21 março 2013

Enterre, também, seus ídolos

enterrando ídolos

“Levanta-te, sobe a Betel e habita ali; faze um altar ao Deus que te apareceu quando fugias da presença de Esaú, teu irmão” (Gn 35.1). A ordem foi dada pelo Senhor a Jacó num momento em que o seu coração estava cheio de temor. Ele estava com medo de ser destruído, juntamente com sua família, pelos cananeus e ferezeus, após seus filhos Simeão e Levi cometerem uma chacina matando todos os homens da cidade de Siquém.

Siquém havia violentado e levado cativa Diná, filha de Lia, portanto, irmã “plena” de Simeão e Levi. Jacó foi negligente não dando importância ao ocorrido e ainda consentindo com o casamento misto proposto por Hamor, pai de Siquém. Simeão e Levi entenderam corretamente a gravidade da situação, mas tomaram uma atitude errada. Pensando somente na vingança, profanaram a circuncisão, sinal da Santa Aliança. Dolosamente eles afirmaram que só permitiriam o casamento caso os homens da cidade se submetessem à circuncisão, o que eles fizeram. Porém, a trama era se aproveitar da fragilidade dos homens após esse ato e assassinar a todos, o que, de fato, fizeram.

Diante disso, Jacó repreendeu seus filhos, mas não foi pelas razões corretas. Ele não estava preocupado com o fato de os filhos terem feito uma guerra sem a chancela de Deus. Também não se preocupou com a profanação do sinal da Aliança e com o esvaziamento do seu significado numa empreitada de vingança. Não! Jacó repreendeu seus filhos porque entendeu que a atitude deles o havia tornado odioso entre os moradores daquela terra e ele corria o risco de ser destruído. Sua razão para repreender os filhos, além de egoísta, revelava falta de confiança no Deus que lhe havia feito promessas e mudado o seu nome para Israel (= “Deus prevalece”).

O temor invade o coração de Jacó quando a sua confiança deixa de ser no Deus que prevalece e passa a ser no seu “bom relacionamento” com os moradores da terra (confira no capítulo 34 de Gênesis).

Uma extraordinária lembrança

No início do capítulo 35, Deus então ordena que Jacó vá para Betel (35.1). A ordem é para que ele habitasse em Betel e ali fizesse um altar. É importante notar que, neste momento, Deus está trazendo algo à lembrança de Jacó. O altar seria feito “ao Deus que te apareceu [a Jacó] quando fugias da presença de Esaú”.

O fato de o Senhor enfatizar isso é extraordinário. Jacó estava com medo dos cananeus e ferezeus, temendo que eles o destruíssem juntamente com sua casa e Deus está lembrando que, em outra ocasião de temor, quando estava sob o risco de perecer sob a ira do seu irmão Esaú (a quem tinha enganado), o Senhor o havia guardado. É como se Deus estivesse dizendo: “Jacó, lembre-se de que eu sou o Deus que te apareceu em Betel e fiz promessas. Lembre-se de que eu já te livrei de morrer e minhas promessas permanecem de pé”.

Jacó entendeu o recado. Ele convoca sua caravana e diz: “Subamos a Betel. Farei ali um altar ao Deus que me respondeu no dia da angústia e me acompanhou no caminho por onde andei (35.3). Ele relembra, então, que Deus tem estado ao seu lado, o tem amparado e tem cumprido suas promessas e afirma que faria, em Betel, um altar a esse Deus.

Ao chegar a Betel e edificar o altar, a lembrança permanece em sua mente. Ele chama o lugar de “El-Betel; porque ali Deus se revelou quando fugia da presença de seu irmão” (35.7).

Em um momento de angústia e temor, Jacó foi lembrado a respeito da fidelidade e da segurança que tinha no Senhor.

Livrando-se dos ídolos

Essa lembrança produziu um resultado piedoso. Assim que ouviu o Senhor mencionar o momento em que tinha aparecido a Jacó pela primeira vez, ele ordenou à sua família e toda a caravana que lançassem fora os deuses estranhos.

É necessário lembrar que toda idolatria iconográfica é o resultado final da idolatria do coração. Aqueles que chegam a esculpir ou desenhar seus deuses simplesmente revelam aquilo em que o seu coração confia.

É preciso lembrar também que na saída da casa de Labão, seu sogro, Raquel havia roubado de seu pai os ídolos do lar, mas ainda que não houvesse a presença física dos ídolos, tanto ela quanto Jacó e sua irmã Lia revelaram um coração bastante idólatra, tempos atrás. Jacó tinha na beleza a sua razão de viver, tanto que, ao ser enganado por Labão e ter se casado com Lia, dispôs-se a trabalhar mais sete anos em favor daquela que “era formosa de porte e de semblante” (Gn 29.17), estabelecendo assim um casamento bígamo. Lia tinha no amor de Jacó a sua razão de viver e usava seus filhos para tentar conseguir esse amor (Gn 29.31-34; 30.20). Raquel, por sua vez, tinha na maternidade a sua razão de viver chegando a se irar com Jacó e declarar toda a sua idolatria ao afirmar: “Dá-me filhos, senão morrerei” (30.1). A idolatria era tamanha que ao conceber, de forma milagrosa, pela primeira vez, em vez de louvar a Deus disse: “quero ainda outro”, chamando-o de José.

Perceba que nenhum desses desejos é pecaminoso em si. Querer uma esposa bonita, o amor do marido ou a bênção de ter filhos eram desejos lícitos que se tornaram pecaminosos a partir do momento em que cada um desses personagens pecou para consegui-los ou pecou por não ter o que queria.

Voltando então ao ponto, convocar a família e o povo a lançar fora os deuses estranhos significava que somente no Senhor deveria estar a confiança, a alegria, a segurança e tudo mais que buscavam.

Jacó ordena ainda que eles se purifiquem e mudem de vestes, gesto que simbolizava purificação da contaminação dos ídolos para a pureza diante de Deus. Eles deveriam trilhar um novo e purificado caminho de vida (35.2).

A caravana atendeu a Jacó (35.4) e cada um entregou os deuses e as argolas que usavam nas orelhas como uma espécie de amuleto. Jacó pegou tudo aquilo, todos os amuletos e todos os deuses estranhos, e os enterrou debaixo de um carvalho, em Siquém.

Experimentando alívio

Quando eles partiram, após entenderem que o Senhor era fiel e que deviam temer a ele e não aos ídolos (no momento, as nações eram também ídolos, pois eram vistas como maiores que Deus), eles experimentam algo maravilhoso.

Eles viram aqueles que eram o motivo de seu temor, temendo o “Deus que prevalece” quando “o terror de Deus invadiu as cidades circunvizinhas” (35.5) e, consequentemente, não perseguiram os filhos de Jacó. O temeroso Jacó teve mais uma prova de que o Deus da Aliança estava cumprindo fielmente o plano de fazer dele uma nação. Não havia, então, o que temer.

Ele termina, como já foi visto, levantando um altar e adorando ao Senhor.

Enterre os seus ídolos aos pés da cruz

Quais são os temores que tomam conta do seu coração? Em que ou em quem você tem depositado a sua confiança? Quais desejos o têm levado a pecar contra o Senhor?

As razões que podem tirar o seu sossego, trazer angústia, tristeza e deixá-lo ansioso podem ser variadas, mas uma coisa é certa: sempre que você procurar conforto, segurança, alegria, satisfação fora do Senhor, estará levantando um falso deus diante de si e incorrendo, assim, em idolatria. Os falsos deuses podem até prometer alegria, mas eles não são capazes de cumprir suas promessas.

Quais são os falsos deuses que você precisar enterrar hoje, não debaixo do carvalho como fez Jacó, mas aos pés da cruz de Jesus Cristo? Faça uma análise de sua vida e verifique se você não tem buscado alegria no dinheiro, em pessoas, status, comida, bebida, prazeres dessa vida, etc. Se a fonte do seu prazer está em coisas ou pessoas em vez de estar somente em Cristo, confesse ao Senhor esse pecado.

Ao enterrar seus ídolos aos pés da cruz você, certamente, experimentará a paz de Cristo que excede todo entendimento (Fp 4.7). Você estará seguro e louvará a Deus a despeito das circunstâncias (Fp 4.10-13). Tendo o Senhor como único Deus você poderá usufruir tudo aquilo que ele nos concede sem se deixar dominar por nenhum deles (1Co 6.12), fazendo tudo para a glória dele (1Co 10.31).

Em seus momentos de dificuldade obedeça então à ordem do apóstolo Pedro e lance sobre Cristo Jesus toda a sua ansiedade, sabendo que ele cuida dos seus (1Pe 5.7). Lembre-se também das palavras do Senhor, que prometeu: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mt 11.28-30).

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