28 dezembro 2011

A descrença nas Escrituras; ou: Cris Poli, uma evangélica que não conhece a Bíblia

Cris Poli tem sido celebrada no meio evangélico como uma excelente educadora. Sua fama com o programa Supernanny e a “descoberta” de que ela é evangélica foram suficientes para que várias igrejas a convidassem para dar palestras. Aqui mesmo, na grande Vitória, ela já esteve em uma igreja.

Sem entrar no mérito questionável da sua proposta educativa, que ensina os pais a fazerem trocas com os filhos, quero chamar a atenção ao que ela respondeu a uma revista evangélica aqui do estado quando foi questionada sobre a lei da palmada:

“Eu não acredito em palmada educativa. Ela é uma invenção que não sei de onde saiu, acho que veio para justificar o fato de bater na criança e que foi colocado como um processo de educação. Bater não educa. Eu não sou a favor de bater [...] E essa palmadinha educativa é muito relativa, afinal, como você regula ou administra o que é educativo e o que não é, o que é espancar e o que é bater de ´levinho´... (grifo meu).

Eu vejo que bater, mesmo que seja a tal palmada pedagógica, é uma coisa violenta, por mais que os pais digam que não faz mal, ninguém gosta de receber um tapa, nem mesmo um adulto”.

Os evangélicos têm a Bíblia como regra de fé e prática e, sendo uma evangélica, Cris Poli deveria conhecer muito bem as Escrituras, que afirmam:

· “O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina” (Pv 3.24);

· “Castiga a teu filho, enquanto há esperança, mas não te excedas a ponto de matá-lo” (Pv 19.18);

· “A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a afastará dela” (Pv 22.15);

· “Não retires da criança a disciplina, pois, se a fustigares com a vara, não morrerá. Tu a fustigarás com a vara e livrarás a sua alma do inferno” (Pv 23.13,14);

· “A vara e a disciplina dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe” (Pv 29.15);

· “estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre convosco: Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és eprovado; porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe. É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos. Além disso, tínhamos os nossos pais segundo a carne, que nos corrigiam, e os respeitávamos; não havemos de estar em muito maior submissão ao Pai espiritual e, então, viveremos? [...] Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça” (Hb 12.5-9;11)

Quem “inventou” a disciplina física, pelo que vemos, foi o próprio Senhor, e nesses versículos podemos perceber que:

1. A disciplina física é, muitas vezes, necessária quando a criança é estulta;

2. Disciplina física não é violência. A Bíblia proíbe o excesso;

3. Não disciplinar os filhos é deixa-los entregues ao próprio coração;

4. A disciplina física não é para extravasar a ira dos pais, mas para chamar a criança à consciência, para que ouça o ensino;

5. A disciplina não é algo que traz alegria, no momento em que é aplicada, nem para os pais que amam os filhos, nem para os filhos que não entendem muitas vezes que aquilo será para o seu próprio bem, mas ao longo do tempo produz resultados.

É óbvio, como afirmou Cris Poli, que ninguém gosta de receber um tapa. A própria Escritura afirma que a disciplina física não é prazerosa, como foi expresso acima, mas nem por isso a desestimula, antes adianta qual será o seu resultado: fruto de justiça. A disciplina física não é prazerosa justamente porque não é um prêmio a se receber, mas a consequência da desobediência de alguém que não deu ouvidos à repreensão.

O argumento da educadora, se levado às últimas consequências, deveria ser usado para livrar marginais da cadeia, afinal de contas, por mais errado que esteja quem praticou um delito, quem gosta de ficar trancafiado?

É por isso mesmo que Paulo, tratando sobre autoridades instituídas por Deus, afirma: “Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás o louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para o teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal” (Rm 13.3,4).

Antes que alguém me acuse de forçar o texto, reconheço tranquilamente que aqui Paulo está tratando de autoridades civis, entretanto, o princípio permanece. Aqueles que resistem à autoridade resistem ao próprio Deus e, por isso, acabam colhendo as consequências. Sendo os pais as autoridades constituídas por Deus sobre a vida dos filhos, não devem, em hipótese alguma, deixar de cumprir aquilo que o Senhor estabelece com relação a sua educação.

Dito isso, volto então à entrevista. Ao mesmo tempo em que diz não saber de onde tiraram a ideia de “palmada pedagógica” e afirmar que ela não funciona, Cris Poli defende o método do “cantinho da disciplina”. O método, segundo ela, consiste em colocar a criança desobediente no

“cantinho da disciplina, que é um lugarzinho qualquer onde ela vai sentar e refletir sobre essa regra que ela não cumpriu. E fica lá um minuto por ano de idade, porque a gente não pode exigir da criança uma coisa que ela não pode dar. Não adianta dizer que vai ficar meia hora ou uma hora, porque isso não vai funcionar. [...] É um método que dá certo e é feito com tranquilidade, consciência e firmeza” (grifos meus).

A pergunta que fica no ar é: “De onde saiu essa invenção?”, porém, não farei como a Supernanny que afirmou não saber de onde tiraram a ideia da “palmada pedagógica”. Não! Eu sei bem de onde saiu essa invenção do “cantinho da disciplina”, foi das ideias da psicologia secular que, infelizmente, para muitos crentes, tem mais autoridade e mais a ensinar sobre a criação de filhos do que a própria Palavra de Deus. E aqui está o problema que dá origem a tudo isso: Muitos cristãos, apesar de afirmarem ser a Escritura a Palavra de Deus, na prática demonstram não crer desta forma.

Quando esses cristãos começarem a colocar em prática o seu discurso perceberão que, de fato, “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda a boa obra” (2Tm 3.16,17) e que “pelo seu [de Deus] divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele [Cristo Jesus] que nos chamou para a sua própria glória e virtude” (2Pe 1.3).

Somente depois disso é que entenderão a razão de Salomão poder afirmar com tanta convicção: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele” (Pv 22.6).

O Senhor sabe como você deve educar o seu filho e deixou registrado em sua Santa Palavra! Creia nisso e procure conhecer as Escrituras.

5 comentários:

Thiago disse...

"Muitos cristãos, apesar de afirmarem ser a Escritura a Palavra de Deus, na prática demonstram não crer desta forma."

É verdade, infelizmente. Como alguém já disse, a Bíblia é a única regra de fé e prática da igreja moderna, mas "quando a coisa aperta" ela recorre a métodos e ideias de homens.

Bom texto, concordo! Parece que se tem rejeitado toda forma de autoridade em exaltação à figura do indivíduo. Isso se reflete na prática da disciplina, na música, no culto, na agenda da igreja etc.

Simone disse...

Acho que não devemos julgar as pessoas dessa forma, de conhecer ou não conhecer a palavra, afinal, da mesma forma que julga, será julgado.
Assisto os programas e acho que ela realmente faz "diferença" e leva "luz" ensinando o amor na família, o fato dela não concordar com as "palmadinhas", não ignora a palavra de Deus, que diz sobre DISCIPLINAR os filhos, a criança.
DISCIPLINA SIGNIFICADO: Disciplina tem a mesma etimologia da palavra "discípulo", que significa "aquele que segue". Também é um dos nomes que se pode dar a qualquer área de conhecimento estudada e ministrada em um ambiente escolar ou acadêmico. Geralmente diz respeito a uma Ciência ou Técnica, ou subderivados destas. Aqueles que seguem uma disciplina podem assim ser chamados de discípulos.
No geral, castigo que produz obediência. No entanto, este conceito é muito limitado. A palavra "disciplina" deriva-se de "discípulo" e tanto uma quanto outra palavra, ambas tem origem do termo latino para pupilo que, por sua vez, significa instruir, educar treinar, dando idéia de modelagem total de caráter.
Acho que o canto da discplina, é uma boa maneira de fazer a criança ter o domínio próprio (bíblico), refletir e se arrepender e pedir perdão aos pais (bíblico). Umas palmadinhas não produzem isso.
Zacarias 4,6 "Não pelo poder, nem pela força, mas por meu Espírito, declara o Senhor de todo poder".
Eu não consigo imaginar Jesus nos disciplinando (filhos), com palmadas, mas sempre com sabedoria, explicando e exortando em amor.
Não é uma forma de crítica a matéria, mas achei válido dividir.
Que Deus abençoe

Anônimo disse...

Concordo com os comentários. No entanto temos que nos atentar, aos julgamentos antecipados. Infelizmente, na realidade muitos filhos de membros de igreja e até pastores não tem comportamento adequado: são sem educação, teimosos e desrepeitosos. Será que não esta faltando praticar a palavra a palavra de DEUS em seus lares?? Porque conhecer a palavra é fácil agora colocá - la em prática é outra coisa.

Milton Jr. disse...

Simone, obrigado pela visita e pelo comentário. Deixe-me replicar algumas coisas:

1. A Bíblia ordena o julgamento (1Co 10.15; 1Ts 5.21). Você mesma está julgando esse texto e concluindo que ele está errado...

2. Quando afirmo que não conhece a Bíblia é justamente por causa do que ela mesmo disse e que colo novamente aqui: “Eu não acredito em palmada educativa. Ela é uma invenção que não sei de onde saiu, acho que veio para justificar o fato de bater na criança e que foi colocado como um processo de educação".

3. Disciplina significa o que vc disse, e nos textos que citei significa, de fato, castigo físico. Não tem como interpretar de outra forma. Não estou falando de espancamento, é claro, mas da correção física quando necessária.

4. Me mostre um texto bíblico que fale do cantinho da disciplina e me convencerei..

5. Se não consegue imaginar Jesus nos disciplinando, leia o texto de Hebreus 12.4-13. Nele temos:
a)O Senhor açoita seus filhos - v. 6
b) Isso significa que somos filhos amados e não bastardos - v. 6-8
c) A disciplina não é motivo de alegria para os pais nem para os filhos - v. 11
d) Entretanto, a longo prazo, produz fruto - v. 11


Veja uma boa resposta de John Piper à pergunta: Jesus bateria numa criança? - nesse link: http://www.youtube.com/watch?v=7EIR6KDsTcE

Deus te abençoe.

Milton Jr. disse...

"Anônimo",
É fato que muitos filhos de crentes são assim e não tenho dúvida de que na maioria das vezes é mesmo falta de prática da Palavra.

No caso do texto, falei do desconhecimento por que a "superbabá" afirma não saber de onde tiraram a ideia de disciplinar fisicamente.