12 maio 2020

Bendita certeza!

“Ao Senhor pertence a salvação!” (Jn 2.9). Esta bela declaração do livro de Jonas deveria levar todos os cristãos a uma confiança inabalável na obra de Cristo em seu favor. Entretanto, esta não é a realidade. Em muitos arraiais evangélicos, ao tratar da certeza da salvação, muitos titubeiam e afirmam que não se pode ter tal certeza, tachando de arrogantes aqueles que têm esta convicção.

Será que é de fato arrogante alguém que crê em Jesus afirmar que está plenamente convicto de que a sua salvação está garantida? Olhando para a Escritura temos abundantes exemplos de que a resposta é um sonoro não!

Pense, por exemplo, na afirmação de Paulo aos filipenses: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6). As palavras do apóstolo deixam bem claro que ele não tinha dúvidas a respeito da permanência dos crentes na fé. Paulo entendia, como pode ser visto na epístola aos Romanos, que nada pode separar os crentes “do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.39).

Esta convicção está baseada nos méritos de Cristo. É por causa de sua obra que os crentes podem descansar seguros em seu Redentor. No evangelho de João temos afirmações de Cristo que corroboram esta verdade. Jesus afirma que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, par que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16). A palavra eterna indica que esta vida dada àquele que crê não tem fim. Esta nova vida tem início quando o coração é regenerado e permanecerá para sempre. Como explica Hendriksen, “a vida que pertence à era futura, ao domínio da glória, torna-se possessão do crente aqui e agora; ou seja, em princípio.[1]

Ainda no evangelho de João o Senhor Jesus afirma que a vontade de Deus é que todo aquele que crer no Filho tenha a vida eterna, e que seria ressuscitado por ele no último dia (Jo 6.40). Afirmar que a salvação pode ser perdida implica, então, na crença de que o Senhor é incapaz de cumprir a sua vontade. Entretanto, o Senhor declara de forma inequívoca, por meio de Isaías: “O meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade” (Is 46.10). Até mesmo o ímpio Nabucodonosor declarou que “não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” (Dn 4.35).

Todo aquele, portanto, que crê em Jesus Cristo pode tomar por certa a sua promessa: “eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que o Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar” (Jo 10.28,29).

Por qual razão, então, muitos não conseguem ter segurança da salvação? Pelo simples fato de não crerem nas palavras de Cristo e de acharem que a salvação, de algum modo, depende de seus próprios esforços. Falta-lhes o entendimento da verdade afirmada por Paulo de que “pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8,9).

Diante disso, afirmar que se tem certeza da salvação por confiar nos méritos de Cristo não é arrogância. Arrogante é a pseudo-humildade de dizer que não tem certeza, mas que está se esforçando para ser salvo, pois ignora que quando a Escritura afirma que a salvação é pela graça, mediante a fé, significa que não é possível por esforço próprio, mas única e exclusivamente pela fé na obra do Redentor, Cristo Jesus.

Entretanto, é preciso dizer um pouco mais. Os teólogos de Westminster afirmaram acertadamente que “essa segurança infalível [da salvação] não pertence de tal modo à essência da fé que um verdadeiro crente, antes de possuí-la, não tenha de esperar muito e lutar com muitas dificuldades; contudo, sendo pelo Espírito habilitado a conhecer as coisas que lhe são livremente dadas por Deus, ele pode alcança-la sem revelação extraordinária, no devido uso dos meios ordinários” (CFW XVIII.III). Eles afirmaram ainda que “por diversos modos, podem os crentes ter a sua segurança da salvação abalada, diminuída e interrompida” (CFW XVIII.IV).

É claro que o fato de um crente ter a sua segurança da salvação interrompida não significa que ele perdeu a salvação. Você já passou pela experiência de procurar por algo que estava em seu poder? Por diversas vezes isto aconteceu comigo. Já revirei a casa procurando pela carteira que estava em meu bolso. Mudando o que deve ser mudado, é desta forma que vejo os crentes que perderam a segurança da salvação. Em algum momento eles perceberão, pela graça de Deus, que a salvação que julgavam não mais ter estava o tempo todo com eles, pois o Senhor Jesus não perde aqueles que são dele.

Não se apresse, então, em declarar que aqueles que não têm certeza da salvação não estão salvos. Voltando mais uma vez à Confissão de Fé de Westminster vemos que “por diversos modos, podem os crentes ter a sua segurança de salvação abalada, diminuída e interrompida – negligenciando a conservação dela, caindo em algum pecado especial que fira a consciência e entristeça o Espírito Santo, cedendo a forte e repentinas tentações, retirando Deus a luz de seu rosto e permitindo que andem em trevas e não tenham luz mesmo os que o temem; contudo, eles nunca ficam inteiramente privados daquela semente de Deus e da vida da fé, daquele amor a Cristo e aos irmãos, daquela sinceridade de coração e consciência do dever; dessas bênçãos, a certeza de salvação poderá, no tempo próprio, ser restaurada pela operação do Espírito, e por meio delas eles são, no entanto, suportados para não caírem no desespero absoluto” (CFW XVIII.IV).

Se você está firme na fé, louve a Deus pela bendita certeza da vida eterna. Mais ainda, no poder do Espírito Santo, busque desenvolver a sua salvação com temor e tremor, na certeza de que o Senhor tem efetuado em você o querer e o realizar, segundo a sua boa vontade (Fp 2.12,13) e, como ordenou Pedro, “procurem, com empenho cada vez maior, confirmar a vocação e a eleição de vocês; porque, fazendo assim, vocês jamais tropeçarão. Pois desta maneira é que lhes será amplamente suprida a entrada no Reino eterno do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 1.10,11).

Que esta convicção o leve a cantar com alegria: “Não sei se ainda longe está, ou muito perto vem, a hora em que Jesus virá na glória que ele tem. Mas eu sei em quem tenho crido e estou bem certo que é poderoso, guardará, pois, o meu tesouro, até o dia final.” (HNC – 105).


[1] William Hendriksen. Comentário de João. p. 166

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