mas de estar em Cristo. Em Cristo você também encontrará alegria com ou sem o presidente que você almeja, com ou sem a pandemia e em quaisquer circunstâncias que venham pela frente, na certeza de que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28).
Continue tentando se informar e cuide para que o seu coração não o leve a escolher “a verdade” que mais se adeque aos seus anseios. Para isso, firme-se na verdade de Deus, estabelecida em sua Bendita Palavra!