23 agosto 2023

Cuidado com as falsas esperanças

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O início do livro de 1Samuel apresenta uma família de crentes. O narrador afirma que Elcana com suas duas esposas Ana e Penina, além dos filhos desta última, anualmente iam a Siló para adorar ao Senhor.

A despeito de ser uma família de crentes é possível perceber que enfrentam vários problemas por conta de pecado. Primeiro o fato de Elcana ter tomado duas mulheres. Apesar de isso ser “tolerado” no Antigo Testamento, tendo o Senhor inclusive estabelecido leis para não haver injustiças (Dt 21.15-17), o propósito inicial de Deus na criação é que o casamento seja monogâmico. No Novo Testamento Paulo vai estabelecer, por exemplo, que o presbítero seja esposo de uma só mulher (1Tm 3.2).

Este primeiro pecado propicia um segundo. Ao que tudo indica, a bigamia foi estabelecida porque Ana, esposa de Elcana, era estéril. Lembre-se que uma família sem filhos poderia enfrentar problemas econômicos, além do fato de o nome do marido não ser perpetuado. Penina, mãe dos filhos de Elcana, percebendo que o coração do marido pertencia a Ana, procurava irritá-la continuamente.

O que acontece na família de Elcana lembra, mudando o que deve ser mudado, o que houve no lar de Abraão quando Agar, vendo que havia concebido do patriarca, começou a desprezar sua senhora Sarai (Gn 16.4). Aqui você já encontra falsas esperanças colocadas sobre um filho. No caso de Abraão, para ajudar Deus a cumprir seu plano, no de Elcana, provavelmente, para resolver problemas econômicos e de descendência.

Tudo isso levava o coração de Ana a experimentar tristeza. Tristeza pela infertilidade, algo que não tem a ver necessariamente com pecado, mas com as mazelas que afligem os que vivem debaixo do sol, mas também tristeza causada pelo pecado de outros. Indiretamente por causa do pecado de Elcana e diretamente pelo pecado de Penina.

É neste momento que você vê mais claramente o problema das falsas esperanças. Elcana se mostra um marido preocupado com sua esposa. Ele percebe que Ana não está se alimentando quando ele dá a ela porção dobrada e nota que ela vive a chorar. Ele não está alheio ao sofrimento de sua esposa.

Em momentos de tristeza é muito bom ter pessoas ao redor que se mostram preocupadas. É esperado que na Igreja de Cristo os irmãos estejam, de fato, envolvidos uns com os outros. Paulo orientou os tessalonicenses: “Exortamo-vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para com todos” (1Ts 5.14).

Entretanto, perceba o que faz Elcana. Apesar de perguntas corretas, que expressam preocupação e buscam entender a razão da tristeza: “Ana, por que choras? E por que não comes? E por que estás de coração triste?” – ele aponta para uma solução ineficaz: “Não te sou melhor do que dez filhos?” (1Sm 1.8).

Sim, Elcana está tentando ajudar, mas em vez de apontar para a fonte da verdadeira alegria ele aponta para si mesmo. Ele aponta para uma esperança vã, falsa. Ela é falsa, pois ainda que trouxesse algum tipo de alívio temporário, como por exemplo, Ana ter pensado: “É verdade, eu deveria estar contente, pois mesmo não tendo filhos tenho um excelente marido”, o alívio só perduraria enquanto Ana visse Elcana como alguém “perfeito”. Assim que ele pecasse contra ela o pensamento poderia rapidamente mudar para: “Além de não ter filhos, tenho um marido terrível!”.

Além disso, um auxílio que aponta para outra fonte de alegria que não Cristo, em vez de alívio traz peso e preocupação: “Até quando terei meu marido?”, “Se este homem morrer, aí é que estarei numa situação ainda mais terrível, sem filhos e sem marido”. O suposto alívio transforma-se em peso pela incerteza de não saber até quando haverá um marido.

Quando o seu porto seguro não é Cristo, apesar da aparente segurança, logo você descobre que está em grande perigo e isso o leva a tristezas, medos, ansiedades e insegurança. Não há verdadeira esperança sem Cristo.

Aqui vai, então, uma palavra tanto para quem busca aconselhar quanto para quem se submete a conselhos: Todo conselho precisa partir da e ser avaliado pela bendita Palavra de Deus. Lembre-se que aos colossenses Paulo orientou: “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria” (Cl 3.16) e aos romanos afirmou estar certo a respeito deles que estavam “possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros” (Rm 15.14).

Há muitos cristãos que se compadecem, que querem ajudar a outros, mas que proferem palavras tolas. Tenha muito cuidado com o tipo de conselho e com a fonte de onde você extrai os seus conselhos.

É preciso ter mais do que bondade, é preciso estar cheio do conhecimento da Escritura, estando assim, apto para aconselhar os que sofrem, oferecendo, não esperanças falsas, mas a única e verdadeira esperança para o pecador: Cristo Jesus, o bendito Redentor dos filhos de Deus, “porquanto a Escritura diz: Todo aquele que nele crê não será confundido” (Rm 10.11).

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