16 abril 2010

O véu de Moisés e o testemunho das Escrituras

            

No vídeo acima, o pastor Davi Silva do ministério “Casa de Davi”, bastante conhecido entre o evangelicalismo brasileiro por causa de suas músicas, conta uma experiência que teve quando foi a Salvador. Segundo ele, enquanto cantavam pediu que os instrumentos parassem de tocar para que fossem ouvidas somente as vozes, mas a bateria continuava sendo tocada. Ele continuou pedindo: “só as vozes”, mas o baterista, insistentemente, continuava tocando. Quando ele olhou para a bateria para repreender o músico, viu que a bateria estava vazia. Ao entender que um anjo é quem estava tocando, nessa parte do testemunho ele afirma: “com anjo eu não mexo, deixa ele aí à vontade, você pode tocar o que você quiser” – e logo depois pergunta e afirma – “[vocês acham que isso] é doido? Mas isso vai continuar acontecendo em nossos cultos, na presença do Senhor!”

Ele continua a palestra e começa a se contorcer, da mesma forma que alguém faz tentando se livrar de insetos que vêm em direção ao rosto, e a rir, insinuando que estava sendo cutucado por um anjo, tudo isso sob o aplauso da sua plateia.

No último dia 14 de abril, o ministério “Casa de Davi” publicou em seu site dois vídeos em que Davi Silva pede perdão ao público. A razão do pedido ele apresenta logo no início de seu texto:

“Desde agosto de 1999 tenho ministrado junto com Mike pela nação brasileira e em outras nações também. Durante esses anos tenho compartilhado vários testemunhos, a começar com minha cura da Síndrome de Down, passando por sonhos, visões e arrebatamentos, e diversas experiências sobrenaturais.

Pois bem, em quase todos esses testemunhos eu acrescentei mentiras. Alguns deles são totalmente mentirosos. Inclusive um deles, eu roubei de um irmão em Cristo que teve a experiência que conto como sendo minha. Outros testemunhos são meus e em parte verdadeiros.”

No texto ele ainda se diz envergonhado por causa desses testemunhos dados tanto no Brasil como no exterior.

Bastou isso para que os fãs começassem a se manifestar. Uns desapontados, outros afirmando que agora admiram ainda mais o pastor, outros sem querer acreditar.

Sem entrar no mérito do arrependimento do sr. Davi, pois quem julga corações é o Deus Todo-Poderoso, chamo a atenção para o que acontece e o que sempre acontecerá quando experiências e não as Escrituras são a base da fé.

No meio pentecostal e neopentecostal as experiências são supervalorizadas. Pior ainda, elas não precisam nem sequer ter uma base bíblica, haja vista o testemunho citado anteriormente e outros tão esdrúxulos quanto esse que são contados na maioria dos programas “evangélicos” do rádio e TV. Ainda que não afirmem categoricamente, agem da seguinte maneira: “Se as Escrituras não apoiam a experiência, pior para as Escrituras.”

Outra questão a ser considerada é que quando se tenta “conquistar o público” com base em experiências ou no quanto o líder é íntimo do Senhor, fatalmente ocorrerá o que aconteceu com o próprio Moisés. Após descer do Monte Sinai, onde Deus falara com ele, seu rosto resplandecia a ponto de o povo temer falar com ele. Foi preciso ele cobrir um rosto com um véu. O problema é que, ao que parece, Moisés gostou da fama de ser tão íntimo de Deus e, percebendo que seu rosto não mais resplandecia, mantinha o véu para simular a experiência. Cativar um público baseando-se em experiências será sempre um buraco sem fundo. Sempre terá de haver uma experiência maior.

Paulo afirma que essa não pode ser a nossa atitude. Aos coríntios ele escreveu: “E não somos como Moisés, que punha véu sobre a face, para que os filhos de Israel não atentassem na terminação do que se desvanecia” (2Co 3.13).

O apóstolo Pedro, ao escrever alertando a igreja quanto aos falsos mestres, afirma que a pregação dos apóstolos não era segundo fábulas engenhosamente inventadas, mas que eles tinham sido testemunhas oculares da majestade do Senhor e, como prova, conta a experiência que tiveram no monte da transfiguração (2Pe 1.16-18).

A despeito disso, Pedro chama a atenção dos irmãos para um testemunho maior que o deles que era o testemunho da própria Palavra de Deus. Ele diz: “Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la...” (2Pe 1.19-21). Em outras palavras, é como se o apóstolo estivesse dizendo: “Não é à minha experiência que vocês devem se apegar, mas ao que diz a Escritura.”

Se a igreja brasileira se apegasse mais firmemente às Escrituras, seria mais crente e menos crédula, tendo condições para julgar e rejeitar tantas “experiências” que têm sido divulgadas, mas que não procedem de Deus.

O resultado é que não haveria tantos irmãos surpresos e desapontados quando alguém contasse que mentiu sobre suas experiências ou quando a verdade viesse à tona, mesmo sem a confissão, pois, de antemão, saberíamos que aquilo não provinha de Deus.

Que o Senhor nos ajude a ser nobres como os bereanos que examinavam “as Escrituras todos os dias para ver se as cousas eram, de fato, assim” (At 17.11).

4 comentários:

Jean disse...

É duplamente revoltante! Primeiro o imbecil que está falando. Depois, o auditório aplaudir e gritar "glória a Deus". Bem que poderia ter surgido alí no meio um Capitão Nascimento gritando "pede pra sair"!
Tenho outras duas possibilidades. A primeira é que o anjo que estava tocando bateria era um anjo caído, e o outro ser que estava cutucando ele era um nefilin...rs

Grande abraço
Visite meu blog: www.observatorioconservador.blogspot.com

folton disse...

Excelente post Milton. Que Deus continue te usando.

ab
Fôlton

Milton Jr. disse...

Caríssimos Jean e Fôlton, obrigado pela visita.

Jônatas Abdias de Macedo disse...

Caro rev. Milton, nãodá pra negar que é engraçado. Lamentável que se esteja pretendendo ser sério! Tais loucuras são aplaudidas como espirituais. E os que cultuam a Deus com ordem e decência, sem piruetas e gritinhos, mas de modo inteligente e inteligível, estes é que são considerados loucos...
Inversão, causada pela rebelião e reverão humanas contra Deus...
abcs e parabéns pelo post!