11 junho 2011

A glória de Deus e seus “efeitos colaterais”

archery_target“O fim principal do homem é glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre” é a resposta à primeira pergunta do Breve Catecismo (Qual é o fim principal do homem?). Ela aponta para a afirmação de Paulo de que “dele, por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” e para sua ordem aos coríntios de fazer tudo para a glória de Deus (1Co 10.31).

Assim deveria ser a vida do cristão, porém muitas vezes nos perdemos e acabamos direcionando todas as coisas que deveriam ser para a glória de Deus para outro objetivo. Para exemplificar quero abordar somente duas questões, a evangelização e o testemunho cristão.

Sabemos que a Bíblia ordena a evangelização. Somos chamados para proclamar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para sua maravilhosa luz (1Pe 2.9). A proclamação tem por objetivo a glória de Deus, independente dos seus resultados. Quando a Palavra de Deus é anunciada com fidelidade, glorifica o Senhor ainda que endureça os corações. Muitas vezes ela será pregada justamente para isso. É bom lembrar que o próprio Senhor, respondendo à pergunta dos discípulos sobre a razão de falar por parábolas, afirmou: “A vós outros é dado conhecer os mistério do reino dos céus, mas àqueles não é isso permitido” (Mt 13.11).

Quando se perde a perspectiva de que a razão primária para a evangelização é a glória de Deus e entende-se que ela se presta primeiramente para salvar os pecadores, o evangelho acaba por ser maculado e distorcido e os métodos são os mais pragmáticos, pois visam simplesmente a fazer prosélitos e, para isso, é bom apresentar uma mensagem que soe bem aos ouvidos do pecador.

O testemunho cristão também é ordenado. No sermão do monte o Senhor afirmou que seus discípulos são a luz do mundo e que essa luz deveria brilhar diante dos homens para que estes, vendo suas boas obras, glorificassem ao Pai do Céu (Mt 5.16). A razão primária para um bom testemunho, portanto, é a glória de Deus. É claro que quando o crente é uma fiel testemunha do Senhor seus atos o fazem ser vistos como uma boa pessoa, ou, em outras palavras, ter uma boa reputação. Por isso, Pedro pergunta a seus leitores: “Ora, quem é que vos há de maltratar, se fordes zelosos do que é bom?” (1Pe 3.13).

Quando, porém, a preocupação primária é com a reputação, em vez da glória de Deus, o homem acaba por se tornar um fariseu. Os fariseus faziam muitas coisas boas, mas sempre com a motivação errada. Eles davam esmolas (Mt 6.2), oravam (Mt 6.5), jejuavam (Mt 6.16) e o Senhor afirma que tudo isso era feito diante dos homens, com o fim de serem vistos por eles, atitude que deveria ser evitada por seus discípulos (Mt 6.1).

Ainda que querer ver pecadores salvos e ter uma boa reputação sejam coisas boas, elas não podem ser um fim em si mesmas, pois isso não trará glória a Deus. Vivendo, porém, o cristão para a glória do seu Redentor, elas podem ser um maravilhoso “efeito colateral” que decorrerá de uma motivação piedosa e santa.

Deve ficar claro, entretanto, que viver para a glória de Deus nem sempre trará resultados bons aos nossos olhos. No texto em que Pedro pergunta aos leitores sobre quem os maltrataria se fossem zelosos do que é bom ele contempla também a possibilidade de sofrimento e, sem deixar espaço para que alguém pensasse ser injusto sofrer por fazer o que era certo, ele anima os irmãos dizendo: “Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-aventurados sois [...[, porque, se for da vontade de Deus, é melhor que sofrais por praticardes o que é bom do que praticando o mal” (1Pe 3.14,17).

Confiados no Senhor, vivamos então para a sua glória, sabendo que os resultados desse viver sempre ocorrerão de acordo com sua vontade soberana e, quer sejam bons ou ruins (pela nossa perspectiva), sempre cooperarão para o bem daqueles que amam a Deus e são chamados segundo o seu propósito (Rm 8.28).

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