13 novembro 2015

Luz ou escuridão?

Sem-título

Instruindo a seus discípulos em Mateus 6.22 e 23, o Senhor Jesus falou dos olhos. Eles são a lâmpada do corpo. Jesus usou essa figura para ensinar sobre aquilo a que damos atenção ou que “enxergamos”. A ideia do texto não é a de que o olho seja a fonte de luz para o corpo, mas como afirma Hendriksen, “que ele é, por assim dizer, o receptor de luz, o guia do qual todo o corpo depende para a iluminação e direção”[1]. Essa interpretação pode ser corroborada por aquilo que Davi afirma no Salmo 19.8b, acerca da Palavra de Deus: “o mandamento do Senhor é puro e ilumina os olhos”.

Diante disso, podemos entender que os olhos serão bons à medida em que enxergam, ou dão atenção, à Palavra de Deus, razão de o salmista rogar: “desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei” (Sl 119.18). Sendo os olhos bons, todo o corpo será luminoso, ou seja, quando o homem dá atenção à Palavra ele vai bem em seu caminho e estará iluminado.

Há, evidentemente, um paralelo aqui com o que o Senhor havia dito anteriormente, sobre ajuntar tesouros do céu (Mt 6.19-21). Aquilo que procuramos ajuntar está ligado àquilo que temos como o nosso foco. Se queremos ajuntar tesouros celestiais, necessariamente temos que voltar os olhos para a Palavra. Não há como dissociar essas duas coisas.

Os tesouros celestiais são, então, ajuntados quando o homem olha para a Palavra e pratica a sua justiça. Como exemplo temos as próprias bem-aventuranças (Mt 5.2-12) que tratam de como o crente deve viver, vindo cada uma delas com uma promessa para a eternidade. Perceba que o texto termina com Jesus dizendo: “Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus”. Não há aqui nenhuma questão meritória, mas de consequência. Aqueles que foram iluminados e praticam a luz da Palavra de Deus, necessariamente farão boas obras e receberão o galardão por elas.

Há ainda uma advertência enfatizada na expressão de contraste “se porém”, ou, em outras palavras, caso vocês não tenham olhos bons e “os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas” (Mt 6.23a).

A expressão “olhos maus” aparece duas vezes no Antigo Testamento. A primeira em Deuteronômio, quando o Senhor estabelece leis em relação aos pobres e adverte para que o povo não tenha “olhos malignos” para com o irmão pobre, não lhe dando nada daquilo que ele necessitava (Dt 15.9). A segunda aparece em Provérbios 28.22 e está traduzida como “olhos invejosos”, ainda que a palavra hebraica seja a mesma usada em Deuteronômio. Em ambos os casos ela está ligada à avareza sendo que em Deuteronômio diz respeito a quem não quer dar, e em Provérbios àquele que corre atrás de ajuntar riquezas.

Isso está em pleno acordo com o que Jesus está ensinando aqui, pois da mesma forma que aqueles que buscam tesouros celestiais têm olhos bons, iluminados pela Palavra, aqueles que buscam tesouros terrenos têm olhos maus, pois acabam pecando por manter os olhos nas riquezas. Eles demonstram que estão comprometidos apenas com esse mundo em trevas e agem de acordo com suas leis. A figura aqui é que se os olhos são trevas, todo o corpo está mergulhado na treva moral. Não é sem razão que João, ao falar a respeito do julgamento final, afirmou que o veredito é este: “Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más” (Jo 3.19).

Diferente dos servos de Deus que tem a promessa do galardão nos céus, os que buscam tesouros terrenos e mantem os olhos neles já receberam sua recompensa, como foi o caso dos fariseus ao receber o louvor dos homens (Mt 5.2,5,16).

Por fim o Senhor faz uma dura afirmação: “Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grande trevas serão!” (Mt 6.23b). A declaração ganha um tom irônico, pois aqueles que estão nas trevas não conseguem sequer reconhecer isso e acham que têm luz. Sendo assim, se essa luz é na verdade trevas, isso se torna ainda mais terrível, tal como a afirmação de Jesus aos fariseus: “Sê fosseis cegos, não teríeis pecado algum; mas, porque agora dizeis: Nós vemos, subsiste o vosso pecado” (Jo 9.41).

Seus olhos são maus ou bons? Eles estão voltados para os tesouros da terra ou para os tesouros do céu? A resposta a essa pergunta demonstrará se você está “olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus” ou se tem se deixado seduzir pelas coisas desse mundo.


[1] William Hendriksen, Comentário de Mateus, vol. 1, p. 488 – Ed. Cultura Cristã

1 comentários:

leopoldo disse...

não dá pra divorciar benção e palavra. quando colocamos nossos olhos no Senhor, porque fomos habilitados para isso, automaticamente recebemos o que é prometido e necessário.

quando colocamos os olhos no mundo, o coração só pode se encher de esperança vã, passageira, frágil e tenebrosa. esse caminho é escorregadio e ficam grandemente aterrorizados aqueles que nele caem.