06 março 2014

Pensando alto sobre o UFC e afins...

UFC_BLOOD MMA VIOLENCEEsta semana a mídia noticiou a morte de mais um lutador de MMA (veja aqui), com lesão no cérebro. Em dezembro, Anderson Silva teve a sua perna quebrada ao tentar chutar o adversário e, fatos como esses, sempre trazem o MMA de volta à discussão: É lícito ao cristão participar ou incentirvar essa modalidade? Pensando nisso, estou republicando um texto de 2012, escrito por ocasião de uma luta do Anderson Silva. Segue:

Tivesse a frase “Vou acabar com a cara dele e com cada um dos dentes da boca” saído dos lábios de uma pessoa “qualquer”, logo seria taxada de violenta, mas na boca de Anderson Silva ela ganhou o status de “promoção do esporte”.

O lutador brasileiro, sempre “polido” em suas declarações, surpreendeu a todos nos dias que antecederam a luta de hoje à noite sua última

luta ao fazer declarações bastante duras, chegando a afirmar que seu adversário “vai precisar de um cirurgião plástico”.

Antes que você conclua: “Lá vem mais um texto de alguém que não gosta de esportes”, preciso informar que isso não é verdade. Sempre gostei de esportes (apesar do “biotipo” atual... rs) e sempre gostei de artes marciais. Pratiquei por um bom tempo a capoeira (alguns não sabem que é a única arte marcial genuinamente brasileira) e por pouco tempo o taekwondo. Antes de minha conversão e até há bem pouco tempo eu era um admirador de UFC, MMA, Vale-tudo e afins, mas ultimamente, na tentativa de levar todo o meu pensamento cativo ao pensamento de Cristo, muitas coisas têm me incomodado, incluindo a empolgação de cristãos com tudo isso.

Começando pelas declarações cheias de ira, citadas no início, já temos um sério problema. No Sermão do Monte o Senhor Jesus ensinou a interpretar de forma correta a lei. Os fariseus, preocupados somente com a guarda externa dos mandamentos, entendiam, quanto ao homicídio, que o problema residia no fato de eles tirarem a vida de alguém. Fosse outro a matar, não haveria problema. Lembre-se de que, ao entregar Jesus ao julgamento de Pilatos, os fariseus ouviram do governante: “Tomai-o vós outros e julgai-o segundo a vossa lei” – ao que responderam hipocritamente – “A nós não nos é lícito matar ninguém” (Jo 18.31).

O Senhor corrige essa interpretação hipócrita da Lei afirmando: “Eu, porém, vos digo que todo aquele que [sem motivo] se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo” (Mt 5.22).

Já ouço alguém dizer: “Pastor, mas você é muito inocente mesmo... não vê que essas declarações são somente para promover a luta?” E eu já respondo: Isso não torna menos problemática a declaração, visto que a mentira, conforme o Senhor Jesus, procede do diabo (Jo 8.44).

Não consigo crer que o prazer pecaminoso de ver alguém ser surrado até sangrar, desmaiar e/ou até mesmo morrer se adeque à orientação paulina de que “tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso que ocupe o vosso pensamento” (Fp 4.8).

Para os cristãos presbiterianos, que é o meu caso, há ainda outra questão a ponderar. Somos uma igreja confessional, isto é, temos a Escritura como regra de fé e prática e adotamos como sistema expositivo de doutrina e prática a Confissão de Fé, o Catecismo Maior e o Breve Catecismo de Westminster[1]. Isso quer dizer que acatamos essa interpretação das Escrituras como fiel.

Na resposta à pergunta 136 do Catecismo Maior – “Quais são os pecados proibidos no sexto mandamento?” – temos:

“Os pecados proibidos no sexto mandamento são: o tirar a nossa vida ou a de outrem, exceto no caso de justiça pública, guerra legítima, ou defesa necessária; a negligência ou retirada dos meios lícitos ou necessários para a preservação da vida; a ira pecaminosa, o ódio, a inveja, o desejo de vingança; todas as paixões excessivas e cuidados demasiados; o uso imoderado de comida, bebida, trabalho e recreios; as palavras provocadoras; a opressão, a contenda, os espancamentos, os ferimentos e tudo o que tende à destruição da vida de alguém” (grifos meus).

Creio que não é preciso explicar que toda a violência desses “esportes” vai contra o que professamos como fé.

Em dias que até pastores têm tentado justificar o UFC e afins citando a “briga” entre Davi e Golias, é necessário dar ouvidos ao salmista que diz: “O Senhor põe à prova ao justo e ao ímpio; mas, ao que ama a violência, a sua alma o abomina” (Sl 11.5).


[1] O catecismo de Heildelberg, padrão de Fé de outras igrejas reformadas, também trata do sexto mandamento. Nele temos:

P.105. O que exige Deus no sexto mandamento?

R. Que eu não devo desonrar, odiar, injuriar nem matar o meu próximo por pensamentos, palavras, ou gestos e muito menos por ações, por mim mesmo ou através de outros; antes, devo fazer morrer todo desejo de vingança. Além disso, não devo me fazer mal nem me expor levianamente ao perigo. Por isso também o governo empunha a espada para impedir homicídios.

P.106. Mas, esse mandamento fala somente de matar?

R. Ao nos proibir de matar Deus nos ensina que detesta a raiz do homicídio, a saber: a inveja, o ódio, a ira e o desejo de vingança e que Ele considera tudo isso como homicídio.

P.107. Então, basta que não matemos o nosso próximo dessa maneira?

R. Não. Deus ao condenar a inveja, o ódio, a ira e o desejo de vingança nos ordena a amar os nossos inimigos como a nós mesmos, a demonstrar paciência, paz, mansidão, misericórdia e amizade para com ele, a protegê-lo do mal o tanto que pudermos e a fazer o bem até mesmo aos nossos inimigos.

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