Não são poucas as vezes que nos enganamos acerca do nosso estado espiritual. Esquecendo-nos de que somos pecadores, ainda que redimidos, acabamos pensando de nós mesmos além do que convém e mesmo confessando que somos salvos pela graça depositamos nossa esperança naquilo que fazemos.
Prova disso é a maneira como muitos reagem quando ficam sabendo que alguém que era reputado por um “bom crente” caiu em pecado. Expressões como “não acredito que fulano foi capaz de fazer isso” na realidade dizem o seguinte: “eu nunca seria capaz de fazer algo assim”.
Antes que você afirme que nunca confiou em sua própria justiça, deixe-me demonstrar que esse não é um problema somente nosso.
Em seu ministério, bem perto de ser traído por Judas, Jesus afirmou aos discípulos que todos eles o abandonariam, ao que depressa respondeu Pedro: “Ainda que todos o abandonem, eu nunca te abandonarei!” (Mt 26.33 – NVI). O que Pedro estava afirmando era que o seu amor pelo Senhor era bem maior que o de seus companheiros e, por isso, sua reação seria diferente da dos demais. Jesus então afirmou que ainda naquela noite, antes que o galo cantasse, Pedro, de fato, o negaria e não somente uma, mas por três vezes. É claro que Pedro não acreditou e replicou: “Mesmo que seja preciso que eu morra contigo, nunca te negarei” e, agora, diante de tamanha intrepidez, os outros discípulos também dizem o mesmo (Mt 26.34,35 – NVI).
Após isso Jesus vai ao Getsêmani a fim de orar com seus discípulos e é ali naquele lugar que Judas entrega o Senhor aos soldados, traindo-o com um beijo. Ele é levado perante o Sinédrio e, enquanto era humilhado e condenado à morte, do lado de fora, no pátio, está Pedro assentado quando uma criada o vê e afirma que ele estava com Jesus. Ele nega. Ele ainda negou mais duas vezes e, ao fim da terceira negação, cantou o galo, fazendo com que Pedro se lembrasse das palavras do mestre (Cf. Mt 26.36-75).
Jesus estava certo! Apesar da declaração enfática de Pedro de que nunca abandonaria o Senhor, ao ter a sua vida em risco ele demonstrou que amava mais sua própria vida que aquele que veio para dar a vida eterna. Isso o leva a pecar.
É verdade que o primeiro mandamento ordena: “Não terás outros deuses diante de mim” (Êx 20.3), mas é igualmente verdadeiro que não cumprimos isso de forma absoluta e a todo tempo e é por isso que pecamos. Pecamos porque amamos mais a nossa alegria que o Senhor, porque amamos mais o nosso conforto que o Senhor, porque estamos mais interessados em nossos planos que nos do Senhor, porque estamos mais envolvidos como o nosso reino que com o Reino de Deus.
O cristianismo consiste justamente em deixarmos de lado a nossa própria vida para fazer a vontade do Senhor. Foi isso que Jesus ensinou ao afirmar: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16.24).
A boa notícia é que, em Cristo, e somente por meio dele, cumprimos de forma perfeita o mandamento de amar ao Senhor de todo o nosso coração, alma e entendimento. A obediência completa e perfeita de Jesus a seu Pai é atribuída a todo aquele que nele crê, por isso, nele, somos salvos.
Por ter Cristo amado a seu Pai sobre todas as coisas e cumprido toda a sua vontade, morrendo na cruz maldita em lugar dos seus, ele pode perdoar nossos pecados.
Ele fez isso com Pedro, ainda que tenha lembrado ao apóstolo que ele não amava tanto a Cristo como dizia. Você já reparou no detalhe da primeira pergunta feita por Jesus, no momento da restauração de Pedro?: “Simão, filho de João, você me ama mais do que estes?” (Jo 21.15 – NVI).
Fuja da tentação de achar que sua salvação e caminhada cristã dependem primariamente do seu amor por Cristo. Graças a Deus não dependem, pois estaríamos todos condenados, visto não termos condições de amá-lo a todo o tempo com inteireza de coração.
O amor a Deus é mesmo ordenado, mas ele é consequência e não causa da salvação. Como afirmou o apóstolo João: “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1Jo 4.10).
Em vez de se orgulhar por seu amor a Cristo, louve a Deus por tê-lo amado, sendo você ainda um pecador (cf. Rm 5.8) e, bem consciente disso, lute, com o auxílio do Espírito Santo, para viver de modo digno do Evangelho de Cristo Jesus (cf. Fp 1.27).
3 comentários:
Certa vez ouvi de um pregador que não deveríamos temer a Deus, mas serví-lo por amor somente; afinal Ele não é uma espécie de xerifão, carrasco, ou coisa parecida. Bom, nisto ele tinha razão, pois somos alvos do amor incondicional de Deus, mas se eu não serví-lo por temor, como um filho pequeno diante dos pais - com medo do chinelo - o que sobra? Meu pífio amor por Ele? Alguém já disse que se o galo ainda cantasse cada vez que eu traio esse amor, o galo já seria um grande compositor - pelo menos em número de sinfonias, rsrs.
Por isso a Escritura diz "A suma de tudo que aprendestes é: tema ao Senhor, porque isso é o dever de todos os homes", e "O temor do Senhor é o princípio do saber". Graças a Deus cujo amor por nós não é proporcional ao amor que lhe devotamos.
Ab
Simonton
Muito boa mensagem. Deus continue a abençoá-lo!
Querido irmão...
Adorei o texto. Muito inspirado e inspirador.
Obrigado!!!
Shalom,
Zampo
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