Uzias foi um destacado rei de Judá. Chegou ao trono aos 16 anos e seu reinado durou 52 anos. Com ele a nação estava indo muito bem. Uzias fortaleceu as defesas de Jerusalém, beneficiou o povo ao abrir poços animando, assim, a agricultura. O próprio rei deu exemplo ao povo cultivando os campos e plantando vinhas. Além disso, edificou torres para proteger os rebanhos contra ladrões e predadores, enfim, ele foi mesmo um grande governante.
O profeta Isaías registra que o seu comissionamento para chamar o povo ao arrependimento se deu, exatamente, no ano da morte do rei Uzias (Is 6.1). Essa menção não é despropositada. Com a morte do grande rei, como ficaria o povo? Haveria esperança para ele?
Isaías, então, afirma:
No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono.
A mensagem é inequívoca! Uzias morreu, mas o verdadeiro Soberano permanece no mesmo lugar em que sempre esteve. Não há o que temer, não há porque se desesperar, pois no alto e sublime trono está o rei que governa de forma sábia e justa.
O profeta continua descrevendo sua visão. Serafins, criaturas sem pecado, não ousam contemplar o Rei! Eles escondem sua face e proclamam o caráter desse governante: “Santo, santo, santo” (Is 6.3). A repetição é para enfatizar esse atributo de Deus, ele é santíssimo! Há aqui um contraste interessante. Uzias, por melhor rei que tenha sido, foi ferido de lepra por causa de seu pecado. Orgulhoso, ele havia intentado queimar incenso ao Senhor, o que era lícito apenas aos sacerdotes (2Cr 26.16-21).
Além de mais poderoso do que o rei pecador, o Soberano Senhor é Santo e é quem garante a vitória, pois é “o Senhor dos Exércitos” (Is 6.3), cuja glória enche toda a terra.
Diante dessa visão o povo não deveria temer pelo futuro da nação, pelo menos no que diz respeito a quem substituiria Uzias à frente do povo, pois independente de quem assumisse o reinado terreno, o Soberano Rei continuaria em seu trono.
Por outro lado, essa mesma verdade deveria levar o povo a temer, e muito! O temor deveria decorrer do entendimento de que, diante de um Deus Santo, não se pode caminhar em pecado, mas esse povo é acusado pelo próprio Senhor, no primeiro capítulo, de não o conhecer e de não ter entendimento (Is 1.3). O povo experimentava prosperidade, sob o reinado de Uzias, mas estava longe dos caminhos do Senhor.
Isaías é levantado para anunciar o juízo de Deus, mas ao contemplar o Senhor no templo, ele entende que também é pecador, por isso teme:
…ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos” (Is 6.5).
Ao confessar os pecados o profeta é purificado e enviado a pregar para um povo que não atenderá à sua mensagem e será enviado pelo Senhor para o cativeiro.
Essa história nos mostra que, independentemente da situação do país, seja com o governo de um bom rei, com a incerteza da capacidade do próximo rei ou ainda com mau governante, o povo de Deus deve descansar no governo do Senhor Jesus Cristo que, conforme escreveu João, foi aquele a quem Isaías viu assentado no trono (Jo 12.41) e que permanecerá no trono para todo o sempre (Hb 1.8-9). E não só isso, a igreja do Senhor deve também caminhar em santidade, honrando o Senhor em tudo aquilo que faz, vivendo de modo digno do evangelho de Cristo Jesus.
Vivemos dias complicados em nossa nação. Diferente de como o povo de Judá olhava para Uzias, não é possível ver em nossa presidente a figura de uma boa governante. A corrupção está estabelecida, os cofres públicos assaltados e a ida ao supermercado anuncia que a inflação vem subindo. Muitos já têm o impeachment como certo e, em minha opinião, não há problema algum em desejar que isso aconteça, o que é, particularmente, minha expectativa.
Entretanto, ao mesmo tempo em que podemos desejar que isso aconteça, pelos meios legais, não podemos ceder à tentação de pecar contra uma autoridade instituída por Deus e, consecutivamente, contra Deus. É com tristeza que vejo cristãos debochando, compartilhando piadas jocosas e notícias infundadas sobre a presidente, esquecendo-se que “a ira do homem não produz a justiça de Deus” (Tg 1.20).
Lembrando que a nossa esperança não vem do Planalto, mas do Senhor, tenhamos, como Isaías, a certeza de que o Santíssimo Soberano permanece assentado em seu trono, conduzindo todas as coisas segundo o seu bem querer querer e que o coração do rei está em suas mãos (Pv 21.1). Que essa certeza nos leve a viver em santidade horando a Deus e as autoridades instituídas por ele, ainda que tenhamos de nos opor a elas, mas sempre de forma piedosa.
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