26 novembro 2018

Justo e justificador

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Por quem Jesus morreu? Esta pergunta tem suscitado discussões acaloradas no decorrer dos tempos. Enquanto calvinistas afirmam uma expiação limitada, isto é a morte de Jesus foi por um número específico de homens, aqueles que foram eleitos antes da fundação do mundo pelo Pai (Jo 17.6,9; Ef 1.4), arminianos sustentam que a expiação foi universal, ou seja, por todos os homens.

Longe de ser uma discussão de somenos importância, ela tem implicações sérias no entendimento acerca do Ser de Deus.

Em uma das várias conversas que já tive a respeito do tema, uma jovem, dessas que vivem gastando tempo em infinitas discussões em redes sociais, afirmou para mim (em uma conversa ao vivo) que o Deus que eu cria era injusto por salvar alguns, deixando outros perecer. Como eu disse, o assunto tem implicações sérias naquilo que se crê acerca do Ser de Deus, no caso, acerca da sua justiça.

Pensemos, então, sobre isso. Em Gênesis podemos ler sobre a criação de Adão. Deus, após criar todas as coisas, colocou-o no Jardim do Éden, dando-lhe ordens bastante específicas. Dentre os mandamentos dados por Deus, um dizia respeito a não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, sob pena de morte, caso desobedecesse. A Confissão de Fé de Westminster ensina que Deus fez com Adão um Pacto de Obras em que “foi a vida prometida a Adão e, nele, à sua posteridade, sob a condição de perfeita obediência pessoal” (VII.II).

Você conhece a história! Adão transgrediu a ordem de Deus lançando não só ele, mas toda a sua posteridade numa condição de pecado e miséria. Como o Senhor é Fiel à sua Palavra, ele não poderia simplesmente “esquecer” o que houve e começar de novo. Não havia jeito de simplesmente fingir que nada aconteceu. O homem havia pecado e merecia a morte, pois, como afirmou Paulo, “o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23).

Entretanto, a Escritura também revela o Senhor como um Deus gracioso, misericordioso e amoroso. Um Deus que enviou seu Filho para “buscar e salvar o perdido” (Lc 19.10). O que fez o Senhor para salvar o pecador que merece a morte e permanecer sendo um Deus justo?

A Bíblia diz que a salvação é pela graça, mediante a fé (Ef 2.8), mas esta é a parte que nos cabe no chamado Pacto da Graça. Enquanto o primeiro pacto foi feito com Adão e sua posteridade, o segundo “feito com Cristo, como o segundo Adão; e, nele, com todos os eleitos, como sua semente” (Catecismo Maior – resposta à pergunta 31). Esse é o entendimento reformado acerca da salvação: se o pacto da graça foi feito com Cristo e, nele, com aqueles que foram eleitos pelo Pai, antes da fundação do mundo, a morte de Cristo foi somente por esses e, necessariamente, precisa ser assim a fim de não tornarmos Deus injusto.

Paulo diz aos Romanos que Deus é, ao mesmo tempo, “justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3.26). Algo precisa ser bem entendido aqui. O pecador merece a morte e se Deus simplesmente enviasse todos ao inferno, isso seria justo. De igual modo, para continuar sendo justo, Deus não poderia deixar os pecados impunes. Já vimos que o Pacto da Graça foi feito com Cristo. O próprio Deus Filho precisou encarnar-se a fim de que, como homem perfeito, pudesse obedecer perfeitamente ao Pai, sofrer o castigo do pecado em lugar dos eleitos se ser seu Mediador (Gl 4.4-5; Hb 9.15).

A fim de oferecer a salvação pela graça, Jesus consumou toda a obra que o Pai lhe confiou a fazer (Jo 17.4). O que para os crentes é graça, para o nosso Mediador foi trabalho. Isaías, em sua profecia, diz que “ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si” (53.11).

Quando em sofrimento, na cruz do Calvário, Jesus exclamou: “Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito” (Jo 19.30). A expressão “está consumado” quer dizer, literalmente, está pago, está quitado. Jesus pagou toda a dívida diante do Pai, por meio de sua morte substitutiva.

Sendo assim, a implicação é óbvia. Se Jesus tivesse morrido por todos os homens, todos teriam de ser salvos. A alternativa coerente para alguém que crê que Jesus morreu por todos os homens é ser universalista e entender que, no fim das contas, todos os homens serão salvos, pois, se a dívida está paga, Deus não pode cobrá-la novamente. Ou a dívida é paga por Jesus, no Calvário, ou pelo pecador, no inferno. Se algum homem, por quem Cristo morreu, for para o inferno, Deus é, de fato, injusto.

Quando afirmamos que Cristo morreu somente pelos eleitos estamos sendo consistentes com o que Bíblia diz. O Deus justo que pune o pecado é ao mesmo tempo o Deus justificador daqueles que creem em Cristo. Como sabemos pela Escritura que há muitos que irão para a perdição eterna, é óbvio que estes não tiveram a sua dívida paga pelo Senhor Jesus e não foram justificados.

A obra de Cristo, em favor dos que creem, lhes garante a vida eterna, por isso, todos aqueles por quem Cristo morreu, se renderão a ele (Jo 6.37,44). Se você foi salvo por Cristo, louve a Deus que enviou o seu Filho para cumprir tudo o que você não poderia cumprir a fim de ser salvo. Mais ainda, com o auxílio do Espírito Santo, enviado por Cristo, que habita em você, seja uma testemunha fiel, vivendo como sal da terra e luz do mundo, honrando aquele que, pela graça, concedeu a você tão grande salvação.

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