24 julho 2022

Carta a uma filha do Pacto

familia

Fernanda, minha filha amada,

Hoje é mais um daqueles dias importantes na vida de nossa família.

Há quase 13 anos, mais precisamente no dia 4 de outubro de 2009, eu e sua mãe a apresentávamos diante da igreja a fim de receber o batismo, sinal e selo do Pacto.

Naquela ocasião prometemos instruí-la no temor do Senhor, servir de exemplo de vida e piedade, envidando esforços para livrá-la de más companhias e de maus exemplos, ensinar-lhe a Bíblia e levá-la regularmente à igreja, ensiná-la a adorar ao Senhor com reverência e estimar como irmãos os demais membros da igreja, orar com você, ensiná-la a ler, para que venha a ler por si mesma a Escritura Sagrada (Respostas às perguntas do Manual do Culto da IPB).

Com todas as nossas falhas, pela graça de Deus, temos cumprido as promessas feitas diante do Senhor. Como foi bom, ter visto ao longo destes anos você decorar versículos, catecismo, e aprender a fazer anotações dos sermões que ouvia.

Como é bom ver você fazendo suas devocionais sozinha e cultuar no lar em família.

Como foi bom, ouvir sua resposta diante do Conselho da Igreja, de que ama a Cristo, mas que não sabe um dia específico em que tenha se convertido, pois esta é uma resposta à oração que tenho feito ao longo dos anos por você e por seu irmão, “para que vocês não conheçam um dia sequer em que não tenham amado o nosso Salvador e Redentor, que deu a sua própria vida, para que pudéssemos viver de forma abundante”.

Meu coração está radiante, pois logo mais, no culto da noite, mercê do Senhor, poderei vê-la na frente da igreja professando a sua fé!

Finalmente chegou este tão aguardado dia, dia em que diante de Deus e da Igreja você professará a sua fé no Redentor e eu terei a alegria de ver em meu lar o que, como pastor, tenho visto ao longo dos anos em várias outras famílias, o Senhor cumprindo a sua promessa de fazer “misericórdia até mil gerações daqueles que me [o] amam e guardam os seus mandamentos” (Ex 20.6).

De hoje em diante você passará a ser membro comungante da Igreja Presbiteriana da Praia do Canto, com todos os direitos e deveres a que têm direito cada membro. Poderá ter o imenso privilégio de participar da Ceia do Senhor!

Lembre-se sempre de que “os que comungam dignamente, participando exteriormente dos elementos visíveis desse sacramento, também recebem intimamente, pela fé, a Cristo crucificado e a todos os benefícios da sua morte, e dele se alimentam, não carnal ou corporalmente, mas real, verdadeira e espiritualmente; não estando o corpo e o sangue de Cristo, corporal ou carnalmente nos elementos, pão e vinho, nem com eles ou sob eles, mas, espiritual e realmente, presentes à fé dos crentes nessa ordenança, como estão os próprios elementos em relação aos seus sentidos corporais” (CFW XXIX.VII).

Minha oração é para que você continue a viver na presença do Senhor e para que ele conceda força e sabedoria a fim de que você cumpra fielmente o voto que proferirá diante da igreja, de “fazer toda a diligência para obedecer aos preceitos de Deus contidos nas Sagradas Escrituras, invocando sempre para este fim o auxílio do Espírito Santo, sem o qual não podereis cumprir estes votos com fidelidade” (Manual do Culto da IPB).

Meu coração está transbordando de alegria e gratidão diante do nosso Salvador.

Conte sempre comigo.

Com amor,

Seu pai e pastor,

Milton Jr.

11 abril 2022

Considere o outro superior

lavar pé

O egoísmo está presente na vida do homem desde que a queda ocorreu no Jardim do Éden. Entretanto, em nossos dias, aquilo que outrora era visto como pecado é ensinado como algo que cura: Você deve preocupar-se em primeiro lugar com você – dizem.

A “doutrina” do amor próprio é cada dia mais enfatizada, inclusive dos púlpitos. Isso tem levado a igreja para longe da Escritura e, se assimilada, impossibilitará o crente a cumprir ordens bíblicas como a destacada no título.

Desde o princípio, Deus colocou no coração do homem a sua lei que se resume em amar a Deus e amar ao próximo. O egoísmo (amor a si mesmo) entra na história após a queda.

Se você cultivar o chamado amor-próprio, nunca irá considerar o outro superior a você. Para que isso ocorra você precisa aprender sobre o amor bíblico que, conforme Paulo, não procura os seus próprios interesses (1Co 13.5).

Pense num exemplo bíblico. A carta de Paulo a Filemom trata da fuga de um escravo chamado Onésimo que foge em busca de liberdade. Ironicamente ele conhece a verdadeira liberdade quando é discipulado por Paulo, que se encontrava encarcerado. As cadeias humanas nunca serão capazes de aprisionar um homem que foi libertado por Cristo!

Ao crer, Onésimo, contra toda a sua expectativa de liberdade, é enviado de volta ao seu senhor Filemon que, ao invés de punir o escravo pelo que havia feito, foi ordenado a recebê-lo como irmão caríssimo (Fm 16). Por sua vez, Onésimo deveria trabalhar para o seu senhor como se estivesse trabalhando para o próprio Cristo (Ef 6.5-8; Tt 2.9-10), cada um, pensando no interesse do outro. Pense no quão difícil é isto na prática!

No cristianismo, você é ordenado a tratar seu irmão como superior a você (Fp 2.3). Desta forma, pessoas muito ricas devem se ver como servos de pessoas menos abastadas; pessoas muito cultas como servos de iletrados; pessoas com altos cargos na sociedade como servos daqueles que estão à margem da sociedade ou, como na história bíblica, um rico, como Filemom, deveria receber como “irmão caríssimo” um escravo fujão que lhe causou dano, como Onésimo (Fm 16-18).

Isto só é possível se, ao olhar para o seu irmão, você vir a Cristo. Somente desta forma é que você o verá como superior.

Lembre-se de que Jesus, o Deus de toda glória que se fez homem e humildemente lavou os pés de pecadores (Jo 13.1-17), se deu na cruz no Calvário a fim de que todo aquele que nele crê seja visto em união com ele (Rm 6.5), razão de serem visto como justos pelo Pai (2Co 5.21).

Ora, se o próprio Pai, ao olhar para pecadores por meio de Cristo, os considera justos, como se não tivessem cometido pecado algum, o que impediria a você de olhar para o seu irmão, por quem Cristo também morreu, como superior a você?

A resposta é simples: o seu orgulho! É contra este orgulho que você precisa lutar dia a dia. Graças a Deus, por causa da obra de Cristo você pode se considerar morto para o pecado e vivo para Deus (Rm 6.11), pode fazer morrer a sua natureza terrena (Cl 3.5), pode negar-se a si mesmo (Mt 16.24).

Somente a obra de Cristo, aplicada no coração humano pelo Santo Espírito, é capaz de transformar pecadores egoístas e orgulhos para que consigam olhar para os seus semelhantes como superiores a si mesmos.

Portanto, quando você se nega a servir ao seu irmão, considerando-o superior a você, mais do que se engrandecer perante ele, você está afrontando a gloriosa obra de Cristo. Negar-se a morrer para si mesmo, constitui-se, então, um grande pecado.